As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 47
Este não é o final.




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#Narrado por Diana#

Voltei pra casa sozinha antes mesmo de a festa de Daniel acabar. Não quis interromper o momento em que ele e Eduarda se reencontravam. Decidi que não era a melhor hora para fazermos as pazes.

Antes de tocar a campainha de casa, minha mãe já estava na porta. Ela a destrancou e de quebra notou minha expressão vazia. Me abraçou e eu comecei a chorar, ali mesmo. Ela então, mesmo sem entender, começou a dizer que tudo ia ficar bem e mais uma vez acreditei nela... De fato, as coisas sempre ficavam bem.

Naquela noite, expliquei tudo o que acontecera para ela. Dormi com ela em sua cama. Ouvimos música no rádio. Minha mãe acariciava meus cabelos úmidos e eu fechava os olhos a cada frenesi.

Nem vimos quando Lucas chegou, nem mesmo que horas a festa acabou.

No dia seguinte, acordei mais cedo que todo mundo. Minha mãe em seu sono nem mesmo se importou quando eu me levantei. Fui para a cozinha e preparei o café.

Lucas dormia no quarto como uma criança. Não se deu ao trabalho de trocar de roupa ou tirar os sapatos. Sacudi seu corpo para que ele desperta-se, mas isso não estava funcionando. Retornei a cozinha e enchi um copo com água (gelada) e despejei sobre sua cabeça.

- AAH! – gritou ele, saltando da cama em desespero.

Nos olhamos e eu comecei a rir. Lucas continuava assustado e após compreender o que eu tinha feito, chutou minha perna.

- Que merda Lu! – resmunguei. – Eu só estava brincando.

- Que brincadeira de mau gosto. – disse ele pegando a toalha e saindo do quarto resmungando.

Minha mãe tinha acordado com o grito de Lucas. De braços cruzados, revirou os olhos para a minha traquinagem e preparou seu chá.

- Eu fiz café. Não vai tomar o meu café? – perguntei.

- Infelizmente eu já tomei o seu café. – disse ela abrindo o armário e tirando de lá dois potes iguais. – Devo te apresentar isso aqui Diana: AÇÚCAR E SAL!

Franzi a testa e só então entendi o que ela estava tentando explicar.

- Eu... Foi sem querer mãe. – disse.

- agora que vocês estão bem apresentados, não confunda mais. – concluiu ela jogando meu café salgado pelo ralo da pia.

Então, ela fez chá para mim e para Lucas também. Ele parecia estar de ressaca e foi repreendido por ter bebido.

- que horas você chegou? – perguntei.

- Umas quatro horas da manhã. – respondeu ele com a voz sonolenta.

Minha mão espantou-se:

- Como assim? Como você chegou aqui? Alguém veio deixar você? – questionou ela.

- Sim, conheci um cara lá e ele me deu uma carona... – respondeu Lucas sem nem ao menos olhar para nós, apenas para seu chá.

- Um... Cara? – continuou minha mãe.

Lucas ergueu os olhos e só depois percebeu que havia falado algo comprometedor.

- Droga. – murmurou ele, mas eu ouvi e acredito que minha mãe também tenha escutado.

- Droga nada, Lucas... Eu sei que você nasceu do “avesso” – disse minha mãe sorrindo.

Eu e meu irmão a encaramos arqueando os olhos, suspendendo a surpresa no ar.

- COMO ASSIM? – gritamos em coro.

Ela riu.

- Eu suspeitei desde o dia em que você começou a morar aqui. Tive certeza quando vi aquele Tiago outro dia... E tenho mais certeza agora, perante a essa sua reação.

Ficamos em silêncio por muito tempo. Lucas nem sequer terminou de tomar seu chá. Enquanto minha mãe lavava as louças, trocávamos olhares assustados.

“Eu não contei nada”. – sussurrei.

“Eu nem me lembro de ter ficado com Tiago enquanto ela estava por perto!”. – sussurrou ele.

- Estou ouvindo tudo. – avisou minha mãe. – Não se preocupe Lucas. Não irei contar nada ao seu pai, se é isso que assusta você. – concluiu ela saindo de cena.

Congelamos diante daquela atitude, e mesmo assim agimos com a certeza de que não resultaria em maiores problemas porque a minha mãe era sincera sobre essas coisas, e ela jamais faria algo contra a vontade de alguém. Ela amava Lucas como seu filho, mesmo sendo ele o fruto de uma traição, e nem por isso ela jogava na cara dele coisas degradantes.

Como era domingo, naturalmente nós almoçaríamos na casa do meu avô.  Eu ainda estava bastante machucada com tudo o que ocorrera ontem, então recusei o convite a churrascada. Fiquei sozinha em casa terminando de ler o livro que o canalha do Rafael me aconselhou a comprar. Às vezes, sentia uma fúria incontrolável. Vontade de sair rasgando aquele livro como se fosse a cara dele.

- Sem violência. – sussurrei para mim mesma.

Peguei meu celular e liguei para ele. Das três tentativas, todas foram parar na caixa postal. Estressada com aquilo, digitei-lhe uma mensagem de texto pedindo que retornasse a minha ligação:

“P.S: Retorne MESMO! Eu não vou matar você... Não ainda.”

Minutos depois ele me ligou. Nem mesmo conseguiu dizer “alô”.

- Pare de ser medroso! Você não temeu nada quando me beijou. – disse.

(Silêncio)

- Desculpa. – pediu ele. – Desculpa mesmo! Eu só não consegui controlar Diana. De verdade, eu estava apaixonado por você. Na verdade, ainda estou. Aconteceu com uma atração, quando vi você pela primeira vez. Você é linda e eu... eu achei que fosse dar certo. Mas aí você tinha namorado e eu... – interrompi-o.

- Pois é, eu TINHA namorado! – exaltei-me.

- Desculpa de novo! Eu quero muito fazer alguma coisa... Ajudar você ou sei lá.

- Pode começar contando tudo ao Daniel. TUDO. AO. DANIEL. – disse pausadamente.

- Ok, eu faço isso. Quando quiser. Hoje, amanhã... Tanto faz. Só me dê o número dele e eu irei ligar para... – interrompi-o novamente.

- Por telefone ele jamais irá acreditar em você. Daniel é do tipo de cara que tira conclusões sobre alguém a olhando em seus olhos. Essa discussão tem que ser pessoalmente.

- Pessoalmente? Ele vai acabar comigo!

- E daí?

(Pausa)

- Tá. Eu vou falar com ele amanhã, na casa dele. Apenas me passe o endereço.

***

Às quatro horas daquela tarde de domingo, Lucas e minha mãe chegaram do almoço. Ela estava com um sorriso largo demais no rosto e então decidiu se explicar.

- Ligaram para mim lá da editora. – disse ela.

Meu coração disparou.

- Eles já revisaram todo o seu livro! – continuou ela. – E claro, eles confirmaram de verdade e já entraram com um pedido para a publicação dele para o primeiro semestre do ano que vem!

Mal conseguia controlar a alegria. Pulei para um abraço com a minha mãe e Lucas e naquele momento esqueci que estava depressiva por conta de Daniel. Eu queria era espalhar aos sete ventos a intensidade da minha felicidade.

Mandei uma mensagem ao meu pai e à Flávia. Depois, pensei em mandar para Daniel, mas aí eu lembrei que ele não queria mais saber de mim.

- Amanhã nós temos que ir até a editora. Bem cedo! Então, você vai precisar faltar à escola.

- Tudo bem. – assenti.

***

Acordei por volta das seis e meia. Peguei a melhor roupa que tinha, e o melhor sapato também. Um vestido que era acima do joelho alguns centímetros, mas discreto e sem destacar meu busto nem meu traseiro. Azul, é claro... E um salto preto que eu ainda tinha dificuldades de me equilibrar.

- Talvez eu não deva ter nascido para ser mulher. – digo a mim mesma enquanto me olho no espelho.

- Eu concordo. – replicou Lucas jogado na cama.

- A propósito, faz o meu cabelo? – pedi dele que no mesmo instante puxou uma escova.

Lucas montou uma traça enrustida, mas deixou minha franja a mostra, o que me deixou ponderadamente engraçada e bonita.

- Obrigada. – agradeci. – E desculpa pelo copo d’água de ontem...

Ele revirou os olhos e depois me abraçou.

- estou muito orgulhoso de você! De verdade maninha. – disse ele.

Peguei a minha bolsa mais extravagante e sai.

Minha mãe já me esperava na sala. Fomos de táxi porque ela queria “causar boa impressão”. Eu havia dito a ela que isso era desnecessário, mas passei a concordar quando me desequilibrei várias vezes naquele salto.

Ao chegarmos à editora, é quase impossível não notar as letras enormes que estão presentes bem na frente do prédio: MODERNA. Algumas pessoas usam aquilo como ponto turístico, o que é engraçado... Tipo “olha, um M gigante! Vamos bater uma foto?”, e por aí vai.

As portas de entrada são aquelas automáticas, que abrem “magicamente” quando você chega em um ponto. Dois seguranças estavam ali: um do lado de dentro do prédio e o outro do lado de fora.

Os e as recepcionistas na bancada atendem telefones a toda hora, e algumas digitam coisas quase ilegíveis em seus computadores. Minha mãe e eu seguimos até a bancada e nos anunciamos.

- temos hora com o Sr. Wilton e sua comissão. – diz ela.

A moça de pele pintada, cheia de pó exagerado na cara e batom vermelho, nos olha de baixo para cima e então vira-se para seu computador.

- Qual o nome de vocês? – pergunta ela.

- Diana Lins e Daniela Lins. – responde a minha mãe.

A recepcionista nos entrega um crachá e nos libera para o elevador dizendo que o nosso andar é o sexto.

- Seis será o seu número da sorte! – diz a minha mãe.

- Não acredito em sorte. Acredito em azar, mas sorte... Sei lá. Não creio que isso tudo tenha sido obra da sorte, do destino ou do Deus onipotente. Foi obra minha... Os três só fizeram acrescentar seu brilho. – repliquei.

- Pare. De. Coisar. Coisas. Tãaaaao difíceis de entender! – exclama ela encarando-me enquanto eu aperto no sexto andar e a porta do elevar se fecha.

- Não são difíceis mãe!

As luzes dos andares vão piscando lentamente e não param até chegar ao número seis. Então a porta se abre e várias pessoas estão passando pelos corredores com carrinhos cheios de pastas. Outras, as sentadas à mesa de escritório, discutem com o mundo inteiro.

- Será que estamos no andar certo? – pergunta a minha mãe.

- DIANA! – exclama alguém animado. Viro a cabeça para o lado e vejo o Sr. Wilton sorrindo grandiosamente a me ver. – É um prazer revê-la.

- Olá senhor Wilton! – cumprimenta a minha mãe.

- Olá dona Daniela! Vamos para a minha sala. Toda a comissão está lá. Muita gente quer conhecer você, Diana – diz ele.

Nós o acompanhamos e chegamos a um escritório no final do corredor onde Wilton abre a porta e umas cinco pessoas (foi a quantidade que consegui contar), levantam-se ordenadamente quando me veem.

- Entrem! Podem se sentar aqui. – diz o Sr. Wilton.

Minha mãe puxa uma cadeira e senta-se ao lado de uma mulher muito bonita. Eu sento-me em uma cadeira que parecia ter sido reservada para mim, ao lado de um homem que aparentava ser o mais velho de todos naquele local.

Alguns dos rostos são conhecidos. Dois deles estiveram na minha casa no dia em que eu assinei o contrato, o outro era o representante que foi buscar o contrato assinado. O resto... Desconhecido, como no caso do homem sentado ao meu lado.

- Bom dia senhores! – cumprimenta o Sr. Wilton à frente de todos, em pé próximo a um daqueles reprodutores de imagem que as pessoas usam com Slide show, e tal. – Essa mocinha a quem todos estão tendo o prazer de conhecer chama-se Diana. Ela é a nossa nova prodígio.

Eu sorri timidamente enquanto todos olhavam para mim, inclusive a minha mãe com sua pose de bobona.

- Irei demonstrar nessa apresentação todos os pontos do livro dela que me chamaram a atenção e a causa em querermos divulgação intensa.

Vários slides começaram. Alguns ressaltando a mensagem do meu livro e outros resenhando. Imagina que legal: você trabalhar em uma empresa onde te pagam para ler, julgar, revisar os livros de outras pessoas! Cara, isso é muito maneiro. De verdade.

No final, quando todos estavam sorrindo (inclusive o homem do meu lado que parecia o mais durão de todos), Wilton terminou com uma frase.

- Sonhos são a forma mais pura de demonstrar que somos humanos.

Depois que ele disse isso, tomei a liberdade de abrir a boca:

- Desconfie de quem nunca sonhou na vida.

Wilton assentiu, e continuou:

- O livro de Diana possui algo diferente de muitos outros: esperamos um final, acreditamos saber do final do livro e então... BA! Uma reviravolta... E que reviravolta!

Todos riram.

- “Os sonhos incontáveis de Grace” é a nossa nova aposta. – concluiu ele.

Depois, um formulário geral foi passado informando que o projeto para a divulgação intensa do meu livro havia sido aprovado, o que me encheu de expectativas ganhas.

Voltei pra casa tão confiante. Queria contar a novidade para alguém. Alguém em especial. Mas sabia que essa pessoa jamais atenderia um telefonema meu. Por enquanto.

***

Avisei aos meus tios, ao meu avô, ao meu pai (que estava em Washington), à Flávia (que avisou ao Maurício), a até mesmo ao Edgar, o meu vizinho.

Lucas saiu criando planos para a minha primeira divulgação. Avisei a ele que eu teria agora um assessor e um representante.

- Ual! Isso é muito maravilhoso! – exclamou ele.

Conversamos sobre o livro e eu contei a respeito de tudo o que me contaram na editora para Lucas. E mesmo em meio aquela euforia, me sentia distante. Queria falar com Daniel e saber s Rafael já havia conversado com ele. Queria me explicar... eu o queria de volta. Um vazio havia sido preenchido e ao mesmo tempo outro havia sido aberto. Eu o amava, e meu desejo era compartilhar aquela felicidade com ele. Mas ele não estava ali.

Disquei os números dele, mas desisti de fazer a ligação instantes depois. Foi aí que Eduarda me ligou.

 - Diana! Estou tão feliz. – disse ela. – Eu quero muito agradecê-la por tudo o que você fez por mim.

- Não precisa agradecer. – disse.

- Sua voz... Você está triste ainda, tenho certeza.

(Silêncio)

- Diana, ele está muito magoado. Conversamos algumas horas, mas combinamos de nos conhecermos de verdade essa semana. Hoje eu fui até a escola e vi ele. O levei pra casa e claro, Leandro discutiu comigo, mas depois cedeu. Aí, chamei Daniel para morar comigo e... Daniel não quis.

- Talvez tenha sido rápido demais. – disse.

- Diana, eu estou morrendo. As coisas devem acontecer rápido.

- Não diga isso! Você está fazendo tratamento.

- Isso não quer dizer nada. Meus cabelos serão cortados amanhã... Irei perdê-los por causa da radioterapia... Amanhã irei contar sobre o câncer para Daniel, e talvez ele aceite vir morar comigo.

Pensei sobre o que falar depois disso. Daniel ganha uma mãe e ao mesmo tempo a perde. A intensidade daquilo doía como um soco no estômago.

- Não sou muito boa com palavras, mas sinto que tudo vai dar certo. – disse por fim.

- Daniel ama você, querida. Logo vocês irão se acertar também.

Respirei fundo e então suspirei.

- Não acredito em finais felizes, mas acredito em mim e no Daniel. E sinto que o nosso final não é agora.


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