POV. Manuela Abrantes

E então eu descobri que o Edward não era só rico. Eu descobri que o Edward era podre de rico. Eu desconfiei quando eu vi aquela BMW no apartamento dele, mas eu tive a confirmação quando eu vi a outra BMW que o Tio Paul dirigia, e só para eu não ter nenhuma duvida mesmo, A Range Rover esportiva junto com a Ferrari, me confirmaram isso. Não que o imenso jardim de entrada não falasse por si só, ou a empregada que abriu aporta também...

E eu que pensei que Gales era a terra SÓ do Príncipe Harry. Na verdade, agora ela me pareciam mais com a terra do Príncipe Edward.

Ele carregou minhas malas até a entrada e de lá, foi o jardineiro que levou. Tipo Paulo disse alguma coisa sobre eu me sentir em casa e foi se jogar no quarto para dormir, já que ele alegava estar muito cansado.

– Manuela, não se intimide por nada por aqui. Tudo é muito simples e o que quer que você precise, é só chamar pela Marry, nossa governanta, que ela lhe dará a devida atenção. Lamento ter que me recolher, mas Marry mostrará o seu quarto, que não é o mesmo do Edward, por razões obvias. – Ela disse tudo como se fosse um robô que vende comida e eu apenas assenti a cada palavra dita. Edward me deu um sorriso cauteloso antes de seguir conosco até o andar de cima.

– Manu, eu receio que vou ter que ficar por aqui. A Marry vai cuidar bem de você. Nos vemos no jantar? – Edward disse parecendo estranhamente contagiado pelo ar repleto de “boas maneiras”. Eu apenas sorri e quando eu o beijei de forma rápida, os olhos da governanta pareceram quase saltar das órbitas. Será que ninguém beija na frente dos idosos na Inglaterra não?

– A senhorita poderia me acompanhar? – Ela pediu com o todo o seus sotaque britânico e eu assenti meio receosa. Edward me deu uma “palmadinha” camarada nas costas e eu o olhei raivosa antes de ele entrar no seu próprio quarto, que se me permitem dizer, parecia maior do que a nossa casa em Londres.

A partir daí eu e a governanta seguimos por um corredor enorme, e eu vi quadros enormes, pregados nas enormes paredes que vieram antes do meu enorme quarto de hospedes. Eu já disse que tudo nessa casa parecia enorme? Pois é, parecia mesmo.

A mulher sumiu assim que me disse algumas palavras sobre hora do jantar e hora do chá. Eu assenti sem entender muito bem e então me vi perdida no meio daquele quarto. E ai eu fiz a única coisa que eu poderia fazer naquele momento. Eu me joguei na enorme cama coberta por enormes lençóis e aderindo aos costumes britânicos, eu dormi suja mesmo. E como o tempo é aliado das boas causas, no dia seguinte, quando eu finalmente me vi conseguindo andar por aquela casa sem me perder completamente, eu estava pronta para descer as enormes escadas e encarar o jantar de ação de graças.

Do topo da escada eu vi o Edward sentado à mesa. Uma camisa social branca, calças jeans pretas e sapatos metodicamente lustrados. As pernas cruzadas em uma pose masculina bastante relaxada, enquanto Tio Paul parecia dividir algum assunto bastante interessante com ele.

A mãe do Ed, que se chama Madeline, só para constar, estava de pé dando alguns comando às empregadas. Aquilo me parecia mais uma recepção formal do que um jantar de família, mas foi quando eu já estava a meio caminho andado para o fim das escadas que os olhares de todos se focaram em mim. E eu me senti tão exposta quando o peru que estava sobre aquela mesa. Só que em uma pose menos constrangedora que a dele, é claro.

Edward se levantou, parecendo cumprir a etiqueta, bem como o tio Paul que me deu uma piscadela sacana. O James sorriu par Amim e logo já estava ao meu lado.

– Você está linda Meinu. – Ele disse me obrigando a corar mais um pouco sob o seu olhar e me fazendo sorrir ao mesmo tempo. – Verde combina com você. – Ele disse analisando meu vestido longo e escondi meu rosto nos ombros dele.

– Você está incrível também. – Eu falei e foi a vez dele sorrir. – Tão incrível quanto você é desde o dia em que te conheci.

E antes que ele pudesse me responder, um pigarro irritante vindo da mãe dele nos fez direcionar nossos olhares, bem como os nossos passos para a mesa de jantar. Ele puxou a cadeira para mim e logo, todos já estávamos em nossos lugares.

– Hoje é um dia muito especial. Como todos os anos, nós nos colocamos aqui para dar graças por nosso ano. E como a cada ano, um de nós é que faz o agradecimento, esse ano, por estarmos recebendo uma convidada especial, eu concedo a ela a honra de agradecer. – Madeline disse com o semblante angelical de uma cobra e eu engoli em seco. Bem, mais ao menos dar graças a Deus eu sei. É algo que eu faço todos os dias no Brasil, já que lá a gente não tem só um dia de agradecer.

– Primeiramente, eu gostaria de agradecer por vocês estarem me acolhendo em sua casa de forma tão agradável. Mas quando eu penso em tudo que aconteceu durante esse ano agradecer por coisas tão pequenas me parece até simplório. E é por isso que eu quero agradecer a Deus, não ó pelas bênçãos especificas, mas sim por tudo. Agradeço pela vida que ele nos concede e pela família que temos, que mesmo separada por um oceano ou dois, ainda é unida pelos laços do amor. Agradeço ainda pelo carinho que demos e recebemos. Agradeço pela saúde e agradeço por existirem aquecedores na Inglaterra. Mas eu agradeço a Deus de todo o meu coração, por ele me dar uma felicidade que eu não mereço, mas que é muito bem vinda. E mais do que tudo Deus, eu quero agradecer pelo seu amor. E se não for muita audácia, já vou pedindo para que ano que vem, seja ainda melhor do que esse que já praticamente se passou. E obrigada Deus, pelo amor.

E quando eu levei o meu olhar aos outros presentes, eu não tinha palavras para descrever a expressão deles. Mas eu sorria, já que o meu coração estava leve outra vez. Leve por agradecer por tudo o que recebi, mesmo que não fosse merecedora.