P.O.V. Maria

Sem saber o que estava acontecendo, abri a passagem, e a cena que encontrei me fez gargalhar tão alto quanto o apito de um trem.

Zacarias corria em disparada pelo túnel, sendo seguido por uma Loveday totalmente histérica. Ela estava com um vestido rosa salmão, e os cabelos soltos.

Zacarias driblou mãe Minette e veio correndo em minha direção. Quando chegou a seu destino, passou raspando por minhas pernas e, tão rápido quanto antes, foi para fora de meu quarto.

Pela cara, Loveday estava cogitando a ideia de me derrubar por um bem maior, quando a puxei de volta para a sanidade:

—Mãe Minette, mãe Minette, calma!

Ela parou a meio metro de mim, mas sua respiração ainda estava muito rápida e des compassada. Evidentemente tentava se acalmar, mas suas tentativas de respirar calmamente eram fracassadas graças ao riso causado pela adrenalina de correr de modo tão ligeiro.

—Calminha, pense em coisas cor-de-rosa.

Ela fechou os olhos e as risadas foram passando gradualmente.

Quando Loveday se acalmou, perguntei:

—O que aconteceu mãe Minette? Por que estava perseguindo Zacarias?

E ela, envergonhada, respondeu:

—Eu e seu primo estávamos nos perguntando o por que de as crianças serem tão mais felizes que os adultos. Uma das teorias eram as brincadeiras, então estamos testando. Eu e Sir. Benjamin estávamos tentando brincar de esconde-esconde. Estávamos. Porque Zacarias esta ajudando ele a me encontrar, e isto é trapaça!

Ao que parece, Loveday novamente iria querer armar uma briga por pequenas coisas, como naquela vez em que ficou chateada por eu não gostar de rosa. Para não aumentar a confusão, declarei:

—Pois então eu acho que você venceu.

Ela deu um sorriso de quem acabou de encontrar uma brecha em alguma regra que acabara de ser pega quebrando.

—É... é... você tem razão! Com licença. - E assim, passou com ar determinado pela porta.

Dei um risinho.

—Então Serena, quer ouvir a musica que libertei do cravo?

Como a lebre não demonstrou reação, comecei:

—Como uma lança, uma espada

do mais fino e delgado feitio,

é assim a minha amada,

a mesma têmpera, o mesmo brio.

Como a brisa, como a onda...

TUM TUM

Ouvi um estrondo do outro lado da passagem, como se alguém batesse em uma parede.

TUM TUM

"Quem será agora?" Pensei.

Ao abrir passagem tenho uma maravilhosa surpresa.

—Pisco! Mas... como você...

—Como cheguei aqui sem que Loveday ou aquele gato me vissem, ou como descobri esta passagem? - Ele completou minha frase.

—Os dois! - Falei enquanto corria para abraçá-lo.

—Sabe, quando você mora com os homens do bosque sombrio, precisa aprender a se esconder nas sombras. Quando eu ouvi aquela gritaria toda, tive bastante tempo para achar um local, por mais difícil que seja em um túnel tão estreito. É, eu sei, impressionante. -Ele disse a ultima frase com falsa arrogância, brincando.

—Nem um pouco narcisista... -Ironizei, também brincando.

Ele revirou os olhos, rindo, e continuou:

—Quanto a esta passagem, eu não sabia onde ela iria dar.

Suspirei, sonhadora:

É como se o destino estivesse conspirando a nosso favor.