Branco. Branco era a cor não do meu vestido de noiva, por que vamos lá, eu não estou me casando aos 22 anos. Branco era a cor que pintava as paredes da sala na qual eu estava sentada Há uns bons cinco minutos, Cinco minutos esses suficientes para fazer com que a minha mente já bastante maluca fizesse uma grande revisão dos últimos anos.

Três anos atrás eu estava embarcando para Londres. Um ano significativo aquele. Conheci a Inglaterra. Conheci uma universidade na Inglaterra, e conheci também um ruivo na Inglaterra. Na verdade, foram vários, por que lá tem bastante gente ruiva, mas foi um deles que me interessou em especial. O que morava comigo.

Um ano mais tarde, eu embarcava em Londres, para voltar ao Brasil. E o Edward, depois de me deixar viajar sozinha, veio parar na porta da minha casa, em pleno verão brasileiro. Três semanas sofridas ele passou debaixo do nosso sol.

Dois meses depois eu estava de volta à Londres para ver o Edward apresentar ao publico a musica que ele escreveu para mim. Três semanas depois, Edward vendeu a dita música para uma das bandas de mais sucesso mundial do momento. Três meses depois, a musica deles estourou no topo das paradas mundo à fora. E foi ai que ele começou o seu promissor emprego de compositor musical.

Dois meses depois, nós terminamos pela primeira vez. Três meses depois, a música que ele escreveu sobre o nosso termino estava no topo das paradas.

Seis meses depois, nós terminamos pela segunda vez, e a musica que Edward escreveu e lançou na própria voz implorando meu perdão, alcançou o topo de mais tantas outras paradas.

Dois meses atrás nós terminamos pela terceira vez, e eu chorei duas vezes mais do que nas outras duas primeiras vezes. Uma vez alguém me disse que “a terceira vez é definitiva”, e bem, eu tinha medo de que aquela pessoa estivesse certa. Duas semanas depois eu achei que ela estava errada, já que eu e Edward estávamos juntos outras vezes. Eu só não sabia ainda o quanto eu estava errada por achar que a tal pessoa que me disse aquela frase estava errada.

– O resultado do seu exame está pronto senhorita Abrantes. – A voz da recepcionista me fez despertar dos meus devaneios, e quando eu me levantei e peguei nas mãos o envelope tão pequeno que carregava um peso tão grande dentro de si, eu sorri para a moça e voltei ao meu lugar de antes.

E quando eu finalmente reuni forças para abrir o tal envelope eu tive plena certeza de que a “terceira vez” era mesmo definitiva. E não foi o nosso terceiro termino que foi definitivo. Definitiva foi a mudança que veio com a terceira vez que nós voltamos a ficar juntos. E da reconciliação, nove meses depois viria o fruto do que agora sim era definitivo. E sete meses depois do dia em que eu pus as mãos naquele envelope, era Edward que trazia nas mãos algo muito mais mais valioso. E eu sorri quando constatei que o fruto do nosso amor era encantador. E a frase que eu disse fez Edward querer revirar os olhos e sorrir ao mesmo tempo:

– Ele é ruivo.

Talvez eu estivesse mesmo me casando aos 22 anos...