As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 48
O show de vizinha continua.


Notas iniciais do capítulo

Aqui está a visão de Daniel para a festa.



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#Narrado por Daniel#


Eduarda estava no quarto, junto de Diana. As duas me esperavam ansiosas, mas Diana era a mais nervosa das duas. Evitei contato porque mais cedo havia pegado ela e Rafael aos beijos e isso não é nem. Um. Pouco. Agradável.

Não dei a ela tempo para explicar (explicar exatamente o quê? Eles estavam aos beijos e isso não precisa de explicação nenhuma), mas vê-la na minha frente, horas depois, e ao lado da minha então mãe-que-foi-embora, era estranho.

Foi então que ela saiu do quarto quando percebeu que aquilo era mais “família” do que D.R. Eu não vi o exato momento em que ela saiu porque me distrai com aquele impacto de reencontrar Eduarda.

Ela me contou sobre tudo o que passou durante os dezoito anos em que esteve longe. Casou-se com um cara anos mais velho (rico, é claro), moraram na Suíça por alguns anos e ela até chegou a engravidar, mas perdeu o bebê. Então, ele morreu e hoje ela é viúva.

Depois, fora a minha vez de contar algo: contei que durante alguns anos fui um filho exemplar. Tirava boas notas, me comportava agradavelmente e não trazia problemas para a minha avó. Nem me incomodava com a distância vazia entre mim e Leandro. A ausência de um pai era preenchida pelo meu avô. Mas aí, ele morreu.

Contei que me revoltei por volta dos oito anos... e decidi que faria coisas pelas quais Leandro notaria. Nos primeiros anos, minha rebeldia foi notada. Depois, esquecida. Tudo isso só trouxe problemas para a minha avó, já velha e cansada que cuidava de um neto aterrorizante. Contei a ela minhas amizades erradas, os imundos, Renan e Felipe. A morte de Renan... Minhas pichações nos muros da cidade, Salomão... Meu problema (ainda existente) com bebidas; tentativa de assalto; dois dias na rua;

Por fim, ela perguntou sobre o meu relacionamento com Diana, e eu não quis contar sobre nada. Aí, ela disse:

– Diana foi fundamental nesse encontro. Estávamos combinando isso há semanas... Ela ama muito você e eu creio que tudo aquilo que acontecera hoje cedo não passou de um mal entendido.

– Mesmo assim, estávamos desgastados. Acho que não nasci pra gostar de ninguém. – repliquei.

– Não diga uma coisa dessas. Confie em mim que já sou vivida demais: ter alguém que te ame de verdade do seu lado é a melhor coisa desse mundo.

Foi o conselho que guardei no bolso para usar futuramente. Ainda estava muito magoado, decepcionado, triturado, zangado e todos os outros adjetivos espontâneos assim (e ruins também).

No fundo, eu não estava pronto para perdoá-la. O acontecimento mal havia esfriado e eu sofria pressão comigo mesmo para ouvir explicações da Diana. Mas eu não queria vê-la. Não queria nem ouvir a voz dela porque recordava aquele momento. Acabamos, e isso era minha decisão final. Até agora.

Então, Eduarda chamou-me para morar com ela na sua casa que, de acordo com a explicação dela, era muito luxuosa. Mas rejeitei porque as coisas estavam indo rápido demais e eu não podia ser mal agradecido com Leandro e com a minha avó. Ela ficou muito triste por eu ter dito não, e eu lhe expliquei meus motivos afirmando que iria visitá-la sempre que pudesse e que ela quisesse. Ela voltou a insistir e disse que tinha motivos para querer que eu fosse morar com ela (o que eu não entendi). Combinamos de nos conhecermos melhor, e então, quem sabe, moraríamos juntos futuramente.

Nossa conversa durou quase duas horas. A festa rolava a solta no andar de baixo da casa de Catharina, e eu e Eduarda resumíamos nossas vidas em minutos. Mesmo assim, ela precisou ir embora porque não estava se sentindo muito bem. Disse que era enxaqueca e eu me ofereci para levá-la para casa, mas ela disse que era desnecessário, que iria sozinha.

– Devia passar lá em casa esses dias. Eu posso ensinar você a dirigir. – disse ela saindo do quarto e me entregando um cartão com seu número de telefone e o endereço de sua casa. eu assenti e ela se foi.

Eram mais de onze horas da noite. Catharina entrou no quarto e me convidou para descer:

– A festa é sua Daniel! sua mãe já foi embora, já pode se divertir.

Franzi a testa:

– Como sabe que ela é a minha mãe? – perguntei.

– Diana me contou quando chegou. Eu quem elaborei a coisa toda para vocês se encontrarem aqui. – respondeu ela que segurava um drink nas mãos.

Assenti e desci até a sala acompanhada dela. Catharina fez um sinal com as mãos e a música parou. Estávamos a três degraus do fim da escada quando ela ergueu a taça e gritou:

– PARABÉNS AO ANIVERSARIANTE! Por mais atrasado que isso seja. – e brindou com todos da festa que gritaram meu nome.

Pra ser sincero, eu só conhecia metade daquelas pessoas. Algumas da época em que eu estudava à tarde. Outros eram parceiros meus, do Renan e Felipe. A maioria do resto que eu não conhecia eram amigas da Catharina. E claro, Felipe estava na festa. Fora ele quem me convencera a ir até lá.

Felipe me trouxe uma bebida e sentamos perto do sofá. Gente que fazia do tapete da sala de Cathy uma pista de dança. Da cozinha, era possível escutar gente pulando da piscina que ficava no quintal da casa dela.

– Você fez uma festa e tanto Cathy. – comentou Felipe.

– Obrigada! Eu faço o possível. – disse ela. – e você Daniel, gostou?

Olhei ao redor e senti um vazio. Eu não queria estar ali. Queria estar em casa, provavelmente dormindo. Mas não seria injusto com Catharina por ter tido o trabalho de fazer tudo aquilo sozinha.

– Sim, eu gostei. – disse por fim, dando um gole da bebida que era boa.

Após taças e mais taças, quando eu finalmente ria até do vento que soprava na varanda, fomos para a pista de dança... Dançar!

Toda aquela excitação parecia durar uma eternidade. As garotas com os vestidos mais curtos do mundo dançavam funk carioca que determinava promiscuidade latente aos meus ouvidos. Mesmo assim, ignorei o fato de eu NÃO CURTIR FUNK, e dancei. Na verdade, eu só fiquei me mexendo de um lado para o outro segurando o drink em mãos. A anfitriã não saiu de perto de mim um único segundo, e tomou a liberdade para falar coisas sensuais demais no meu ouvido.

– quer ir lá pra cima? – perguntou Catharina ao pé do meu ouvido. Fiz que não com a cabeça e me afastei. Aquilo não bastou. – Por que está fugindo? Sei que terminou com a senhorita perfeição.

Revirei os olhos e respondi.

– Não estou fugindo de você. Só que você NÃO FAZ MEU TIPO... Saca? – repliquei, saindo de cena e indo até o quintal.

Sentei em uma cadeira afastada do resto do pessoal que conversava e fazia dos bancos cama de motel pra ficar fornicando desesperadamente como cão e cadela no cio. Felipe veio até mim, segurando um maço de cigarros.

– Quer? – ofereceu ele abrindo a carteira.

– Não cara, valeu. – disse estranhando aquilo. – Você não deveria fumar. Estava na reabilitação, certo?

Ele riu sentando-se ao meu lado.

– Eu estava. Ofereci só por oferecer. Também não fumo mais. Isso é só... Uma idiotice minha. Gosto de guardar as coisas que me fizeram mal e mostrar pra elas que eu sou superior, sabe?

– Sei... Quer dizer, não sei. Eu nunca estive na reabilitação ou coisa do tipo pra saber como isso funciona, mas acho que... Imagino como seja isso tudo. – disse, nem compreendo o que havia falado.

Felipe riu novamente.

– Pois é... É mais ou menos isso que eu te falei. Mas e tu cara, como tu tá? – perguntou ele.

– To bem... acho. Sei lá. – respondi sem nem olhar para ele.

– Velho, isso tem cara de “mulher”... É mulher, certo?

– Certo meu chapa, é mulher. – respondi.

– O que fizeram contigo? Logo você, o rapaz que não tinha vontade nem de trocar de roupa quando chegava em casa! – exclamou ele. – Se apaixonou?

– Mais ou menos. Sei lá. Estou em conflito comigo mesmo. Vagando pelos pensamentos... Querendo tomar decisões precavidas. Esperando uma resposta cair do céu. To só zanzando, sabe? Sei que não sabe... É mais ou menos isso. Na verdade, não é nada disso. – disse. – É confuso cara, você não entenderia.

– Cara, tu tá chapado? – perguntou ele retoricamente. E então caímos no riso.

– Foi só a bebida. – defendi-me.

– Ok, você estava namorando uma garota, lembro disso. Ela até foi ao velório do Renan.

– Sim, é essa garota mesmo.

– Bicho, eu te falei que ela não era feita pro teu bico! Garota muito certinha, cheia de nhem nhem nhem. Dá nisso aí. – continuou ele, gesticulando.

– Eu gosto dela cara. Mas... Hoje cedo vi ela com um cara. – disse.

– Ih... Então, ela não era tão “perfeita” assim.

– Ela ainda é. Ou eu que a julguei errado. – disse.

– Daniel... Ninguém é perfeito cara. Todo mundo erra. Se você gosta dela, deveria dar uma chance, escutá-la. Sabe por quê? Porque você errou muito mais no passado, e ela perdoou. Creio que em nenhum momento ela jogou na sua cara que você era errado. Isso é amor.

Fiquei boquiaberto com aquele comentário e sorri.

– Não sou eu o chapado agora. – disse, e Felipe riu. – Mas vou levar seu conselho comigo.

E continuamos ali: eu tomando vodka e Felipe trocando sua cerveja por um refrigerante light.

Algum tempo depois, Felipe teve que ir embora e eu fiquei sozinho (na minha própria festa). Então, vi Lucas dançando na beira da piscina, apenas de calção com um óculos escuro, fazendo algo parecido com a dança de “macarena”. E ele não estava sozinho. Um rapaz mais alto o empurrou para a piscina e os dois caíram junto. Dei de ombros aquilo e voltei para a sala.

Lá estava Catharina no seu vestido decotado dançando com um cara anos luz mais velho que ela. E eu nem conhecia o cara (acho que ela também não), mas com certeza ele tinha sido convidado por uma daquelas amigas vadias dela.

Então, o cara começou a passar a mão por debaixo do vestido dela. Apalpou os seios dela como se estivesse fazendo mamografia. E eles se beijavam nojentamente. Depois de um tempo naquela quase “masturbação” dupla, ela pediu para ele soltá-la, mas ele continuou segurando ela pelo braço, forçando-a bem ali NO MEIO DA SALA! Ninguém se importava porque estavam na mesma situação ou então estavam bêbados demais pra saber que estavam vivos.

Quando Catharina conseguiu se soltar, andou aborrecida até seu quarto. Fiquei ao lado da escada apenas observando o cara que, minutos depois, subiu atrás dela. Tive certeza naquele momento que se eu não fosse atrás, daria merda.

Foi aí que vi o cara puxar Catharina para dentro do depósito que ficava na frente do quarto dela. Algumas pessoas estavam caídas no corredor de tão bêbadas e chapadas que estavam. E o cara a pressionava para entrar no depósito, e ela gritava que não queria. Eu interferi: a puxei para o meu lado e o cara gelou:

– Só estávamos... Curtindo o clima. – disse ele.

– Curta fora daqui ou então eu chamo a polícia! – disse.

O homem não disse mais nada. Ajeitou o cabelo e a blusa amassada e desceu.

– Obrigada Daniel. – agradeceu ela me abraçando.

– Você tá bem? – perguntei.

– Só um pouco de dor de cabeça. – respondeu ela.

– Quer que eu procure algum remédio pra você?

– Sim. Seria bom. Têm alguns na gaveta do meu quarto. – avisou ela seguindo para lá. Eu a acompanhei.

Entramos no quarto que estava escuro. O mesmo quarto que eu estava horas atrás. Ela acendeu as luzes e sentou-se na cama, tirando o sapato alto e jogando para longe. Revirei as gavetas e não encontrei nada.

– Talvez no banheiro. Eu não sei... Minha cabeça dói muito! – reclamou ela encolhendo-se na cama.

Segui para o banheiro do quarto dela e achei uma caixa de medicamentos. Enchi um pequeno copo que havia ali com a água da pia mesmo. Quando voltei para onde ela estava, cathy havia retirado o vestido.

– OK... Entendi. Se veste, por favor. – disse cobrindo os olhos.

– Eu só estou com calor. Só isso. – replicou ela pegando o copo e o remédio das minhas mãos.

– Onde você aprendeu isso? A ousar desse jeito. Isso é vergonhoso sabia? Garotas da sua idade leem livros e ouvem músicas bacanas. Não ficam de lingerie na frente de uma cara! – disse.

– Ah Daniel! Você tem uma noção distorcida. Isso tudo é culpa da Lady Di! – exclamou ela jogando-se na cama.

– Não, não é culpa dela!

– Acontece Daniel, que você costumava “pegar” garotas como eu. Não mongoloides como a Diana. Faça-me o favor. Vocês nem transaram ainda! E veja o lado positivo: você está solteiro. – continuou ela levantando-se e vindo à minha direção. – Tem que aproveitar as oportunidades. Eu não daria para aquele cara nojento que me assediou. Mas pra você... – e então me beijou.

Certo, é um tanto difícil resistir a uma garota definitivamente gostosa, quase nua na sua frente quando você está... Tecnicamente solteiro e bêbado. Mas eu a empurrei e tentei sair do quarto. Ela me parou.

– O que aconteceu? Digo, com você e a Diana? Por que terminaram? – perguntou ela.

– Isso não é... Da sua conta. – respondi hesitando, forçando a porta para abri-la enquanto ela forçava para fechá-la.

– Tudo bem. O irmão dela me contou, de qualquer forma. Descobri que ela andou colocando um par de chifres em você! AHA! – e começou a rir.

Fiquei sério e soltei a porta. Afastei-me de Catharina. Agora era a minha cabeça que doía muito.

– Por que não se vinga? Sei lá. Dá um gosto pra ela... de ter sido otária por perder você. E se você fizer isso comigo... a dor será dobrada. – continuou ela.

– Você deve ser louca. – repreendi.

Cathy não desistia, aproximou-se novamente e me agarrou. Conseguiu até rasgar a minha blusa.

– Daniel, ela não precisa saber. Só hoje e você me conta se vale apena ficar com uma boa samaritana ou com uma vadia ou seja lá como você me chama. – disse ela arrancando o sinto da minha calça.

Nos encaramos por um tempo que eu nem em uma eternidade contaria. Os olhos claros dela bem ali, fitando a expressão mais séria que eu podia expressar. E então, pensei na minha primeira e única tentativa vã de tentar transar com a Diana; no beijo fácil que Rafael conseguiu dela; nas nossas diferenças incabíveis; nas nossas discussões desnecessária. E aí, eu me esqueci porque diabos eu ainda lutava por ela... Por uma garota que não duraria muito tempo comigo por dois motivos: (a) éramos diferentes demais e (b) eu não sabia se o que eu sentia por ela era amor ou gratidão por ter me tornado um cara melhor.

– Só. Uma. Noite. – disse,balbuciando as palavras.

– Ok, você não vai se arrepender.

***

Quando acordei, puxei as calças que estavam jogadas em alguma parte do chão do quarto da Cathy. Saí sem nem mesmo dizer um tchau porque sentia nojo daquilo, mesmo tendo sido divertido e tudo mais.

Cheguei em casa. Minha avó estava tomando café, mas era meio-dia.

– Que cara horrível! – disse ela.

Leandro apareceu minutos depois.

– Ora, você tá um trapo! A festa deve ter sido boa. – comentou ele.

– Foi legal. – afirmei sentando-me a mesa e me servindo um copo de café.

O café ainda amargando a minha boca. Era manhã de domingo (na verdade, tarde de domingo), e a ressaca estava forte após a festa surpresa mais atrasada de toda a minha vida.

Quando digo surpresa, não representa apenas o fato de tudo ter sido elaborado pelas minhas costas, mas sim a razão pela quais surpresas inusitadas rolaram na festa. Entre elas, conheci a minha mãe.

– Vi Eduarda. – disse.

Leandro ergueu os olhos e sentou-se a mesa.

– Como assim? Onde? – perguntou ele perplexo.

– Na festa. – respondi. Os olhos mal abertos, incomodados com a claridade geral.

Leandro bateu com o punho cerrado na mesa.

– O que ela queria? – interrogou ele.

Eu a minha avó nos assustamos com aquela reação.

– Ela só queria conversar comigo. – disse.

– EU NÃO QUERO QUE ELA SE APROXIME DE VOCÊ! – gritou ele, cuspindo as palavras como um furacão.

– O quê que há?! Ela é a minha mãe cara! – exclamei com raiva.

– E eu sou seu pai! E em dezoito anos você não valorizou isso. Uma mulher não tem o direito de chegar e tomar você de mim e da sua avó! – replicou ele puxando a carteira da mesa e saindo da cozinha.

Só ouvi o barulho de a porta bater com força e fechei os olhos. Em meio a tudo, consegui cochilar ali mesmo, com a cabeça encostada na mesa.

***

Tomei alguns medicamentos e fui para o quarto. Fiquei com a mesma roupa que estava e nem me dei ao trabalho de trocar (como o antigo Daniel).

– Filho! Acorda aí que você tem visita! – disse a minha avó.

Levantei do jeito que estava e voltei a sentar na cama.

– Quem é? – perguntei sonolento a minha avó.

– Catharina. – respondeu e saiu.

“Merda”, pensei. Provavelmente ela iria querer discutir sobre o que rolou à noite e blá, blá, blá.

– Chama ela pra cá vó! – gritei.

Minutos depois Cathy entrou no quarto. Digo logo que a expressão séria dela me assustou:

– O que você quer? – perguntei.

– Temos um problema Daniel...

– Que problema? – questionei novamente ficando preocupado por causa do tom de voz dela.

Em silêncio, Catharina olhava para o chão e apertava as mãos uma contra a outra. Seus olhos estavam baixos e ela nem mesmo me encarava. Respirou fundo e antes que a eternidade daquele silêncio me deixasse mais aflito, ela disse algo que a partir daquele momento mudou tudo:

– A camisinha que usamos ontem furou.

Gelei. Gelei de verdade a ponto de sentir minha respiração fria. O ar que entrava nos meus pulmões não surtiu muito efeito e eu comecei a passar mal. Ergui os olhos para ela e me levantei. Não quis demonstrar desespero, mas eu não conseguia pensar em nada.

Catharina parecia que ia chorar. Então eu a abracei e depois a quis longe. Eu levava as mãos à cabeça e lutava para não gritar.

– Ok, ok! Tem a pílula do dia seguinte! Toma ela e pronto! – exclamei.

– Não é bem assim Daniel! A pílula tem que ser tomada em pelo menos doze horas! Só vi essa confusão agora a pouco.

– E que horas são?

– São quase oito horas da noite. Tua ressaca te fez dormir demais. – respondeu ela. – Mesmo assim, eu tomei na esperança de que funcionasse. Eu estou fazendo como uma amiga me ensinou, mas eu... Eu estou com muito medo! – e então ela se pôs aos prantos.

Eu nem conseguia imaginar a desgraça que aquilo levaria. Os pais da Catharina me matariam. Leandro me mataria. Minha avó me mataria. Diana me mataria. Até eu me mataria.

– A gente não pode se desesperar, mesmo que isso seja impossível. Vai a um ginecologista também, mas continua tomando o remédio, ok? – disse.

Catharina assentiu e me abraçou. Eu não queria o abraço dela, mas eu havia feito besteira... Eu também era culpado.

Ficamos algum tempo ali. Sentia as lágrimas quentes dela correrem pelo meu braço e me lembrei que ela ainda era uma garota assustada demais, e aquilo era necessário. Não iria julgá-la por chorar perante isso. Ela se desfez em lágrimas, e eu mergulhei em pensamentos vazios.

Parecia o fim, mas era apenas o começo.

***

No dia seguinte, não fui à escola e Catharina também não. Ela e uma amiga foram ao ginecologista e eu só pensavam em uma resposta boa.

Fiquei em casa pensando em ligar para Diana e contar tudo, mas isso era estupidez. E quando eu ainda pensava nela, alguém surpreendente bate a porta de casa.

Era Rafael. Ele me olhava desconfiado, com medo. Mesmo assim, confortou-se quando viu que meu estado não era um dos melhores.

– O que você quer? – perguntei na porta, com ele ainda do lado de fora.

– Preciso esclarecer algo sério a você cara. – respondeu ele. – Posso entrar?

– Se você quer falar sobre aquilo que eu vi com meus próprios olhos, melhor ir embora. – disse.

– Daniel, a Diana não teve culpa de nada cara. Eu fui o imbecil da história! Eu assumo pra você, estava afim dela e acabei passando dos limites! Mas ela te ama pra porra! Você não imagina como ela ficou depois de tudo isso e... – eu o interrompi fechando a porta, mas ele conseguiu abri-la e entrou. – Cara, você tem que me escutar!

– Não quero. – repliquei.

– Olha, diana não teve culpa alguma! Ela ficou tão desolada com tudo. Ela nem consegue ouvir minha voz que já se desespera. Ela me odeia, e eu vou morrer com essa culpa. Estraguei minha amizade com ela. Mas admita: é difícil não se atrair por ela. Ela é linda, inteligente. Você tem uma sorte sem tamanho. Não jogue fora desse jeito.

Eu quis chorar depois daquilo, porque eu acreditava EM CADA PALAVRA DELE, e eu havia transado com a Catharina e existia uma grande possibilidade de ela ficar grávida.

– Por favor, você tem que falar com ela, fazer as pazes e... – eu o interrompi chorando. Rafael veio na minha direção e me abraçou. Eu não queria abraça-lo, mas tanto faz!

– Eu acredito em ti cara... Mas... – hesitei em continuar falando.

– Mas o quê? – perguntou ele.

– Esqueça! Eu vou fazer as pazes com ela... Eu vou. – disse. – Só quero que você fique longe, ok? Qualquer amizade com ela acaba aqui.

Rafael abaixou a cabeça, os olhos baixos e tristes.

– Eu entendo. Só quero que cuide daquela mocinha. Ela é incrível demais... E hoje ela está vendo o projeto de divulgação do livro dela. Você sabe que foi aprovado, e tal.

– É, eu sei. Só não sabia que iriam fazer um projeto de divulgação. – disse.

– E vão! Investirão nela com tudo o que eles tem. E ela queria contar isso pra você e não pôde. – continuou ele. – Agora, não estrague tudo viu? E assista Star Wars com ela, mesmo que ela chame o Darth Vader de “cara com a cabeça preta”. – ele riu e saiu da minha casa, sem despedidas ou sem acrescentar mais nada. Apenas deixou uma caixa com a coleção de DVD’s do Star Wars no sofá.

Aquilo definitivamente acabou comigo.

































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