Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 7
Fora


Notas iniciais do capítulo

cedo pro novo cap sair, mas eu fiquei animada e decidi postar hj mesmo. A principio era pra ser um cap só, mas quando fui digitar ficou grande demais, então dividi ele; o próximo cap seria uma continuaçaõ desse. Mas de qualquer forma, aproveitem!



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Posso dizer que ri muito e que também que poderia ter saído leite pelas minhas narinas, se eu tivesse tomado leite. Foi bom passar um tempo com July, para variar. Ela me fez prometer não dizer nada até a hora do jantar, onde puxou a barra da regata para cima, e nos deu a clara visão de uma chama negra, como se queimando sua delicada pele. Ela parece ter sentido menos dor fazendo a tatuagem do que no treino, eles são duros. Até agora tivemos apenas um deles, mas não sei o que esperar do restante. Gus parecia meio quieto demais no jantar, se for pra comparar com o restante do tempo que passei perto dele. Preciso me lembrar de falar com ele. Agora são cerca de cinco horas e mal consegui dormir. O cansaço de ontem fechou meus olhos durante aproximadamente duas horas, mas mesmo cansada não consigo fazê-lo de novo.

Minhas pernas parecem pesar uma tonelada, minhas costas doem e meu pescoço parece mole demais. Ainda penso no dia de ontem, meu estomago embrulha. Era verdade mesmo? Tento me segurar em todas as esperanças de que me leve ao meu irmão. Não me importa se eu tenha que entregar minha alma por isso. Mas também não significa que não procurarei por mim mesma.

Roço minha bochecha no travesseiro e coloco minha mão por baixo dele, bem que meus olhos poderiam pesar como minhas pernas pesam agora. Elas pesam.

Pesos, claro.

Puxo as cobertas para baixo e tento não fazer nenhum barulho quando jogo minhas pernas para baixo, e elas me puxam junto delas, como uma ancora. Flexiono os meus joelhos e minha cabeça dói um pouco. Preciso esperar alguns instantes até ter as noções de direção no escuro. Ando alguns passos para frente, apenas para checar, depois eu me viro de costas e tateio até achar a madeira. Estico mais os braços e pego em uma coberta, passo os dedos mais a frente e mexo no cabelo familiarmente encaracolado e em seguida, toco a pele macia de seu rosto, com um peteleco. Me estico na altura na cama. –Sou eu, Carl. Precisamos conversar. – ouço um resmungo e algo parecido com um “okay”.

–Lá fora, 5 minutos. – ouço a voz baixa e séria falando para mim, e assinto mesmo no escuro.

Sigo a fresta de luz embaixo da porta e abro-a tão rápido e silenciosamente quanto a fecho atrás de minhas costas. Encosto a parte posterior de meu corpo na parede e aperto os olhos, e abraço os joelhos. Abro os olhos e ajeito o cabelo atrás da orelha. Meu nariz arde e eu sei aonde isso vai dar, esfrego a mão nele e pisco bem os olhos, agora não é a hora pra isso, Carlyn. Continuo sentada o que parece que passam cinco minutos, ou talvez dez, não sei dizer. A porta ao meu lado se abre e vejo sua figura sonolenta parando ao meu lado e fechando-a.

Faço uma indicação para que sente-se , e ele o faz, encostado na porta.

–Precisava muito falar com você.- digo, e ele boceja. Deve ter sido um dia agitado. Gus põe a mão em meu ombro e se encolhe.

–O que houve?

–Você está se sentindo bem?

–Quê? – ele me encara meio incrédulo quando digo isso, provavelmente pensando que é uma grande besteira. Também é bastante provável que volte para o dormitório e me deixe aqui, sozinha. De novo.

–Quero dizer... Você está bem mesmo? Fiquei preocupada.

–Sim eu... Bem. Bem mesmo, bem de verdade.- Gus entrecorta suas falas com bocejos. Deverei descobrir por mim mesma, obrigada, estava mesmo procurando algo para me preocupar. –Você estava agindo estranho... – ele ainda segura no meu braço.

–Nada aconteceu, nada mesmo?- ele me pergunta, e arqueia as sobrancelhas.

Penso em Tyler, e em seus olhos negros, seus lábios vívidos, suas mãos me tocando... Lembro de Adam e eu nos beijando durante o intervalo, ou quando íamos para a casa dele quando não tinha ninguém. A mão gentil dele em meu ombro, e seus cabelos escurecendo a cada maldito ano. E lembro também de meu pai. O jeito repreensivo como ele me olhava, a maneira com a qual nos parecemos. “é para o seu bem”. Talvez ele soubesse, talvez fosse bem obvio o que eu faria, talvez ele quisesse meu bem realmente, talvez... Sacudo a cabeça.

Não. Carl, você não está bem, vá para a cama. Essa voz rouca e pueril soa em minha cabeça, e repete-se com ecos distantes e afinados com sintonia entre si. Percebo que a boca de Gus se mexe em proporção aos sons que ouço, e procuro me estabelecer. Tapo os ouvidos com as mãos: eu não consigo; era sua obrigação sair de lá, eu você deveria. Era a sua obrigação, era para o seu bem.

Uma pele branca e macia passa pelo meu ombro e sinto cabelo roçando pelo meu rosto.

–Fique calma. Tudo bem, descanse Carl. Você precisa, precisa mesmo. – Gus me abraça e sinto seu calor noturno enquanto passo a mão pelo seu cabelo.

–Obrigada. – sussurro, mais para mim do que para ele, embora quisesse que ele me ouvisse. Ele se levanta e me puxa para que fique de pé também, eu devo estar maluca.

Vamos os dois, juntos e silenciosamente, de volta até o quarto. Ele me ajuda a subir de volta em minha cama e logo deita na sua, e não preciso que me digam que dormiu logo em seguida. Tapo-me com a coberta, sinto frio. Não está gelado aqui, mas preciso de cobertas. Toco em minha testa, quente muito quente. Me tapo apenas com o lençol e tremo durante as duas horas seguintes.

x-x-x-x

Lembro-me de levantar antes de todos os iniciandos dessa vez. Obviamente, por não ter dormido muito. Com tempo, tomo banho e fico pronta, faltam uns cinco minutos, mas July me pediu para esperá-la. Fico na porta, até que uma garota de cabelos quase alvos – muitos parecidos com os de July – na altura do queixo me faz um meneio de cabeça quase ao mesmo tempo em que pressiono seus dois braços.

–Vamos? – ela pergunta, meio tediosa.

–Quando fez isso? – coloco seu cabelo atrás da orelha e ela me responde com um suspiro.

–Ontem. Gostou? Você poderia fazer algo assim, sei lá. Se quiser.

–Um dia desses. – a ideia de alterar minha imagem não me agrada muito. Mas talvez seja esse o propósito, certo? Provavelmente, porém não sei. Seguro seu braço para que saiamos logo dali. Lembro de ter tido o vislumbre de um cabelo cinzento e de um nariz curvado antes de dar o fora do dormitório. Devo ter olhado pra ele por pouco tempo, mas temo que não tenha sido o suficiente, porque ele ne viu olhando para ele mas me ignorou mesmo assim. Imagino essa cena até July e eu chegarmos no lugar. Ela teve de me cutucar para eu soltá-la, eu deveria está-la apertando.

–Cê tá bem?- ela estreia os olhos.

–Claro, vamos. Entramos e ficamos em nossos lugares, e todos os outros chegam logo. Os mentores não demoram muito a aparecer, o cara silencioso e o do moicano no qual esbarrei ontem. Cerro os pulsos.

Eles nos instruem a arremessar as facas, e como fazê-lo, e demonstram o jeito correto. Na parede há vários alvos pintados e feitos de madeira, miro de maneira automática. Mira nunca foi meu forte, mas preciso me esforçar.

–Amanhã testaremos suas habilidades de combate, vai ser quando começarão a ser classificados de verdade!- ele começa a caminhar na nossa frente e a passar seus olhos por nós; quando passa por mim, seu olhar se mantém distante, ele pode estar olhando para mim, porém não me vê. Solto minha respiração irregular e me concentro no alvo, preciso acertar pelo menos perto do local. Eles param de falar e nós precisamos nos dirigir ao lugar onde precisamos pegar as facas, em cima de uma mesa. Tento não parecer desesperada como os outros, que correm vorazmente para agarrar as armas como se aquilo fosse comida e estivessem famintos há dias. Espero todos saírem de cima das facas calmamente enquanto estudo os alvos com meus olhos. E após minutos, seguro minha arma e a lanço da melhor maneira que posso. Estico o braço direito para trás e minha perna correspondente é flexionada enquanto estico a outra e transfiro meu peso para a esquerda com um salto. Acerto bem longe do pretendido, porém agora tenho certeza de como fazê-lo.

Os treinos prosseguem do jeito de sempre, mas dessa vez não saio para caminhar depois. Apenas sigo para o refeitório e sento em uma mesa sozinha e mordisco um sanduiche. Ouço alguns passos próximos e esfrego os olhos.

–Ei, você!- levanto o olhar para a figura a minha frente. Uma garota magra e de estratura média. –Vi você atirando ontem. Não sabia que atiravam na Franqueza como passatempo. – ela ri da própria piada, e me pergunto quem é. O brilho metálico em suas sobrancelhas e lábio superior deixa claro que não é uma transferida. Tento amenizar minha expressão facial, ser amistosa nunca foi a minha.

–Pois é, era muito divertido, pena que se acertasse alguém você não poderia mentir.- solto um risinho nervoso. Ela parece achar que o que eu falei foi divertido.

–Meu nome é Bonnie. Meus amigos e eu estávamos planejando uma volta pela cidade, quer ir junto?- a proposta me parece tentadora, eu precisava espairecer. Aceito e vou com ela até o lado de fora.

–Eu sou Carl.

–Eu sei quem você é. AJ foi quem havia mencionado você antes.- AJ? O AJ? Meu Deus.

–Aonde estamos indo? – desconverso. Continuamos andando, até estarmos de volta ao fosso, o único som que há entre nós é o dos membros da Audácia. Ela demora para responder.

–Fora.

–Temos autorização para isso?

–Mas é claro que não.- e nós rimos. Seus longos cabelos cor de piche são lisos até a metade das costas, e sua pele é de um tom moreno claro, vivo, que deve ser assim por causa das saídas que deve fazer quase sempre. Ninguém conseguiria viver muito tempo apenas aqui embaixo.

Não dessa forma, preso.

Achamos uma saída desconhecida e corremos para ela. Esse tipo de coisa parece tão nostálgica, mal eu havia percebido o quanto sentia falta disso até agora. O vento circula ao meu lado como se fosse uma parte de mim. Ar puro, parece outra era. Não deixo esse sentimento tomar conta de mim, pois, começamos a correr pelo chão de concreto. Corremos por alguns minutos que mais parecem segundos até chegarmos até o lugar onde ficam os trens e esperamos esse pequeno espaço de tempo em silêncio. Mas chega rápido o transporte, e nós duas pulamos em meio de gritos e risadas, e me surpreendo ao ser levantada por outra pessoa. Viro para ver quem era, mas Bonnie segura meu braço e começa a falar:

–Essa aqui é a Carl, vai com a gente hoje. – ela sorri amistosamente e vejo que além de nós há quatro pessoas no vagão. Não está tão escuro como eu esperava aqui, e e essas pessoas não me parecem tão estranhas assim. Uma garota de cabelos ruivos não naturais me lança um meio abano e me lembro dela. Claro, Willow. Willow Stan.

–Ela sabe aonde vamos?- pergunta um rapaz, encostado nas grades.

–Eles nunca sabem. - responde Willow, cruzando os braços. -Sabe que o que vamos fazer não seria permitido, e que se formos pegos, ninguém se responsabiliza por você, querida.

–Não seremos pegos. - diz Bonnie, e percebo seus olhos fuzilando a outra. -Ela sabe em que está se metendo. - as duas conversam como se eu não estivesse lá.

–É, mas onde estamos indo? Ela quer saber. - eu falo meio irônica, apontando para o meu próprio nariz.

–Se te contássemos, teríamos de te matar. - fala o garoto de cabelo bem curto, estranhamente sério. Reconheço-o logo em seguida, o colega de beliche de Adam. Aquele cara da Abnegação, mas o que estaria fazendo com nascidos da Audácia? Tento me manter neutra com a piada e olho para o lado.


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Notas finais do capítulo

o próximo sai semana que vem
Beijos e boas férias