As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 53
Uma segunda chance, pra mim mesma.


Notas iniciais do capítulo

Hy babies, tô de volta haha, tava sem net, mas agora tenho. Fiz três capítulos de uma vez '-' omg, então, vou postar esse e se der o outro tbm.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/352699/chapter/53

#Narrado por Diana#

Quando retornei a sala para cumprimentar “educadamente” as visitas, percebi o tímido sorriso de Rafael ao me ver. Ok, ele era um cara realmente galanteador e beijava bem. Não sei se deveria pensar naquele beijo que foi o estopim de tudo, mas eu estava pensando agora.

Sentei ao lado do meu avô, próximo de Rafael e sua mãe. E enquanto todos diziam o quanto eu estava me “tornando uma moça muito bonita, tão parecida com a minha mãe”, eu revirava os olhos e puxava a saia um pouco mais pra baixo, tentando deixá-la pelo menos até a altura dos meus joelhos.

Lucas (que a propósito é o tipo de irmão que você sonha em ter, até que ele começa a cortar suas roupas e encher suas saias de lantejoulas e purpurina rosa), começou a rir da cena. A blusa que eu usava tinha uma renda discreta no busto. Eu não curtia rendas. Nem saias. Nem purpurina. Muito menos quando tudo isso estava em um único pacote.

- Estamos animados para ver a publicação de seu livro, Diana. Já pedi para Rafael fazer todas as economias possíveis para comprarmos o seu livro na estreia. – disse Ester, mãe de Rafael.

Eu apenas sorri. E depois sorri de novo. Essa era a forma mais “humana” que eu tinha de me comportar na frente de pessoas que me deixavam constrangidas. E além do mais, os capetas dos meus primos estavam ali. Qualquer movimento brusco seria motivo para um sarro levado pelo resto da vida.

- Soube que você passou na UFRJ. – disse Rafael por fim.

- É, eu passei. – respondi sem muita empolgação. Por toda a sala havia barulho. Todos, sem exceção alguma, conversavam um com o outro. Típico de domingo.

- Então minhas aulas serviram para alguma coisa. – engrandeceu ele logo depois arqueando a sobrancelha.

Fitei o chão e apertei as mãos uma contra a outra. Assenti a sua afirmação.

- Vai fazer letras mesmo? – continuou ele.

- Sim... Por enquanto. Quer dizer... – balbuciei. – Na verdade não sei. Foi o curso que escolhi, o que mais me aproxima do que eu gosto de fazer... Só tenho medo. – disse por fim.

- Medo de quê? – questionou ele intrigado aproximando o rosto para ouvir melhor a minha voz.

- De não ser o suficiente, sabe? As pessoas irão ler o meu livro e eu já sinto um milhão de críticas me bombardeando. Temo que isso me afete, e tal. – respondi.

- Críticas fazem bem. Elas te constroem. – replicou ele.

- Por esse lado você tem razão, mas digo que eu não estou preparada para receber críticas. – continuei.

- Então, aqui vai uma crítica. – disse ele erguendo a cabeça em um rápido gesto e me encarando profundamente com os olhos claros mais “claros” que já vi. – Esteja preparada para todo o tipo de crítica mocinha. Não seja chorona.

- Eu não sou chorona.

- Você é a garota mais chorona que eu conheço.

- Tá, você diz isso porque só me viu chorar uma vez. – afirmei.

Rafael fez um silêncio aparente enquanto observava todos na sala. Depois, levantou-se do sofá e foi até a cozinha.

Olhei ao redor e vi Lucas fazer um gesto indicando que eu fosse atrás dele. Hesitei. Não queria ir atrás de Rafael. Eu nem sabia o porquê de ir lá na cozinha com ele, mas Lucas não parava de me encarar e eu estava ficando desconfortavelmente irritada.

Levantei-me e puxei a saia novamente pra baixo tentando fazê-la alcançar meu joelho. Em vão. Jurei pra mim mesma que eu jogaria ela fora depois daquele dia.

Passei pelo corredor e vi Rafael de costas servindo água em um copo. Minha tia falava alguma coisa a respeito do sorriso dele (céus, eu não era a única a achar o sorriso dele bonito).

- Você deveria fazer propaganda de pasta de dente. – disse ela.

Rafael riu e eu também.

- Não o iluda tia. O sorriso dele nem é tão... – fiz uma pausa enquanto ele virava o rosto na minha direção e sorria. – Bonito assim... – parei, tendo minhas duas últimas palavras pronunciadas gradativamente.

- Eu ainda acho um belo sorriso. – afirmou ela novamente passando por mim e nos deixando a sós na cozinha.

Rafael virou-se para o outro lado e lavou o copo em que bebeu água.

- Sua tia é bem legal. – disse ele. – Quer água?

- Não, valeu. – disse.

Nos encaramos novamente e lembrei-me de que o estopim do que eu estava vivendo agora aconteceu naquela cozinha. Com aquele cara. Perto daquela pia. Gelei.

 - Aqui não deve te trazer boas lembranças. – falou ele ao observar minha expressão nada feliz.

- Não... Quer dizer... Não é isso. Eu só não queria pensar nisso agora. – franzi a testa em sinal de reprovação ao meu pensamento.

- Pelo menos vocês se acertaram.

Meu silêncio negou a afirmação dele.

- Ou não. – disse ele novamente.

- Não somos mais como antes. Acho que nunca mais seremos como antes.

- Todo mundo muda Diana. É isso que nos diferencia dos animais.

- Eu não consigo me adaptar facilmente com mudanças. – repliquei.

- Eu também não. Mas, chega uma hora em que ou você muda por vontade própria ou é obrigado a mudar. E, sinceramente, eu espero que você nunca seja obrigada a mudar. É mais doloroso. – continuou ele.

Ele tinha razão de certa forma. Mesmo assim, fazer o meu ego acreditar em mudanças era como dizer a uma criança de quatro anos, que quer o quarto pintado de rosa, que a única cor que se tem pra pintar o quarto é azul.

- Um dia eu aprendo. Não sei de que forma, mas aprendo. – disse a ele.

- Poderíamos mudar de assunto... Tipo... Falar sobre “Star Wars”. Você assistiu?

- Sim... É bem legal. Estou com os DVDs aí.

Ele riu.

- Espero que tenha gostado mesmo. Eu queria te levar pra uma exposição de filmes de ficção que vai ter perto da minha universidade. Quer ir? – convidou ele.

Antes de responder, sorri. Eu precisava de alguma distração além de ficar sugerindo capas para o meu livro ainda não publicado.

- Claro, eu adoraria.

***

No dia seguinte após a aula, fui até a editora mais uma vez ver os novos modelos de capa.

- Veja Diana, essa é a nossa última capa desenhada. O que acha? – perguntou a designer.

Avaliei de cima a baixo e não me agradei. Porém, a opinião final não era a minha e sim a do produtor geral de imagem gráfica.

- É bom. – disse.

Todos na mesa me encararam.

- Bom? É maravilhoso Diana! – disse Abner, o produtor geral de imagem gráfica.

- É, sei lá. Não acho que esteja enfatizando a ideia do livro. O quê, uma garota segurando uma lista de desejos na mão? Isso é tão óbvio. – falei recostando-me na cadeira.

Um silêncio na sala de reunião começou. Levantei-me e desfiz a minha ideia.

- Mas, eu não sou formada em nada. Se vocês acreditam que essa capa irá causar impacto, eu apoio. De verdade. – continuei.

- Iremos revisar a capa mais uma vez. Sua ideia conta alguma coisa aqui. Pelo menos pra mim. – disse Abner.

Os funcionários saíram da sala e eu fiquei com minha mãe e Abner.

- Estamos planejando tudo pra essa semana. Queremos que seu livro seja publicado logo no primeiro semestre no próximo ano. – disse ele.

- Isso não vai atrapalhar a faculdade dela? – perguntou minha mãe.

- De modo algum. – respondeu ele.

Após alguns diálogos a respeito do contrato com a editora, fomos embora.

***

Enquanto íamos para casa, minha mãe comentava que eu precisava comprar roupas novas (novamente), já que eu ia pra faculdade e logo mais seria reconhecida por ter um livro publicado.

- Não preciso de novas roupas mãe. – disse.

O taxista que nos levava apenas ria.

- É a primeira vez que vejo uma garota que não quer comprar roupa nova. – comentou ele.

- Ah, o senhor não viu nada. – disse minha mãe. – Mas, você vai comprar roupa nova. Vou pedir que o Lucas vá com você ao shopping. Ele sempre escolhe roupas bonitas pra você.

- E curtas. – repliquei.

***

Em casa, refiz algumas listas da escola e afazeres a respeito da minha formatura da escola.

- Quando será? – perguntou Lucas ao me ver organizando uma papelada.

- Semana que vem. – respondi.

- E Daniel, vai participar?

- Não sei. Ele nem ao menos está indo à escola.

Lucas sentou-se na minha frente e começou a folhear uma revista de vestidos de formatura.

- E Catharina? Eu também não a vi mais. – comentou ele.

- É, as amigas dela comentaram outro dia que ela estava doente e por isso não estava indo. – disse.

- Hum... Espero que ela fique bem.

Franzi a testa e depois encarei Lucas.

- Quer mesmo? Ou é da boca pra fora? – questionei.

Lucas pensou por um momento, riu e disse:

- É da boca pra fora.

- Já imaginava. Flávia disse a mesma coisa hoje de manhã.

- Por falar nela, a Flávia e o Maurício andam bem “juntinhos”... – comentou Lucas.

- Eles estão namorando e vão à formatura juntos. Provavelmente ficarei segurando vela. – resmunguei.

- Só se você quiser. – replicou Lucas sugerindo algo que eu esperava não ser aquilo que eu estava pensando.

- O que quer dizer com isso moleque? – perguntei brava.

- Diana! O Rafael é louco por você! O que custa chamá-lo pra ir à sua formatura? De repente rola alguma coisa e tal. – respondeu ele.

Puxei o travesseiro e joguei em cima de Lucas para calar a boca dele.

- Não fale besteira. – resmunguei.

- Ah! Não vai convidar o Daniel, não é?

Fiquei em silêncio. Ouvir aquele nome ainda não soava nada bem aos meus ouvidos.

- Era o que eu queria, mas... Não sei. – disse confusa.

- Sabe Di, acho que vocês precisam conversar de verdade. Dar um fim a isso. Ele te prende sem nem mesmo te segurar. Isso é insano. Por que não vai até a casa dele é põe um fim a essa “espera”? O tempo já foi suficiente e ele não veio atrás de você. Talvez já até tenha seguido em frente.

- Ele veio atrás de mim sim. – disse. – O papai e ele conversaram outro dia, mas ele seguiu o conselho do papai e decidiu “pensar” mais um pouco antes de me contar qualquer coisa. E quando o papai me disse isso, comecei a achar que Daniel ainda gosta de mim e isso não é ingenuidade. É só uma verdade. Eu preciso ir atrás dele Lu. Talvez o problema seja eu e não ele.

- Talvez o problema seja a falta de coragem dos dois. De qualquer forma, faça o que achar melhor. – concluiu Lucas.

- Deveríamos pensar no meu vestido agora. – mudei de assunto.

- Eu acho vermelho lindo. Olha esse aqui...

E conversamos o resto da tarde sobre vestidos, penteados, sapatos e “como sua unha tá feia, porque não pinta pra parecer uma garota pelo menos na formatura?”.

***

Comprei nossos ingressos pra exposição. Vou te buscar amanhã depois da aula.

Era essa a mensagem curta e direta de Rafael que recebi na madrugada.

- O quê? – questionei sozinha deitada na cama no quarto escuro por volta das três horas da manhã enquanto Lucas roncava na cama ao lado.

Não respondi. E não foi porque eu não queria, mas meus olhos fecharam automaticamente depois que li a mensagem.

Na manhã seguinte na escola, a reunião dos formandos fora para definir a cor do vestido.

- Todas as meninas de vestido vermelho. Os meninos, gravata vermelha. – disse a representante da formatura.

Muita algazarra a respeito da cor e então ficou decidido que seria vermelho e ponto final, mesmo que uma ou duas garotas tivesse anunciado greve de fome se a cor fosse vermelha.

- Qual o problema de irmos todas com o vestido da cor que queremos? – comentou Flávia durante o intervalo.

- Porque ficaria RI-DÍ-CU-LO. – disse Lucas. – Vermelho é vida. Representa paixão e...

Suspirei enquanto mexia a colher no copo de iorgute.

- Acho que não deveríamos comentar sobre paixão agora. – interrompeu Maurício.

Olhei para eles e depois sorri.

- gente, não tem nada haver. Sério, me ignorem. – disse.

- Já disse a você que Daniel é um idiota? Sério, ele é. – comentou Murilo.

- também acho amiga, você vai conseguir algo melhor. – disse Flávia abraçando-me.

- Já até conseguiu. – murmurou Lucas recolhendo-se na cadeira. Todos olharam surpresos e felizes.

- Você já está com alguém? – questionou Flávia.

- Não! Lucas!! Não, não estou com ninguém!

- Não ainda. – continuou meu irmão.

Revirei os olhos e ignorei o restante da conversa até o fim do intervalo.

Quando a aula acabou, fui até o portão com Lucas e nos despedimos dos amigos. Enquanto isso, uma mão tocou meu ombro. Virei pra trás e vi Rafael.

- E aí? – disse ele.

Fiquei surpresa e só então lembrei que Rafael havia mandado mensagem na madrugada avisando que iria me buscar para a exposição após a aula.

- O-oi. – disse gaguejando.

Não foi difícil perceber os sorrisos de Lucas e Flávia, além dos olhares de Maurício e Murilo.

- Recebeu a mensagem? – perguntou ele.

- Sim... Eu só não lembrava e eu nem falei com minha mãe. – respondi.

- Mas eu já fiz isso por você. – continuou ele.

- Vá logo Diana. – sussurrou Lucas.

- Então, nós vamos? – insistiu Rafael.

Assenti com a cabeça e o acompanhei despedindo-me de todos com um simples aceno.

Dentro do carro, Rafael começou a puxar conversa tentando ser legal, o que não era difícil para um cara como ele.

- Sua mãe fez um interrogatório do tipo “pra onde vocês vão? que horas chegam? não irão beber? Não irão se drogar?” e outras coisas mais.

Comecei a rir e então disse:

- Bem típico da minha mãe.

***

Chegamos ao local da exposição. Rafael entregou os ingressos e entramos. A exposição começava com vídeos de filmes antigos como Star Wars e Star Trek.

- Já assistiu algum? – perguntei.

- Já assisti todos. – respondeu ele sorrindo.

Continuamos pelo corredor da exposição e chegamos até os filmes em preto e branco e vi “O Ditador”, de Charlie Chaplin. Admito que quase chorei. Foi um dos primeiros filmes que assisti.

- Eu acho esse cara um máximo! – comentou Rafael.

- Eu também.

E mais adiante, os musicais. E bem a minha frente, “Cantando na chuva”. Corri até o telão onde a minha cena favorita rolava e comecei a cantarolar baixinho. Meus olhos brilhavam, eu sentia isso, e lembrei da minha avó Carmem que, quando viva, cantava pra mim e dançávamos na sala.

- Se eu ousasse pensar que de mim gostasse, é isto que iria dizer... Foi feita pra mim, e eu pra você. A natureza a fez e ao terminar você era todas as doçuras que podia imaginar. Você é pura melodia, que jamais me deixaria. Mas estou contente que os anjos a enviaram e que a fizeram só pra mim.¹ – cantava Rafael baixinho, me acompanhando.

- Eu gosto desse filme também. – disse ele.

Não disse mais nada. Aquele filme lembrava Daniel. E aquela cena lembrava a minha avó. Duas lembranças boas e tristes ao mesmo tempo porque eu não tinha nenhum dos dois comigo.

Antes que a cena terminasse, segui para o próximo setor da exposição.

***

- Foi um dia muito legal Rafael. Obrigada. – agradeci abraçando-o.

- Que tal um lanche agora? – sugeriu ele.

Concordei e fomos até uma lanchonete e cafeteria ali próxima. Ambos pedimos uma porção de fritas e Milk-shake. Conversamos sobre a faculdade e coisas além disso como o nosso futuro. E depois, Rafael disse que eu deveria pensar no presente, e que eu estava vivendo um ótimo momento.

- Mesmo assim, já sentiu que todas as coisas estavam dando certo, mas um vazio desconhecido te cercava? – perguntei a ele.

- Sim... Isso é falta de amor. – respondeu ele.

- Não... É apenas coisa da minha cabeça. – repliquei. Ele riu. – Mas, eu quero te fazer um convite agora.

-Faça.

- Quer ir a formatura comigo? – perguntei sorrindo.

Ele esboçou um ar pensativo e misterioso e então respondeu:

- Seria uma honra indescritível. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Referência.
1- Life was a song,
You came along
I've laid awake the whole night through
If I ever dared to think you'd care
This is what I'd say to you

You were meant for me
And I was meant for you
Nature patterned you
And when she was done
You were all the sweet things
Rolled up in one

Letra da música "You were meant for me" do musical "cantando na chuva"
Beijocas.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.