O Príncipe Cinza escrita por Micaela Salvya


Capítulo 7
Olhos Nebulosos Numa Fresta Escondida




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Livro dos Contos : Reino Core

Os jovens príncipes haviam completado dez anos de vida. Os dois meninos se divertiam correndo pelo palácio, se embrenhando pela Floresta Esquecida, levando seus pais á loucura.

Zane, o mais novo, não entendia por que todos o olhavam daquele modo. Como ele poderia entender? Prometera diversas vezes ao seu pai que não fizera nada. Que dessa vez ele não havia feito coisa alguma para receber olhares tão repreensivos. Seu irmão, Ícarus dizia ser tudo invenção de sua cabeça, eles haviam tantas vezes inflingido o horário de dormir que agora ele se sentia culpado.

É devia ser isso. Pensava ele.

Diversas vezes se olhara no espelho procurando algum defeito, será que havia algo de errado com sua aparência? Se havia ele não conseguia ver. A não ser seus olhos. Sua mãe costumava dizer que ele era único e devia se sentir privilegiado por ter um traço tão diferente assim como seu irmão. Todos pensavam que ele tinha inveja do irmão mais velho porque ele um dia seria um rei, mas Zane não queria nada disso. Ele podia ver como era difícil, era muita responsabilidade, não. Ele preferia viver sem isso.

Responsabilidades deixavam os adultos com uma vida muito chata. Inclusive seu irmão com só dez anos era obrigado a ter aulas com o Conselho de Tinta. Muito chato e sem diversão. A verdade era que as vezes ele invejava a maneira como todos olhavam com admiração os olhos dourados de seu irmão, como ninguém o temia. Como todos podiam ouvir o que ele tinha a dizer.

Naquela noite o jovem príncipe de olhos cinzentos como o pó que se acumula sobre velhos livros se levantou de sua cama. Ele precisava pensar, não conseguia dormir por algum motivo. 

- Íco, quer ir comigo? Vou passear pelo castelo. – disse ele em um sussurro.

- Não, tenho aula de manhã com o Conselho, se Mélio me pegar dormindo de novo estou ferrado.

Viu? Não era legal ser rei. Pensou. E saiu sozinho, quando grande parte do castelo já estava a dormir.

Seu cabelo preto caiu sobre o olho esquerdo, e ele soprou. Estava andando na ponta dos pés quando ouviu um múrmúrio saindo de uma sala pequena usada em raras ocasiões. Espiou pela fresta. Seu pai e Mélio, o Conselheiro Vermelho, estavam conversando. Uma mulher idosa se encontrava escondida sobre várias camadas de tecido bege sobre a cabeça e os cabelos grisalhos.

- Não podemos contar para ele! Como ele vai receber esta notícia? Se for para acontecer, então que isso aconteça sem a minha ajuda, que seja o destino e não eu. – exasperou seu pai, o Rei Auster.

- Você tem que contar, ele é o seu filho. Eles são seus filhos e merecem saber a verdade, meu rei. – disse a velha senhora.

- Eu sempre disse, desde o dia em que nasceram, que só haveriam de trazer problemas. Eu bem disse. Agora, eu tenho de concordar com ela, não podemos esconder a verdade por medo do destino, Vossa Majestade, eu posso não estar tão jovem, mas me lembro do senhor dizer que não devemos negar o inevitável, não podemos tentar nos livrarmos de um fardo jogando-o ao mar, pois os problemas não desaparecerão, se Yz escolheu seu filho Zane para ser o que acarretará uma guerra, então assim será. Não podemos mudar o que já está para acontecer. Agora estará nas mãos do Escolhido impedir essa grande tragédia. – disse o senhor de cabelos cor de fogo. – Como seu amigo, digo que devemos contar a verdade.

- Nunca tomei uma decisão mais difícil em minha vida. Seria tão mais fácil esconder tudo debaixo do tapete, mas tem razão. Por outro lado não quero que meu filho se junte a Irmandade Naquim. Não quero que ele nos destrua. Nem sei se devo mesmo acreditar em uma profecia dita há muito antes dos Tempos Antigos.

Por alguns minutos o pequeno e ingênuo garoto permaneceu atônito em meio a cena que se transcorria ali. Seu pai queria mentir? E depois tinha a pior parte. Ele estava destinado a destruir Core? Castell? Mas porque ele faria isso? Ele adorava o seu lar, nunca trairia sua família. E de repente tudo se encaixou como em um quebra-cabeças. Todos sempre souberam o que ele se tornaria. E sua mãe tinha mentido para ele em todas as vezes em que disse que ele era especial. Que ele devia ter orgulho de ser diferente. Todos sempre o olhavam com medo, ás vezes até desprezo, porque ele seria quem destruiria a todos. Ele faria coisas horríveis.

Zane então em meio a fúria e as lágrimas frias em seu rosto acalorado correu como nunca até que ele pudesse desaparecer. Até que ele ficasse tão afastado de todos que não fosse mais capaz de ver a tristeza nos olhos de seu pai, os olhos em que ele sempre quisera ver orgulho. Talvez se ele ficasse sozinho e sem ninguém no único lugar em que ele não se sentia preso como no castelo, ele poderia se abster de se tornar mal. Talvez ele não se juntasse a essa tal irmandade. Seus pés se encaminharam sem um rumo fixo em mente na direção da Floresta Esquecida.

O garoto estava tão distraído que não percebeu o reflexo de uma armadura da Guarda Real escondida nas sombras nem o sorriso satisfeito que se formou no rosto lavado pela luz do luar.


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