Eu fiquei perplexa, como podia isso acontecer?

–Por que eu não estou com uma de vocês? – Perguntei.

–Bem, toda vez que eu, você ou a Lary fazemos algum trabalho juntas, algo da errado ou alguém conversa excessivamente... Dai o professor me mandou fazer com a Jessica. –Aria explicou-me, se ela estava com a Jess, provavelmente a Lary estava livre.

–Lary, você está livre para a aula de física? –Eu perguntei com a esperança de que seus lábios se movessem e saísse um som “sim”.

–Não. –Ela disse e fez um beicinho de tristeza. –O professor me colocou com o Martin, desculpa amiga. –“Droga” eu pensei.

Martin era um simples nerd que Lary roubava as atividades.

Aquilo sim poderia piorar meu dia.

Como eu iria falar com ele? “Oi garoto do ônibus que desapareceu e de repente apareceu aqui na escola, Avan né?” Claro que eu não poderia trata-lo assim.

–Ei Vic, você vai ficar aí parada? Ou vai para o intervalo com a gente? –Perguntou Aria, interrompendo meus pensamentos.

–Eu vou para a biblioteca, certo? Preciso pegar uns livros e logo depois eu volto! –Eu não estava 100% bem para ir ao intervalo e ver os alunos comendo um Pão Suíço cheio de presunto, fazendo com que eu me lembre do lindo pescoço da garota, todo rasgado ou qualquer outra refeição que tenha carne, presunto ou ketchup. 

–Certo então, depois agente se vê! –Disse Lary, em um tom alegre.

[...]

Eu subia as escadas olhando fixamente para frente. Desejando chegar logo a biblioteca e pegar uma distração para passar o tempo.

Abrindo a porta, não olhei muitas pessoas lá, tinha umas três ou quatro, certamente havia mais alunos no centro da biblioteca.

–Com licença, onde fica a seção de física? –Perguntei à bibliotecária, na biblioteca tinha todos os nossos livros –sempre quando um aluno não tinha o livro, pegava emprestado de lá e tirava a Xerox- Eu queria ver o nosso próximo assunto ou simplesmente o que eu ia dar ao lado de Avan.

–Vire a esquerda minha jovem e logo depois a direita. –Ela disse, em um tom baixo, sem olhar para mim.

Eu obedeci.

Procurei, procurei... Nossa, tinha muitos livros, mas de 400? Ah, encontrei a prateleira.

–Vejamos... –Sussurro, procurando livro por livro.

E então eu virei.

Algo me chamou atenção, era... Era... Avan! Na mesa ao lado! Lendo Romeu e Julieta? Nossa, que romântico! Quem diria que um garoto tão assombroso leria um conto clássico de William Shakespeare! Mas isso não importava agora, eu queria, na verdade eu devia, falar para ele sobre nossa parceria em física.

Como seriamos parceiros sem nem se falar?

“Respira, ande e sorria” pensava.

Ando em sua direção, ele não me olhava –embora eu quisesse- estava fixado no conto de Shakespeare, eu puxo a cadeira rapidamente.

Frio na barriga e coração acelerado eram meus sentimentos. Porque ele me deixava assim?

Sentei-me.

Ele continuava fixado no livro.

–Avan? –Eu chamei, com a voz tremula e um nó na garganta se formou em mim.

Ele levantou o olhar demoradamente, seus olhos negros eram lindos, órbitas negras.

–Sim? –Pela primeira vez eu escutei sua voz, ela era grossa e rouca, ela era perfeita, tinha um pouco de tom sexy e doce. Era realmente bonita.

–É-É nós estamos juntos na aula de física, certo? –Eu queria que ele respondesse logo, queria escutar melhor a tonalidade da sua voz.

–Victoria Hastings? –Ele me respondeu com outra pergunta. Ele encarava-me e eu o encarava de volta.

–Sim. –Eu respondi friamente.

–Nós estamos juntos -Ele não tinha terminado, mas queria que tivesse. –Em física. –Agora estava acabado.

Ai meu Deus, ele era lindo, o jeito como mexia os lábios e os seus olhos... Eu queria beijá-lo. O que? Eu mal conhecia o garoto! E já queria beija-lo, que tipo de criatura eu sou? É melhor conter meus atos. Prometo a mim mesma não ter esses pensamentos sujos em horário indevido!

Ele voltou a ler o livro, ignorando minha presença novamente.

–Uh, aqui faz muito frio né? –Puxo assunto, não sabia o que falar, só queria que ele conversasse comigo. Por que estava tão interessada naquele garoto? Está era a pergunta que me perseguia desde quando estava no ônibus. Lá estava: Eu e Avan, eu poderia fazer as mil e uma perguntas que eu tinha em mente, mas apenas por chegar perto dele, minha língua trava, meu corpo esfria e forma-se um nó em minha garganta.

Ele levanta novamente aquele olhar, não só aquele olhar, e sim“O olhar”.

Impulsionou seu corpo para frente, levantando de uma forma que me intrigava. Por que você está saindo? Eu me perguntava... Falei algo indevido? Por favor, não saia, eu implorava em pensamento.

Ele andando, até chegar atrás de mim. Parou. Eu não olhei para trás, mas sentia sua presença.

E de repente... Ele colocou seu moletom em mim, ai deus... Ele realmente colocou? Nossa, que garoto doce e... naquele momento eu não saberia no que pensar, só em mim e em Avan. Sentia seus dedos em mim, podia virar para beijá-lo? Certamente não! Não iria quebrar a promessa que havia feito antes a mim mesma. Ou iria?

Estava na escola, era proibido beijo. Sei que aquilo teria sua hora certa... Nunca fui tão atirada como hoje, mas meu corpo pedia. Eu queria sentir seus lábios, aquele não era o momento, nem a hora. Mas ia chegar... Eu sei.

Mil e um pensamentos em minha pequena cabeça... Apenas pelo fato de Avan ter colocado seu casaco em mim.

–Está realmente frio... –Ele falou por fim, interrompendo meus pensamentos sujos.