"Querido diário, eu nunca pensei que minha vida fosse estar assim um dia. Tudo que um dia eu desejei aconteceu, do jeito que eu queria. É claro que o caminho até aqui foi conturbado, claro que foi. Tudo aconteceu há dois anos atrás quando eu finalmente parei de ser aquela criança. Eu estava pronto para assumir um compromisso. Aquele ano iria ser de Kurt Hummel. Assim pensava eu. Até hoje tenho medo de andar naqueles corredores, tenho medo de sair do colégio e entrar nele. Encaro as lixeiras como ninguém nessa escola. Mal eles sabem como aqueles objetos podem machucar. Não fisicamente, porém no sentimental. Cada vez que eu era jogado ali dentro, era uma sensação horrível. De ser humilhado. Enquanto todos riam, eu apenas fechava os olhos, me imaginando em outro lugar, com outro alguém. Eu nunca queria isso. Do mesmo jeito que nunca quis me apaixonar por Finn. O que eu queria era alguém do meu lado. Claro que eu tinha Mercedes, e até Rachel, quando não éramos amigos. Mas tudo melhorou. – nessa parte as letras de Kurt estavam manchadas, ligeiramente se passou pela cabeça de Blaine que poderia ter sido uma lágrima que caíra ali - ...beijo do brutamontes escola. Blaine não é nada como ele. Meu beijo com Blaine foi o que eu esperava, já meu beijo com Dave foi algo que não estava cogitado acontecer. Hoje fazemos 1 ano e 5 meses juntos. 1 ano e 5 meses que aconteceu aquele beijo na sala de descanso da Dalton. Desde aquele dia eu percebi que era especial. Quando voltei ao McKinley ninguém mais mexia comigo, ninguém mais lançava olhares de nojo pra mim. Podiam até pensar que era sobre a lei de Santana e Dave, porém não, e eu sabia. Era porque eles sabiam que eu tinha alguém para cuidar de mim. Eu queria que Blaine estivesse lá para me defender quando começou todo o bullying. Até outro dia." Fora escritos dias atrás.

Blaine levantou um sorriso, ao saber que era sobre ele que Kurt escrevia em seu diário. Aproveitou e fechou o diário, repousando-o pela cama.

– Você ainda está vivo? - Gritou, ouvindo Kurt gargalhar um pouco, com a voz abafada pelo barulho do chuveiro ainda ligado.

– Eu mal comecei a me arrumar. - Foi sua resposta.

Blaine aproveitou então e voltou a ler aquele caderno sobre a vida de Kurt. Para não atrapalhar o cronograma, passou a ler desde a primeira página do diário. Assim acompanharia a parte da vida de Kurt que não havia participado.

O grande caderno começava semanas antes de Kurt ter conhecido Blaine. Suspirou, novamente tomando coragem e voltou a ler o tão especial e secreto diário de Kurt Hummel.

"Eu deveria parar de escrever aqui. Todos os dias são iguais. Chego no colégio e lá estão os jogadores de futebol me esperando. O frio começa a subir por minha barriga. Começo do ano também estavam ali Mike, Matt, Finn e Puck, porém depois que entraram no clube glee da escola pareciam que havia esquecido dessa parte de sua vida. Eu não havia. Se eu corresse, eles iriam atrás de mim. A única opção era ir até eles. O medo. A mania de sempre levar outra peça de roupa para o colégio, já que sempre vou estar sujo de lixo ou de raspadinha. A humilhação. Sempre chego atrasado na sala, e sempre chego tarde em casa. Meu pai nem desconfia. Ele é muito ocupado para se preocupar com coisas pequenas como essa. E é esse medo que vou guardar para amanhã, mais um dia de aula."

Blaine limpou a garganta, tentando não deixar aquilo que estava escrito o abalar. Era passado, certo? Ele não havia com que se preocupar. Ele protegeria Kurt do que acontecesse. Voltou seus olhos às folhas, virando a página.

"Mercedes e Tina estavam aqui em casa, cuidando dos machucados que consegui hoje durante o treino das Cheerios. Minha mão dói muito para escrever. Quem sabe daqui a alguns dias." Junto anexado a esse dia, estava uma pequena foto de Mercedes e Kurt vestidos de Cheerios!.

Blaine encarava aquela foto com um sorriso no rosto. Kurt havia comentado algo sobre entrar nas líderes de torcida para ser mais popular, porém imaginava o castanho sendo mascote ou carregando o equipamento das meninas, nunca como um atual líder de torcida. Pegou a foto para si, guardando-a em seu bolso e voltou a ler as folhas.

"Sabe aquele sentimento de culpa? Estou com ele inflando cada vez mais em meu peito. Eu odeio ter que mentir para meu pai. Ele foi me pegar na enfermaria hoje e mesmo com todo esse sol, eu estava usando meu casaco das cheerios!. O motivo? Hematomas. Os roxos em meus braços e minhas costas. Dave Karofsky, é o nome dele. Eu estava saindo sozinho do campo, aonde fiquei treinando meus últimos passos. Dave apareceu e me atormentou. Eu tentei fugir, porém não corro igual um jogador de futebol, tudo bem que eu era kicker, porém era diferente. Meus braços doem e talvez eu não vá para a escola amanhã. Não me sinto mais seguro lá."

Além de líder de torcida Kurt também havia sido kicker? Blaine queria ter estado lá para ver seu bravo namorado. Queria ter estado lá para empurrar Dave com força. Ele queria. Ele poderia. Virou a página novamente, voltando a ler as lembranças de Kurt. Ele não escrevera por duas semanas.

"Mais uma vez, discriminação. Quando eu escolhi me assumir, não pensei que seria tão difícil assim. Eu não queria, não quero sofrer. Depois de ser jogado na lixeira, ter tropeçado pois o pé de algum jogador de hóckey estava na frente e ter tomado banho de 3 raspadinhas (tudo isso antes das aulas começarem), Mr. Shue fez novamente uma competição de sexos. O coral é aonde eu me refugio, pelo menos era. O professor de espanhol não me deixou juntar novamente às meninas, aonde falavam de uma música clássica de broadway. Tive novamente a me juntar aos meninos e os ouvirem falar sobre coisas nojentas, para no final, decidirem cantar qualquer música sobre Kiss. Além disso, tive que desabafar com Mr. Shue sobre como é difícil ser gay em Lima. Devo ser o único nessa cidade, se não, em Ohio inteira. Vida difícil, porém nada que eu não esteja acostumado."

E finalmente, Blaine havia chegado na escrita do dia onde se conheceram. Sorriu ao ler a data. 9 de novembro.

"Hoje tenho novidades boas. Finalmente, hein. Puck dias atrás me mandou espionar o coral da escola adversária nas Seletivas. Peguei meu carro e dirigi até Westerville, esperando encontrar uma escola igual a nossa, com outros covardes a virem me bater e tudo mais. Porém ao chegar no local, todos me cumprimentaram e foram muito bons comigo. Principalmente um dos meninos. Seu nome é Blaine, e ele é legal. Seus olhos são verdes como as águas do mar no mês de Junho. O melhor é que eu descobri que além de ser uma ótima pessoa, ele é gay também e prometeu me ajudar no que precisasse. Trocamos nossos números e ainda ganhei uma foto sua. Isso me fez até esquecer o fato de que o exame chegou e tenho duas costelas quebradas. Motivo? Karofsky."

Blaine engasgou. Quando conhecera Kurt, sabia que havia algo de errado com aquele garoto, mas nunca imaginou que fora dessa gravidade. Assim que ouviu o chuveiro desligar, imediatamente colocou o diário do namorado em sua bolsa. Leria o resto mais tarde. O almoço ocorreu bem, porém Blaine só conseguia olhar os olhos azuis do castanho e imaginar como um anjo daqueles podia ter sofrido tanta coisa e continuado firme e forte. Suspirava.