Soul Mates escrita por Clara Berry Fabray


Capítulo 4
[04]


Notas iniciais do capítulo

O capítulo já estava pronto há algum tempo, mas minha vida anda uma bagunça tão grande que mal tenho tempo para respirar. Podem me apedrejar...
RIP Cory



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[04]


Rachel Berry: “Sou gay e com orgulho”

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Segunda-feira (02), a atriz Rachel Berry (21) convocou uma coletiva de imprensa para “um grande anunciamento”. A coletiva não durou mais de dez minutos, a mulher foi breve em seu discurso.

“Isso está sendo um pouco difícil para mim”, falou em tom de descontração. “Eu chamei vocês aqui hoje porque quero compartilhar isso com meus fãs e, para que isso seja possível, preciso falar com vocês. Eu... Eu sou gay. Sou gay e com orgulho. E eu colocar tudo isso para fora não vai mudar quem eu sou, eu vou ser a mesma Rachel Berry que estava atuando em Wicked na Broadway, a mesma que está filmando Wicked agora. [...] É isso, obrigada.”

A atriz construiu a maior parte de sua carreira na Broadway, fazendo com que seu pronunciamento não causasse tanto alvoroço na fanbase criada na Broadway, que mostraram seu apoio pela atriz nas redes sociais – na cultura popular, atores da Broadway serem homossexuais é algo comum. A questão agora é saber como isso vai interferir em sua ascensão em Hollywood.

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Rachel fechou o computador e colocou-o na mesa de centro. Kurt apareceu por trás dela, trazendo uma xícara de chá.

– Obrigada – disse a morena.

– Sem problemas – falou, sentando-se ao lado dela. – Você se arrepende?

– De maneira alguma – tomou um gole, aconchegando-se no sofá. – Alguma notícia do estúdio?

– A sua sorte é que um dos chefões do estúdio tem uma filha lésbica – o homem sorriu. – O estúdio e os patrocinadores soltaram uma nota coletiva dizendo que estão felizes por você ter tomado um passo importante em sua vida.

O celular da mulher vibrou ao lado do computador. Pegou-o e leu a mensagem que havia acabado de chegar.

– Quinn?

A morena assentiu.

– Como você soube?

– O seu sorriso. Você fica sorridente quando fala com ela.

Rachel riu e digitou rapidamente, colocando o celular no bolso da calça e levantando-se.

– Aonde você vai?

– Me trocar – falou, já fora da vista do amigo. – Tenho um encontro.

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– Um encontro?

A loira assentiu, entrando no banheiro para se trocar.

– Mas, Lucy... Por que um encontro?

– Para mostrar a ela quem eu sou de verdade.

A porta do banheiro se abriu alguns minutos depois e a mulher saiu de dentro dele, carregando as roupas que estava vestindo antes.

– Lucy, uau!

– Fico demais?

Ela olhou-se no espelho, tentando descobrir em que ponto havia exagerado.

– De maneira alguma. É só que... Faz tempo que eu não te via assim. Você parece a velha Lucy.

– Acho que eu precisava de um incentivo – riu. – Agora tchau. Tenho que terminar de arrumar o apartamento.

– Mas...

– Tchau!

O homem desistiu de lutar e caminhou em direção à porta do apartamento.

– Eu volto amanhã de manhã.

– Tá bom!

A mulher trancou a porta sem ao menos dar tempo para que Blaine se vira-se.

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A morena tocou a campainha pouco depois das oito horas da noite. Estava um pouco nervosa. Ela e Quinn haviam conversado bastante na semana que havia se passado. Era incrível que se conheciam há apenas poucos dias, parecia que eram anos de amizade que estavam começando a se transformar em algo a mais.

– Oi – falou timidamente ao ver a porta se abrindo.

– Boa noite – respondeu a loira, com um sorriso no rosto.

Rachel entrou no apartamento e finalmente pôde ter uma visão de corpo inteiro da outra.

– Uau, Quinn! Você está linda!

– Obrigada – disse, sentindo suas bochechas corarem. – Você também está muito bonita, Rach. Uhm... Fique à vontade. Eu vou pegar a comida – a outra mulher abriu a boca para falar, mas a mais velha cortou-a. – Eu sei que você é vegan. Não se preocupe.

– Como você...

– Eu fiz a minha pesquisa, Rachel. Eu não sou aquela badgirl que aparece na mídia o tempo todo. É só uma carapuça. É mais fácil me proteger assim.

Ela então desapareceu pelo corredor.

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O jantar transcorreu normalmente. Muitas risadas, muita conversa, muitas coisas novas descobertas. Elas estavam realmente se conhecendo naquela noite. Era a primeira vez que estavam realmente sozinhas desde o “encontro” no banheiro. E, dessa vez, não precisavam se preocupar em alguém interrompê-las.

– Venha – disse a loira, levantando-se da mesa e puxando Rachel pelo braço. – Quero te mostrar uma coisa...

A dona do apartamento guiou a outra pelo corredor estreito. O apartamento não era tão grande quanto a morena imaginara. O corredor terminava em uma espécie de bifurcação. Quinn abriu a porta da esquerda e entrou no local.

– Nossa! – falou a mais nova, entrando no ambiente. – Esse lugar é lindo!

– Rach, não tem nada demais. É só uma sala com um violão e um piano.

– Mas não é um piano. É um piano de cauda que ocupa quase esse quarto inteiro!

– Enfim... – cortou-a com uma risada leve. – Eu sei que isso é um pouco estranho, mas eu comecei a compor uma música para você... – a sua voz foi diminuindo durante a fala.

– Uma música?

A mais velha assentiu e sentou-se ao piano. Fechou os olhos e começou a dedilhar nas teclas.

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It's a little bit funny, this feeling inside

I'm not one of those, who can easily hide

I don't have much money, but girl if I did

I'd buy a big house where we both could live.


If I was a sculptor, but then again no,

Or a woman who makes potions in a travelling show

I know it's not much, but it's the best I can do

My gift is my song and this one's for you.

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Ela parou de tocar e olhou para a morena no canto da sala.

– Ok, isso ficou mais estranho do que eu esperava – falou, rindo novamente.

– Ela, ela é linda, Quinn... A sua música é linda.

– Obrigada, mas, na verdade, é sua música.

Rachel desencostou-se da parede e caminho a passos firmes até o piano. Colocou as mãos em torno do rosto da loira e uniu seus lábios.

Quinn não esperava por aquilo.

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Algumas semanas haviam se passado desde o que as duas gostavam de chamar de “O dia”, já que foi a partir daquele dia que começaram a namorar.

Quinn havia acabado de chegar em seu apartamento. Estava extremamente cansada, havia sido duas semanas intensas de shows. Agora, tinha dois dias de descanso antes de voltar aos palcos.

Deixou sua mala perto do sofá e deitou-se. Estava exausta. Notou a luz vermelha piscando na base de seu telefone fixo. Levantou-se, apertou um botão e a secretaria eletrônica começou a falar.

“Você possui uma nova mensagem. Primeira nova mensagem:” fez se um silêncio e, logo depois, iniciou-se a mensagem. “Oi amor...” a loira sorriu. “Sou eu. Hoje é quinta, são 15:30. Você está voltando para Los Angeles hoje, e eu estou a caminho do aeroporto para ir ao Kansas. São algumas cenas externas. Devo estar de volta em três semanas. Vou tentar te visitar domingo... Estou morrendo de saudades. A gente vai se falando. Te amo!”

A mensagem terminou e Quinn limpou uma lágrima solitária que teimava em escorrer pelo seu rosto. Sentia falta da namorada, mais do que esperava. Mais do que gostaria. Foi até a cozinha e fez para si uma xícara de café. Pegou a mala e, com o café em mãos, foi caminhando pelo apartamento em direção ao seu quarto. Parou repentinamente ao ver a porta de seu quarto de música entreaberta e, consequentemente, ao ver a bagunça localizada em cima e em torno de seu piano. Deixou a mala no meio do corredor e entrou no local.

As primeiras estrofes da música de Rachel estavam no apoio para partituras do piano. Todos os outros papéis espalhados pelo quarto eram tentativas de continuar a música.

Sentou-se e começou a passar os dedos pelas teclas.

– My gift is my song and this one's for you – sussurrou. - And you can tell everybody, this is your song – cantarolou de olhos fechados, tentando criar uma melodia que se encaixasse com a letra. – It maybe quite simple but now that it's done.

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– Por que estamos indo para São Francisco mesmo? – perguntou Kurt.

Era manhã de domingo. Rachel e Kurt estavam voando do Kansas para a Califórnia. Deveriam chegar lá em algumas horas.

– Ela vai estar fazendo um show hoje. Vou tentar assistir.

– Vai no backstage?

Negou com a cabeça.

– Nunca fomos vistas juntas, seria meio suspeito, não? Se fossemos amigas públicas, se trabalhássemos juntas...

O homem assentiu e voltou-se para o monte de papéis em sua frente.

– Depois você vai para o hotel dela? – a morena assentiu. – Vou aproveitar então e matar as saudades de Blaine – ambos riram. Kurt voltou a encarar a pilha de papéis em sua frente – Você termina de gravar Wicked daqui a dois meses, certo? – ela assentiu novamente. – Então essas aqui já estão fora – o homem tirou algumas folhas da pilha e guardou-as em uma pasta.

– O que é tudo isso, Kurt?

– Isso, minha querida, são suas propostas de trabalho. Sem audições. Todos esses filmes, essas séries, te querem.

– Alguma coisa da Broadway?

– Nenhuma proposta, mas ouvi dizer que vão fazer um revival de Funny Girl.

A morena suspirou e escorregou na poltrona. Sentia falta de New York. Sentia falta da Broadway. Mas todas aquelas propostas de trabalho, tudo aquilo era irrecusável.

– O que eu faço, Kurt?

– Dê uma lida nas propostas. Vou ver que dia teremos audições para a Fanny.

– Nenhuma previsão para O Mágico de Oz?

– Rach, você saiu de Wicked para gravar Wicked e ainda quer continuar em Oz? E Funny Girl? É seu sonho, Rachel!

– Ninguém vai ser uma Fanny igual Barbra foi. Não sei por que ainda tentam...

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– Estão gostando da noite? – gritou Quinn de cima do palco.

A plateia gritou ainda mais alto e a mulher sorriu.

– Eu não sei se vocês sabem, mas São Francisco é a minha casa. Então, – sentou-se ao piano. – eu decidi fazer uma coisa especial para a noite de hoje. Eu terminei essa música alguns dias atrás. Eu ainda não gravei-a. Eu nunca toquei-a para ninguém, exceto um trecho para a dona, algumas semanas atrás. Essa música foi escrita para uma pessoa. Essa música é dela, e eu espero que vocês gostem. Amor, se você está aqui, essa é para você.

Começou a tocar o piano, os dedos voando pelas teclas. Os olhos fechados já estavam marejados.

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It's a little bit funny, this feeling inside

I'm not one of those, who can easily hide

I don't have much money, but girl if I did

I'd buy a big house where we both could live.

.

If I was a sculptor, but then again no,

Or a woman who makes potions in a travelling show

I know it's not much, but it's the best I can do

My gift is my song and this one's for you.

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As cinco mil pessoas que lotavam a casa estavam em completo silêncio, incluindo Rachel.

A morena tinha uma mão cobrindo a boca, os olhos molhados e lágrimas escorrendo pelas suas bochechas.

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And you can tell everybody, this is your song

It maybe quite simple but now that it's done,

I hope you don't mind, I hope you don't mind

That I put down in words

How wonderful life is now you're in the world.

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Continuava de olhos fechados. Tentava segurar o choro para que a voz não falhasse. Os dedos passeavam habilidosamente pelas teclas. Era só ela. Ela, o piano e o amor. Aquele calor vindo de seu coração. Um amor ardente. O amor que sentia por Rachel.

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I sat on the roof and kicked off the moss

Well a few of the verses, well they've got me quite cross

But the sun's been quite kind while I wrote this song,

It's for people like you, that keep it turned on.

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So excuse me forgetting, but these things I do

You see I've forgotten, if they're green or they're blue

Anyway, the thing is, what I really mean

Yours are the sweetest eyes I've ever seen.

.

And you can tell everybody, this is your song

It maybe quite simple but now that it's done,

I hope you don't mind, I hope you don't mind

That I put down in words

How wonderful life is while you're in the world.

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Todas as pessoas que ainda estavam sentadas levantaram-se para aplaudir a loira, que agora já tinha lágrimas escorrendo por suas bochechas.

– Obrigada – conseguiu dizer. – Agora, vamos voltar para a programação normal – riu e voltou-se para o piano, começando uma melodia animada.

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– A música que a Quinn cantou... Era para a Rachel, não?

Blaine assentiu, guardando o celular no bolso.

– Eu a ouvi cantar essa música pela primeira vez hoje no ensaio geral. Ela normalmente me mostra as composições novas assim que as acaba, antes de mandar para a gravadora, antes de tocar em algum show... Mas com essa foi diferente.

Naquela noite, o backstage estava incrivelmente calmo. Os dois homens estavam na coxia, vendo a loira se divertir no palco.

– E Rachel? O que ela achou?

– Não sei. Ela estava no meio da pista a última vez que eu a vi. Ela não me mandou mais nada depois da música.

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– Arrasou hoje, Lucy! – disse o homem ao entrar no camarim da loira.

– Obrigada – falou, prendendo o cabelo. – Você acha que eles?

– Se eles gostaram da música? – a mulher assentiu. – Adoraram. Conversei rapidamente com alguns fãs depois do show e eles disseram que mal podem esperar pelo lançamento.

– Que bom... Foi difícil apresentar essa música hoje. Essa música é da Rachel, eu queria que ela a tivesse ouvido.

– Quem disse que ela não ouviu?

A mulher virou-se surpresa.

– Ela está aqui?

– Já foi embora.

– Blaine! Por que você não me avisou? Por que ela não estava no backstage? Onde ela está?

– Vamos lá – disse sentando-se. – Eu não sabia que ela vinha, ela não quis e na plateia.

– Onde ela está hospedada?

– Ah, e você acha que eu sei?!

– Pergunta para o seu namorado!

– Ele não é meu namorado. Pelo menos não ainda. E por que você não liga para a sua namorada? Afinal, quem está atrás dela é você, e não eu...

– Nossa, calma! – a mulher riu. – Vamos embora, eu ligo para ela quando chegar ao hotel.

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– Oi, amor!

“Oi, Rach! Soube que você esteve no meu show hoje...”

– Não posso mentir – deu uma leve risada. – Fui sim e, a propósito, adorei sua música nova.

“Quantas vezes vou ter que repetir que é a sua música? E por que você não me avisou que ia?”

– Não queria estragar a surpresa! Mas a música é realmente linda, Quinn. Obrigada.

“Está agradecendo por quê?”

– É o melhor presente que alguém já me deu. Queria poder agradecer de alguma maneira...

“Que tal vir para o meu hotel? Acabei de sair do show, ia esperar chegar no hotel para te ligar, mas não aguentei” riu. “Agora, falando sério, por que você não vem para o meu hotel? Estou com saudades.

– E quem disse que eu já não estou?

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Quinn estava praticamente saltitando dentro do elevador. Fazia bastante tempo que não via a namorada. Só saber que ela havia ido ao show já a havia deixado animada. Agora, que a morena estava esperando-a...

A porta do elevador se abriu e a mulher loira saiu correndo pelo corredor em direção ao quarto em que estava hospedada.

– Rachel? – disse, ao entrar no local.

– Cozinha!

A mais velha deixou sua bolsa na sala e foi até o local onde a namorada disse que estava. Sorriu ao vê-la de frente para o fogão. Caminhou até ela e abraçou-a por trás.

– Senti sua falta.

– Eu também senti a sua – virou-se e beijou a namorada de leve nos lábios. – Mas estamos começando a parecer aqueles casais de velhinhos.

– Somos fofas demais... O que você está fazendo aí?

– Chá. Eu sei que você gosta de tomar depois dos shows.

– Que atenciosa essa minha namorada. Precisa de ajuda?

– Não, já estou acabando. Vai querer comer alguma coisa?

– Comi antes do show. Dá tempo de eu tomar um banho rápido? Pulei demais hoje...

– Claro que dá. Te espero aqui.

– AH, só mais uma coisa... – a morena olhou-a curiosa. – Como você entrou aqui?

– Conspirações de meu agente com o seu.

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Rachel já havia ido dormir. Eram quase duas horas da manhã. A loira estava na sacada de seu quarto do hotel, observando a cidade se estender diante dos seus olhos. Como as coisas haviam mudado nesses dois anos que ela estivera morando em Los Angeles...

– Quinn? Querida?

A mais velha virou-se e se deparou com a morena vestindo seu pijama com um rosto sonolento.

– Volta para a cama, Rach... Eu já estou indo.

– Tá bom... – virou-se e fez o caminho de volta para o quarto.

Quinn riu e apoiou os braços no parapeito, deixando as mãos penduradas no ar.


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Notas finais do capítulo

Eu prometo que o próximo capítulo não vai demorar um mês e meio para ficar pronto. Não deixem de comentar e até o próximo, e possivelmente último, capítulo de Soul Mates.



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