The Strange World Of Phalland escrita por Nightfall Deer


Capítulo 3
A Garota de Cabelos Brancos




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Lunna acordou assustada.

Era a terceira vez que tinha esse sonho. Aquela mulher se parecia muito com ela, exceto por seus olhos, que invés de castanhos eram de um azul elétrico. O colar...Ela o tinha desde que se entedia por gente. Até mesmo sua Alma...

A garota olhou em volta do seu quarto. Onde estava Alba?

—Lunna! Café da manhã! — Gritou uma voz, do andar de baixo.

Ela se vestiu, desceu as escadas e se dirigiu a cozinha. Lá havia uma mulher, com um rosto redondo e enrugado, olhos cinzentos e cabelos castanho quase cobertos por fios brancos.

—Bom dia. —disse ela — Se está procurando Alba, ela foi para o bosque, para caçar alguns esquilos.

A velhinha chamava-se Mary, e era a curandeira do vilarejo onde viviam. Seu marido, Helm, um mercador, tinha encontrado Lunna no meio de um bosque em Hrodgard, enquanto tentava passar pela fronteira antes que ela se fechasse por conta da tensão entre o Norte e o Sul. O casal a criou como se ela fosse filha deles, mas desde pequena a menina sabia que eles não eram seus pais. Helm, sendo um cidadão de Rivertail, tinha sido convocado para a guerra a 10 anos atrás. Elas não tiveram notícias dele desde então.

Lunna saiu para o bosque, que era bem perto já que moravam na orla dele, e seguiu uma pequena trilha que levava a um pequeno rio. Na margem dele havia uma raposa enorme e majestosa, totalmente branca, reluzindo ao Sol.

—Aí está você—disse Lunna, se dirigindo a raposa, que se virou ao ouvir o som de sua voz.

—Finalmente acordou, teve o mesmo sonho?— disse a raposa.

—Você sabe que sim.

—Está com fome?

—Morrendo!

Alba era a Alma de Lunna, uma raposa albina.

Voltaram para a casa, para o café da manhã.

Chegando lá tiveram o desprazer de encontrar a Sra.Pats. A Sra.Pats era uma das clientes de Mary, que vinha toda semana para buscar remédios para seu marido, e toda semana atacava Lunna com comentários como “O que ouve com seu cabelo?” ou “Ela está usando calças?” ou só falava sem parar sobre as novidades de Rivertail. Hoje o assunto era a partida da família real do vilarejo:

—Ouvi dizer que eles vão embora hoje mesmo, pelo visto o Rei já terminou os negócios que vinha tratar com o prefeito.

—Que interessante Petúnia.— disse Mary, calmamente— Toda a família real irá partir?

—Sim, toda ela! O Rei Urich, a Rainha Estella, o Príncipe...e o Bastardo.

O Bastardo; era assim que todos o chamavam. Ele era filho do Rei com uma artista de circo, algumas pessoas diziam até pior, mas ninguém nunca o viu ou sabia seu verdadeiro nome.

A Sra. Pats finalmente notou que Lunna estava lá:

—Ah, Lunna. Ainda estou surpresa que você deixou o cabelo crescer. — disse, e continuou a falar.

Mary notando o desconforto da garota, arranjou um jeito de livra-la daquela mulher.

— Lunna, minha querida, você não está atrasada para sua aula?

Ela murmurou um 'obrigada' só para Mary ouvir, pegou um pedaço de pão e saiu para a rua.

Hoje o vilarejo estava mais movimentado que o comum, devido a chegada da família real, mas os mesmos tipos de pessoas passavam pela rua: Os bebuns, os comerciantes do mercado negro, as moças de vestido longo, as crianças brincando e etc.

Seguindo para o mercado, viu muitas pessoas de fora, que só estavam lá para ver o Rei. O vilarejo de Devilcross nunca recebia viajantes, então era meio que uma grande coisa.

Então ela notou algo que se destacava na multidão; era um lobo cinzento enorme, uma Alma. Olhou em volta, procurando o dono dela, mas não havia ninguém perto do lobo. Ele parecia tão familiar... Lunna decidiu deixar para lá, e continuou o seu caminho.

Depois de passarem pelas ruas mais movimentadas, pararam em frente a uma casa que parecia estar caindo aos pedaços. Elas atravessaram o quintal coberto por ervas-da-ninha e Lunna bateu na porta.

Após alguns segundos ela se abriu revelando um homem. Ele era velho, mais velho do que Mary, de pele escura, como a madeira queimada do fogão de sua casa, cabelos e barba bem longos, igualmente prateados, olhos da mesma cor, e tinha um falcão empoleirado em seu ombro.

—Você adiantada?— disse com uma voz grossa, parecendo surpreso — Nunca achei que viveria para ver isso.

—Eu quis começar mais cedo hoje.— respondeu a garota, ignorando o comentário.

O Mestre, como era chamado por todos do vilarejo, voltou para dentro da casa, seguido pelas duas.

Ele havia treinado Lunna nas artas das armas e defesa pessoal desde que a menina tinha 8 anos de idade, por conta de uma promessa que havia feito a Helm. O velho também a ensinou sobre o mundo fora de Devilcross, para o desagrado de Mary, e adorava narrar as suas aventuras de quando era um soldado de Berthrária, o Reino do Leste.

Eles entraram no salão de treinamento, onde haviam vários bonecos de palha e madeira, sacos de terra, e uma parede coberta de todos os tipos de armas. Lunna se aproximou da parede e retirou uma das lâminas de seus apoios.

Era uma espada longa, com um punho preto sem detalhes, tinha gume apenas de um lado e era ligeiramente curva. Chamada de Katana, era usada pela guarda particular da Imperatriz do Leste até ser substituída por espadas utilizadas no Sul. Ela também era a arma favorita da garota.

—Achei que iríamos revisar sua habilidade no arco e flecha hoje.— falou o Mestre.

—É que faz tempo que não uso a Katana. Eu não quero perder o jeito.

O Mestre ponderou sua sugestão por alguns instantes.

—Tudo bem então. Você realmente precisa memorizar as posições de defesa.

A garota passou o resto de manhã treinando com os bonecos de madeira e com o próprio Mestre, que apesar de velho ainda era bem rápido quase sempre conseguia acerta-la com seu bastão. Alba observava tudo que acontecia do outro lado do salão, ocasionalmente comentando sobre os erros de Lunna.

Quando ouviram os sinos do monastério batendo ao meio-dia o velho interrompeu o treino.

—Por hoje chega.— ele pegou a espada da mão dela e a devolveu a bainha — Espero você semana que vem, de preferência no horário certo.

Ele estava indo em direção a porta quando a garota o parou.

—Espera!— ela pulou na frente dele —Não sei se vou estar aqui semana que vem. É o meu aniversário e pretendo viajar.

—Você ainda acha que Mary vai deixar você sair do vilarejo?— ele jogou a cabeça para trás e riu —Ha! O dia que ela permitir sua partida de Devilcross será o dia em que ela cai na cova!

—Não custa tentar. Eu vou fazer 18 anos, talvez ela tenha mudado de ideia sobre isso.

—Boa sorte com isso, garota!

Dizendo isso ele passou por ela e saiu do salão.

Eu concordo com ele.

—Cala a boca, Alba.

Quando Lunna e Alba chegaram em casa mais tarde, a Sra. Pats tinha ido em bora e havia um bilhete em cima da mesa da cozinha.

Fui entregar os remédios por encomenda no vilarejo. Volto mais tarde. Por favor, dê um jeito na casa, e não se esqueça de regar a horta.

Mary

Parece que seremos só nós duas essa tarde.— disse a raposa depois de terminar de ler o bilhete.

—Bom, então é melhor começarmos a trabalhar!

Lunna pegou dois baldes de madeira e foi até o poço que ficava do lado de fora do casebre. Elas os encheu, voltou para dentro e, usando a água de um, começou a limpar o chão da cozinha com um esfregão. Quando terminou, pegou o outro balde, um regador, e as duas foram até a horta, onde Mary plantava suas plantas medicinais, e legumes e verduras para as refeições. Enquanto a garota regava as plantas, Alba arrancava ervas-da-ninha do terreno.

Depois disso, limparam os outros cômodos da casa (o quarto delas, o de Mary e o banheiro) e finalmente se sentaram, exaustas, em sua cama.

Quando Mary chegou as duas estavam tirando um cochilo bem merecido, e a mulher não quis acorda-las. Ela foi para a cozinha e começou a preparar o chá da tarde.

Lunna foi acordada por um cheira delicioso vindo do andar de baixo. Sua barriga roncou. Tinha comido a carne de coelho que Mary havia deixado para ela, mas isso foi horas atrás. A garota acordou Alba e ambas descera para a cozinha.

Mary estava colocando o chá para ferver quando as ouviu se aproximarem.

—Espero que tenham descansado. Eu trouxe seu favorito da padaria.

Ela apontou para a mesa onde havia um prato cheio de bolinhos de nozes. A menina não perdeu tempo e começou a devorá-los.

—Valeu Mary!— disse de boca cheia.

A mulher simplesmente rolou os olhos com a falta de educação dela.

Ouviram um bater de asas e uma enorme coruja das torres entrou pela janela.

–Ah, Astrid, finalmente!

Astrid era a Alma de Mary.

Elas pareciam estar conversando, sem tirar os olhos uma da outra.

Lunna não conseguia ouvir Astrid tanto quanto Mary não podia ouvir Alba, mas as Almas podiam conversar entre si.

—Alguma novidade?— perguntou Lunna.

—A Névoa está se aproximando de Devilcross.

—A Névoa? Mas ela não pode nos machucar, né?

—Sim, mas algo está agitando-a.

Ela pôs o chá na mesa.

—Como foi a aula?— perguntou, tentando retomar a conversa.

–Puxada, como sempre.

–Talvez já esteja a hora de você desistir dessa história maluca de brincar com armas...

—Pare com isso, Mary!— disse a garota, batendo os punhos na mesa —A anos que você fica tentando me fazer desistir do treinamento! Isso nunca vai acontecer!

—Lunna eu só estou preocupada com você! Não quero que se machuque!

—Sabe por que eu quis começar essas aulas? Por causa de Helm! Ele queria tanto que eu aprendesse a me defender que ele pediu ao Mestre para me ensinar!

—Mas Helm não está mais aqui!— gritou Mary, com lagrimas se formando em sues olhos —Ele morreu! Ele foi embora e morreu! Eu não quero que a mesma coisa aconteça com você!— ela agarrou os ombros de Luna —Eu não quero que você vá! Não quero que morra e me deixe sozinha!

A garota, também lutando contra as lágrimas, se livrou do aperto de Mary com um empurro.

—Vou dar uma volta.— disse com raiva.

—Agora?

—Eu preciso sair daqui. Vamos Alba.

Ela correu para o bosque, com Alba em seu encalço, cada vez mais fundo, até acharem o que queriam: uma pequena caverna, bem no centro do bosque.

Era onde ela se escondia quando era pequena, para fugir das provocações das outras crianças de Devilcross. Ela só teve um amigo de verdade durante toda a sua vida, que vinha lhe fazer companhia e brincava com ela nesse mesmo lugar. Seu nome era Rowan. Ele chegou no vilarejo 10 anos atrás, alguns dias depois de Lunna começar suas aulas. O pai dele havia vindo para tratar de negócios com o prefeito, e o menino tinha ficado em Devilcross por quase um mês inteiro. Eles se tornaram amigos rapidamente depois de um incidente envolvendo pedras e uns garotos irritantes do vilarejo, e todos os dias vinham aqui para escalar as árvores, contar história, entre outras coisas. Rowan nunca falava mal dela, e era o único alem de Mary que elogiava o seu cabelo.

Quando chegou a hora de ele partir, os dois tinham planejado fujir para o fundo da floresta, onde ninguém os acharia. Mas Rowan nunca apareceu, e ela passou horas esperando por ele na caverna. A Alma dele, Reno, era um lobo, um filhote, parecido com aquele que haviam visto na cidade hoje cedo.

Ela sentia muita falta deles dois.

Lunna desabou no chão com o peso das memórias e da conversa com Mary, e deixou as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Alba chegou perto dela e apoiou a cabeça em seu ombro, para conforta-la.

Quando Lunna parou de chorar já era muito tarde, e a Lua brilhava no céu. Ela tentou enxugar o rosto com as mãos, enquanto a raposa colocou uma de suas patas no joelho da garota.

—Eu sinto falta deles também, sabia?

A menina jogou os braços sobre a Alma e a abraçou com força.

Mas elas foram interrompidas por um estrondo vindo da cidade.

—O que foi isso?

—Não faço a menor ideia...

De repente começaram a ouvir gritos desesperados vindos da mesma direção.

O que estava acontecendo? Lunna disparou pela floresta, com Alba ao seu lado, até que chegaram no casebre em que moravam. Mary estava do lado de fora com Astrid em seu ombro, olhando de boca aberta para o vilarejo. Ele estava coberto por uma névoa espessa... mas não era simplesmente isso, era a Névoa! A garota e sua Alma começaram a correr em direção ao caos, ignorando os gritos de protesto da mulher. Ia ficar tudo bem.

A Névoa não poderia fazer mal as pessoas.

Ou poderia?

No vilarejo, haviam casas desabando e pessoas correndo e gritando em pânico...

Lunna pensava em um jeito de acalmá-las quando uma grande pantera aproximou-se das duas.

Parecia transparente, translúcida.

Era parte da Névoa.

Ela pulou sobre Lunna.

A única coisa que ela lembrava antes de apagar era Alba ganindo.


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