Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 8
Tensão


Notas iniciais do capítulo

bem... repostando o capitulo, porque o site tava bugado :s enfim, espero que esteja melhor agora.
—Ah, este cap veio rápido por ser continuação do outro, e quando acabava ele, acabou ficando grande demais, então o próximo será uma continuação deste.



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Chegamos lá não tão rápido como eu esperava e saltamos em um ponto desconhecido da cidade. Eles caminham quase em silêncio até onde querem ir. Eu disse quase, Willow e Bonnie ficam rindo e falando coisas aleatórias que não entendo. Percebo que havia outro cara no trem conosco, um que não havia visto, e ele anda ao meu lado, conversando com o ex-garoto cinzento. Não tive coragem de perguntar seu nome.

Olho em volta e percebo com um choque o lugar onde estou. Ruas desniveladas e mal limpas, prédios e outras construções ruindo e mofadas, estamos na parte esquecida. Estamos no lugar dos sem-facção. Tremo novamente em pensar o que diabos eles iriam fazer aqui; eles não, nós. Eu decidi vir junto, eu não deveria, mas que droga. Droga. Não direi nada, não quero parecer acovardada ou qualquer outra coisa.

–Bem, chegamos. – fala o rapaz que eu não conhecia. Seus cabelos loiros caem sobre os olhos e ele bate com a mão em uma parede que a princípio parece oca, e feita de cimento homogênio, e esperamos em silencio e sem soltar o ar pelos segundos seguintes. Mas há uma resposta, outra batida, e uma porta se abre. Os rapazes se cumprimentam com apertos de mão e entram, o mais discretamente possível. O espaço interior é amplo, e claro, limpo e com um pouco de ferrugem no chão. Não consigo ver exatamente quem era na porta, mas sinto algo batendo nas minhas costas.

–Carl?- Adam para a minha frente e vejo que contém o esforço para não me tocar, e ao invés de abraçá-lo, estendo a mão. –Você veio, que bom. – ele aperta minha mão gentilmente, e logo a solta; não queria que parecesse que nos conhecíamos. Não tanto assim.

–Eu não sabia que você... Bem, aonde você vai?- pergunto, passando a mão na nuca. Minha voz saiu quase em um sussurro.

–É uma surpresa. Acredite, vai gostar. – então ele coloca sua mão em meu ombro, como sempre fazia, e começou a falar com o cara loiro.

–Está tudo pronto?- o cara parece meio incomodado pelo jeito como Adam, quero dizer... AJ, fala com ele, mas ele apenas concorda.

–Já checamos tudo.

–Vamos. – Adam me leva com ele e seguimos até uma outra saída que dá para uma espécie de garagem escura, e Willow corre para lá como uma criança desesperada.

-Até que enfim! Ai, senti saudades! – ela abraça e beija uma capa preta que cobre uma superfície, algo que não reconheço, e acho que tampouco conheço. É um objeto a principio estreito, e não muito alto, e a ansiedade toma conta dela, de forma que tira a capa preta de cima dele logo em seguida. É uma... moto.

–Como vocês... Uau! – eu me aproximo de Willow e me viro para os outros, é inacreditável. Mesmo. Motocicletas eram um meio de transporte usados antes ao sistema de facções, e pelo que eu sabia, foram extintos logo depois. Movo meu braço devagar e toco na superfície do motorizado. É lisa e bem conservada, mesmo não parecendo ser antiga. Volto meu rosto para os outros.

–Foi bem simples, na verdade. – diz Bonnie. –Meu pai costumava ter uma coleção de peças, e depois que ele... Bem, foi só saber como usar tudo. – ela perde um pouco da animação, mas troca alguns olhares alegres com o menino de cabelos dourados ao seu lado. Ainda não sei quem ele é. -Qual o seu nome?- pergunto a ele.

-Jim. – ele responde simplesmente e segura a mão de Bonnie. Não é preciso perguntar, um tanto óbvio. –Mas chega de papo, vamos começar essa festa. - Jim corre para outra capa e descobre a moto, sentando nela em seguida e colocando as mãos nos guidões e girando-os. Devo ser a única que parece desorientada, porque olho para Adam sem entender muito bem e ele concorda com a cabeça na minha direção. Agora que as mantas encontram-se todas no chão empoeirado, vejo claramente que são três motos, e uma quarta caindo aos pedaços. Eles se organizam em duplas, mas é claro que sobra alguém. Meu amigo segura minha mão e me leva com ele até um dos veículos. Senta na minha frente, em um banco de couro acolchoado e me pede para ficar atrás dele, e assim eu faço.

–Não se preocupe, eu fico aqui.- fala o garoto que costumava ser cinzento, ele não me parece deslocado, mas entendo que queira ficar longe do setor dos sem-facção, muitos abnegados passam por aqui.

–Depois trocamos?- pergunta Jim, colocando um capacete com desenhos de chamas em Bonnie e a ajudando a amarrá-lo. O outro deu de ombros. Adam pega dois capacetes na mão e me alcança um, de uma cor simples, e coloca o outro em si mesmo. Vejo que Willow subiu em uma motocicleta com outro garoto, e seus cabelos vermelhos e desalinhados caem pelas suas costas curvadas.

A abertura do local é aberta com algum tipo de controle remoto e consigo ouvir o som dos motores roncando, da fumaça saindo e dos pneus chiando contra o piso; quando o portão está totalmente aberto saímos em velocidade máxima. E é difícil demais de explicar. Mas irei tentar usando apenas uma palavra: adrenalina. Pensei que fosse liberdade, mas é diferente, não envolve pensamentos nem absorção de informações, e tudo passa depressa demais para que eu pudesse pensar em algo elaborado. Com certeza, adrenalina. Seguro nas costas da jaqueta de couro de meu ex companheiro de facção e coloco minha cabeça em sua coluna, em um instante de pavor.

Mas não há nada a temer, abro os olhos. O vento passa bastante rápido por mim. E vejo as outras duas motos na nossa frente, ele não acelerou a toda potência. Solto minha mão direita de suas costas e vejo fazer ondulações em pleno ar. Mexo meus dedos alongados como um reflexo, quase sem mexê-los de verdade, e em seguida solto meu outro braço. Olho para ambos os lados e sinto o vento em minhas bochechas e em meus braços, e rio como uma criança, quando vejo que Adam vira levemente a cabeça e me encara incrédulo, talvez eu não devesse estar fazendo isso. Mas que se dane, ele também não deveria ter se juntado à Audácia, e se não o tivesse feito eu não estaria quase caindo de uma motocicleta em alta velocidade. Então faço algo inesperado até vindo de mim, tiro meu capacete e balanço a cabeça no vento, enquanto Adam acelera mais a velocidade mas eu não me seguro nele. Ao invés disso, aperto minhas canelas sob as dele e inclino meu corpo para trás, estamos longe da garagem. Bem longe. E bruscamente ele para. E eu de alguma forma consigo sair da cima da moto antes de me desequilibrar e cair.

–Você ficou maluca?- o olhar que me lança é algo entre raiva e desespero. Não me sinto mal, mas estou cansada disso. Isso tudo; e não, não quero discutir com ele, nem brigar, nem nada. Eu quero aproveitar minha vida nova. E com ele aqui, eu não consigo. Ele não falou muito alto, mas os nossos companheiros pararam a poucos metros de nós e não entendem o que poderíamos estar discutindo. Alivio a tensão um momento em pensar em tudo isso e olho em volta.

Nunca esperei que um lugar pudesse ser tão grande como o setor dos sem-facção é. Eles devem ser numerosos, e enquanto estamos parados de nossos movimentos, consigo ver alguns deles nos olhando.

–Vamos apenas fingir que isso é divertido.- falo, e subo de volta na moto, e ele volta a ligá-la, ainda contrariado. Uma das garotas olha pra mim e tira o capacete, em sinal de simpatia. E andamos por mais alguns instantes, mas não é mais o mesmo, nada será o mesmo.

–Eu não estou aqui para tornar as coisas mais difíceis para você. Eu te amo, e eu sei que você sabe. – e por algum momento eu me sinto aliviada. Mas isso não é justificativa... Ou é? Não há como saber, então faço o que acho mais correto. Puxo seus ombros e o beijo, e não é como os beijos que costumávamos trocar durante os intervalos, este é um só, sinto-me realmente ligada a ele. Eu gosto de Adam, por mais que me doa admitir isso.

x-x-x-x


Chego no complexo com todas as correntes de energia fluindo pelo meu corpo, todas as minhas veias parecem formigas e eu me sinto... Viva. Balanço meu cabelo para os lados e curvo meus lábios para cima. Não poderia me sentir melhor. Ando com confiança entre as pessoas de preto que passam por mim. Havia me despedido de Bonnie na entrada do complexo e ela me disse que iria para casa. Não falei mais com Adam depois do ocorrido. Agora me lembro que já era crepúsculo quando voltei.


Preciso falar com Gus. Vou até o dormitório correndo e me jogo em sua cama, respirando rapidamente e sorrindo para cima. Meu Deus.

–O que está fazendo aqui?- ouço a pergunta. Obviamente o som vem de cima, e logo estico meu tronco até a parte de fora da cama e me seguro na madeira na cama de cima. Não reconheço a figura avermelhada e com o olhar assustado que jaz em minha cama.

–Deus, o que aconteceu com você?- tomo um impulso e subo na cama, e sento sob meus calcanhares a frente de Gus. Seu estado é deplorável, seu cabelo parece desleixado, não desarrumado da forma comum; seus olhos da cor de gelo parecem estar com veias vermelhas salientes, sua pele está branca como a lua. Porém há algo estranho em seu semblante, seus olhos brilham e seu sorriso é impecável como mármore, é mais do que certo que estava divagando.

–Eu...Eu, estou enlouquecendo, Carl. O que há de errado comigo?- reparo que há uma tênue linha entre o lunatismo e a mais sóbria das alegrias em seu rosto. Rio ruidosamente, é tão óbvio.

–Por que você não, - bato a palma da mão em sua perna, - tenta me explicar o porquê disso antes, hein? Talvez eu saiba ajudar.

Ele me encara e outro sorriso fechado brota em suas feições.

–É... Katy. Eu tenho pensado nela quase sempre. Quer dizer, é sempre... Sim. Os únicos momentos os quais não penso nela é quando estamos juntos. E eu não sei o que é isso... Eu nunca tive sentimentos tão ambivalentes sobre as coisas, como se essa frustração me aquecesse. - digiro tudo o que ele me fala enquanto o encaro séria. Por fim, me aproximo dele e retiro seus óculos e os coloco em mim. Ele não entende o ato, mas começo a falar:

–Hm... Parece que o senhor anda sofrendo de uma coisa chamada paixonite aguda. E as únicas curas são... Beijinhos. - me lanço sobre ele como se fosse beijá-lo e fico fazendo biquinhos e estalidos com a boca e ele ri e afasta meus ombros. -Gus e Katy, sentados numa árvore, se b-e-i-j-a-n-d-o.

Rio muito dele até perder o ar. Seu tamanho sempre me divertiu, devolvo seus óculos, que ele vem a examinar cuidadosamente e a limpar na barra da jaqueta.

–Então, eu...- ele parece assustado e vejo que suas frágeis mãos tremem. – Gosto dela, quer dizer, de verdade?

–Você não me parece ser dos mais espertos. Explica o porquê de não estar mais na erudição. – ele me dá uma cotovelada, fingindo irritação.

–Mas hm, o que podemos fazer sobre isso, meu caro? – ele dá de ombros, transtornado. –Somos dois, que tal apenas dar o fora daqui? – ergo as sobrancelhas para ele e me jogo da cama para o chão. Coloco as mãos na cintura e olho para cima. –Você vem ou não?- ele aterrissa de mal jeito no chão e saímos de lá de fato.

–Você tem algo em mente?- ele me pergunta.

–Não, que tal só andar por aí? Isso pode ajudar. – ouço Gus resmungando. E apesar de seu “protesto”, é isso mesmo que fazemos, andamos pelo fosso observando o movimento de seus moradores. Constante e contínuo, rápido e indecifrável, espiamos cada uma das luzes que vemos acesas nos estabelecimentos. Estúdios de tatuagem, casas, algumas lojas, lugares onde se compram comida. O mais estranho é que nós dois caminhamos em silêncio. Eu queria muito poder compartilhar algo com ele, confortá-lo de verdade, não sei. Dizer algo que de fato fizesse alguma diferença. Simplesmente não consigo.

Um barulho. Vidro sendo estilhaçado e gritos, objetos se atritando, e esse som vem de algum lugar a nossa frente. Gus e eu paramos involuntária e sincronizadamente e olhamos um para o outro, e em seguida começamos a correr. Chegamos no lugar e vemos que se trata de um... eu não sei exatamente o nome, mas no exato momento em que chegamos a porta do estabelecimento dois sujeitos saem, em estado deplorável. A porta é do tipo vai-volta, então apenas a empurro e entro no local. Não é a coisa mais arrumada do mundo com suas mesas e cadeiras desarrumadas e seu chão cintilando em verde. Cacos de vido, e até o balcão encontra-se violado. Tento agir naturalmente e sento em um banco alto em algum lugar na frente do balcão, e vejo a tensão no rosto de Gus quando percebe que há bebidas alcoólicas neste lugar. Mas ele apenas luta contra si e senta-se do meu lado.





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Notas finais do capítulo

^-^ obrigada por lerem, beijos