O castanho e o moreno caminhavam em direção ao campus, em seu pequeno apartamento. Kurt tinha o casaco de Blaine apoiado sob seu ombro, e os braços do noivo circulando sua cintura. Os dois namorados conversavam entre sorrisos e beijos naquele curto caminho do restaurante até seu apartamento.

– Tenho que dizer... Hoje foi um dos melhores dias da minha vida. Assim que chegar em casa vou contar a novidade pros meus pais e... - Kurt falava animadamente, quando Blaine o interrompeu.

– Talvez não seja tão novidade assim... - Tinha um sorriso largo nos lábios.

– O que você quer dizer?

– Eu queria fazer tudo conforme sempre planejávamos no ensino médio. Eu mesmo liguei pros seus pais e pedi a permissão. Na verdade, eu achei que seria melhor pegar um voo e ir até eles, mas foi tudo meio em cima da hora, e...

Kurt pulou no pescoço de Blaine com um sorriso enorme nos lábios. Algumas lágrimas tendiam a escapar pelos olhos do castanho, que tinha certeza que eram de felicidade.

– Mas vou ligá-los mesmo assim. - Kurt deu de ombros fazendo o noivo gargalhar e continuaram seu caminho pelo bosque mal iluminado.

De repente uma brisa gelada passou pelo casal que caminhava devagar. Kurt piscou rapidamente e sentiu que algo de ruim poderia acontecer, mas ao olhar aos olhos brilhantes de Blaine, deixou todo seu medo ir embora junto com a leve brisa.

– Mas que lindo os pombinhos.

Uma voz soou do lado escuro do campus, porém Kurt tinha seus olhos arregalados de medo. Ele conhecia aquele soar de voz, ele lembrava daquela voz como se tivesse escutado pela última vez há alguns minutos.

– Quem está aí? - Gritou Blaine, apertando o braço de Kurt contra si.

– Dave... Dave. - Sussurrou o mais velho.

– Dave? Dave Karofsky?

Logo o telefonema de Rachel fazia todo o sentido. Dave havia saído da penitenciária hoje, e parece que todo o ódio não havia passado nesses últimos anos. Blaine viajando no tempo havia pulado as agressões de Dave, mas Kurt tinha nos olhos todo o medo que ainda sentia do loiro.

– Quatro anos na cadeia, mas ainda parece que foi ontem que me prenderam... - Dave caminhou até a luz. Tinha as roupas sujas e o cenho franzido.

– Vá embora!

Kurt gritou. Provavelmente foi a única coisa que conseguiu falar. Blaine se pôs na frente de Kurt, enquanto Karofsky se aproximava.

– Calma, fadinha. Só quero ter uma conversa com o Sr. Gel... - Karofsky caminhava lentamente, chegando cada vez mais perto de Blaine. - Afinal, ele não vai recusar uma conversa entre dois amigos, vai?

– Blaine, não! - Kurt se abraçou ao noivo. - Ele quer nos machucar, igual fez da outra vez.

Blaine sorriu, lembrando do passado que nem vivera.

– Na verdade, Kurt, ele quer me machucar. Ele nunca faria nada de grave com você. Dave sempre foi apaixonado por você, pelo jeito que sempre foi forte encarando quem você é!

Kurt e Dave tinham os olhos arregalados. Kurt porque não acreditava nas palavras que saíam pela boca de Blaine, e Dave pelo moreno saber tanto sobre sua vida.

– Você cale a sua boca! - Dave falou nervoso, chegando mais perto de Blaine.

– Você tem que encarar a verdade! Todo esse tempo que veio atrás de Kurt, não era porque tinha ódio do jeito dele de ser, mas sim, tinha ódio do seu jeito de ser. Você não conseguia mais aguentar ver uma pessoa como você tão feliz sendo quem queria ser, se você, fingindo o tempo todo, infeliz.

– CALA A BOCA!

Dave estava a centímetros de Blaine, e seu punho já fechava fortemente. Blaine tinha raiva. Ele tinha hoje a vida perfeita, e não deixaria Dave estragá-la novamente.

– Você não aguentou mais mentir para si mesmo todos os dias, e então descontava nos outros. Mas o que eu achava que era apenas uma queda por Kurt, na verdade, era uma paixão insana. Mesmo depois dele mudar de colégio, você continuou o perseguindo!

Dave levantou o punho na altura do rosto de Blaine. Seu cenho era franzido com raiva, ódio. Kurt apenas prestava atenção no que seu bravo namorado falava.

– CALA A BOCA!

– VOCÊ TEM QUE PARAR DE DESCONTAR SEU ÓDIO NAS PESSOAS. O ÚNICO ERRADO AQUI É VOCÊ!

Assim que Blaine levantou o tom de voz, Dave se viu sem argumentos e acabou dando um soco com toda a força no rosto de Blaine, o fazendo cair no chão de tanta dor.

– Blaine! - Kurt levou as mãos a boca, tremendo de medo daquele momento. Aquele deveria ser o melhor dia de sua vida, mas pelo visto, estava sendo longe disso.

– Você não sabe nada da minha vida!

Dave pulou em cima de Blaine no chão, socando seu rosto e sua barriga. Blaine agradeceu a suas aulas de boxe e se virou, deixando Dave no chão dessa vez.

– Seu viado desgraçado!

Dave tentava se virar, mas Blaine deixou seus olhos se tornarem vermelhos e continuava socando Dave. Kurt via tudo de longe e não sabia o que sentir. Blaine já havia ensanguentado todas as mãos estragando o rosto de Dave. Ja tinha certeza que já havia quebrado o nariz do loiro.

– Você nunca mais vai machucar ninguém, nunca mais! - Blaine socava rosto de Dave a cada palavra. Ambos rolavam pela grama espalhando sangue e ódio por todo o lugar.

Dave conseguiu se levantar, e Blaine também. Ambos agora se seguravam para não cair. O nariz de Blaine sangrava e os lábios e olhos de Dave estavam inchados e roxos. Ambas roupas estavam sujas e rasgadas. Kurt ainda encarava a luta com os olhos arregalados.

– Desgraçado! - Dave correu e conseguiu derrubar Blaine, enchendo-o de chutes na costela. Blaine agora tinha a boca cheia de sangue.

– Para, por favor...

Kurt gritou com os olhos cheios de lágrimas. Dave antes de continuar os chutes olhou para Kurt com os olhos vermelhos e cabelo bagunçado de tanto passar as mãos. Seu rosto estava desolado, quebrado. Dave, por mais que tivesse odiado o castanho no ensino médio, tinha que assumir a verdade de que sempre gostara do castanho.

– Kurt. - Dave se afastou de Blaine, andando lentamente até Kurt. O mais velho não se moveu, não por falta de vontade, mas não conseguia. Estava paralisado.

Blaine aproveitou o momento e se levantou. Seus braços alcançaram um pedaço de tronco caído no chão e correu até Dave.

– Saia de perto do meu noivo!

Falou pausadamente, correndo até Dave e o dando uma rasteira. Agora que o loiro estava no chão, Blaine atirava o tronco contra o antigo jogador. Seus olhos estavam pretos de ódio e mal conseguia controlar os próprios braços. Sentado em cima de Dave, apenas batia com força o tronco contra o rosto de Dave.

Kurt levava as mãos a boca horrorizado com a situação. Blaine finalmente jogou o tronco fora, encontrando Dave desacordado (ou morto, provavelmente).

– Podemos ir embora agora... - Disse calmamente se levantando e caminhando até Kurt.

– SAI DE PERTO DE MIM! - Gritou se afastando.

– Kurt?

– V-VOCÊ É UM MONSTRO.

Blaine se deu conta do que aconteceu. Seus olhos voltaram a ser os mesmos de antes. Suas mãos estavam cheias de sangue, assim como sua roupa e pele. Sua respiração era pesada e o moreno não sabia como havia deixado a raiva tomar conta de si.

Do fundo, podia escutar a sirene da polícia chegando. Os carros estacionaram em cima da grama do bosque, e os policiais saíram da viatura rapidamente.

– Mãos para cima. - Gritaram ao ver Blaine todo ensanguentado e a vítima morta no chão.

– E-eu... Kurt. - Blaine tinha os olhos cheios de lágrimas.

– Você não é nada diferente de Karofsky. NADA, OUVIU? - E então Kurt se abraçou a um policial, que o levou até uma das viaturas para tirar seu depoimento.

Antes que Blaine pudesse pensar alguma coisa já estava sendo algemado e empurrado a força para dentro da viatura. Aconteceu tudo muito rápido e o moreno não sabia o que pensar. Viajar no tempo sequer passou por sua cabeça naquele momento. Só conseguia ver a imagem de Kurt chorando horrorizado sumir conforme a viatura descia a rua, o levando para a penitenciária.