As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 59
Conhecidos


Notas iniciais do capítulo

gente, vocês me matam de rir com os comentários hueheu suas fofas! 2 capítulos hojes



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#Narrado por Daniel#

Finalmente fui à consulta do mês seguinte com Catharina. E enquanto esperávamos nossa vez na fila de espera do consultório, todas as outras pessoas nos encaravam pelo fato de sermos “jovens”.

– Isso sempre acontece com você e a sua mãe? – questiono.

– Não... Mas deve ser por que você está aqui e devem estar nos julgando mentalmente por termos feito sexo sem camisinha e acabado com as nossas vidas. Mas se você olhar pr’aquele corredor... – eu virei o rosto e olhei para onde ela estava falando. – Vai ver garotas tão mais novas quanto eu.

E eram garotas realmente mais novas e grávidas, e em um estágio de mais meses do que Catharina.

– Catharina Carvalho. – chamou a enfermeira.

Levantamos e fomos até a sala.

Depois de o médico perguntar como ela estava, e toda aquela cena de médico e grávida e consulta, ela deitou-se da maca ou cama, ou dane-se o que seja aquilo e ele aplicou um gel sobre a barriga crescida de Catharina.

– Hoje, dependendo da posição do bebê, poderemos saber o sexo dele. – disse ele e depois olhou pra mim. – Está preparado para ouvir o coração do seu filho batendo, papai?

Olhei para o monitor e lá estava... Depois de um tempo falando sobre a saúde do bebê, ele ligou o som e finalmente escutei as batidas rápidas de um coração de alguém em formação ainda. Eu quis chorar de felicidade. Pela primeira vez em tanto tempo eu finalmente estava feliz. Eu sorri para o monitor como um idiota, e Catharina percebeu.

– E, vocês já tem nome?

– Júlia se for menina e... Eduardo se for menino. – respondeu Catharina.

– Então, deem boas vindas para a Júlia, pois é ela quem está a caminho. – disse o médico.

– UMA MENINA?! – Exclamei eufórico.

– Sim, uma menina. Acalme-se rapaz. – advertiu o médico.

Catharina sorria e chorava e eu quis tanto sair correndo pela rua e gritar que eu ia ser pai de uma menina! Eu estava feliz. Eu estava muito feliz. A mesma coisa que um dia levou minha felicidade embora estava sendo a razão da minha felicidade agora. Eu nunca pensei que fosse ter um momento feliz nessa história de ser pai, mas uma parte minha estava ali, e eu não seria idiota de não valorizar o único lado bom disso.

Depois da consulta, fomos para casa. E eu estava animado com isso, pela primeira vez queria que tudo desse certo nessa gravidez, e eu iria cuidar de Catharina, não porque eu a amava como mulher, mas porque amava a criatura indefesa dentro dela.

***

Dias depois decidi visitar Leandro e a minha avó para dar as novas notícias.

– Vou ser bisavó de uma menina! E você vai ser avô, seu bruto. – disse minha avó a Leandro enquanto conversávamos no sofá.

– Avô... Pensava que a essa altura eu fosse estar vendo você entrar na faculdade, e não me dar a notícia de que terei que ser avô. – disse ele rudemente.

– Essa criança não vai morrer se você não quiser ser avô dela. – replicou minha avó.

– É claro que eu quero... E quero que Daniel tenha juízo também.

– Estou começando a ter. Não precisa me julgar mais, Leandro. – disse a ele.

– Eu sempre quis o seu bem. Mesmo nessa situação, o que quero é que seja feliz e não morra tendo essa mesma vida que eu... – continuou ele.

– Vou lutar pra ser feliz do meu jeito. – disse. – Mas agora preciso ir. E vocês podem me visitar se quiserem. Eduarda não se importa.

– Por falar nela, ela está bem? – pergunta Leandro, me surpreendendo ao se importar com ela.

– Ela está. Os tratamentos tem dado resultado e eu creio que em breve ela vai estar recuperada e curada desse câncer.

Ele ficou observando o nada por um tempo e disse:

– Diga a ela que mandei lembranças.

E então entrou no quarto e eu fui embora.

***

Já era noite e eu estava com o carro, então não tinha problemas de voltar pra casa. Decidi dar uma volta pela cidade, mas parei no meu velho e antigo lugar. O beco das histórias e do muro pichado. Estacionei o carro do outro lado da rua e atravessei.

Enquanto passava por ele, recordações me vieram à mente. Um Daniel que no passado bebia, arranjava confusão e não tinha interesse algum pela vida. Eu mudei, mas uma parte irresponsável disso tudo ficou comigo.

O muro não estava mais pichado. As marcas antigas sumiram e me lembrei do “casmurro” e sorri. Era a única coisa que eu sentia falta.

Respirei fundo e fiquei encostado ao muro, de olhos fechados senti o perfume de Diana. E então, quando abri os olhos, para a minha surpresa ela estava lá. No mesmo lugar na primeira vez que eu a vi passar ali. Os mesmos olhos assustados. A mesma expressão.

– Diana. – disse baixinho olhando para ela enquanto a mesma continuava parada.

Ela respirou fundo e soltou o ar.

– Daniel. – disse ela olhando para baixo.

Ficamos em silêncio. Eu não sabia o que falar e tive medo. Então ela começou a andar naturalmente e antes que ela sumisse, decidi falar algo.

– Espere! – exclamei. Ela virou-se para mim surpresa. – Como você tá? – perguntei com medo.

– Bem. – respondeu ela secamente e voltou a andar.

– Espere, por favor. – implorei.

Fazia tanto tempo que eu não a via ou escutava sua voz, e eu só precisava dela ali comigo por alguns minutos.

– O que quer Daniel? – perguntou ela parando mais uma vez e voltando-se para mim.

Eu me aproximei dela e olhei para o muro.

– Ainda lembra? – perguntei. Ela encarou o muro, o olhar tão seco e triste, como quando alguém se recorda de algo que se arrependeu de ter feito.

– Lembro. – respondeu ela, olhando pra mim.

– “Casmurro”. – disse, tentando sorrir para ela, mas eu não conseguia.

– Pintaram o muro, isso deve ser um sinal. – disse ela.

– Que sinal? – perguntei.

– De que a gente deve esquecer o que passou e seguir em frente. – respondeu ela. – Adeus Daniel.

– Espere, por favor! – pedi mais uma vez puxando-a pelo braço.

– Me solta! – exclamou ela me empurrando. – Não me peça para esperar. Você não sabe o que é isso!

– eu ainda sou o mesmo! – disse defendendo-me.

– Não! Você não é! Você não é o casmurro. Não existe mais casmurro algum! – disse ela chorando.

Eu me aproximei mais ainda e enquanto ela chorava, eu a abracei. Ela não retribuiu, mas aceitou. Senti as lágrimas dela. Ela chorava e eu continuava a dizer “me perdoe, por favor, me perdoe.”.

Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas quando eu finalmente pude falar outra coisa, tive consciência com as palavras.

– Eu sei que não podemos voltar. Sei também que meu espaço na sua vida como o seu “casmurro” acabou. Sei que te machuquei e reconheço isso. Reconheço as feridas que deixei em seu coração. Mas antes de tudo, eu quero te agradecer, pois você foi a causa de muita, muita mudança pra mim. Eu não te peço nada, pois você me deu tudo. Nem o seu perdão eu mereço, eu sei... Mas, se ainda restar um pouco da Diana que sorria depois de chorar, quero que essa mesma Diana um dia possa me perdoar por tudo. E possamos recomeçar como amigos. Eu não te mereço. – disse a ela que agora não chorava mais. Ela me olhou calmamente nos olhos. – Eu não te mereço, Diana. – disse mais uma vez. – Mas quero ao menos ser seu amigo, colega. Não me deixe totalmente fora da sua vida. Isso tem acabado comigo.

– Tem acabado comigo também. – disse ela afastando-se. – Mas eu preciso pensar. Faz tanto tempo, mas ainda mexe comigo. Eu só quero que você encontre-se de novo e não se perca mais por aí. Consegue fazer isso?

– Posso tentar. – respondi sorrindo.

Ela me olhou em silêncio e então sorriu.

– Olha, não sou muito boa nessa história de perdoar. Mas, vamos dar uma trégua um ao outro. Vamos dar uma paz e um basta nesse “mi mi mi”. – disse ela rindo timidamente. – Estou seguindo com a minha vida agora. Perdoar é libertador.

– É sim. – disse.

– Então eu vou indo... – disse ela afastando-se mais. – Tchau Daniel. – ela acenou e virou-se.

– Amigos então? – perguntei enquanto ela afastava-se mais.

– Conhecidos... – ela olhou mais uma vez pra trás e disse. – Conhecidos.

Olhei para o muro e sorri.

– Conhecidos então.


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