As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang
Notas iniciais do capítulo
Hey babies, novo capítulo!
#Narrado por Diana#
Alguns modelos de vestido cobriam toda a minha cama. Lucas encontrava defeito para cada um enquanto minha mãe se preocupava com o presente de formatura que deveria comprar pra mim.
– Seu pai ajudaria muito se pensasse comigo em algo pra dar a você. – resmungou ela.
– Ah mãe, relaxa. Eu nem quero presente mesmo. Estou preocupada com o vestido. Tudo o que eu gosto, Lucas “inventa” problema. – disse.
– Diana, a questão não é inventar problema, mas eles são muito “vazios”. Você precisa de um vestido extravagante. É a sua noite, e tal. – explicou ele.
Revirei os olhos e tirei um vestido da cama e coloquei na frente do meu corpo.
– Eu gostei muito desse. Ele é praticamente dançante e... – fiz uma pausa mostrando como o vestido se balançava. – e ele balança.
– É... Mas eu queria que você experimentasse este aqui. – disse ele puxando um vestido debaixo dos demais e me mostrando. Imaginei naquele momento que Lucas havia desenhado e costurado aquele.
– Foi você quem fez? – perguntei.
– Como você sabe? É tão óbvio assim? – replicou ele rindo.
– As suas amigas do curso de corte e costura foram anjos, de verdade. Cada uma delas fez lindos vestidos e... Eu fico grata. Mas, quero usar o seu. – disse puxando o vestido das mãos dele.
– Acho bom mesmo. Foram dias desenhando isso. – disse ele. – E o pior foi costurá-lo em três dias. Por sorte eu tinha alguns amigos na comissão da formatura que me confidenciaram a cor oficial dos formandos desse ano.
– Eu não gosto muito de vermelho, mas o vestido ficou lindo. Parabéns! – falei abraçando-o.
– Ah, bom... Vestido pronto, agora arrumem os outros vestidos para levar de volta a oficina. Agora iremos ao shopping comprar o sapato e a minha roupa. – avisou minha mãe.
***
Enquanto caminhávamos pelos salões do shopping da Barra, Lucas palpitava, como sempre, no que minha mãe deveria usar e no que eu deveria calçar. E antes que a opinião dele prevalecesse sobre a minha, escolhi escondida o sapato.
– Isso é injusto. Eu nem ao menos iria abrir a minha boca. Juro que iria deixar você decidir. – resmungou ele cruzando os braços e sentando-se.
– Você sempre procura palpite pra dar aquilo que eu escolho. Mas sapato... Não! – disse.
– Ok queridos, vamos comer algo e depois voltamos pra casa. E parem de discutir sobre sapato. – repreendeu minha mãe colocando as sacolas de compras no chão.
– Daniela, sabia que o Rafael vai levar a Diana a formatura? – disse Lucas sorrindo enquanto olhava o cardápio do Grill’s.
Abri a boca surpresa e arqueei os olhos de raiva. Depois, respirei fundo e tornei a atenção a minha mãe que ria da cena.
– Sério? Isso é muito bom. Acho o Rafael um cara legal. – disse ela.
– É? – perguntei espantada.
– Sim. – afirmou ela. – Mesmo depois de aquilo tudo ter acontecido com você e ele enquanto o Daniel ainda era o seu namorado, o Rafael sempre me pareceu ser um rapaz gentil.
– Ele é. – concordei.
– E achei muito legal ele ter convidado você na segunda-feira a ir com ele na exposição.
Não disse mais nada. Fiquei calada, recostada na cadeira da praça de alimentação. Depois que todos estavam decididos sobre o que iriam pedir, optei por um suco de laranja e nada mais.
Na volta pra casa, Lucas foi direto para o curso de costura enquanto minha mãe e eu nos divertíamos assistindo um filme de terror barato na TV a cabo.
– Seu pai odiava filmes assim. – comentou ela.
– Mas esse filme é muito idiota. Nossa! – disse.
Coloquei a pipoca de lado e encostei minha cabeça no ombro da minha mãe. Ela pôs pausa no filme, como se soubesse que não era hora de continuar assistindo nada, que era hora de ser mãe.
– Algum problema querida? – perguntou ela com a voz delicada e acolhedora.
Suspirei, e aquilo serviu como uma resposta para todas as outras perguntas.
– Alguns. – respondi.
– Tem a ver com o livro ou...
– Não, nada com o livro. Isso tudo está sendo perfeito demais pra mim. Tão perfeito que as vezes me questiono se é real. – disse.
– E qual é o problema então meu bem?
– Eu sinto falta do Daniel. – respondi espremendo-me com a almofada do sofá.
Minha mãe fez um som fofo com a voz e me abraçou.
– Sei o quanto você gosta desse garoto, mas eu não vejo nenhum dos dois sair do lugar para resolver essa situação.
– Eu acho que nem tem mais situação mãe.
– Por quê? Todo mundo muda de ideia o tempo todo.
– Mas eu raramente mudo de ideia. Eu acho.
– Você precisa amadurecer mais um pouquinho meu bem. Daniel não vai ser o único cara que irá partir seu coração. Como eu queria te dizer que só ele iria te magoar, mas não é verdade. E eu, como sua mãe, não devo esconder as verdades dessa vida. Você vai conhecer tanta gente ainda. Tantas outras pessoas que irão despertar alguma coisa em você querida.
– Eu optaria por não conhecer mais ninguém.
Ela riu.
– Infelizmente, não temos opção.
Eu assenti aquela verdade. Fiquei abraçada a ela o resto da tarde e novamente reafirmei a ideia de que não há sabedoria melhor do que um abraço de mãe.
***
No dia seguinte, na escola, meu coração quase fez uma pausa momentânea e saiu pela boca. Vi Daniel. Eu não o via a tanto tempo que gelei. Minha palidez, creio eu, ficou fora do normal. Sentei na mesma cadeira de sempre enquanto ele foi até o outro lado da sala e sentou-se perto de um garoto que tinha um piercing na orelha.
– Ei, respire e não pire. – sussurrou Flávia pra mim.
Fechei os olhos e voltei à atenção para a aula.
Eu não consegui controlar a raiva. Eu queria contorcer todo o meu corpo e correr até ele, gritar que eu o odiava. O odiava por ser aquele cara que sumia por dias e aparecia dias depois. Queria dizer que o odiava por não ter me procurado mais, por agir como um imbecil. Eu queria dizer que não conseguia odiá-lo, mas conseguia me odiar por ainda manter esse sentimento mesmo depois de tanto tempo. Tempo inútil de uma espera inútil. Eu esperava um milagre impossível, e mesmo acreditando que existe um Deus que consegue estar em todos os lugares e que pode fazer todas as coisas, eu não conseguia acreditar que aquele mesmo Deus faria Daniel ser o mesmo Daniel de antes. Se é que ele fora real em algum momento.
Quando o professor fez a chamada, todos ergueram os olhos para Daniel assim que ele respondeu “presente” e depois, me fitaram porque sabiam de nós.
– Quanto tempo Daniel. – disse o professor.
Daniel não respondeu. A mesma pose arrogante do inicio do ano, mas agora ele estava silencioso demais.
No intervalo, segui praticamente correndo até o refeitório e me sentei com o mesmo grupo. E então vi Catharina passando com a mãe. Ela estava tão triste e nostálgica. Os cabelos secos e sem vida. O rosto não estava maquiado como sempre e ela nem sequer deu-se ao trabalho de arrumar uma roupa bonita para usar. Ela não estava fardada. Segurava a mãe pelos braços e seguia boa parte de cabeça baixa. Durante isso, Daniel passou perto dela e de sua mãe e ambos falavam algo. Aquela cena passou-se como em câmera lenta e então Catharina me viu de longe e seus olhos perderam mais ainda o brilho. Eu senti culpa e medo. E então ela sumiu.
Daniel ficou parado por intermináveis cinco segundos e então passou pelo corredor até desaparecer da minha vista.
– Você tá bem? Di? – perguntou Flávia passando as mãos em frente ao meu rosto. eu parecia hipnotizada.
– Estou. – respondi.
– Parecia estar em transe. – comentou Lucas.
Pisquei algumas vezes e esfreguei os olhos.
– Viu o Daniel? – perguntou Maurício.
– Sim. Quem é que não viu! – disse arrogantemente.
Todos encararam a mim e depois repreendi a mim mesma.
– Desculpa. Sério... Desculpa mesmo. Eu sou uma idiota. – levei as mãos a cabeça e fechei os olhos.
– Tudo bem amiga, vai ficar tudo bem.
Eu queria que tudo ficasse bem. Pelo menos por um dia. Seria o suficiente.
E novamente, Daniel não falou comigo ou sequer olhou pra mim o resto do dia naquela escola. E fui pra casa com a certeza de que eu era a idiota da história.
***
Eu terminava mais uma leitura, naquele mesmo dia, quando Lucas bateu na porta do quarto.
– Maninha?
– Oi.
– Tem alguém aqui que quer muito falar com você. – disse ele.
Levantei da cama assustada.
– Quem é?
– Venha ver com seus próprios olhos.
Fui até a sala. Sentada no sofá, segurando as próprias mãos e encarando o chão estava Catharina.
Nada se passava na minha cabeça naquele momento. Nenhuma explicação sucinta para ela estar ali, na minha casa.
– Eu vou sair agora. Vou deixar vocês conversarem sozinhas. – disse Lucas a mim.
– Tudo bem.
Me aproximei dela e nos encaramos. Mas não como antes. Lucas despediu-se silenciosamente e saiu.
– Sua mãe está? – perguntou Catharina.
– Não, ela está trabalhando. Você queria falar com ela?
– Não. Quero falar com você mesma. – respondeu ela.
– Pode começar então. – disse.
– Não quer sentar? – sugeriu ela.
Fiz que não com a cabeça e ela prosseguiu.
– Eu estou farta de algumas situações que estão acontecendo nessas últimas semanas. Diana, eu sei que nunca fomos “chegadas” e você seria a última pessoa que eu chamaria de amiga. E eu falo isso com toda a sinceridade. Mas, eu não acho certo e não desejaria nem mesmo para o meu pior inimigo o que eu estou passando agora.
– Irônico. Sempre achei que eu fosse sua pior inimiga. – disse.
Ela riu amargamente.
– Diana, você e Daniel estão se iludindo profundamente. Como você consegue alimentar isso? Acabou! Está mais do que na hora de ambos desistirem.
– Você não sabe de nada! – exclamei.
– Ah, eu sei de muita coisa. Mais do que você na sua santa inocência saberá um dia. – disse ela.
– Ok. O que você quer comigo, de verdade?! Abre o jogo garota!
Catharina levantou-se do sofá e ficamos de frente uma a outra a uma distância de uma poltrona.
– Daniel traiu você. Comigo. – disse ela.
Eu ri. E depois neguei a mim mesma.
– Você está falando isso porque não admite que ele goste de mim e não de você! – disse.
– Ah, você não acredita? – questionou ela sarcasticamente. – Na festa dele lá na minha casa, aquela festa que nós duas combinamos de fazer para ele, você lembra? Creio que sim. Então, transamos.
Eu queria enfiar todo o meu punho no rosto sínico de Catharina, mas aprendi que violência gera dor de cabeça e eu não estava disposta a sujar as minhas mãos em algo tão podre como ela.
– E por que eu deveria acreditar em você?
– Por que eu estou grávida? Grávida dele? Isso seria suficiente pra você acreditar em mim, Diana? – disse ela erguendo a voz.
Senti o chão abrir e uma força sobrenatural sugar as minhas energias. E depois, meu rosto ficou quente e eu perdi o controle da situação. Fui até Catharina e a sacudi pelos braços de raiva.
– VOCÊ TÁ MENTINDO! VOCÊ É MENTIROSA! – gritei. Ela me empurrou e eu caí no sofá.
– Queria eu estar mentindo, mas não. – disse ela.
Aquela situação não me permitiu nem ao menos chorar.
– Como? Como? – perguntava repetidas vezes.
– Ah, não quer que eu te explique agora como os bebês são feitos, e tal...
– Você e ele... Não! Eu não acredito! – exclamava perplexa e chorosa.
– Pois é. E eu estou contando isso tudo para o seu bem. Eu cansei de ver o Daniel lamentando que “eu deveria ter sido mais homem, agora perdi o amor da minha vida e blá,blá,blá!”.
Enquanto ela continuava a explicar, eu tapava os ouvidos e chorava. Via as lágrimas embaçarem meus olhos e queria gritar.
– Mas claro, agora ele não pode fazer nada. Esse filho é nossa responsabilidade e eu não quero ver o Daniel arrastando a asa pra você. Então, eu vim aqui pra dizer por ele que acabou! Ouviu Diana? Acabou! Se nenhum dos dois teve coragem de fazer isso, eu faço agora.
Ela puxou a bolsa do sofá e saiu batendo a porta.
Lembro que depois de abrir os olhos murchos de tanto chorar, Lucas me serviu um chá de camomila no chão da sala mesmo. E nós dois choramos juntos, mesmo sem ele saber ainda o motivo daquele choro.
***
À noite, ouvi os sussurros na porta do quarto. Sussurros entre meu irmão e pai. Lucas dizia que eu queria ficar sozinha e que não era hora de eu conversar com ninguém.
– Mas eu quero muito falar com ela. – dizia meu pai.
– Amanhã pai. – replicava Lucas.
– Ela não comeu nada!
– Quando a Daniela chegar, talvez ela coma algo. – continuou Lucas.
Encolhi-me mais ainda na cama e então fechei os olhos implorando que o sono viesse.
Acordei algumas horas depois com a minha mãe e Lucas ao redor da cama conversando sobre o ocorrido.
– Ela acordou. – disse minha mãe. – Vá chamar o Carlos.
Eu a abracei rapidamente e novas lágrimas rolaram pelo meu rosto.
– Oh, minha princesa! Eu sinto muito. – dizia ela.
– Por favor, me diz que foi só um pesadelo e que tudo vai passar. Diz que tudo vai ficar bem! – implorava.
Mas a minha mãe, pela primeira vez, não me disse nada.
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