Especial Fuwa Sho – Parte I

Sho esboçava um sorriso vitorioso. A notícia sobre a viagem de Tsuruga Ren à América era tudo o que ele precisava. Sem a presença do Tsuruga, ele iria cada vez mais preencher o coração de Kyoko, fazendo com que ela tivesse olhos somente para ele, somente para a vingança.

Em seu apartamento, observava a movimentação dos carros pela janela. Sentia-se superior olhando as pessoas como se fossem formigas caminhando em bando. Depois do sucesso de seu último álbum, tornara-se ainda mais egocêntrico, mais confiante. Agora era o melhor cantor do Japão, pensar isso o deixava ainda mais feliz.

“Ela nunca me alcançará...”. Novamente o sorriso vitorioso no rosto.

A última vez que se encontraram, foi no estacionamento da TBM. No mesmo dia em que ele enfrentara Tsuruga Ren e, consequentemente, descobrindo a extensão dos sentimentos dele. Depois disso, tentara diversas vezes falar com a garota, mas ela nunca estava em casa. Procurou até mesmo na agência, atitude que causara certo alvoroço, e nenhum sinal da garota.

Agora sentia que poderia relaxar. A maior ameaça estava fora do caminho. Sem “o Tsuruga” por perto, nada mais afetaria a relação dos dois. Ela era inteiramente dele, ou assim pensava.

“Ainda posso usar aquela aposta...”, sabia que era o vencedor.

No último encontro deles, Sho teve certeza que Kyoko sentia alguma coisa por Ren, e sabia muito bem que ela não admitiria de nenhuma maneira. Mas ela deveria estar abalada com a partida de Ren, e certamente Sho usaria isso a seu favor.

Deu uma última olhada nas pessoas caminhando pela rua antes de pegar seu casaco e preparar-se para o show.

MESES DEPOIS...

“É mais doloroso do que imaginei... Vê-lo apenas dentro de uma televisão torna tudo tão abstrato, parece até que nunca estivemos juntos, que nunca nos abraçamos, que tudo não passou de um sonho...” – Kyoko pensava em meio à suspiros. Nos últimos meses dedicara-se inteiramente ao trabalho, como um robô, completamente focada em sua função de atriz.

Naquela noite receberia seu primeiro prêmio de melhor atriz do Japão, porém, não parecia feliz ou animada com a notícia. Não se sentia merecedora daquele prêmio, e as manchetes sobre o relacionamento de Hizuri Kuon na América a deixaram bastante abalada. Ela o perdera.

Olhando a cidade pela janela da limusine, pode perceber o quão insignificante era. O caminho até a cerimônia parecia infinito. Perguntas sem resposta em sua cabeça, o arrependimento batendo em seu peito lembrando-a constantemente de seu erro. Queria vê-lo, queria ouvir a voz dele, mas tudo que tinha eram algumas notícias incertas que só pioravam seu estado mental. Por que não ia atrás dele?

– Chegamos, Mogami-sama. – a voz indiferente do motorista tirou-a de seus devaneios.

– Sim, obrigada. – olhou mais uma vez para fora antes de se preparar para descer. Estava tão entretida em seus pensamentos que não percebeu que tinham chegado a algum tempo. Os flashes do paparazzi atravessando o revestimento fumê do carro fazendo-a acordar e perceber o quão importante aquele dia era. Como pode se deixar levar?

Quando o motorista vestido elegantemente em um terno e um quepe pretos abriu a porta, as vozes invadiram o interior do carro como um furacão. Ela sentiu-se nervosa por um instante, mas concentrou-se novamente. Fechou os olhos, respirou fundo e colocou lentamente o pé direito para fora da limusine – Hábito que adquiriu depois de certo tempo indo à cerimônias.

Sorrindo gentilmente para todos, ela pôs-se de pé, arrancando olhares invejosos e suspiros masculinos. O vestido vermelho decotado a deixava com um ar sexy, mas sua expressão era pura, algo que só ela conseguia. Metade da perna ficava à mostra pela abertura lateral que o vestido possuía. Estava realmente linda.

Caminhava e mandava acenos e sorrisos calorosos para as câmeras. Quem a visse, pensaria que ela estava feliz e satisfeita com a premiação, mas havia alguém que sabia a verdade. Antes de conseguir entrar no salão, algo cobriu seus ombros nus. Ela olhou rapidamente sem perder a elegância e viu que o braço era de Fuwa Sho. Posaram para uma foto e logo vieram as perguntas sobre um possível relacionamento. Obviamente negado pelos dois.

Andaram lado a lado pelo salão, parando para tirar fotos e cumprimentas conhecidos. Quando tiveram um tempo a sós, Kyoko virou-se para ele. Enquanto ela demonstrava uma cara de poucos amigos, ele mostrava o sorriso debochado de sempre. Fuwa vestia um terno completamente preto, algo simples, mas que nele ficara perfeito.

– O que foi tudo isso, Sho? Estou tentando evitar possíveis escândalos e você faz questão de permanecer ao meu lado dessa maneira? O que quer dessa vez?

– Tantas perguntas, garota estúpida, não viu como todos estavam te olhando? – perguntou olhando para o vazio, como se evitando o olhar penetrante de Kyoko. Ela o afetava mais que o normal ultimamente.

– E o que isso tem a ver com você? – Sho permaneceu imóvel. – Escuta eu tenho muita coisa para me preocupar, hoje é um dia muito importante pra mim e-

– Você não parece estar feliz.

– Hã?

– Disse que você não parece estar feliz! Além de estúpida é surda agora? – Kyoko começou a se irritar com o tom debochado de Sho. – Você deveria estar muito feliz, mas não parece, tem alguma relação com as notícias daquele cara?

– Você parece muito interessado em minha vida ultimamente, Shoutarou, mas não tenho nenhuma razão para lhe dizer alguma coisa, enfim, espero não vê-lo tão cedo. – saiu de perto dele e foi ter com sua amiga Kanae que observava tudo com um olhar furioso.

Os olhos de Kyoko estavam sem expressão, ela parecia vazia, prestes a desaparecer quando Sho perguntou sobre Ren. “Eu sabia que ela sentia algo por ele, mas nunca imaginei que era tão intenso...”, pensava olhando para a garota, sentindo uma forte pontada no coração. Kyoko estava muito mal e Fuwa percebeu isso, mas não podia fazer nada, não poderia protegê-la ou estar próximo a ela.

Depois de um tempo, Kyoko estava no palco recebendo o tão cobiçado prêmio.

“Ela foi tão longe por minha causa, mas por que sinto que a perdi? Parece que ela não liga mais para a vingança, tudo por causa daquele imbecil... Desgraçado! O quanto ele ocupa no coração dela?”. Sho olhou novamente para o palco e a expressão sem vida de Kyoko veio em sua mente como um aviso de que ela precisava de ajuda. Sho nunca se importava com ninguém além dele, mas aquela garota conseguia atingi-lo de modo que ele não pudesse revidar.

Passou a noite acompanhando cada movimento da garota com o olhar, discretamente. Ela estava realmente linda, chegou a duvidar de que essa era a Kyoko que ele conhecera há anos.

Sentia-se irritado sempre que alguém se aproximava dela. Não entendia o “por quê?” dessa sensação, mas acabaria matando alguém se continuasse desse jeito. Pretendia ir embora daquele lugar, porém percebeu que ela estava agindo de maneira estranha. Talvez estivesse levemente embriagada, Kyoko era fraca com bebidas.

Ignorou a vontade de falar com ela e virou-se para sair do salão. Um arrepio subiu sua espinha e quando olhou para trás viu Reino da Vie Ghoul conversando e tocando a garota de maneira muito casual. Seu sangue ferveu e ele praticamente correu em direção aos dois.

“Onde está aquele bastardo quando se precisa dele?”.

Puxou Reino pelo ombro e entrou no meio dos dois. Encarou-o furiosamente e recebeu um sorriso debochado parecido com o dele. Aquilo o deixou enojado e percebeu que ter essa atitude era bastante irritante. Virou-se para a garota que parecia surpresa com a atitude dele.

– Vamos sair daqui! – disse com tom autoritário e puxou a garota pelo braço. Ela realmente estava um pouco bêbada. Enquanto eles dirigiam-se para um lugar reservado, os paparazzi tiravam fotos e preparavam as matérias sobre um possível relacionamento entre os dois.

Sho puxou-a para dentro do elevador e apertou o botão do térreo. O silêncio que se instalou entre os dois o deixava perturbado.

“Ela deveria estar gritando alguma coisa agora...”.

– Por quê? – Kyoko perguntou assim que chegaram ao térreo. – Não sei se percebeu, mas eu não me importo mais com você, o que você faz ou deixa de fazer. Eu não me importo mais! – as palavras atravessaram o peito de Sho.

– E a sua vingança? Vai me dizer que esqueceu disso? Você disse que ia me fazer ajoelhar e pedir perdão por ter te largado, mas até agora não a vi se esforçando. Esqueceu disso também?

– Que se dane a vingança! – Sho recuou um passo ao perceber a aproximação agressiva dela. – Eu não quero desperdiçar mais tempo da minha vida com você, Shoutarou, acabou.

O silêncio era ensurdecedor, Sho parecia estar digerindo tudo que ela disse, mas era impossível. Ele estava apaixonado por ela. Sempre esteve.

– Tudo por causa dele. – Kyoko levantou a cabeça. – Aquele imbecil! – Sho assustou-se quando Kyoko bateu em seu peito várias vezes com o punho fechado.

– Não ouse falar dele, baka-shoutarou! – Sho segurou os braços da garota e a encarou firmemente.

– Quando eu te deixei você me odiou e não derramou uma lágrima enquanto eu te chutava. – Kyoko engoliu seco. – Então por que esta chorando por ele? – as lágrimas caíram com mais intensidade pelo que ele disse. Aquilo o magoava de uma maneira que ele nunca imaginou. – Agora sou eu quem não vai te deixar em paz.

Kyoko tentou afastar-se quando ele a abraçou. Mas ele era muito mais forte do que ela, e a garota não estavam em seu melhor momento para lutar.

– Eu não quero sua ajuda. – disse ainda tentando soltar-se daquele abraço. Um abraço que ela esperou durante toda a adolescência, mas que agora parecia sem significado.

– Vai ter que se acostumar com isso então... – Sho não reconhecia a si mesmo. – ...garota estúpida.