Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 10
Descoberta


Notas iniciais do capítulo

é, eu demorei. Mas a escola anda me exigindo bastante, e espero que tenha ficado bom
btw, é um cap com pov do adam *w*



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Willow coloca o rosto em meu ombro e eu acaricio seu cabelo, é como se tivéssemos realizado uma espécie de pacto. Olho em seu rosto e noto o novo arco brilhante preso em sua narina, contrasta bem com sua pele clara. Ao mesmo tempo ela passa o dedo levemente em um ponto abaixo de minha nuca, onde consegui minha primeira tatuagem. Incrível que seu toque não tenha me machucado. Decidi fazer um pequeno tridente monocromático em um ponto abaixo de meu pescoço, e até agora ela é a única que sabe de minha hidrofobia. Olho em seus olhos castanho-claros e passo meu dedo por sua fina sobrancelha escura que não se deu o trabalho de tingir.

-Quem era ela?- Willow me pergunta, afastando minha mão de seu rosto e a colocando na lateral de meu corpo. Utilizo minha outra mão para esfregar a testa, não sei o quanto ela viu.

-Ela quem?- chego mais perto dela. Ela revira os olhos.

-Aquela garota... Garoto, sei lá. Aquela tal de Carl. Quem era ela?

-Uma garota de minha antiga facção,Willy. Por que a pergunta? - ela se distancia de mim e gesticula bastante com as mãos.

-Não... Não me chame desse jeito, eu odeio e você sabe. Se quiser chamar alguém com nome de homem, fale com a sua amiguinha. - ela coloca a mão em cima de seu colo tapando qualquer coisa que eu pudesse olhar. Dessa vez quem revira os olhos sou eu, ela é tão paranoica.

-Okay, não te chamo mais assim se te faz feliz, Willow Tree. Ela estava meio deslocada, e Bonnie decidiu chamá-la para vir conosco, eu a mencionei uma ou duas vezes. - Willow parece mais irritada do que antes, e finge não reparar em seu novo apelido carinhoso. -Ela era minha amiga, se é isso que quer saber, sim. Mas depois de chegarmos aqui, nem conversamos mais, até hoje.

-Hm. - ela fala. -Ela não estava tão deslocada assim, andando com aquele tampinha e aquelas menininhas Amity. - eu rio de Willow e ela e parece confusa. -O que foi?

-Nada, é que... Desde quando você se importa com quem eu falo ou não? Ou com quem eu costumava falar? Tinha que ver essa sua cara quando me viu andando com a garota na moto. - passo a mão carinhosamente em seu queixo e em seguida beijo seu nariz.

-Isso não tem graça.

-Aprenda a disfarçar, Salgueiro. Se quiser que seja um segredo, faça disso um segredo.

-Mas o que é o segredo, afinal? - ela inclina o rosto para baixo e faz seus olhos mel parecerem ainda mais claros, com seus grandes cílios escuros, e minha mão ainda segura seu rosto, e ela passa morde levemente meu dedo. Devo dizer que é uma cena... Interessante, mas ainda não tenho total certeza do que gostaria de verbalizar, se é isso mesmo que quer fazer. -Que está se corroendo por dentro, agora mesmo?

-Pode ser. - levanto uma sobrancelha e ela morde o lábio superior, enquanto põe as mãos em meu cabelo e chega bem perto. Avanço e encosto minha boca na dela, e ficamos parados por um instante até que começo a passear pelos seus lábios, e sinto-a procurando mais união a mim. E então ponho minha mão em seu cabelo liso e a passo por ele e acaricio suas costas enquanto ela cola seu corpo em mim na parede. Não sei dizer exatamente em que parte do Fosso estamos, mas não se localiza perto de nenhum dos dormitórios. Já é noite, e com certeza estamos burlando algum tipo de regra, e essa é a melhor parte. É isso o que devemos fazer, estamos na Audácia. Desço minha mão até suas costas e acaricio a cintura de Willow, que aperta meus ombros e separa-se de nosso beijo.

-Calma, não seja apressadinho. - ela solta uma risadinha. Sorrio de canto para a garota e recoloco minhas mãos no bolso. Tive um dia relativamente agitado, com o beijo que a Carlyn me deu e tudo.

Por que diabos ela me beijou? Fico curioso sobre isso. Quer dizer, eu disse que a amava, o que não deixa de ser mentira. Mas porque eu disse aquilo?

Sacudo a cabeça e raspo a mão em meu couro cabeludo enquanto permito-me esse rápido devaneio. Seus olhos faiscaram como eu nunca havia visto antes quando eu lhe disse a verdade, e então ela piscou e no instante seguinte senti sua boca colada na minha. Willow me abraça e coloca a cabeça em meu peito. Mas eu amo Carl... Eu realmente a amo. Com todas as suas peculiaridades, e sua intransigência e instabilidade. Algo sobe pela minha garganta, e é amargo, eu preciso parar isso.

Não é problema de Willow o que está acontecendo. E no mesmo momento em que este pensamento me ocorre, ela me beija novamente, colocando a os braços em meu pescoço. Levo minha mão à sua cintura e me deixo cometer o mesmo erro apenas mais uma vez.

E é quando eu ouço.

Um barulho aritmado de passos que se deslocavam para a nossa direção, alguém que viria para onde estamos ou pelo menos passaria por aqui. O ruído de uma arfada e um soluço surdo é tudo o que ouço, mas não posso dizer que são os únicos sons aqui e agora. Estou com raiva demais de mim mesmo para reparar em Willow, ou em quaisquer outras coisas. Uma figura emerge da escuridão do corredor adjacente, e reconheço seu cabelo da cor de mogno e seus olhos verdes, que vinham a estar estranhamente marejados. Vejo ela virar seu rosto para mim e nos encarar por poucos segundos que parecem horas.

Preciso fazer alguma coisa, algo de verdade. Minha boca e garganta parecem estar cheios de algodão espesso, e eu não consigo falar. Sequer respirar.

-Noite agitada, hein? - Willow parece fazer o tempo voltar a fluir, mas ela bem que poderia ter ficado quieta, isso não é assunto dela. Mas apenas não a repreendo porque também vejo o que ela vê, e nós vemos Carl. Seu cabelo todo desarrumado, sua roupa toda amarrotada e seus olhos perdidos.

Tenho medo do que isso pode querer dizer.

Carl apenas acena com a cabeça e prossegue seu caminho.

Eu não queria que ocorresse dessa forma, ela poderia ter feito qualquer coisa.

Qualquer coisa. Contudo ela não gritou comigo, tampouco demonstrou brabeza.

Fico olhando para o nada escuro e vazio de onde ela veio.

Ouço paços novamente, e dessa vez são de pés descalços.

É Carl de novo.

-Palavras são apenas malditas palavras. - ela fala. Não, fala é simples demais. Ela praticamente cospe isso na minha cara, e contraio todos os meus músculos graças ao seu hálito alcoólico. E então ela dá um sorriso todo torto e olha rapidamente para Willow, que dá de ombros.

Mais repentinamente do que voltou, ela dá meia volta e desaparece.


 

++++

Levanto da cama mais rápido do que caí no sono, e ainda consigo lembrar de tudo o que ocorreu noite passada. A lembrança da pele gelada e macia de Willow acariciando minha nuca persiste em permanecer em minha memória.

Dou um tapa de leve em minha nuca, e volto a sentir a ardência de após ter feito a tatuagem; pego roupas da audácia perto da minha cama e me visto muito rápido no banheiro. Ponho minha camiseta T peta de algodão e um jeans de lavagem escura, e por cima um moletom azul, quase preto

passo a palma da mão no cabelo e sorrio para o meu reflexo.

Podem ter se passado apenas duas semanas que não o corto, porém ele está mais comprido do que o habitual. Como Carlyn costumava brincar sempre, antes ele parecia o de um homem da Abnegação, o que era verdade, e sempre incomodou meus pais.

Era a coisa menos Franqueza a se fazer. E franqueza era tudo o que eles queriam que eu fosse.

Quer dizer, sempre obedeci a suas expectativas, cumpri com os deveres impostos pela facção deles e tudo isso.

Mas eu nunca pertenci àquele lugar.

Sempre senti algo queimando dentro de mim, uma coisa incômoda que queimava o fundo de minha garganta e pedia para sair, sufocante como um grito por socorro. A mesma coisa que me fora dita após realizar o teste de aptidão: eu pertencia à Audácia.

Roupas pretas, viver em um subterrâneo, pular de trens e defender a cidade. Essa é a vida que sempre quis ter, porém não sabia que desejava.

Tento tirar isso de minha mente por um instante. Carlyn e suas roupas amassadas, seu hálito etílico e olhos flutuantes.

Coloco a cabeça entre as mãos, algo muito sério deve ter acontecido; sério mesmo, de verdade. Saio do banheiro e vasculho a peça onde estamos com os olhos, ela não está aqui. Em sua cama, vejo apenas as cobertas desarrumadas que ainda deveriam estar mornas, seguro minha mão com a outra atrás das costas. Tento raciocinar.

Roupa desarrumada, cheiro de álcool e o horário no qual ela ainda não havia se recolhido ao dormitório; eu tenho medo do que isso pode querer dizer.

Chego até a porta do dormitório e fico parado do lado de fora, olhando para as paredes e buscando alguma resposta, até que uma voz característica me acorda.

-Você sabe o que aconteceu?- olho para baixo e vejo o garotinho que andava quase sempre com minha ex-melhor amiga me encarando com seus óculos de armação preta retangular. Bem que ele poderia ter tirado-os quando entrou, colocado uma lente ou coisa do tipo. Esse é o tipo de coisa que se larga de sua antiga casa.

-Como? - eu me abaixo um pouco. Ele se aproxima um pouco mais e abaixa o tom de voz.

-Carl. Você sabe o que aconteceu com ela ontem a noite, mais tarde?- ele une as sobrancelhas e ergue os olhos.

-Bem, eu vi ela mais tarde mas não sei o que houve, por quê? O que tem em mente? - ele passa a mão no queixo e arruma o cabelo.

-Nada, só que não sei o que ela poderia ter feito... estando daquela forma. Pensei que talvez ela estivesse com você já que se entenderam.

-Qual seu nome?

-Gus.

-Ok Gus. Eu a encontrei ontem a noite, mas apenas por acaso. E ela estava horrível, e tenho medo que tenha sido algo sério, e eu estou preocupado. Viu Carl hoje de manhã? - ele concordou com a cabeça.

-Ela decidiu ir com July, eu estou esperando por Katy ainda. - eu coloco a mão em seu ombro e digo:

-Vou tentar descobrir o que houve.

E então eu saio de vez do dormitório e procuro o maldito lugar aonde treinamos; errei o caminho umas duas vezes, a ansiedade me corroendo por dentro, o suor brotando lentamente em minhas têmporas. E quando finalmente chego ao local, vejo que ela não está lá.

Dou uma esmurrada na porta, com raiva. E decido que é melhor dar uma volta, de qualquer forma. Talvez eu possa perguntar mais algo para o amigo de Carlyn, ou qualquer outra coisa que distraia minha mente. E depois de atravessar apressado dois corredores à esquerda do local, eu ouço vozes; não sei e nem posso dizer se as conheço, porque minha audição nunca foi das melhores, e não estou muito perto. Coloco minha mão para segurar a parede à minha frente e espio as duas figuras que segredam afastadas.

Os cabelos castanho encaracolados e pele naturalmente morena de Carl não me confundiriam nem em um milhão de anos, mas me pergunto o que ela faz aqui com esse... sujeito. Um cara poucos centímetros mais altos que ela, moicano e uma postura arrogantemente doente. O nosso mentor é o único cara que se enquadraria nessa descrição. Continuo observando em extremo silêncio, e apesar de não saber do que se trata o assunto, posso ler suas expressões corporais.

Ela está com os braços cruzados sobre o peito e os ombros retesados como pedra, é meio óbvio afirmar que está tensa; ela não é a única a se sentir desconfortável perto de Tyler, ele é um sujeito desconfortável, e todo mundo sabe disso. O mesmo encontra-se com uma das mãos apoiada na parede, poucos centímetros acima da cabeça dela, e com o corpo próximo demais.

Tyler está sussurrando alguma coisa na cara de Carlyn, e percebo que ela retesa o maxilar, e que dá negativa para algo. E ele continua a falar coisas no ouvido dela, e me dou conta que ele coloca seu rosto mais perto do dela . Ninguém que não tivesse intimidade o suficiente para tal o faria, e esse pensamento me deu uma ideia do que pode ter acontecido noite passada.Noto que o nosso mentor estava perto o suficiente para beijá-la, e decido dar o fora dali, não tenho estômago para isso.

Caminho olhando apenas para o chão e contando, para evitar pensar demais, não consigo admitir que aquilo tenha acontecido. Eu sou tão idiota, tão estúpido!

Entro na grande sala de preparação sem dar uma palavra e espero da melhor maneira que posso, e quero evitar que Gus veja-me. Então apenas me escoro na parede cruzo os braços, sem tentar pensar no quão repulsivo essa situação toda seria. E alguns minutos depois de eu ter entrado vejo Tyler e Carlyn chegando pouco tempo um depois do outro, e reparo em um leve vermelho em seu pescoço, e em seus olhos róseos.

O babaca começa a falar sobre a nova fase de classificação, que iremos ter lutas, embates físicos, e que seremos classificados de acordo com nossas habilidades. Ele passa por todos nós e avalia mentalmente nossas condições físicas, antes de voltar a frente de todos e pensar um pouco.

E então ele pega um giz branco e escreve em uma lousa negra os seguintes nomes:


 

GUS X AJ


 

Eu não pude deixar de rir internamente, porque de todas as pessoas que eu poderia querer bater nesse momento, Gus era a última delas. Olho para ele à distância, que dá de ombros, mas posso sentir seu nervosismo. Eu tenho de socá-lo, bater nele mesmo sem uma droga de um motivo.

Havia algumas pessoas entre mim e o “ringue”, e elas abrem espaço me olhando de uma forma estranha. Eu passo por Willow, mas ela nem olha na minha cara.

Espero no lugar indicado por Tyler, e Gus anda mais devagar até o tatame, provavelmente não deve estar ansioso para levar uma surra sem objetivo. Todos aqui já tivemos dias melhores.

Procuro por Carlyn, e encontro-a surpresa, com o olhar no meu, e quando insisto no contato, suas esmeraldas oculares desviam. Ela realmente não vai querer falar comigo depois dessa. E claro, fui eu que transei com o Tyler, desculpe por isso.

Antes que eu possa me dar conta, o garoto de olhos azuis e cabelos desarrumados já está aposto à minha frente, com as mãos postas em defesa do rosto.

-Começem! - fala Tyler, realmente alto. E estamos eu e Gus, em um grande retângulo de tatame encarando um ao outro.

Não vou fazer isso.

Inclino a cabeça para o lado, olho para cima e dou de ombros. Não estou com pressa nenhuma, e isso parece divertir o garotinho. Ele dá um singelo sorriso e desarma a defesa.

-Andem logo com isso!- grita o treinador. E então eu invisto, dou passos mais rápidos e impulsiono meu antebraço para trás, puxando o cotovelo para a parte posterior do corpo e aumento a velocidade de meus passos. Passo por Gus, e sei que ele deve ter virado de costas para ver aonde vou.

Olho bem em seus olhos escuro e em seguida alivio a pressão em meu braço, solto ele com tudo na cara de Tyler, ao mesmo tempo em que ele parece ter sido jogado ao chão e um pequeno jato vermelho tinge o nó de meus dedos. E faço isso de novo, e de novo, mesmo ele estando caído. O plano de fundo é o silêncio, e eu gosto disso. Assim como deve ter sido quando ele violou Carlyn. -Babaca ordinário. - eu digo, entre os dentes cerrados.

Paro meus movimentos quase automaticamente, pois tudo ao redor parece girar, e minha audição foi ainda mais danificada. O desgraçado bateu a mão no meu ouvido.

Empurro-o para longe e levanto a perna na altura do joelho antes de chutar seu estômago, e ele apenas cambaleia e cospe no chão. Tyler anda até mim e bate com o pulso no meu queixo, danificando ainda mais os meus reflexos.

Parece que tudo está girando, e não tenho certeza de minha posição, e o mundo exterior parece estar separado de mim por uma cortina grande e espessa, como se eu estivesse a parte de tudo isso. Eu vejo pontilhados coloridos na frente do meu campo de visão e tento me recuperar piscando. Impulsiono as pernas para cima, afim de levantar, mas não funciona.

E eu vejo um joelho se movendo rápido demais, e um tronco humano mexendo-se devagar, e de repente o interior de minha barriga parece estar sendo perfurado e esmagado e triturado. Todos ao mesmo tempo. Porém algo irrompe em meus ouvidos e desperta meus tímpanos, antes que eu possa perceber o que é. Um barulho assustado característico, naturalmente esganiçado e estridente. É um grito, e eu conheço essa voz.

É de Carlyn, e ela está pedindo para que Tyler pare. Não que ele vá obedecer, mas o que vale é a intenção. Acho que cheguei a ouvir mais um grito de “chega!” de outra pessoa, mas não poderia dizer, pois tudo tornou-se escuro.


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Notas finais do capítulo

e ai? que tal esse rapaz?
saibam que pode vir a ter cap com pov de outro personagem, e se quiser deixar um palpite, uma crítica, ou uma sugestão... será bem vindo.
Quem gostou deixe review, obrigada!
Bom domingo (meio impossível mas idk)