Los Desperados escrita por MetroSurvivor


Capítulo 18
Última Luz


Notas iniciais do capítulo

é com prazer que eu anúncio que Los Desperados está de volta com um capítulo cheio de revelações para vocês! Fiquem ligados pois novos capítulos todas segundas e quintas, como de costume!
Boa leitura!



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Acordei numa cama forrada com um leve pano extremamente branco, recoberto por uma manta. Era primavera, estava quente. Com a manta sobre mim, o calor se amplificava muito mais. Fui abrindo os olhos lentamente, sem mexer os pés ou braços. Queria primeiro reconhecer onde estava, e quem havia me trazido até lá. Enquanto abria os olhos, fiquei pensando no que acontecera. Lembrava que estava na mercearia, e tinha avistado algum tipo de refúgio, uma cama. Depois disso eu estava saindo, e então fui acertado na cabeça. Disso não tinha dúvidas. Mas após isso ouvi uma voz me chamando pelo meu mais íntimo apelido. Seria mesmo real aquela voz ou eu estava delirando, da solidão que eu passava? O inferno começara não fazia muitos dias, mas não podia ver mais ninguém vivo na cidade. Apenas grupos e hordas daqueles demônios.

Quando finalmente abri os olhos por completo, pude perceber que estava no meu quarto, na minha casa. Quem diabos me trouxe daquela mercearia até minha casa? Seria coincidência ou era alguém conhecido? Sem mexer a cabeça, tentei olhar ao meu redor para encontrar qualquer pista. Olhei para o criado mudo ao lado de minha cama e vi a arma de meu avô repousando sobre a madeira. Os dois carregadores também estavam presentes, e julgando pela aparência, estavam com os projéteis. No cabide estava o coldre. Bom, quem quer que fosse não aparentava ser violento.

Ouvi passos que pareciam se amplificar, então deduzi que estavam subindo a escada. Fechei os olhos novamente na mesma posição e pude ouvir alguém se aproximar de meu quarto. O indivíduo entrou no meu quarto e foi se aproximando de minha cama pelo lado esquerdo. Se tal tentasse qualquer movimento estranho, ajoelharia seu estômago e pegaria minha arma. O que se revelou, no entanto, foi inusitado. A pessoa tocou no lado superior direito da minha testa, e então percebi que estava com um curativo nessa região. Ela mexeu no curativo e analisou se estava bem colado com esparadrapo. Percebi quando ela passou a mão nos lados da gaze. Minha pele reagiu e senti a presença da fita. Depois da “análise”, a pessoa começou a passar a mão em meu rosto, especialmente na bochecha esquerda, com uma espécie de afago muito íntimo. Neste momento eu já estava tenso, e se ela continuasse era provável que eu tentasse acertar um golpe. Mas não, depois disso ela saiu de meu quarto sem fechar a porta.

Os passos se arrastaram até o quarto de minha irmã. De começo, já estava apreensivo. Mas meus sentimentos explodiram apenas quando pude ouvi-la chorar. Rapidamente sai da cama e apanhei a arma. Chequei se a mesma estava carregada e pronta para atirar, e estava. Na ponta dos pés fui indo em direção ao quarto de minha irmã.

Mesmo que tal sobrevivente teve compaixão ou dó de mim, não suportaria nem toleraria que tentassem qualquer coisa contra minha pequena. Não importava se era homem, mulher, velho, novo. Estavam mexendo com ela, e isso eu não poderia deixar. Enquanto ia em direção ao quarto de minha irmã, fiquei pensando como seria tal pessoa. Se é realmente necessário mata-la. Decidi que veria a situação antes de me precipitar a fazer qualquer ato. Mas não teve jeito. Olhei para dentro do quarto e a pessoa estava com a mão dentro do berço de minha irmã, fazendo-a chorar mais ainda. Apunhalei a arma, mirei e... apertei o gatilho.

Nesse instante, minha visão dilatou e por um instante, vi tudo ficar lento, como se eu tivesse parado o tempo. Não conseguia me mexer, mas pude ver minha mãe aparecendo em minha frente. Ela dizia:

- Não Nikolai, você não foi feito para isso. Você não é um assassino. – e desapareceu. O tempo ainda estava dilatado, e eu esperava a bala sair do cano, mas agora com certo arrependimento. Minha mãe estava certa. O tempo volta ao normal assim como minha visão, e tenho uma surpresa. O tiro falhou. Eu não havia carregado a arma do jeito certo, e a bala ficou presa no tambor. O barulho do tiro falho despertou a atenção da pessoa, que se virou. Quando vi aquele rosto, minha mão se contorceu como quando se quebra os ossos da mesma. Involuntariamente, a arma caiu de minha mão que estava agora normal. Meu coração “fisgou e olhei com espanto. A princípio não acreditei. Mas tudo ficou claro depois que associei o que acontecera antes daquilo. Era Natalie!

Corri ao seu encontro e dei um abraço nela. O mesmo ela fez. Já em seus braços, não pude conter as lágrimas. Exclamei:

- Nat! Você está viva!

- Sim Nik, meu amor!

Esse provavelmente era o dia mais feliz de minha vida. Depois disso, não falei mais nada. Mas aconteceu uma coisa muito melhor. Olhei fundo naqueles olhos castanhos, passei a mão em seus cabelos longos e sedosos, e me senti mais apaixonado do que já era. A partir daquele momento, percebi que não existiam coincidências. Talvez, naquele dia, eu fora o premiado de Láquesis. Tudo se confirmou quando nossos lábios se tocaram. A felicidade havia tomado conta de mim, mas preferi aproveitar o momento. Aquele beijo foi o mais apaixonado que já tivemos. Em meio ao inferno, eu encontrava minha alma gêmea. Agradeci á Deus por esse momento, por ter me dado mais forças ainda para lutar naquele purgatório. Acho que naquele dia, eu daria uma festa por ter reencontrado com minha amada.

- Como você sobreviveu todos esses dias, Nik? – Aquela voz me confortava, era doce como mel.

- Foi os piores dias de minha vida. Quando tudo começou, eu estava em casa. Tive que sair as pressas com Alice, e ainda capotei o carro. Passei 2 noites fora de casa, e 1 delas em um beco. Encontrei um grupo de mercenários que não matava só zumbis, e sim pessoas. Muitos desses dias, passei correndo desses demônios viventes, até descobri uma fortaleza deles. Descobri também que Seattle foi destruída, por bombardeiros do exército. E me parece que não existe mais governo. Venha meu amor, vou teu contar o resto. Mas antes, pode me ajudar a alimentar Alice?

Enquanto alimentávamos minha irmã, vi que Natalie tinha uma espécie de dom, um carisma muito forte com crianças. Aquilo seria ótimo, pois ela poderia cuidar melhor de Alice do que eu. Estávamos com fome, e era a hora do almoço, então decidimos comer alguma coisa. Natalie sabia cozinhar muito bem, mas não poderia fazer uma comida exótica pois não tínhamos suprimentos para isso. Ela disse:

- Estou vendo que você está faminto Nik, e como está branco! Vou preparar alguma coisa pra você.

 - Não acho que tenha muita coisa para se comer aqui Nat, a não ser coisas básicas. É melhor comermos os frios primeiro pois logo estragarão. – Retruquei. Surpreendi-me quando de um dos armários, ela tirou um pacote de batatas desidratadas e olhou-me com uma cara sarcástica.

- Parece que sua mãe pensou em você, não? Aliás, onde está ela?

Não respondi. Cada vez que me lembrava dela, meu coração se apertava de pensar que meus progenitores se foram.

- Depois conversamos sobre isso meu amor. É uma longa história...

- Tudo bem Nik, agora me responda, tem alguma carne por aqui? Qualquer coisa. Frango, carne bovina, peixes.

- Acho que meu pai guardou no freezer algumas carnes e peixes, mas com o tempo acho que já deve estar estragado. – Complementei. Ela abriu o congelador e ficou tirou 2 filés de frango. Fiquei surpreso ao ver que ainda havia gelo ali dentro, embora fosse notável uma grande poça de água. Rapidamente ela fechou o freezer para manter o gelo e abriu uma das portas dos armários. Tirou uma lata de óleo vegetal e acendeu o fogo. Depois, pegou uma panela e uma frigideira, e começou a preparar. Colocou o óleo na frigideira, e ali mergulhou os filés de frango. Na outra panela, colocou um pouco de água de um galão presente do lado da geladeira e deixou ferver. Depois esperou um pouco para resfriar parcialmente a água e despejou as batatas. Mexeu ali, virou aqui, e dentro de poucos minutos estava comendo, embora simples, a melhor comida que eu já tinha comido desde o inferno começar.

- Sabe, é ótimo poder saborear de novo o gosto de comida de panela. Eu já estava enjoando de tanto queijo.

- Você passou esse tempo todo só comendo queijo? Qual seu problema?

- Não saber cozinhar que nem minha deusa. – Disse. Ela sorriu com essas palavras e notei um brilho em seus olhos.

- Então, pode continuar o que estava me contando? –

- Sim, claro. Então, depois daquele cara que eu te disse, que era do exército, me ajudar e eu sair daquele metrô, eu encontro ele de novo, só que ele já estava morto e estava com capacete cobrindo o rosto, só fui perceber que era ele quando disse seu nome, se é que era ele e não estou delirando. Mas a bolsa que ele me deu está até hoje aqui. Então peguei o carro daquele megalomaníaco que matou aquela família nos primeiros dias, e fugi para cá. Até que encontrei onde você dormia, naquela mercearia.

- Nik, eu conheci esses mercenários! Eles estavam me perseguindo um dia, então me escondi naquela mercearia!

- Então era você desde o início! Eu sabia que devia ter ido ao andar de cima, não sei por que não fui!

- Não se preocupe, não tive quaisquer problemas lá. Até passei bem, a única parte ruim foram as noites que eram frias que eu não tinha cobertor e alguns mordedores. De resto, não faltaram comida nem acessórios de limpeza. Nik, agora poderia me contar o que aconteceu com seus pais? – Aquilo me derrubou, mas teria de conviver com tal fato. Não poderia ser mais fraco que nem era antes

- Para falar a verdade, não sei realmente o que aconteceu. No primeiro dia do inferno eles estavam fora de casa pela madrugada, quando tudo começou. Eu sabia dirigir, não perfeitamente, mas sabia. Peguei Alice e rapidamente saí de casa, sem rumo. Capotei o carro e... A partir daí você já sabe. Então quando voltei para casa antes de partir de novo, encontrei esse bilhete dizendo tais palavras que guardo até hoje em minha mente... – Não pude conter uma lágrima – E junto dele encontrei uma mala cheia de roupas e outra de comida e água. Mas eu não parei de ver ela desde então. Sempre que estou precisando, ela vem me ver e até me dá conselhos. Não sei se isso é delírio pela perda, ou realmente acontece.

- Claro que acontece Nik! Não pense dessa maneira. Seus pais só querem seu bem e cuidam de você até hoje. Mas diga-me, como conseguiu aquela arma?

- A pistola? Bom, alguns dias atrás fui até o quarto dos meus país ver se achava um álbum de fotos, quando acabei achando uma caixa de madeira estranha, com a sigla “OSS”. Abri e achei a arma junto com o dossiê de toda a trajetória de meu bisavô na Segunda Guerra Mundial. A arma era uma pistola de honra pelos feitos dele na guerra. Nat, não quero te pressionar, mas se puder me contar onde estão seus pais eu ficaria grato... – Senti que aquela pergunta não era fácil de se fazer, especialmente naquele momento delicado. Mas ela era forte e não vacilou em responder:

- Bom, nós começamos a fugir apenas na manhã do apocalipse, não na madrugada que nem você. Meu pai não possuía armas, então apenas fomos indo para o leste, para o interior do país. Acabamos sem gasolina e tivemos que dormir num posto. Ali, uma horda apareceu e pegou meu pai. Minha mãe eu saímos correndo, mas na hora do pavor ela acabou agarrada. Mesmo comigo tentando resistir e puxá-la de volta, não foi suficiente e tive que ir embora. Então, voltei para casa.

- Sinto muito meu amor – disse, abraçando-a.

- Não se preocupe, Nik. Estou bem. – ela ponderou. Era uma mulher forte, podia se notar facilmente. Melhor aliada naquele inferno eu acho que não poderia encontrar. E o melhor de tudo? Nós nos amávamos. – Mas não ache que vai escapar da louça, tá? E vai ser difícil lavá-la sem água corrente! – e finalizou me dando um beijo.

Troquei de roupas, coloquei o coldre e a pistola. Natalie tinha aprendido com sua mãe noções básicas de primeiros socorros e trocou meu curativo. Ainda não sabia porque eu tinha uma gaze na minha testa, e ela disse que no calor do momento, ela se precipitou e me atacou na cabeça com uma panela. Não a culpei pelo feito, e foi até melhor pois assim ela saberia se defender sem minha ajuda também.

Decidimos conversar o que faríamos daquela data em diante.

- Nik, o que faremos daqui em diante?

- Pensei que fixar-nos por aqui mesmo. Conhecemos a cidade bem e ela é afastada do centro grande. Tenho um carro de fuga á algumas casas daqui. Podemos plantar uma horta quando a comida acabar, e a mercearia não é muito longe. Eu tenho uma arma de fogo e ainda a cerca, então estamos seguros.

- Sim, mas e aqueles mercenários?

- Eles não nos detectarão se ficarmos atentos. – Conclui. Mesmo ela sendo forte, percebi que até os mais fortes em uma situação daquelas ficavam debilitados. Ela falou:

- Nik, podemos parar de conversar sobre esse inferno por um momento? Quero esquecer que nunca mais verei certas pessoas; que nossas carreiras foram arruinadas. Que o mundo nunca mais será como era.

Passamos o resto do dia como se fosse qualquer dia normal em que ela ia á minha casa. Ela não tinha perdido seu smartphone, embora o mesmo estivesse com bateria fraca. Escutamos música, conversamos sobre a escola e o que tinha acontecido com todos os outros.

- Acho que vou sentir falta da escola, sabe? Aquelas aulas em que ficávamos sem fazer nada, apenas conversando besteira e ouvindo música, planejando de sair... Lembra daquela vez que a Emily ficou trancada no banheiro? – E começamos a rir juntos – A diretora teve que chamar até um chaveiro para abrir a tranca e quando ela saiu, coitadinha! Estava toda envergonhada!

- Sim, aquele dia foi hilário! – Retruquei – mas acho que o pior foi quando o Michael estava com raiva das professoras e quis pular o portão da escola! – Não me segurei, e de tanto rir, meu estômago doía – Ele pulou, mas caiu de cara no chão! Teve que ir pro hospital rapidinho!

- Ah Nik, eu fico me lembrando de quando eu e as meninas saíamos para ir ao shopping fazer compras... Quando íamos, eu e você, andar no parque todo fim de semana... Me lembro da festa em que tudo começou entre nós... – Ela apoiou sua cabeça em meu tórax – Será que algum dia voltaremos á viver numa sociedade normal, sem essas coisas malditas?

- Não sei meu amor, realmente não sei. Mas temos um ao outro, e para mim isso é o que mais importa agora. – E ela sorriu. Nos beijamos por alguns segundos e depois percebemos que era tarde.

Alice começou a chorar bem nesse instante, mas mesmo com sono a tarefa precisava ser feita. Com sua milagrosa ajuda, nos demos comida á Alice e logo ela parou de chorar. No quarto, porém, chegamos á um dilema. Onde Natalie dormiria?

- Onde você quer dormir? – Indaguei

- Acho que na... – senti um tom sarcástico – mesma cama que você? – e estranhei esse final.

- Mas meu amor... – não tive tempo de completar. Ela rebateu:

- Nik, somos um casal ou não?!

- Claro, claro, mas... É que é meio estranho... Digo... Nunca dormi com você antes... Não que eu seja pervertido, mas...

- Fique tranquilo, eu não ligo. E se somos um casal, temos de fazer isso, e além do mais, quando mais gente na visão de outras pessoas, mais segurança. E se você teme seus pais, eles aprovariam essa atitude – E as palavras dela se confirmariam. Enquanto entrava no quarto, vi minha mãe, vestindo o mesmo vestido branco que sempre usava quando me visitava, acenar com a cabeça com um sinal de positivo e murmurar:

- Ela está certa!

Dormimos na cama dos meus pais, como um casal. Nada de mais aconteceu. Dormindo abraçado com ela. Acordei no meio da madrugada, e notei meu pai parado na minha frente. Vestia um terno de gala todo branco. Ele falava assim como minha mãe, pela mente, sem som algum. Murmurou:

- Nikolai, preste atenção. Não tenha medo de nada, e essas coisas mínimas de casal são o que você deve se preocupar menos ainda. Se qualquer coisa acontecer, deixe acontecer. Vocês se amam, não fique apreensivo. É uma companhia humana nesse inferno, ainda mais a sua namorada, é uma dádiva, meu filho. – e desapareceu.

Aquelas palavras me encheram de força, e para acabar, lembrei-me do salmo que sempre lia ao acordar. Naquele dia, porém, eu esquecera.

“Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente,

dize ao Senhor: Sois meu refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio...”

Depois de acabar, olhei para seu rosto magnífico e mais uma vez, me deslumbrei em sua beleza. Meu pai estava certo. Deus me dera uma última luz no apocalipse. 


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Notas finais do capítulo

e ai, gostaram dessa revelação? esperem que tem mais vindo por aí!
até segunda!



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