As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 51
Resultados e verdades não ditas.


Notas iniciais do capítulo

Explicar o motivo na minha ausência levaria um capítulo inteiro. Então, resumidamente: estava OCUPADA em todas as línguas possíveis. Ocupada de verdade. Parei a vida toda, mais ou menos haha. Ok, estou de volta.



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#Narrado por Daniel#

“Daniel, não sei o que está acontecendo com você agora. Na verdade, não sei muito sobre você há algum tempo. Certo... talvez sua cabeça esteja fora de ordem depois do choque que foi conhecer a sua mãe ou tanto faz. Só sei que não quero me desgastar. Me humilhar pra você e insistir em uma tecla quebrada. Sinto que você não está tratando aquela história com o Rafael perfeitamente bem, então estou dando um tempo. Não é o fim, ok? É um tempo pra você ter ordem em si mesmo e pensar no que está acontecendo. Acho que isso chama-se conflito interno, quando você não consegue aceitar o que é por dentro e acaba estragando o que tem por fora. Um tempo pode amenizar qualquer problema. Aí, quando você estiver pronto pra se entregar novamente eu vou estar esperando no mesmo lugar, do mesmo jeito, com a mesma necessidade de antes.

Repito: este não é o fim.

Com amor, Diana.”

Assim finalizava-se a quase carta de Diana. Dobrada em várias partes e com o cheiro do perfume dela na folha. Li e reli repetidas vezes dizendo pra mim mesmo o quanto ela tinha interpretado toda aquela cena errado. O problema não era nela. Era em mim e no meu erro ainda não esclarecido. Senti vontade de socar a carta na parede, mas Lucas estava na minha frente.

- Eu estou apoiando a decisão da minha irmã, Daniel. A forma como você a tem tratado... Não tem nem mesmo me agradado. – disse Lucas.

- eu tenho meus motivos. – afirmei.

- Que motivos cara? Você muda com a garota de uma hora pra outra... Como quer ela aja? – questiona ele.

Lucas tinha razão. Eu era o errado da história inteira.

- Eu vou resolver isso. Sozinho. – digo a ele.

- Diana pediu algo que não colocou na carta; Pediu para que você não a procurasse antes de resolver tudo. Antes de poder contar o que você deve contar.

- O quê? Isso é um absurdo! Diana não pode fazer isso comigo! – declarei eufórico, espremendo o pedaço de papel.

Lucas revirou os olhos e recolheu sua mochila do chão.

- Até outra hora, Daniel. – despediu-se.

 - Espera! – gritei antes que ele saísse pela porta. – O que acha que eu devo fazer?

- Você está desesperado demais. Busque um jeito de voltar a ser aquele Daniel, ou então...

- Eu a perco, né? – perguntei sabendo a resposta.

Lucas assentiu sem muito ânimo. Virou o rosto e saiu.

***

Alguns dias se passaram. Entrei no site da escola para ver a lista de aprovados na UFRJ, como meu professor havia informado, e caí pra trás quando vi o nome de Diana lá.

Percebi que o ano estava chegando ao fim. Percebi que eu estava há três dias em casa sem nem mesmo ir à escola. Não recebi uma única mensagem de Diana perguntando o motivo da minha falta. Até a minha avó desligou-se de se preocupar.

Porém, Eduarda me visitou algumas vezes. Da última vez, recebi a notícia final.

- Não sei o que fazer agora Daniel. – disse Catharina sentada ao meu lado no sofá de casa. Eduarda estava à nossa frente e minha avó finalmente compreendia tudo o que havia acontecido nos últimos dias.

- Positivo. Tem certeza? – perguntei esperando uma resposta contrária.

Eduarda releu o exame novamente e afirmou.

- Além disso, todos os exames de farmácias confirmaram. Já vai fazer um mês daqui há duas semanas. – continuou Catharina.

- Isso só pode ser um pesadelo. – continuei.

- A bagunça já foi feita, Daniel. – disse a minha avó finalmente. – É hora de encarar a realidade. Sabe que tem que contar isso ao seu pai.

Todas me encararam naquele momento porque isso ainda era extremamente difícil pra mim. Contar ao Leandro que eu ia ser pai. Cheguei a duvidar daquela paternidade. Seria eu mesmo o pai do filho que Catharina estava esperando? E mesmo com ela afirmando repetidamente que sim, eu preferia não acreditar.

- O que vão fazer agora? O ano letivo está acabando. A faculdade vem logo aí. Como vão cuidar de uma criança? – perguntava a minha avó.

Engolia a seco cada sermão e palavra dita por ela enquanto Eduarda me olhava com uma expressão acolhedora de quem tem tudo sobre controle.

- Não se preocupem sobre cuidar dessa criança. Enquanto eu estiver viva, farei de tudo para que nunca lhes falte nada, tudo bem? – disse ela à Catharina, referindo-se ao seu tempo de vida como algo curto. Aquilo que deixou preocupado, mas depois ignorei.

Catharina levantou-se do sofá e a abraçou.

- Obrigada, de verdade dona Eduarda. – disse ela.

Levantei logo em seguida e encarei as três, mas sem reação alguma. Eu só queria sair dali.

Andei pelas ruas até chegar próximo ao campinho de futebol. O sol estava se pondo, sinal de que a noite já estava vindo. Foi nessa hora em que me recordei de todas as burradas que já fiz, mas nenhuma se comparava a essa que eu estava vivendo agora.

Eu queria desabafar com alguém, mas essa pessoa era Diana, e agora ela parecia tão distante que isso me destruía por dentro.

Pela primeira vez, eu engoli todo o choro entalado na garganta e todo orgulho impregnado na minha carne. Fui até a casa de Diana, a pé mesmo. Acelerei o passo e quase corri como se buscasse alcançar a casa dela mais rápido.

Toquei a campainha duas vezes e não tive resposta. Sentei no degrau em frente à porta e esperei. Eu nem sabia o que dizer a Diana, mas fiquei esperando por ela ali.

A porta se abriu alguns minutos depois e a luz da sala iluminou a parte de fora da casa. Uma voz rouca me interrogou.

- Daniel?

Era o pai de Diana, Carlos. Ele havia voltado de viagem e eu não sabia disso. Gelei. Levantei-me rapidamente do chão e o encarei.

- A Diana está? – perguntei amedrontado.

- Ela foi pra editora hoje. Deve estar pra chegar... Ela não lhe contou? – perguntou ele.

- Não. Eu não sabia. – respondi. – Quando o senhor voltou?

- Ontem. Não sabia disso também? – questionou ele duvidoso.

- Nós não temos nos falado muito. – disse.

- Vocês terminaram?

- Mais ou menos... Não sei.

- Não confio em pessoas que não confiam em suas próprias respostas. – disse ele arqueando os olhos.

Fitei o chão e então ele tocou no meu ombro.

- Entre. Vamos conversar aqui. Está frio aí fora. – continuou ele.

Carlos estava sozinho. Até Lucas havia ido com Diana à editora. Sentei-me no sofá e evitava até mesmo me mexer.

- Você quer água ou qualquer coisa pra beber? Você já é maior de idade, certo? – perguntou ele timidamente, tão nervoso quanto eu.

- Sim, mas eu não quero nada. Valeu. – disse.

Carlos aproximou-se e sentou-se na poltrona azul perto de mim. Diminuiu o volume da televisão onde um noticiário sobre acidente de carro passava. Depois limpou a garganta e respirou fundo.

- Eu sei que vocês terminaram. Diana me contou. – continuou ele.

Olhei em seus olhos e balbuciei algumas palavras.

- Nós estamos dando um tempo, só isso. – era a ilusão que ainda rondava a minha mente.

- Espera voltar com ela? Tem certeza? – questionou ele intrigado.

- Sim, eu gosto muito da sua filha.

Carlos levou a mão até a barba e começou a acariciá-la, como aqueles homens dos filmes de ação que gesticulam assim quando estão pensando.

- Ela não me contou o porquê da separação.

- Eu também não sei. – afirmei.

- Acho que, por ser uma paixão de adolescentes, não estava mais dando certo. – disse ele.

Tornei a pensar que ele estava sugerindo algo totalmente oposto.

- Não. Nós só não estávamos bem por conta de algumas situações.

- Que situações? – interrogou ele novamente com um ar severo.

Tremi. E uma serie de coisas se passaram por minha cabeça antes da resposta final. Não poderia contar a ele que vi Diana e Rafael se beijando. Seria totalmente estúpido contar algo assim. Também não poderia dizer a ele que “simplesmente engravidei uma garota”, porque isso era mil vezes pior que a primeira ideia.

- Sei lá, aquela coisa toda de olhar pra pessoa e saber exatamente que é a pessoa certa, sabe? Isso não existia mais. – disse por fim, sem olhar para ele, apenas apertando uma mão na outra como Diana costumava fazer.

- E agora você tem certeza de que ela é a pessoa certa?

Pensei mais uma vez. Diana fez bem a minha vida. Me tirou de situações extremas. Me mostrou que eu era mais do que imaginava ser. Era como se eu estivesse perdido, e ela tivesse me estendido a mão e me tirado do fundo do poço. Essa era a sensação que eu tinha quando estava do lado dela. E com ela do meu lado, eu não precisava de mais ninguém. Sim, ela era a pessoa certa pra mim, mas eu não era a pessoa certa pra ela.

- Absoluta. – respondi.

Carlos prorrogou um silêncio quase absurdo e então disse:

- Quando eu conheci Daniela, foi no ensino médio. Assim como você e Diana. – disse ele. Os olhos baixos não me fitavam. – Eu era apaixonado por ela, mas não queria arriscar ficar com uma garota no auge da adolescência. Já passei por essa fase e sei como é querer várias e ao mesmo tempo só uma. E Daniela não era qualquer uma, assim como Diana. – continuou ele. Assenti a sua afirmação e ele prosseguiu narrando. – Eu sabia que se quisesse algo com ela, deveria mudar a minha forma de ver as coisas. Esse foi meu medo quando soube que você e Diana estavam juntos. Eu não queria ver a minha filha com um cara que era tão semelhante a mim. Eu temia que vocês errassem assim como eu e Daniela, e precocemente jurassem amor eterno.

Outra pausa assustadora, como se Carlos esperasse que eu dissesse algo, mas a minha mente surtava só de pensar em abrir a boca pra conversar com ele.

- Quando Daniela me disse que estava grávida, por um momento infinito eu pensei que fosse ser o fim. Tudo o que eu sonhava estava indo embora, fazendo as malas e deixando um aviso de “até nunca mais”. – disse ele, expressando exatamente o que eu havia sentido. – Mas não era o fim, Daniel. E se hoje eu pudesse voltar atrás, faria exatamente tudo outra vez porque aqueles erros, todos aqueles erros, fizeram de mim o homem que sou hoje. E não há nada de errado em errar uma, duas ou mil vezes. Errado é não saber confrontar os erros de cabeça erguida.

Ainda não compreendia o motivo daquela história toda sendo contada de forma natural. Parecia um sinal dos céus. E eu estava ouvindo Deus falar comigo. Não sei se Deus comporta-se como o pai de Diana quando fala, mas tudo o que ele me disse naquele momento serviu de lição.

- Eu interroguei a mim mesmo várias vezes sobre Daniela ser a pessoa certa, assim como você se interrogou sobre Diana. Então, hoje, quando eu olho pra ela e para todas as coisas que ela me fez de bom eu percebo que sim, ela é a pessoa certa. Mas eu talvez não seja o homem certo pra ela. – disse ele concluindo a propósito o que eu precisava saber.

- O senhor ainda a ama? – perguntei.

- Amo. Amo ela como pessoa, como mãe e como mulher. E por amá-la, sei que não faço bem a ela. Eu espero que ela encontre alguém a altura, que a faça feliz porque eu só a iludi. Isso é uma consequência de amar alguém. – respondeu ele que sorriu depois.

- Então, acha que devo continuar insistindo em Diana?

- Depende... Você se considera a altura da minha filha?

Fiquei em silêncio e dessa vez não respondi.

- Vá pra casa Daniel. Descanse. Pense. Amadureça. Não há coisa melhor do que saber exatamente o que se quer. – disse ele levantando-se da poltrona.

Segui seu conselho e voltei pra casa vagando pelas ruas já escuras, sentindo o frio tomar conta de todo o meu corpo. Apertava a jaqueta que não me aquecia nem um pouco e pensava que se eu chorasse agora, ninguém iria ouvir. Espremia os olhos e gritava por dentro com uma fúria quase audível. Eu sentia ódio. Ódio da vida e de todo o resto. Ódio de mim e de Deus que me esqueceu outra vez. Apenas ódio.

***

Leandro estava com as mãos sobre a cabeça, apoiada na mesa. Os olhos espantados e raivosos. Minha avó tentava acalmá-lo, mas ele queria repetir a sessão “bater no Daniel para ele aprender a fazer as coisas certas”.

- você é idiota ou o quê garoto? Você acabou com a sua vida! Como iremos sustentar uma criança? E uma adolescente? – gritava ele batendo o punho sobre a mesa.

Eu não pronunciava uma única palavra. Apenas observava.

- Daniel! Responda seu imbecil! – exclamou ele com mais raiva ainda.

- PARE DE AGIR COMO UM TROGLODITA! EU SOU SEU FILHO E AGORA EU PRECISO DE UM PAI, NÃO DE UM ANIMAL! – gritei puxando a toalha de mesa e derrubando os copos no chão. Os dois estavam mais assustados agora e tremiam por dentro e por fora. Ofegante, saí dali empurrando qualquer coisa que visse pela frente.

Tranquei a porta do meu quarto e fiquei ali, segurando-a para que ele não tentasse arrombá-la. Lá dentro escutava os gritos de Leandro na cozinha. Andei pra trás e apenas fiquei escutando: “os pais dessa garota vão querer que nós cuidemos dela e dessa criança!”, “esse garoto é igualzinho a mãe dele!”, “vê como ele age? Depois eu sou o troglodita!”, “não vou alimentar mais duas pessoas”, “tenho certeza que vão querer casar os dois antes da barriga crescer!”.

Senti um refluxo. Vontade de vomitar. Ânsia e tonteiras. Sentei na cama e me cobri. Esperei aquilo passar fechando os olhos. Salomão subiu na cama e sentou-se perto dos meus pés. Queria muito que Eduarda estivesse ali. Até pensei em telefonar para ela, mas já eram duas horas da manhã e eu não queria incomodá-la, então tentei dormir o mais rápido possível.

Na manhã seguinte acordei com um barulho no quarto. Minha avó estava tirando as minhas roupas do guarda-roupa e colocando em uma mala pequena.

- O que você tá fazendo? – perguntei.

Ela virou o rosto pra mim e respondeu.

- Você vai ficar uns dias na casa da sua mãe. Não quero que o Leandro surte mais uma vez e nem você.

Saí do quarto e Eduarda estava sentada no sofá. Ela me viu e sorriu. Fui até seu abraço e agradeci pelo que ela estava fazendo por mim.

- Vamos passar por isso juntos, tudo bem? – disse ela segurando meu rosto pálido com suas mãos macias e delicadas.

- Tudo bem. – sussurrei.

***

Ao chegar à casa de Eduarda, um quarto especial havia sido preparado pra mim. Um dos empregados dela organizou as minhas poucas roupas em um closet.

- Obrigada Rubert, qualquer coisa eu chamo você. – disse ela ao copeiro. Depois virou-se pra mim que segurava Salomão pela coleira. – Seu amigo vai ficar na área externa, tá?

- Ok. – afirmei levando-o para fora.

Durante o almoço, os empregados de Eduarda lhe levaram remédios para ela tomar.

- pra quê tudo isso? – perguntei preocupado.

- Eu estou só resfriada. – respondeu ela logo depois sorrindo.

Enquanto almoçávamos, Eduarda me perguntou sobre Catharina. Disse que se fosse da minha vontade, ela poderia morar conosco.

- Os pais dela provavelmente vão nos obrigar a casar. – disse a ela.

- Se isso acontecer, nossa casa está de portar abertas para recebê-la.

- Não quero me casar... Isso é muito estranho. Eu não posso me privar agora.

- Não quero julgá-lo filho, mas você deveria ter pensado nisso antes.

- eu sei. – concordei.

Mais à tarde, Eduarda voltou a me ensinar a dirigir e insistiu que eu começasse a fazer autoescola.

- Agora? Em meio a tudo isso? – contrariei.

- O que tem haver? Se quiser eu faço sua matrícula hoje mesmo. – continuou ela.

Soltei o volante de sorri.

- Bom, acho que é a única coisa que posso fazer já que faculdade agora está fora de cogitação.

Eduarda riu.

- Claro que não, Daniel! você pode fazer sim uma faculdade.

- Eu não passei na UFRJ. – disse.

- Não existe só a UFRJ no Rio de Janeiro. – replicou ela. – Basta você querer que eu faço acontecer, ok?

Nós rimos e então eu concordei.

- Tudo bem, eu quero fazer autoescola.

- Mas, quero algo em troca... – avisou ela.

- O quê?

- Você vai continuar estudando, mesmo estando nos últimos dias do ano letivo.

Mesmo que a ideia não favorecesse em nada, aceitei sua condição.


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