The Strange World Of Phalland escrita por Nightfall Deer


Capítulo 4
A Cidade Sem Almas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/353011/chapter/4

Lunna abriu os olhos.

Todas as casas do vilarejo estavam destruídas, não havia ninguém nas ruas, mas tampouco haviam corpos.

“As pessoas devem ter sobrevivido” pensou.

Lembrou-se da destruição noite passada, a pantera...onde estava Alba? Lunna sentia que ainda estava viva.

Alba! Alba! chamou.

Ouviu algo se mexer nos escombros de uma das casas, e a grande raposa branca saiu de lá.

—Lunna! Lunna! Você está bem?

Sim. O que aconteceu ontem a noite? E aquela pantera?

—Eu não sei o que aconteceu, ela atacou e eu desmaiei.

A Névoa era inofensiva! Por que está fazendo isso?!

—Eu não sei.

Mary disse que algo estava agitando-a.

—Precisamos encontrá-la, talvez ela saiba o que está acontecendo.

Elas andaram até os restos do que uma vez chamaram de lar, Mary estava em frente a eles, parecendo muito fraca. Lunna correu até ela.

Mary! O que...

Então ela viu seu rosto. Estava mais branco que papel, seus olhos estavam vazios, opacos.

Astrid? É você Astrid?- ela sussurrava.

Não Mary sou eu, Lunna.

Lunna? Onde está Astrid?

Eu...eu não sei...

Várias pessoas começaram a sair dos escombros, todas pálidas, como Mary, perguntando onde estavam suas Almas, começaram a cerca-las

Lunna e Alba correram da multidão agoniada para um lugar seguro, dentro do bosque.

O que foi aquilo?!

—As Almas, eles não tem mais Almas!

Como? A Névoa as matou?

—E como ela conseguiria fazer isso?

Nós temos que ajudá-los!

—Não! Nós não podemos fazer nada!

Mas e aquelas pessoas? E Mary? Nós não podemos ficar paradas aqui!

—Lunna pensa bem! O que podemos fazer?!

Eu sei lá! Só sei que não vou deixar Mary sozinha!

A garota começou a voltar em direção ao vilarejo quando ouviram passos metálicos se aproximando. Alba, pressentindo perigo, empurrou Lunna para trás de uma moita, e espiou pelas brechas da folhagem.

Alguns segundos depois, três soldados aparecera no campo de visão das duas. Eles passaram direto pelo esconderijo delas, seguindo em direção a Devilcross. Todos tinham o selo de Rivertail, o Sol sendo rodeado por um rio, incrustado em suas armaduras.

O que a guarda de Soulforth está fazendo aqui?- perguntou Lunna quando eles se afastaram.

—Ótimo, outra coisa para acrescentar à lista de coisas que não sabemos.

Talvez a família real também foi atacada.

—Eles partiram de Devilcross de manhã. E mesmo se eles tivessem sido atacados, os guardas estariam ajudando o rei e a família. A pergunta é: o que eles estavam fazendo na floresta?

—Talvez estejam procurando por sobreviventes.

—Talvez... Precisamos falar para alguém o que aconteceu no vilarejo. Alguém que saiba o que fazer. Mas não os guardas. É melhor nós não confiarmos neles.

—Concordo. É melhor nós irmos andando, se não quisermos que eles nos achem.

Então, ainda que relutantes em deixar Mary para trás, elas começaram a andar. Não levavam nada, só as roupas no corpo de Lunna e seu colar, tudo que tinham fora destruído junto com a casa. Elas andaram. Quantas horas já tinham se passado? Andaram. O Sol estava se pondo. E andaram. Já era de noite. Pararam em uma clareira, exaustas, com os pés (e as patas) doloridos.

Lunna se encostou numa árvore e Alba enrolou-se ao seu lado. Acima delas, as estrelas brilhavam, espalhadas pelo céu escuro. Era a primeira vez que dormiam ao relento.

Depois de tudo que acontecera, isso não era mais tão emocionante quanto seria se elas ainda tivessem uma casa para voltar de manhã.

—Boa noite Lunna.

Boa noite.

Dirigiram um último pensamento a Mary e adormeceram.



Lunna sabia que o dia não ia ser nada bom antes mesmo de se levantar.

Ela estava deitada em um enorme bloco de pedra, numa caverna gigante. Isso não era tão ruim, não, o ruim era que um grande babuíno estava em cima dela, encarando-a. E isso não era o pior, o pior era o cheiro dele.

Ela gritou e pulou para fora do bloco. Alba, que estava dormindo na ponta do bloco, foi acordada com o grito e atacou o babuíno, mas foi facilmente imobilizada no chão.

Não se preocupem, crianças,disse uma voznós não vamos machucar vocês.

Lunna se virou, e encarou o que parecia ser um velho muito magro, com uma barba longa e desgrenhada e de vestido.

E a única coisa que ela conseguiu dizer foi:

Você está de vestido.

Não é um vestido!disse o velho com raiva É uma toga!

Quem é você? Onde estamos?a garota perguntou, se recuperando da surpresa.

Eu sou aquele que chamam de Hamda, e este é Ramal.disse, indicando o babuíno com a cabeça Acho que já pode solta-la Ramal.

A outra Alma libertou Alba de seu aperto.

E vocês estão na minha casa.continuou Hamda.

Uma caverna?

–Eu queria morar num lugar afastado da civilização, então sim, eu moro numa caverna. Mas o que vocês estavam fazendo sozinhas no meio da floresta? Estão malucas?

Nosso vilarejo foi atacado pela Névoa! Precisamos de ajuda!

Ah, eu ouvi falar sobre isso.

Como?

Um passarinho me contou.

—Ele fala com pássaros e nós que somos malucas?—comentou Alba.

Mas vocês não precisam se preocupar, o Rei já mandou médicos para o vilarejo. Está de quarentena, ninguém entra ou sai. Mas isso não importa agora, eu quero saber como você ainda tem a sua Alma.

O que?

Decidi dar uma espiada na cidade quando soube o que aconteceu. Todas as pessoas de Devilcross tiveram sua alma levada pela Névoa, menos você.

Eu não sei como... Por isso precisamos de ajuda! Precisamos saber o que está acontecendo!

Hmm...

–Você perece ser uma boa pessoa. Conheço alguém que pode lhe ajudar.

–Sério?! Quem?

–Meu irmão. Ele mora em Soulforth, é um especialista em Almas, vai te dar uma resposta. É só dizer que eu te mandei.

–Obrigada Hamda! Muito obrigada!

–De nada. Ramal irá levar vocês até a estrada.

O velho Hamda entregou um saco a Lunna.

–Suprimentos para a viajem.

Elas agradeceram.

Lunna se deteve na saída.

–Senhor Hamda?

–Sim minha criança?

–Por que está nos ajudando?

Ele deu uma risadinha.

–Você e sua Alma são uma dupla interessante.

Dizendo isso, sumiu no interior da caverna.

Ela e Alba seguiram Ramal por entre as árvores até chegarem na estrada.

–Ele diz que só temos que seguir a estrada, e ao anoitecer nós chegaremos a capital.

–Obrigada Ramal.

Ramal soltou um grunido, como um ‘de nada’ e voltou para a floresta.

–Está pronta?

–Não.

–Nem eu.

Elas seguiram o caminho.

...

Só avistaram as luzes da cidade tarde da noite.

–Ramal disse que chegaríamos ao anoitecer. Maldito babuíno.-disse Lunna.

–Hum...Lunna?– falou Alba.

–Sim?

–Onde nós vamos ficar? Nós não temos dinheiro para pagar uma hospedaria.

Pararam na entrada da cidade.

–Droga! Não pensei nisso.

–É improvável que nos hospedem de graça, não é?

–Precisamos arranjar um emprego, ganhar o dinheiro e o resto a gente resolve quando encontrar o irmão de Hamda.

–Falar é fácil Lunna, nós estamos exaustas demais para trabalhar agora!

–Então vamos achar uma hospedaria que aceite o pagamento depois.

–Duvido que vamos achar alguma.

Elas visitaram quatro hospedarias, e todas elas as tinham posto para fora.

Sentaram-se nos barris que estavam do lado de fora da última que visitaram, Alba olhou para Lunna como quem diz “Eu te disse”.

Teriam dormido ali mesmo se não fosse por um barulho, vindo de um beco.

Foram até lá.

Um grupo de garotos estava rodeando uma pessoa, no final do beco. Pareciam estar discutindo com ela. De repente um gato pulou na cabeça de um deles, e a pessoa tentou escapar pelos lados.

Era uma menina, devia ter a idade de Lunna, tinha cabelos ruivos curtos e era muito magra. Um dos garotos agarrou-lhe o pulso e a chocou contra a parede.

Elas tinham que ajuda-la

Lunna correu e deu um murro no primeiro que viu, enquanto Alba atacou o que agrediu a garota. Ela, por sua vez, olhou espantada as duas lutando, mas logo se juntou a elas e ao gato, que continuava pulando na cabeça deles.

A briga pareceu ter durado um instante, depois de um minuto todos estavam no chão.

–Caramba! Devíamos fazer isso mais vezes!

–Uau!-disse a garota- Vocês lutam bem!

– Obrigada. Mas o que eles queriam com você?

–Você deve ser nova na cidade, aqueles eram os Abutres. Eles são uma espécie de gangue, recolhem o dinheiro das pessoas a força. Vieram atrás de mim porque eu não quis pagar.

–E o Rei não faz nada?

–O Rei? Ele não está nem aí para o povo. Mas obrigada por me ajudar. Meu nome é Liz, esta é Penny.-indicou a gata.

–E eu sou Lunna. Essa daqui é a Alba.

–De onde vocês são?

–Nós viemos de Devilcross.

–Devilcross? A cidade que foi atacada pela Névoa?

–Sim...

–Mas como você ainda está viva? Todas as pessoas de lá morreram!

–Morreram? Quem te disse isso?

–Um arauto do Rei veio até a praça principal para nos informar sobre o ataque.

–Mas as pessoas de lá não morreram!

–Não?!

Os caras da gangue que estavam no chão começaram a acordar lentamente.

–É melhor nós irmos embora. Me sigam.- disse Liz.

Elas correram pelas ruas estreitas da cidade até chegarem numa pequena casa, enfiada entre a padaria e a alfaiataria.

–É aqui que nós moramos. Entrem e sintam-se em casa.

A casa era um pouco maior por dentro. Tinha uma escada de madeira que levava ao andar de cima, e no andar de baixo só havia um forno a lenha, alguns utensílios de cozinha e uma mesa com quatro cadeiras.

–Mãe! Estamos em casa!- gritou Liz.

Uma mulher grande e rechonchuda desceu as escadas. Tinha os cabelos ruivos iguais aos de Liz e estava acompanhada de um pequeno bem-te-vi, pousado em seu ombro.

–Finalmente! Por onde andou?! Quase me matou de preocupação! Por que está toda suja? Se meteu em uma briga?! Quem é essa garota? O que eu falei sobre trazer estranhos em casa?- disse ela.

–Mãe, deixa eu explicar. Os Abutres vieram atrás de mim.

–E você brigou com eles?! Você podia ter se machucado feio!

–Eu estou bem mãe! Se não fosse por essas duas nós estaríamos mortas!

–Ela não precisa exagerar.

A expressão da mãe se suavizou.

Liz as apresentou.

–Mãe estas são Lunna e Alba.

–Olá. Por favor me chamem de Sra. Pond.

–Prazer em conhece-la.

Liz se voltou para Lunna.

–Vocês têm algum lugar para ficar?

–Não.

–Ótimo! Vocês podem ficar aqui, como gratidão.

–Obrigada!

–Venham comigo.

Elas as seguiram até o andar de cima. Ela abriu uma porta no final do corredor estreito.

–É aqui que nós dormimos.

Era um quarto minúsculo, com uma cama, um armário e uma janela que dava para a rua.

–É um pouco pequeno, mas acho que vocês podem dormir aqui.

Ela abriu o armário, pegou um colchão muito fino e o estendeu no chão.

–Está muito tarde, acho que vocês podem me contar o que aconteceu no vilarejo amanhã.

Liz deitou na cama, enquanto Penny se enroscou num cesto ao lado da porta.

–Boa noite. –disseram.

–Boa noite.

Lunna e Alba se deitaram no colchão, uma ao lado da outra.

–Ei, Lunna?– disse Alba.

–Sim?

–Como vamos encontrar o especialista em Almas se Hamda não nos disse o nome, nem o endereço dele?

...

–Ah, não!

“Ela estava no bosque. Estava escuro e nevando. Ela foi até uma possa d’água e olhou o seu reflexo. Ela era uma raposa! Exatamente igual a Alba! Latidos e gritos começaram a ecoar pelo bosque. Lunna levantou a cabeça e olhou em volta, assustada.

Viu uma enorme matilha de cães raivosos se aproximando. Ela tentou correr, mas uma enorme rocha bloqueava seu caminho; os cachorros a cercaram, ela não tinha por onde escapar. De repente um enorme lobo pulou sobre a rocha, e atacou os cães. Eles fugiram, aterrorizados.

Uma luz ofuscante iluminou o bosque. Um grande leão branco descia a colina...”

Lunna acordou assustada.

Esse sonho... bom, pelo menos não era a mulher de novo.

Olhou em volta.

Liz, Penny e Alba já tinham se levantado.

Saiu do quarto e desceu as escadas.

A Sra. Pond já havia posto a mesa do café da manhã.

–Finalmente acordou!-disse Liz.

–Você parecia muito cansada ontem, então nós deixamos você dormir.– falou Alba.

Lunna se sentou com Liz na mesa.

–Então,- disse a garota- pode me contar o que aconteceu em Devilcross?

–As pessoas de lá não morreram...

–Sim, sim, disso eu sei...

–Elas perderam suas Almas.

–O que!! Mas como...?!

–A Névoa as levou, eu acho. Por isso eu vim para Soulforth. Preciso achar alguém que saiba por que eu ainda tenho Alba, e para onde as outras Almas foram...

–Oh, estão falando sobre Almas?- intrometeu-se a Sra. Pond – Estão parecendo o Sr. Dingle, aquele velho maluco...

–Quem é esse?

–É um velhote que diz ser um “especialista” em Almas.

–Um especialista em Almas?! Onde ele mora?

–Ao lado do ferreiro, em frente a praça principal.

–Obrigada, muito obrigada!

Ela se levantou da mesa num salto.

–Vamos Alba.

–A onde vocês vão?-perguntou Liz.

–Estamos indo para a casa do velho maluco. Não se preocupem, nós vamos voltar.

Saíram avoadas pela porta.

–Você tem certeza que esse é o cara?– disse Alba enquanto corriam.

–Um velho maluco, especialista em Almas, que mora na capital? Ele se encaixa no perfil de irmão de Hamda.

Continuaram correndo até chegarem na praça.

Ao lado da loja do ferreiro, havia um casa bem antiga, caindo aos pedaços.

–É aqui.

–Sim.

Elas se entreolharam.

Lunna bateu na porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Strange World Of Phalland" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.