Los Desperados escrita por MetroSurvivor


Capítulo 2
A corrida pela salvação


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tem muito mais ação e sofrimento pelo Nikolai. Acho que a partir de agora, a leitura vai ficar muito melhor. Os capítulos são grandes, porém aposto que ninguém vai odiar. Boa leitura!



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Já se passava mais de meia hora que eu estava ali, e nada melhorava. Dormir, era fora de cogitação. Precisava encontrar um jeito de tirar minha irmã dali a salvo, mas como? A criatura que eu derrubara poucos segundos atrás estava batendo muito na porta; sabia que eu estava ali. Sabia disso, aliás, por causa de meu ferimento. Por um momento meu instinto protetor havia falado mais alto e eu me esqueci desse detalhe.

Minha perna não doeu mais, porém começou de novo quando percebi o ferimento mais uma vez. Levantei a uma das pernas da calça para vê-lo. A dor que senti, agora, foi excepcional. Simplesmente o sangue havia grudado no tecido da calça, fazendo-me retirar mais algumas camadas de pele. Contive-me para não gritar de dor, se o fizesse os mordedores lá fora ficariam alertas e iriam à janela do porão que dava acesso á rua, a qual era minha única escapatória. Bem, eu precisava formular um plano. Mas primeiro eu cuidaria de meu ferimento. Olhei ao redor do porão que tinha algumas estantes, perto da mesa onde deixei minha irmã. Havia algumas caixas de algodão e álcool. Só de ver a garrafa com aquela substância química, pude ver minha pele se arrepiando. Mas, o que devia ser feito, teria de ser feito. Contudo, se eu não fizesse, acabaria com uma infecção e poderia morrer logo, coisa que não queria. Não porque queria viver mais, já que se o mundo estivesse acabado qual seria a razão de viver? Mas sim, porque precisava proteger minha irmã. Por ela, faria tudo. Decidi não esperar mais um segundo. Olhei a hora, antes disso. Eram 6 horas da manhã. Ainda estava noite, mas já podia se notar um leve tom de azul no céu. A bateria do meu celular estava em 44%. Desliguei-o, para poupar. Mais tarde voltaria a ligar para saber o que diabos estava acontecendo no mundo. E então, comecei a retirar minha calça de pijama. Fiquei só de cuecas na sala. Então me sentei e comecei a sentir o ferimento. Para minha sorte, o rasgo não foi profundo, porém abrangia grande parte da panturrilha. O sangue já estava coagulado, porém quando fui verificar pela primeira vez acabei abrindo-o de novo. Agora sim, era a hora. Antes de passar álcool, peguei um grande pedaço da fita e coloquei e m minha boca. Gritar, agora era inevitável. Por isso, tinha de me precaver. Então abri a garrafa, e de olhos fechados, joguei o líquido sobre o ferimento. Céus, aquela dor era insuportável! Sentia minha pele borbulhando, como se cada bactéria ali estivesse morrendo agonizando. Por um momento, de tanta dor que sentira, meus olhos começaram a ficar negros. Não olhava mais que um palmo de distância. Comecei a bater com a mão em minha face, para tentar amenizar. Sim, minha pressão estava baixando e eu iria desmaiar. Isso ficou evidente assim que comecei a ouvir um chiado bem agudo. Fiquei recostado na mesa, até que olhei para minha irmã, que dormia. Fiquei olhando-a, até que por um passe de momento me recompus. E nisso veio a dor. Gritei, gritei e gritei. Gritei muito, como se não estivesse ligando se os mordedores ouvissem. Mas a fita era boa; não se desprendeu. Isso, realmente aliviou e muito minha dor. Depois disso, me limpei com o algodão que achei e improvisei uma gaze, fechando-a com a fita.

Depois parei um pouco para pensar. O que eu faria agora? Lembrei-me da janela. Eu precisava dar o fora dali, e era logo. Não sabia se a barricada da porta aguentaria, e para completar, havia um deles dentro da casa. Fui á janela e espreitei a rua. Consegui ver muitos pés por lá. E com certeza não eram de pessoas. Durante a noite pude ouvir alguns tiros e gritos, mas nenhum por perto. Então, sair ainda estava fora de cogitação. Resolvi voltar a ligar meu celular. A bateria ainda estava com uma boa carga, o suficiente para algumas horas sem processos pesados. Foi então que meu coração se apertou: não falei com meus pais fazia mais de 12 horas. Não sabia o que acontecia, nem se eles estavam bem. Foi a primeira coisa que eu fiz. Liguei para meus pais. 1, 2, 3 vezes. Todas sem êxito. A cada vez que eu ligava, ficava mais aflito. E foram todas em vão. Até que parei de ligar, senão a bateria acabaria. Foi quando comecei a chorar baixinho, para ninguém ouvir. Eu merecia tudo aquilo? Nunca fui de mexer com drogas ou bater nos outros. Porque, então, estava tudo aquilo acontecendo? Não tinha uma resposta plausível. Aliás, não tinha quem me desse tal resposta. Depois de alguns minutos me recompus. Quando me veio a ideia de ligar para amigos. Liguei para quase todos: John, Mack, Frank... Nenhum me retornou. Natalie... Tinha esquecido a minha própria namorada! Liguei para ela também. Sem êxito. Meu deus, será que todos os meus amigos, até minha namorada haviam morrido na tal infecção? Sim, era bem provável que sim. O mundo estava em ruínas, isso em menos de 12 horas... Eu precisava descobrir o que diabos realmente estava acontecendo. Lembrei-me que alguns dias antes eu havia posto créditos em meu celular. Liguei a internet e acessei meu aplicativo de notícias. Lá, pude ver notícias como “Infecção já é global”, “Metade da população mundial já perdida”, “Países em completa anarquia; governos arruinados”. Então era isso: o mundo que conhecíamos estava acabado. E sem governo. Decidi checar uma das notícias. Nela, constava que tais criaturas eram na verdade os famosos zumbis, porém agora não era mais ficção. Era real. E eles estavam á solta. No fim da página, havia um link externo redirecionando para um blog. Antes de olhar o link, pensei. Refleti muito sobre o que tinha lido, e a princípio não acreditei. Mas, porque não acreditaria? Eu já tinha vivido e visto aquelas coisas. Lembrei-me também da notícia sobre a população mundial. Como, em 12 horas, metade dos humanos foram erradicados da face da terra? Meu deus, isso era terrível. Era o dia do julgamento, em que ficaríamos vivendo como baratas, num real purgatório. Será que o resto da minha vida, seria esse inferno? Eu não tinha certeza. Mas eu não desistiria.

Depois de longos minutos refletindo, abri o link. O blog, com certeza era de algum fanático por destruição do mundo ou parecido. Constava que o vírus ou a bactéria entrava no corpo da pessoa, e a matava. Depois de algum tempo, ela era reanimada sem sinais vitais, apenas com a parte ativa cerebral da fome e da locomoção. E eles não comiam vegetais. Por fim, falava que a única maneira de mandá-los de volta para de onde vieram, era danificando permanentemente o cérebro; a única parte ativa.

– Mentira! – Exclamei para si mesmo. Como uma pessoa se moveria se seus músculos após a morte ficam rígidos? E como os órgãos delas, ficariam ativos para digerir a carne, se os próprios órgãos se auto decompõem? E, porque seu coração não batia de novo? Aquilo não tinha nenhum nexo. Mas era preciso acreditar. Porque era real. Isso explicava o movimento estranho de tais. Resolvi entrar no meu Facebook. Antes, média de 300 amigos no bate-papo. Agora? 15. Total, sem média. Nenhum que eu conhecia. Olhei as postagens, e a maioria falava de um centro de refugiados do governo, em Seattle. Seattle? Não era longe de onde eu morava, Tacoma. Minha sorte é que eu morava em uma parte mais afastada do centro. Morava, sim, pois não há sentido ficar mais lá e ser devorado. Precisava chegar até lá. Mas antes, precisava sair dali a salvo. O mordedor da porta do porão ainda estava vivo e batendo incansavelmente. Tentei achar alguma arma, mais nada. A única coisa que achei foi um rastelo. Para acessar o porão, havia um par de degraus. Se eu me posicionasse na frente da escada e abrisse a porta, o zumbi cairia e poderia matá-lo. Sim, era isso que eu faria. Porém como abrir a porta sem ser pego? Primeiro, retirei a barricada. Por fim, destranquei e abri ligeiramente e pulei os 2 degraus. O zumbi veio com tudo, e como previsto caiu. Como não seria fácil para o coitado se levantar, apenas terminei a minha tarefa. Meu primeiro zumbi. De certa forma, senti alívio e medo.

O que faria agora? Com a rua infestada, seria suicídio sair. Procurei na casa qualquer coisa que me ajudasse. A casa, embora pequena, tinha dois andares. Uma sala, ao lado a cozinha e em cima 2 quartos e 1 banheiro. Casa de família, sim. Comecei pela cozinha e achei alguns biscoitos e uma lata de refrigerante. Abri aquilo tudo e devorei muito rapidamente. Passei quase 12 horas sem comer, e não me lembrei disso. Só fui perceber quando olhei para aqueles armários. E Alice? Precisava achar alguma coisa para ela. Minha mãe havia dito que o leite materno era mais importante, porém ela já era muito bem nutrida e se sustentaria com leites alternativos. Vasculhei todos os armários e separei alguns alimentos não perecíveis como biscoitos. Precisaria deles, muito, já que um supermercado não estava acessível. Foi quando achei 3 latas daqueles leites em pó para criança, com quase todos os nutrientes que ela precisava. Ótimo! Porém, não achei nenhuma mamadeira. Tive que improvisar com uma garrafa de água 500ml vazia e um funil que encontrei. O líquido estava pronto. Mas não poderia dar gelado. O que fiz? Havia uma fresta na parede, provavelmente quebrada por aquele zumbi de dentro da casa. Por ali passa uma quantidade de raios de sol razoável, já que o dia já raiava. Fiquei com a mão ali por mais ou menos 20 minutos, até que o leite ficou razoavelmente quente. Desci e retirei a mordaça que estava nela, e aos poucos fui despejando o liquido para que ela não se engasgasse. Depois que tomou tudo, começou a chorar. Não sabia se era de frio ou outra coisa. Não tive outro jeito, de novo. Peguei outro pedaço da fita e amordacei-a. Por fim, achei uma caixa vazia. Iria sair dali, porém antes disso precisaria fazer algumas coisas na rua. Repousei-a sobre a caixa e deixei semiaberta, para que respirasse. Fiz uma barricada com o que sobrara da última no porão e coloquei o rastelo e outro que eu achara, apontando para frente, fazendo um ângulo de 90 graus. Qualquer zumbi que se aproximasse ficaria preso, Pois o rastelo estava seguro por alguns pedaços da tal fita, que já estava no final e presa às teclas ao piano. Agora, checaria o resto da casa em busca de algo que me ajudasse. Olhei na sala de estar. Nada, apenas os controles remotos. Na estante da TV, revistas. Peguei algumas, para ler enquanto passava o tempo. E para ensinar minha irmã também, quando crescesse. Notei também um porta retrato com uma foto de uma família muito bonita. Perfeita, sorrindo, felizes com a vida. Agora, provavelmente mortos. A casa fora deixada revirada na parte de cima. Roupas e mais roupas fora dos guarda roupas, sem qualquer produto de limpeza. Procurei em armários e achei uma lanterna carregável á dínamo. Perfeito. Sem pilha, usaria em todo lugar. Por fim, fui ao maior quarto que tinha uma cama de casal. Lá, encontrei escondido atrás de alguns cabides uma mochila de viagem.

Uma ideia veio a minha cabeça. E para mim, seria perfeita. Se eu colocasse o banquinho do carro acoplado na mochila, poderia andar com a minha irmã sem ter de carregá-la no colo e minhas mãos ficariam livres. Não sei se funcionaria, aliás, não sabia se o banquinho ainda estava inteiro depois do acidente. Mais teria de tentar.

Aproximei-me da janela, uma das poucas que não havia nenhum som aparente de zumbis. E fui lentamente abrindo a veneziana. Quando, de repente.

GAAAAAH!

Um zumbi me agarra pelo braço e tenta me morder. Eu ainda estava com a jaqueta para a minha sorte, e não fui arranhado. Porém, mais uma mordida e atravessaria o couro, com certeza. Então pensei rápido. Fechei a veneziana no braço do zumbi. Ele não parou, então tive que ficar batendo com a veneziana em seu braço. Depois de sucessivas batidas, ouvi um “Crec”, e o braço do zumbi me pareceu torto. Mas o diabo continuava lá. Precisei continuar batendo até que uma parte do braço caiu na sala e pude fechar a veneziana. Estranho. Como zumbi, eles adquirem muita força, realmente, pois tentei tirar os seus dedos de cima do meu braço e não tive êxito. Teria de abrir de novo, pois não vi o carro, e na noite anterior, eu não prestei atenção nisto. Abri agora uma frestinha, que eu pude ver apenas uma das rodas. Julgando pela distância medindo do asfalto, daria mais ou menos 200 metros. Okay, não seria muito difícil, pois eu corria bastante nos treinos para os campeonatos regionais. Agora, por onde sairia? Porão. A única saída plausível. Fui até o porão, porém antes de pular a pequena janela, na qual eu passaria deitado, procurei alguma coisa. Achei um martelo e peguei-o. Antes de sair, verifiquei minha irmã e dei-lhe um beijo na testa:

– O irmão já vai estar de volta. Eu te amo.

E fui-me. Na rua, os zumbis estavam dispersos, e para minha sorte a entrada da casa, no meio, era distante da janela do porão, que ficava na lateral esquerda. Contornei a casa por fora e me escondi em pequenos arbustos que haviam por ali. A casa era tinha até um bom ponto estratégico. Atrás dela, havia uma floresta, na qual passei despercebido por todos eles até chegar ao carro que estava capotado quase no meio da pista. Quando cheguei, olhei para a casa. Não havia muitos zumbis no caminho. Então, comecei a retirada. O banco não estava muito danificado; apenas uma das hastes estava torta. Então serviria. Porém, para meu azar, uma delas estava presa entre as ferragens. Tive que martelar. Martelei, martelei, martelei. Sem êxito. Quando ouvi um grunhido. Era um deles, mas não estava atrás nem na frente. De onde viria? Decidi acabar meu trabalho rápido e sair dali. Martelei de novo, desta vez com mais força. E continuei. Até que a ferragem soltou o banquinho. E quando saio das ferragens do carro e olho de volta a floresta, me deparo com uma horda. Nessa hora, para confessar, eu vi a morte estampada em minha face. Mais de 50 deles. Fiquei paralisado, até que me convenci de que olhar a morte não era uma alternativa. A morte era um saída para os fracos. Então, saí correndo, pela rua mesmo. Como já devem saber quase todos os zumbis da rua me notaram, porém continuei sempre desviando. Até que cheguei á lateral da casa. Se eu entrasse ali, com certeza eles ficariam ali para sempre bloqueando minha passagem. E eu já fitava a minha saída. Um carro parado no outro lado da rua. Para distraí-los, antes de entrar na janela, joguei o martelo no vidro de outro carro, que começou a soar o alarme. Então me joguei para dentro da janela. Eu estava a salvo e tinha conseguido o que queria! E como pensado, quase todos eles foram para lá, até os da horda. Então o caminho estava literalmente livre. A hora era chegada. Voltei para a sala e acoplei ao mochilão de uma maneira que o carrinho não caísse no chão, reforçando com a fita milagrosa. Agora, acabada. Testei com Alice já no banquinho e deu certo. Retirei-a e enchi a mochila de tudo que achei na casa e comecei a desfazer a barricada. Desfeita, abri a porta lentamente. Nenhum. Simplesmente desci as escadas e comecei a correr. Nessa hora, uma surpresa. Um deles havia me notado e bateu na minha mochila, fazendo a cadeirinha de Alice cair comigo junto. A raiva tomou conta de mim, e por um impulso me levantei do chão e soquei a cara do desgraçado com toda a força que tinha, fazendo pender para o lado. Sem perder tempo peguei o banquinho na própria mão e saí correndo. Nisso, todos eles me notaram. E eu só tinha que correr. Corri, corri, corri. Como nunca em minha vida. Continuei correndo. Meu deus, e eles não paravam de vir. A cada esquina que eu percorria, eram mais e mais. Passei pelo shopping La Plage, pelo hospital, por vários lugares. Mais de 1 hora sem parar. E de onde eu tirei toda essa força? A cada vez que uma horda vinha, olhava para minha irmã. Ela era minha motivação. Até que encontrei um beco. Livre deles. Entrei sem hesitar. Alguns me seguiram, porém o beco seguia á outro beco, dessa vez sem saída. E minha salvação havia chegado. Uma lata de lixo, daquelas de restaurantes, grandes. Corri mais rápido ainda e abri a lata. Coloquei o banquinho de Alice e me joguei lá, fechando calmamente e tampando a boca de Alice, que começara a chorar. Isso me doía muito, ter que tratá-la assim. Mas era necessário, senão nós 2 morreríamos á mingua. Ouvi os grunhidos passando pelo beco, até todos cessarem, e lá, reinou o mais completo silêncio. Eu havia sobrevivido.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu queria ressaltar novamente que quem gostou/não gostou poderia pelo menos comentar a história, assim me da incentivo...
Até a próxima



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