Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 6
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Notas iniciais do capítulo

demorei, é vero, mas no fim do mes passado tive altos trabalhos e provas e não tive tempo de digitar.
apenas uma obs: como eu escrevi o cap e comecei a fic antes de ter lido o free four, não considerei dados revelados nele, como por exemplo, a paisagem do medo como primeira fase da iniciação.
But here i go.



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Acordo com o barulho de botas batendo no chão, levanto meus braços, me esticando. Dormi demais, que droga. A maioria dos iniciandos já está pronta e sai correndo do dormitório. Por impulso, jogo minhas longas pernas para fora  da cama e caio no chão. Coloco as mãos como apoio, mas mesmo assim encosto minhas bochechas na madeira fria. Levanto os joelhos e pego uma roupa no armário, que obviamente são  pretas.

Já não há mais quase ninguém no lugar, então me troco do lado de minha cama, mesmo o banheiro estando vazio. Aproveitando que o mesmo está vazio, corro para lá e ligo a torneira, preciso, no mínimo, passar uma água no rosto. Passo a mão em concha e cheia d’água em minha face, me refrescando. Mesmo assim, nada substituirá um banho. Levanto a cabeça para o espelho com pontas de metal e analiso-o, como se olhasse a uma estranha. A pele morena, os olhos em formato de gota, o nariz pequeno com sardas e as bochechas macias e salientes. Não sei se costumava chamar a atenção em minha antiga facção, mas alguns garotos já disseram que me achavam atraente. Mas isso é bobagem, minha irmã costumava sempre pedir para que eu a penteasse quando pequena, então seus olhos verdes se estreitavam e ela me elogiava. Mas não porque queria, era porque devia. Eles não possuem nenhum tipo de filtro na Franqueza, e isso é o tipo de coisa que cansa.

Caminho meio correndo para fora até achar algumas figuras de jaqueta preta e aproximo-me delas, tentando parecer que já os estava seguindo antes. Ou, talvez não. Reparo no moicano estranho na minha frente logo depois de soltar meu suspiro de alívio. Estou ferrada.

Minha face se esquenta e Tyler abruptamente para. Distraio-me por poucos instantes e piso acidentalmente em seu calcanhar, mordendo o lábio logo em seguida. Recuo três longos passos  e vejo que ele parou de andar. Mas da mesma forma, não se virou para mim ou algo do tipo.

Não sei o que foi fazer, mas deu uma meia volta para um corredor à sua direita, prossigo em um nível de velocidade tensa até chegar na área de treinamento. Quase todos os iniciandos transferidos  estavam caminhando  pelo local, fazendo ranger o piso amadeirado. Vejo uma cabeça loira caminhando em minha direção.

-Sabe o que houve?- a mesma garota de olhos arregalados e medo de pular pergunta. Hoje seus olhos escuros não pareceram menores do que estavam ontem.

-Não, mas vi o instrutor dar meia volta. – outra garota loira, com os cabelos mais escuros e poucos centímetros mais alta se aproxima da gente e espia pela porta.

-Deve ter algo a ver com.. Hm- ela franze o cenho preocupada, acho que ela também sabe. – Meu nome é Katy, - ela abre um grande sorriso branco e me abraça, antes que eu pudesse perceber. Seus braços cobertos dão leves tapinhas em minhas costas e ela se afasta sorrindo e passando os dedos tortos nos cabelos louros escuros.

-Ela é July. – aperta o braço da irmã, que apenas me lança um cumprimento de cabeça. Devo ter passado um tempo encarando as duas com cara de idiota. Sacudo a cabeça e estico os braços, ainda sinto sono.

-Sou Carl.

-Pensei que fosse uma garota. – July lhe dá uma cotovelada. – Que foi? Achei legal; ela ri e a irmã pareceu perder um pouco de paciência.

Os iniciandos começaram a se agrupar no meio do lugar e as gêmeas a olhar uma para a outra. Viro de costas para ambas e vejo uma figura de jaqueta preta na grande porta dupla aberta de madeira. Ando mais rápido e me enfileiro com os outros iniciandos. E só agora percebi que éramos cerca de vinte e alguma coisa. Me atinge como um peteleco no olho, seremos treinados todos juntos.

Fico parada e ereta ao lado de um garoto de cabelo vermelho fogo e tachas pontudas na jaqueta. Passos ecoam no piso de linóleo  e quando inclino a cabeça para frente vejo que estão todos apostos em uma fileira.Nossas respirações parecem ritmadas e logo ouve-se o bater de uma sola contra a madeira.

-Então, devido a fatores que não interessam agora, serei eu quem vai treinar todos vocês. Nascidos da Audácia e transferidos. Porém, serão avaliados separadamente nas duas primeiras fases. – e Tyler seguiu explicando, e enquanto ele o fazia, encarei minhas mãos e pensei em outras coisas. Após instantes ouço-o estalar os ossos das mãos. –No final da iniciação, os colocados até décimo se tornarão membros da Audácia,- ele passa seus olhos escuros por todos nós, sem particularidades, -e os que não passarem, bem, deixarão o complexo.

E ele falou mais algumas coisas que me poupei de ouvir, apesar de parecerem importantes, pois vi alguns transferidos se entreolhando. Ele pode até parecer um cara calmo, mas não é o tipo de pessoa que vá prender sua atenção para o que quer que esteja falando, mesmo sendo assustador com seu tom de voz.

Depois de tudo isso, ele com a ajuda de mais um cara alcançaram armas em nossas mãos. Senti um arrepio no estomago ao tocar no cabo frio dela, nunca esperei ver uma tão de perto. Há alvos com pontos em diferentes cores indicando o local certo para atirar, há um para cada um de nós. É um lugar grande.

Mira, isso é mau. Se parte de minha colocação depende de minha mira, já posso ser considerada sem-facção. Nosso treinador mostra rapidamente o jeito correto de atirar, e ao acabar, joga a arma ao último da fila. Quase penso em perguntar o que teria isso a ver com coragem ou em se tornar um membro da Audácia. Posso ser idiota, mas sei controlar a Franqueza que há em mim. Pelo menos, por enquanto. Encaro estranhamente Tyler enquanto ele dá algumas instruções poucas. Consigo ver algo familiar em sua postura que faz minhas mãos suarem e quando percebo, preciso segurar o cabo da arma para não escorregar e cair no chão. Inclino a cabeça  para baixo, e vejo todos os canos pretos empunhados para baixo. Ele não disse nada ainda, e eles esperam por um sinal. Obviamente um teste, isso é tão claro.

Estico meus longos braços até a altura dos ombros , seguro com força o cabo, tentando conter a inicial tremedeira. Sou apenas eu ou está frio aqui?

Coloco um dedo no gatilho, depois o outro, e em seguida os aperto. Sinto como se estivesse sendo empurrada pelos ombros, e luto com todas as forças para não cair no chão. Então flexiono meus joelhos e fico meus pés no chão. Viro o rosto na direção do alvo, que não acertei por poucos centímetros. Dou uma soprada no cano que exalava fumaça e alivio meus músculos.

-O que estão esperando?- nosso instrutor grita, passando atrás de nós. No segundo seguinte tudo o que ouço é minha respiração pesada, e armas sendo disparadas, madeira sendo perfurada por projéteis, e eu mirando novamente e estalando as juntas das mãos. Elevo o pescoço e disparo novamente. A força do disparo me lança para trás mais uma vez, e não provenho de toda a minha força e acabo por cair no chão. A frieza e consistência do chão fazem com que a tremedeira volte. Atinge poucos centímetros acima do ponto ideal. Minha mira sempre foi uma droga, e não é agora que vai melhorar. Mas considero um milagre não ter errado feio. Alguns iniciandos acertam em alvos das paredes que não são os seus, e isso até poderia ser divertido, se não estivessem sendo avaliados.

E eu disparo mais vezes, até meus joelhos automaticamente aprenderem a hora de flexionarem-se, e o coice do disparo não me afetar tanto assim. Meu cabelo já estava um pouco oleoso anteriormente torna-se ensopado, e consigo relaxar os membros e scar o suor da testa.

Talvez eu goste de viver aqui.

x-x-x-x-x

Gostaria de saber o que meus pais falariam da audácia agora. Ou se eles tivessem sabido disso tudo antes. Contenho minha risada com as mãos em concha, e algumas pessoas que passam por mim erguem suas sobrancelhas metálicas, mas não dizem nada. E por que deveriam?

Noite passada foi a melhor parte. Não há motivos para sentir falta de casa, exceto por minha irmã, mas não há nada a fazer sobre isso. Sinto muito.

Ando sem rumo pelos membros da Audácia, até esbarrar em alguém, isso o fez enrugar o nariz, criando duas linhas paralelas aos olhos. Tyler me encara surpreso, ele deveria estar me procurando, e segura em meu pulso. Me arrasta até algum lugar que não conheço. Por que diabos meus instrutor me procuraria fora dos treinos? Ele deveria estar no refeitório, com os outros que aproveitam o intervalo relativamente longo para recuperar as forças e fazer um lanche.

-Instrutor, o que houve? Há algo errado?

-Shi, fala baixo.- ele me puxou para uma espécie de beco, porém nem tão escuro e um pouco mais isolado. –Preciso falar com você. Espero que preste atenção.- eu assinto com a cabeça, e não sei se ele pode me ver. –Já nos vimos antes? Quer dizer, você é transferida, e isso pode parecer imbecil, mas você me parece familiar. – ele passa os dedos por minhas têmporas e eu engulo em seco.

Vejo que ele mantém a outra mão na parede, ao lado da lateral de meu corpo.

-Não, eu... Nunca te vi antes.- eu me impulsiono para a frente, mas ele me segura junto da parede.

-Ei, espere.- ele coloca as mãos em meu ombro e a sensação é como se estivesse sendo espremida; Tyler aproxima seu rosto do meu. E a essa altura já não sinto minha respiração saindo. Meu instrutor encosta a testa dele na minha e me distancio, me inclinando para a parede.

-Por que não consigo me lembrar? – vejo que tenta tocar meu rosto, e dou um tapa em sua mão.

-O que quer? - foi uma coisa besta de se perguntar, é óbvio demais. Sua respiração torna-se densa e ele demora a responder.

-Você veio da Franqueza, certo?

-Certo...

-Quatro anos atrás, durante minha iniciação, eu conheci um cara que veio da Franqueza. Se não me engano seu nome era John, você o conhece?- fecho os olhos, penso se tudo isso não seria uma grande brincadeira,

-O quê?

-John. Ele mesmo. Deve ser isso, você parece muito com ele. – ele mantém a firmeza da voz, mas há algo estranho nela.

-John... Ele, bem... Se transferiu, era meu irmão. Quer dizer, é. Tem... Notícias dele?- vejo a sombra da cabeça dele indo de um lado para o outro.

-Não. Mas se quiser pode te ajudar. – sinto sua mão no meu queixo e dessa vez não me afasto, e deixo-o se aproximar de meu rosto. Minhas bochechas esquentam e sinto seus lábios encostarem nos meus. Mornos e vivos, e ele movimenta sua boca na minha enquanto levo minha mão ao seu moletom.

O que estou fazendo?

Ele me encosta mais na parede gelada e sinto meu corpo esquentando. Desencosto minha boca da dele com uma respiração curta e olhos para o outro lado; ele encosta a cabeça em meu pescoço e mordisca minha orelha, e passo os dedos em sua nuca e o desencosto de mim.

-Preciso fazer uma coisa antes. – e saio dali.

Sinto um frio intenso quando passo a caminhar pelo Fosso, passo os braços ao redor de minha jaqueta. O que foi aquilo?

Corro até o refeitório, e paro na porta. Encosto o cotovelo na madeira e abaixo a cabeça. Tomo um pouco de ar e entro; vou até a mesa onde estão as meninas – e Gus- e me sento com eles.

-Quase não te vi hoje. – falou ele rindo e passando a manga de couro no nariz. – O que houve? – assisto com a cabeça e dou de ombros.

-Estava dando uma volta. Nada de mais.

-Vocês está bem, Carl?- pergunta Katy, apoiando o queixo no  pulso, seus cabelos louros escuros escorrem com bronze liquido sobre seus ombros estreitos. Desvio meus olhos de seu rosto e procuro algo em outras mesas, e acho a figura fugidia conversando com alguém qualquer. Adam, preciso falar com ele.

-Vamos?- pergunto á July, que encarava o copo de água a sua frente, com os cabelos alvos cobrindo a lateral de sua face com um véu. Ela levanta os olhos para mim e confirma, então levantamos e saímos de lá; nenhuma de nós disse em voz alta, mas sabíamos o que estava acontecendo lá.

-Quer ir a algum lugar?- pergunto, olhando para os lados.

-A gente podia, sei lá. Dar uma olhada. – fiz um meneio de cabeça andar poderia distrair minha mente. Decido puxar papo com July.

-Então, você tá gostando daqui?

-Não faz ideia do quanto. – e tenho um vislumbre de suas orelhas cor de creme quando ela mexe no cabelo. –Sabe me dizer onde fica o estúdio de tatuagem mais próximo?


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Notas finais do capítulo

espero que tenha ficado legal c: agradeço muito pelos reviews, e espero que não parem, agora ando meio ocupada, mas quando puder prometo responder á todos!
Beijos