As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 50
Fim da linha (?)




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#Narrado por Daniel#

Naquele final de tarde, durante o jantar na casa de Eduarda, conversamos sobre quase tudo o que faltou ser esclarecido no dia em que nos conhecemos formalmente. Porém, ela havia percebido a minha angústia por alguma coisa e decidiu impor-se.

- Aconteceu alguma coisa? Estou achando você um pouco mais tenso do que da última vez que o vi. – disse ela.

Demorei alguns segundos para responder.

- Não, nada aconteceu.

Eduarda colocou o guardanapo sobre a mesa e estendeu as mãos para mim.

- Pode confiar em mim. Se você tiver algum problema, conte comigo que eu posso ajudá-lo.

Eu olhei para ela, encarando seu rosto sereno e senti-me seguro de confiar nela e contar o que aconteceu entre mim e Catharina.

- Naquela noite, na noite da festa surpresa, eu... – hesitei em contar, mas cedi. – eu dormi com a Catharina.

Os olhos dela arquearam-se contra os meus e o espanto tomou conta de seu rosto. Houve um silêncio remoto que ecoava na casa inteira.

- Como assim, Daniel? como assim? – perguntou ela repetidamente.

- Eu transei com ela! Eu estava tão furioso! Eu estava tão... – controlei a vontade de continuar. Sentia a garganta ficar quente, um gosto amargo na boca. A vontade de chorar ali mesmo. Percebi o quanto fui estúpido por ter me deixado levar por uma tentação nojenta da carne e ter dormido com uma garota pela qual eu desprezei tantas vezes.

- Daniel, meu filho... Por que você fez isso? Diana te ama tanto! Por que não esperou por uma explicação para aquele descaso do beijo entre ela e o tal Rafael?

- Eu não queria explicação! Eu queria me vingar, sabe?

 - Isso foi uma atitude imatura e irresponsável, Daniel. – afirmou ela com a voz repreensiva.

- Não me julgue! Eu amo a Diana, mas eu só não queria sair como um idiota que aceita ser traído numa boa.

- Você não foi traído! Já sabe sobre isso, certo?

Concordei com a cabeça, fechando os olhos.

- E agora que sabe disso, sente-se culpado. – disse ela sem questionar, apenas afirmando pela minha expressão.

- É, eu me sinto.

Eduarda respirou fundo e prosseguiu:

- Pelo menos vocês usaram preservativo, não é mesmo?

Não consegui olhar para ela. Meu silêncio serviu de resposta, assim como minha postura arrependida diante dela. E então, percebi que Eduarda recostou-se na cadeira e levou as mãos ao rosto. Foi tudo o que notei. Depois disso, fechei os olhos novamente e pensei em uma porção de coisas ruins, e aí eu pensei na Diana não me perdoando por ter sido tão canalha. E Eduarda me abraçou. Nós choramos juntos por que ela entendeu o peso significativo que aquilo se tornaria.

- Tem que me dizer que pelo menos tomou o anticoncepcional.

- Ela tomou, mas muito tempo depois de saber que a camisinha havia furado. – disse.

- Daniel, Daniel! Meu Deus, Daniel! O que você fez querido? Tem noção do que isso pode acarretar? Você pode pegar alguma doença ou então engravidá-la. Duas crianças cuidando de uma! Isso é tão... – ela parou e me encarou com seus olhos encolhidos. Pôs as mãos no meu rosto e disse calmamente. – Eu estou aqui agora, certo? E vou ajudar você em tudo o que você precisar. Eu te amo!

Sentia apenas a respiração acelerada dela e minha, e as lágrimas escorrendo pelos nossos rostos. Decidi pensar um pouco mais positivo e esperar. Esperar que aquilo não fosse o fim por que Catharina tinha alguma probabilidade, mesmo que pequena, de não engravidar. Eu precisava acreditar nessa pouca probabilidade... Nesse resto de esperança.

***

Eduarda me deixou em casa por volta das dez horas da noite, o que intrigou bastante Leandro e minha avó que a viram e recusaram-se a falar com ela.

- Não vou mais proibi-lo de ver sua mãe, mas preciso que me avise, certo? – disse Leandro.

- Tudo bem, desculpe por isso.

Minha avó preparou seu chá noturno na cozinha enquanto eu a observava. Leandro já estava dormindo, o que me permitia contar a ela tudo o que fizera com Eduarda naquela tarde.

- Conversamos sobre muita coisa. Ela disse que vai me ensinar a dirigir. – comentei.

- Isso é tão bom querido! Estou orgulhosa por você estar sendo compreensivo com ela. Mas, seja compreensivo com seu pai também, ok?

- Ok.

Ela pôs sua xícara sob a mesa e sentou-se de frente para mim. Nos olhamos e então ela sorriu exibindo suas rugas charmosas.

- Catharina esteve aqui mais cedo a sua procura. – avisou ela.

Desfiz o sorriso dando lugar a uma expressão de angústia.

- O que ela queria? – perguntei.

- Conversar com você. Eu até perguntei se ela queria deixar um recado, mas ela só me mandou dizer que era importante demais. – continuou ela.

Levantei-me da mesa subitamente e sai em disparado para a casa de Catharina.

Toquei a campainha repetidas vezes esperando que aquilo resultasse em algo bom ou para que alguém me atendesse com mais rapidez. Me lembrei que os pais de Cathy chegariam hoje, o que me fazia tremer nas bases de medo.

- Daniel! – exclamou Catharina ao abrir a porta, pulando nos meus braços. Ela parecia tão mal quanto eu.

- O que você queria? Eu estava preocupado! Por favor, me dê uma boa notícia. – disse.

Nesse instante, a mãe de cathy apareceu. De braços cruzados, nos encarou.

- Ela já me contou tudo, Daniel. e eu estou muito decepcionada com os dois. Muito mesmo. – disse ela.

- Eu não sei o que dizer senhora Lauren. Não mesmo. – falei a ela.

- Daniel, a minha filha agora só sabe chorar de arrependimento. Você devia ter impedido isso!

- A culpa não foi dele, mãe! – gritou Catharina.

- Não foi dele mesmo. FOI DOS DOIS! – replicou Lauren. – Agora, ela tem grandes chances de estar grávida! Irão se orgulhar de parar a vida de vocês por uma criança? Irão?

Nós dois abaixamos a cabeça e depois nos encaramos.

- Entrem, eu não quero que essa discussão seja ouvida por mais ninguém. – pediu ela.

Na sala, o pai de Catharina estava sentado em uma poltrona reclinável, com seus óculos e um livro sob as pernas. Ele me encarava como se eu fosse um animal sarnento.

- Sente-se aqui Cathy. – ordenou ele, impedindo-a de se sentar perto de mim.

 Os três me olhavam de diferentes maneiras. A mãe estava aflita, o pai frustrado e Catharina sofrida e triste. Eu estava sem chão diante daqueles rostos.

- A médica da família é muito amiga nossa. Vai ficar de olho no caso de Catharina a respeito disso. Mas, ela já nos deixou claro que tem grandes chances dela estar grávida, já que a pílula do dia seguinte foi tomada horas depois do ideal. De qualquer forma, estamos à espera de um milagre divino. Se a minha filha estiver grávida Daniel, você irá arcar com a responsabilidade de pai. – disse o pai dela. – Uma única vez e vocês me aprontam isso... Eu estou estagnado! Pior do que ser pai tão precocemente é ter uma filha que vai ser mãe! Daniel... Eu preciso conversar com sua avó e seu pai a respeito disso.

- Não! Eles não podem saber disso, não agora! – exclamei nervoso.

- Eles vão! Amanhã eu planejo ter uma conversa sobre essa irresponsabilidade medonha dos dois.  – continuou ele.

Não pude impor sobre sua decisão. Eu estava com o título de irresponsável pendurado na cabeça. E o que me afligia não era o fato de a minha avó e Leandro ficarem sabendo sobre isso, e sim Diana.

- Isso é tudo Daniel, pode ir embora. – disse ele por fim levantando-se da cadeira e subindo as escadas.

Então Catharina pôs-se a chorar e sua mãe a abraçou. E eu não sabia o que fazer além de olhar para aquele desespero mútuo e me desesperar também. Levei as mãos à cabeça e quis gritar. Colocar aquela repugnância pra fora. Não sei quanto tempo fiquei daquele jeito, mas depois abracei Catharina e pedi desculpas por aquilo.

- Eu sinto muito Dan. – dizia ela. – Eu não queria, de verdade. Me desculpe.

- Está tudo bem, vai ficar tudo bem.

***

Faltei aula novamente no dia seguinte, mas Catharina foi. Passei metade do dia enfurnado dentro do meu quarto olhando tentando pensar em algo além de tudo isso que estava acontecendo.

Recebi então uma ligação de Diana, mas decidi não atender. Minutos depois ela me mandou uma mensagem:

“Cara, aconteceu alguma coisa? Você não foi pra aula e eu fiquei preocupada. Além do mais, você não me atendeu... Me liga ou me responde, por favor. Beijos!”

Não respondi. Eu estava tão envergonhado. Eu não queria ver ninguém até estar ciente de que tudo isso ia acabar bem.

- Daniel? Querido, você precisa comer algo. – disse a minha avó a porta.

- Não, valeu.

- Você não comeu nada hoje meu filho! Pelo menos um pouco. – insistiu ela.

- Eu não quero vó! – gritei assustando-a.

Ela sentou-se na cama ao meu lado e eu não olhei para seu rosto.

- O que está acontecendo, Daniel? Você está irritado, deprimido. Desde ontem à noite quando voltou da casa da Catharina. Nem foi à escola.

Já estava farto de esconder isso da minha avó, mas eu temia que ela contasse a Rafael e eu fosse julgado por ele com sete pedras na mão. Sempre que eu fazia algo errado, eu era repreendido de forma grotesca.

- Não aconteceu nada. Eu só não estou me sentindo bem. – disse.

- Está ficando doente? Quer tomar um remédio?

- Não vó, eu só quero ficar sozinho! – exclamei.

Ela saiu do quarto em silêncio e fechou a porta sem fazer barulho. Fiquei debaixo das cobertas esperando por um milagre divino, e então Eduarda me ligou:

- Por que você não passa aqui? Nós podemos almoçar juntos e depois eu posso lhe ensinar a dirigir. Você precisa ficar melhor querido. – dizia ela.

- Minha avó ligou pra você, não foi? Ela disse que eu não estava bem, não é? – questionei.

- Dona Amélia só quer o seu bem meu amor.

*Silêncio*

- Tudo bem, estou indo aí.

***

Os empregados de Eduarda nos serviram um verdadeiro banquete. Mesmo eu não estando com um mínimo de apetite, arrisquei provar algumas coisas.

- E então... Conversou com a Catharina? – perguntou ela.

- Os pais dela conversaram comigo ontem. Disseram que havia grandes chances dela... – hesitei.

- Sinto muito Daniel. Eu estou aqui para dar todo e qualquer apoio a você, está bem? – avisou ela sorrindo, esboçando os lábios sem cor.

Assenti, mesmo que aquilo não estivesse me fazendo bem.

- E quando você vai terminar com a Diana? – perguntou ela.

- O quê? Como assim? – perguntei aflito.

- Daniel, você não pode fazer a garota de idiota. Tem que contar o que aconteceu e terminar com ela. Ou no caso, ela terminar com você.

Fiquei apático diante daquela imposição. Eduarda tinha total razão. Não podia manter um relacionamento perante essa situação.

- Não sei como contar isso. – disse.

- Quanto mais cedo, melhor.

Concordei novamente com sua ideia e nós dois seguimos para o estacionamento depois que terminamos de almoçar. Mesmo que Eduarda parecesse mais fraca hoje do que ontem, ela me garantiu que era apenas um resfriado.

- Então, como prometi, irei ensiná-lo a dirigir. E daqui a algum tempo, você entra em uma autoescola, tá bom?

- Tá bom. – afirmei.

Ela me entregou a chave e entramos em seu Toyota vermelho.

- Mãos à obra! – exclamou ela.

***

“Aprender” a dirigir foi o auge do dia pra quem passou a manhã inteira lamentando. Mas ainda me entoava a ideia de contar a Diana o que aconteceu.

- Como foi com a Eduarda? – perguntou Leandro.

- Foi muito legal. – respondi.

Estávamos “jantando”, ou pelo menos deveríamos, mas eu não toquei na comida, apenas encarei o prato.

- O que é Daniel? Provou comida de gente rica e agora não quer mais comer a nossa? – questionou Leandro rindo.

- Só estou sem fome. – respondi desanimado.

- Passou o dia sem fome. – replicou minha avó.

Meu telefone tocou novamente. Diana. Eu não entendi aquilo. Eu a ignorava, mas ela continuava persistindo em falar comigo. Aquilo acabava comigo porque eu não merecia nada disso, mas ela fazia questão de mostrar o quanto se importava com qualquer coisa relacionada a mim, e o quanto se sentia mal quando eu não atendia ao telefone. Ela me amava, e eu “provei” o meu amor transando com outra. Nossa! Eu queria morrer.

Após OITO ligações entre intervalos de dez e quinze minutos, ela desistiu e eu consegui dormir.

***

Na sexta-feira fui à escola finalmente. Diana me cumprimentou como se eu não a tivesse ignorado por dois dias, negando atendê-la.

- Como você tá? – perguntou ela.

Não respondi. Continue andando, e ao invés de sentar no mesmo lugar de sempre, perto de Diana, sentei perto de Catharina. Queria exibir sinais de que aquilo estava no fim.

- O que vai fazer relacionado à ela? – perguntou Cathy.

- Não sei. Enquanto não tiver uma resposta certa sobre isso, realmente não sei.  – respondi.

Uma das coisas que acontece quando sua vida começa a dar errado, é que você muda a forma de ver o mundo. Catharina era um exemplo disso.

Logo no primeiro tempo de aula, o professor de química nos orientou a checar a lista de aprovados no vestibular na UFRJ, o que me animou um pouco.

- Observem que daqui a poucos dias sai à nota do Enem também. – continuou ele.

Olhei para Catharina e ela sorriu.

- Se tivermos passado em algo... – ela suspirou. – Vai ser bom.

- Não vai ser se você estiver grávida. – murmurei.

O sinal tocou para o intervalo e eu permaneci na sala, assim como Catharina. Mas, diante daquilo, Diana não se deixou por convencida. Eu sabia que ela iria querer uma explicação.

- E aí, tudo bem? – perguntou ela pra mim, sentando-se na cadeira da frente enquanto Cathy estava do meu lado.

- Sim. – respondi.

- Por que está sentando aqui agora? Não gosta mais daquele lugar?

- Só quis mudar um pouco.

Diana levantou-se e saiu da sala junto de Flávia e Maurício. Aquilo me fez mal por que eu sabia que ela não estava nem um pouco bem levando isso.

- Não acabe com tudo agora Daniel. Espere o resultado sair primeiro. Aproveite enquanto pode. Eu já estraguei demais a sua vida. E se eu não estiver grávida, você pode pelo menos continuar.

- Não dá, Cathy. Eu sinto que acabei com tudo. Não tem mais volta. É o fim da linha. 


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