As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 49
A volta.


Notas iniciais do capítulo

e aí? sentiram minha falta? haha, nossa, muita gente querendo me matar por ter feito esse "hiatus", certo? ok, capítulo novo, capítulo de volta com o nome "a volta". Logo mais terão surpresas EXTRAORDINÁRIAS!



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#Narrado por Daniel#

Um dia após a explicação relevante de Rafael, decidi visitar Diana para conversarmos. Ainda que eu estivesse emocionalmente abalado com a volta de Eduarda e com a espera de uma resposta sobre o que aconteceu entre mim e Catharina, precisava ver Diana uma vez para ter certeza de que o que tínhamos/temos ainda vale apena.

Durante a aula, Diana sentou-se no mesmo lugar de sempre e eu fui para perto dela. Aquilo deve ter lhe dado alguma esperança. Eu a vi sorrir quando seu lápis caiu e eu o peguei. Mesmo que não tivéssemos pronunciado nenhuma palavra naquele momento, lá estava ela ainda sorrindo e esperando que eu dissesse que a amava. E então voltaríamos... Ou não.

No intervalo da aula, ela e Flávia sentaram-se naquele mesmo grupinho. Lucas estava rindo e todos na mesa pareciam rir também, exceto Diana que fitava a comida no prato e olhava para os lados como se esperasse alguém. Deduzi que fosse eu.

Segui até a mesa e sentei-me ao lado de Murilo.

- Daniel! Quanto tempo! Nossa, pensei que tivesse esquecido o caminho da nossa mesa. – disse Maurício.

Diana ergueu os olhos a me ver e então nos encaramos como no início de tudo.

- E a festa Daniel? Como foi? – perguntou Flávia.

- Muito boa. Pensei que você fosse estar lá. – disse.

- Eu ia, mas minha mãe passou pela frente da festa e viu um cara bêbado gritando e depois me ligou dizendo que eu não tinha mais permissão pra sair. – disse ela rindo.

- E isso refletiu nos meus pais que falaram com os pais da Flávia e não me deixaram ir também. – comentou Maurício.

- Perderam uma festa muito legal! – exclamou Lucas animado.

- É, lembro de ter visto você lá. – disse a ele.

Então todos olharam para Diana e depois para mim. E aí, simplesmente houve um silêncio. O sinal tocou e todos se levantaram rapidamente, menos Diana e eu. Ela empurrou o prato para o centro da mesa e impôs-se a levantar. Eu segurei seu braço e disse:

- Eu estou pronto pra ouvir sua explicação.

Os olhos dela brilharam infinitamente, e eu senti que ela estava feliz em ouvir aquilo. Esboçou um sorriso torto e então respondeu:

- Hoje à tarde. Se você quiser passar lá em casa, posso explicar tudo o que aconteceu.

Eu assenti e a deixei ir.

***

Como prometido, à tarde eu fui até a casa de Diana com a caixa de DVDs de “Star Wars” nas mãos. Lucas não me atendeu dessa vez, e sim dona Daniela que estava atrasada para o trabalho.

- Querido, qualquer dia nós conversamos melhor. Preciso ir – despediu-se ela, saindo pela porta.

Diana estava em pé na minha frente.

- Então... – balbuciou ela.

- Eu estou aqui. Como você pediu. – afirmei.

- Tudo foi tenso demais, Daniel. – continuou ela. – Nem sei por onde começar.

Suspirei e ela veio à minha direção.

- Eu sinto muito por ter feito você passar por isso – disse ela. – Não foi a minha intenção. Rafael simplesmente me agarrou. Ele me disse depois que estava gostando de mim, mas eu não! Eu gosto de você, Daniel. E eu não queria que tivéssemos chegado a esse ponto.

Continuei apenas observando e escutando ela com suas palavras magoadas sendo pronunciadas na minha frente, em total silêncio.

- Mas, saiba que eu não vou me humilhar pra você. Se sua decisão continuar sendo essa, eu vou aceitar. – respondeu ela ao meu silêncio.

Eu segurei as mãos dela. Tão pequenas. E pensei que seria covardia reatarmos em meio a esse caos. Eu não teria paz enquanto Catharina me dissesse que não estava grávida. Só havia passado um dia desde o ocorrido. Não foi uma “traição”, até porque estávamos separados, mas foi uma vacilada e tanto.

- Rafael me contou tudo. Acreditei nele – disse finalmente.

- E o que ele lhe disse? – perguntou.

- O mesmo que você. E eu acreditei nele por que... Eu sei que tipo de garota você é. E você não é o tipo de garota que sai ficando com qualquer um.

Ela riu, fazendo com que seus olhos encolhessem. Eu a abracei e suas mãos estavam apoiadas na minha cintura, entrelaçando-se. Eu fechei os olhos e esperei uma resposta cair do céu. Eu não sabia como prosseguir diante daquilo, mas eu amava ela. Diana era a garota certa pra mim e eu não podia estragar isso. Nem Catharina.

Pensando assim, ignorei o fato de não ter uma resposta firme sobre o ocorrido. Aproveitaria cada minuto dali em diante com a minha Diana.

- Não consigo imaginar mais nenhum minuto da minha vida se você não tiver do meu lado. – sussurrou ela.

- Eu também não, Diana. Eu também não.

***

Passamos o resto da tarde juntos, sentados no sofá. Ela, apoiada no meu ombro e entrelaçando as pernas por cima das minhas enquanto o puf nos servia de apoio. E ela me contou sobre o livro que seria logo publicada e como ela estava animada. Falou sobre as cortesias que recebeu e sobre o projeto de divulgação.

- Sabia que eu sou a primeira escritora desconhecida para quem eles irão fazer um “projeto de divulgação”? – disse ela.

- Sério? Eles não fazem isso para principiantes? – perguntei.

- É claro que não! Um escritor principiante nunca teria uma oportunidade como a que eu tive. Levam-se anos para publicar um livro... Eu só conseguiria se pagasse um adiantamento, e mesmo assim não teria divulgação alguma e ainda seria por uma editora pequena. – respondeu ela.

- Então, minha namorada é uma “privilegiada”? – questionei apertando as mãos delas.

Diana virou o rosto para a minha direção e franziu a testa:

- Não! Eu tenho talento. É diferente. – disse ela.

Ri daquele convencimento, mas ela tinha razão.

- Você será considerada a garota mais incrível do mundo um dia. Você estará no topo das paradas como a jovem mais talentosa que esse país já viu. Nem conseguirá andar na rua de tantos paparazzi querendo uma foto sua inédita! – exclamei fazendo-a rir. – Você terá livros e mais livros desejados por qualquer pessoa. E ainda assim, eu vou te amar. E ainda assim, eu vou estar do teu lado pra te lembrar do seu primeiro gole de bebida. E do seu primeiro apelido. E ainda assim, você vai ser minha porque isso aqui parece não ter fim, Diana. Isso que temos é exclusivo. Isso que temos vai além de qualquer explicação sucinta de que nada dura pra sempre. Nossa eternidade vai ser pequena, mas eu vou lutar para que ela valha a pena, certo?

Ela revirou os olhos.

- Isso foi muito clichê, mas foi bonito. Não creio que coisas como isso que temos dure pra sempre. Creio que tudo no mundo dura o tempo necessário para... – eu a interrompi.

- As coisas duram o tempo que a gente deseja que elas durem. – afirmei.

- Não! As coisas não funcionam assim. A vida não é assim. Romances não são assim. Finais felizes iludem demais, Daniel.

- Ok, cadê a garota mais sonhadora que eu conheço? – questionei intrigado.

- Eu estou aqui. Mas não quero acreditar demais que “eu serei tudo isso” que você acabou de dizer. Expectativas são a porta de entrada para decepções. E de decepções eu já estou farta.

Ela levantou-se e puxou a caixa de DVDs que Rafael me deu do chão. Organizou-os nas prateleiras do armário da sala e então virou-se pra mim:

- Rafael deu isso a você, certo?

- É... Não sei se ele me deu ou se ele me emprestou, mas pediu que eu assistisse com você, mesmo que você chamasse o Darth Vader de “cara com a cabeça preta”.

Diana riu.

- Nossa, isso foi bem... Legal. – disse ela olhando para a capa do DVD na prateleira.

Levantei do sofá e fui em sua direção. Diana fingia uma expressão de recesso, como se estivesse mantendo para si mesma algo que estava sentindo.

- O que há? – perguntei.

- Nada, só estou pensando nesses últimos dias. – respondeu ela que em seguida suspirou. – Mas isso não importa agora. Quero aproveitar cada minuto de agora pra ficar com você. – ela pôs as mãos nos meus ombros.

Eu a abracei e naquele momento pensei na Catharina. Pensei que ela havia faltado mais um dia de aula e eu não a via desde ontem quando ela fora se consultar no tal ginecologista. E mesmo assim, eu não queria demonstrar desespero, mas eu estava tão perdido. Perdido porque, provavelmente, Diana não me perdoaria.

- Você sabe perdoar? – perguntei a ela.

Diana descruzou os braços que estavam em mim e me encarou. Sua expressão séria e aflita, como se já tivesse escutado aquilo.

- Porque está me fazendo essa pergunta? O que aconteceu? – questionou ela intrigada.

Fiquei em silêncio sem saber o que responder.

- Eu só fiz uma pergunta. Nada demais. – disse.

- Daniel, você fez algo pela qual eu deva te perdoar? É por isso que está fazendo essa pergunta? – continuou ela.

Engoli a seco e senti um nó na garganta. Me afastei de Diana e fitei o chão esperando por uma resposta.

- Meu pai fez essa mesma pergunta pra mim meses atrás, e alguns dias depois eu descobri que tinha um irmão.

Aquilo que eu estava ouvindo parecia coisa de cinema. Era sobrenatural imaginar que eu estava repetindo um sofrimento praticamente idêntico.

- Não, isso não tem nada a ver. – hesitei.

- Se tem algo pra falar, fale agora. Perdão é uma consequência. – disse ela.

- Pensei que fosse um dom... Tipo, nem todo mundo sabe perdoar, e tal. – repliquei.

- Mudei meu conceito sobre isso há algum tempo. Digamos que todos nós podemos perdoar, mas vale da nossa escolha. Logo, perdão é uma consequência. – continuou ela agora de braços cruzados e estagnados na minha frente.

- Diana, eu sei o quanto seu pai te magoou com tudo aquilo, mas você perdoou ele... certo?

- Sim, eu perdoei. Lucas foi uma benção pra minha vida. – ela sorriu.

Nesse momento ouvimos a porta da sala se abrir e Lucas nos cumprimentou.

- Atrapalho a conversa? – perguntou ele.

- Não, eu já estava de saída mesmo. – respondi.

- Então... Vocês voltaram? Me digam que sim! – exclamou ele.

Diana sorriu com os lábios e os olhos que brilhavam como se aquela resposta partisse do seu mais profundo.

- Sim. – disse ela.

- Deveríamos comemorar! – sugeriu ele.

- Outro dia. Eu preciso ir à casa da Eduarda agora. Prometi que a visitaria e mesmo que o Leandro não aceite muito bem, ela ainda é a minha mãe. – disse.

- Você faz bem, casmurro. Visite-a sempre que puder, agora mais ainda. – disse Lucas.

Diana o fitou repreendendo e ele encolheu-se.

- Por que “agora mais ainda”? – perguntei.

Houve um silêncio. Um vácuo que permitia uma contrassão de pensamentos nulos e conexões entre o dois por olhares sinuosos demais. E antes que aquilo gerasse milhões de outras perguntas, Diana se pôs a frente:

- Porque você acabou de conhecê-la. E deve aproveitar. – concluiu Diana.

Concordei mesmo não considerando aquela uma resposta relevante, mas eu devia a Diana uma também, então não havia problema.

Despedi-me dos dois e segui para a casa de Eduarda, me guiando pelo seu cartão de endereço.

Cheguei a um conjunto residencial e me assustei com a imensidade daquelas casas. O porteiro me olhou dos pés a cabeça e pediu pra eu ir embora sem ao menos perguntar porque eu estava ali.

- Eu vim visitar uma pessoa senhor. – avisei a ele.

- Quem? – perguntou.

- Eduarda Riotti – respondi lendo o nome dela no cartão e mostrando a ele.

O porteiro novamente me encarou e me mandou aguardar enquanto ele fazia a ligação.

- Boa tarde senhora, desculpe incomodá-la, mas um rapaz acabou de chegar aqui e ele está a sua procura... – dizia ele ao telefone. – Qual o seu nome garoto? – perguntou ele a mim.

- Daniel. – respondi.

- Chama-se Daniel, senhora... – ele olhou para mim e fez uma pequena anotação em uma folha. – Ok, obrigado.

O porteiro fechou a porta da cabine onde estava e o grande portão se abriu minutos depois. Da janela de vidro ele me chamou.

- Sua mãe mora na terceira rua à direita. Número 23. – e me entregou a folha de anotação.

- Obrigado!

Continuei o caminho pela calçada. Alguns carros passaram pela rua do conjunto. Carros de luxo com pessoas luxuosas dentro, mesmo que fosse impossível ver o rosto delas por causa do insulfilm de seus carros.

Andei mais alguns minutos e cheguei a rua. Toquei a campainha da casa de Eduarda e uma senhora muito elegante abriu a porta.

- Daniel? – perguntou a mulher.

Sorri timidamente.

- Sim, eu mesmo. – respondi.

- entre querido. – pediu ela.

Vagarosamente entrei na casa. A porta enorme da sala, um piso que podia refletir a minha imagem. Uma escadaria digna de palacetes presidenciais. Tudo aquilo pertencia a Eduarda e só então entendi que ela jamais gostaria de viver como eu vive.

- Sente-se querido, sua mãe já vai descer. – disse ela apontando para o sofá.

Não era apenas um sofá. Haviam poltronas, puf’s, cadeiras de madeira com almofadas bordadas. Todo e qualquer detalhe expressava luxo.

Sentei com o maior cuidado possível temendo até respirar. E esperei. Esperei o que provavelmente não demorou cinco minutos, mas parecia o sopro da eternidade.

- Filho? – chamou uma voz fraca vinda de trás de mim.

Levantei e virei a cabeça para a direção da voz. Lá estava ela, usando um vestido verde na altura do joelho, deixando-a leve. Um lenço que cobria a cabeça e a pela pálida. Sem maquiagem. Nada. Os olhos baixos e marcados. Parecia estar doente, mas eu não a questionaria agora.

Fui em sua direção e a abracei. Eduarda parecia mais frágil agora do que da última vez que a vi.

- Daniel... Eu estava com tanta saudade. – sussurrou ela.

- Eu também.

Quis por um momento guardar aquele abraço para as situações mais difíceis que eu temia estar por vir. Quis aquele abraço quando eu era uma criança e ralei meus joelhos ao cair da bicicleta. Quis aquele abraço quando tirei meu primeiro zero em matemática. Quis aquele abraço quando eu dormi dois dias na rua. Quis aquele abraço quando os caras me espancaram. Quis aquele abraço quando Leandro chegava bêbado e me chamava de imprestável. Eu quis aquele abraço tantas vezes e agora eu o tinha. Não queria perdê-lo. Não queria perdê-la.

- Você aceitaria jantar comigo hoje? – perguntou ela.

- Seria uma honra. – respondi sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: preparem o coração de vocês pq vai ser TENSO!



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