As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 40
O garoto do "rim defeituoso".


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Estou muito ocupada e cheia de problemas. Mas não abandono a fic. Beijos



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#Narrado por Diana#

– Di, estou tão orgulhosa de você! – dizia Flávia ao telefone. – E sinto muito mesmo por não ter ido à premiação.

Mesmo assim, fiquei em segundo lugar... – disse um tanto desapontada.

Mas você recebeu uma boa proposta.

É, foi muito boa mesmo. O Senhor Wilton ficou de me ligar esses dias.

Espero que tudo dê certo. Estou torcendo por você.

Obrigada Flávia. – eu sorri.

Agora... Mudando um pouco o assunto. Sua amiga, a Catharina, falou comigo ontem.

*Silêncio*

Algo sobre fazer uma festa para Daniel. – continuou ela.

Eu não estava sabendo de nada. – me defendi.

Uma festa surpresa. A garota quer fazer uma FESTA SURPRESA para o SEU namorado.

*Silêncio*

Acho que, na minha sincera opinião, ela está passando dos limites Diana. Você era quem deveria elaborar qualquer coisa, seja uma festa surpresa ou não.

Eu vou falar com ela sobre isso. Talvez ela fosse me avisar depois.

Pobre garota ingênua. Desculpe te chamar assim, mas você é.

Ok, eu sei... Acho que dei espaço demais pra ela.

Você acha?

Tudo bem, não vamos discutir sobre isso. Nos vemos amanhã na escola. Beijos.

Ok sua linda. Beijos.

Desliguei o telefone e esperei. Esperei a consciência bater. Flávia tinha muita razão naquilo que falava. Catharina estava voltando às origens, e eu não queria usar a força bruta com ela. Ainda achava a ideia da festa surpresa algo muito legal, mas não sendo ela a total representante disso.

Fui dormir pensando em tudo o que acontecera hoje. Desde a premiação até a proposta. Fiquei imaginando se, de repente, meu livro fosse realmente publicado. O que mudaria na minha vida? Talvez tudo, talvez nada.

Busquei o lençol na cama e me cobri da cabeça aos pés. Lucas entrou no quarto logo depois carregando uma caixa de salgadinhos.

– Não e não! São dez horas da noite, você já comeu. – repreendi. Ele deu de ombros e sentou-se em sua cama, cobrindo-se e ligando o computador. – Não me ouviu?

– Ouvi! Mas ainda estou com fome.

Me levantei em um salto e puxei os salgadinhos de sua mão.

– Isso é gorduroso! Vai te fazer mal. Lu, por favor, me diga que você não está entrando em depressão.

Ele riu.

– É CLARO QUE NÃO! – e puxou o pacote das minhas mãos. – relaxa, eu to bem.

Ignorei a atitude dele acreditando que de fato ele estava bem. Voltei para a cama, ajustei o despertador e dormi a noite inteira.

***

Desde a premiação no dia anterior, tenho sido cumprimentada na entrada e nos corredores da escola. É um pouco estranho. Não digo que me sinto “a popular” ou “descolada” da escola, pois isso passa bem longe do que eu realmente sou. Mas tenho recebido bom dia até mesmo de quem costumava me ignorar na sala de aula.

– Voltando as notas da prova, devo dizer que me impressionei com um aluno em especial nessa sala. – dizia a professora Clarissa de matemática enquanto seus olhos passavam pela lista de aprovados e reprovados na prova.

Todos cochichavam baixinho acreditando que a maior nota em nosso “provão” havia sido de Luana, nossa representante.

– A senhora pode falar de quem foi a maior nota? – perguntou Catharina.

– Claro! Estou só revisando os nomes para ter certeza de que é essa pessoa. – respondeu ela. Alguns minutos depois, ela fechou a lista com a certeza do que iria falar. – A maior pontuação da prova foi 9,5. A prova valia 10, vocês sabem.

Os olhares surgiram. Várias pessoas fazendo suas apostas a respeito do felizardo. Virei minha cabeça para o lado e vi Daniel sorrindo, despreocupado a respeito de qualquer coisa. Então a professora mencionou o nome da melhor nota da última prova do ano.

– Daniel. Parabéns! – exclamou ela com um sorriso que jamais dera para nenhum outro aluno.

A turma inteira encarou o garoto de rosto pálido, cabelos pretos e aspecto misterioso que ergueu os olhos a notícia. Murilo batia em seus ombros, dizendo “parabéns cara”, todo mundo sussurrava “nossa, eu pensava que ele era burro”. Mas eu sabia que ele não era burro, ou idiota, ou estúpido. Qualquer coisa abaixo de incrível não fazia jus a ele.

– É, todos os professores ficaram realmente impressionados com seu empenho Daniel, inclusive eu. Estou orgulhosa. – continuou a professora.

Daniel permanecia calado, não conseguia encarar ninguém. E ficou desse jeito até o fim da aula.

– Parabéns Dani! – exclamaram Maurício e Flávia em um abraço em conjunto com Daniel.

– Valeu gente.

– Poxa, 9,5. Uma boa nota. – disse Lucas.

– Quanto você tirou maninho? – perguntei.

– 8,5. – respondeu Lucas segurando seu gabarito. – E você?

–9,0. – respondi sorridente. – Quase alcanço Daniel.

Catharina vinha em nossa direção com um largo sorriso. Chegou sem muito alarde, mas logo caiu nos braços de Daniel para um abraço um tanto... Incômodo pra mim. Ela sussurrava algo pra ele. Eu esperava que fosse um “parabéns pela nota”, ou qualquer coisa do tipo. Porém, pelo fato de ela estar murmurando no ouvido dele e por ela ser quem é, uma vadia de verdade, tive certeza de que estava falando outra coisa.

Meu olhar pra ela foi o mais controlado possível que já pude dar a alguém que odeio. Juro que eu tentei ser a melhor pessoa que consegui ser.

– Diana! – exclamou ela. – Preciso falar com você. – Catharina puxou a minha mão e me levou até a saída da escola. Eu virei a cabeça rapidamente para trás e Flávia batia os pés com raiva e logo depois saiu dali.

– O que houve? – perguntei.

– Sabe que o aniversário do Daniel é daqui a alguns dias, certo?

– Sim, eu sei.

– Por acaso, o aniversário dele cai em uma segunda-feira. – continuou ela.

– E daí?

– Eu estava pensando em fazermos uma... – ela abaixou o tom, olhou para os lados e murmurou pra mim como murmurou para Daniel. – Festa surpresa.

Pois bem, ela lembrou que eu sou a namorada do Daniel e que eu deveria fazer a festa. Ou pelo menos ajudar.

– É uma ótima ideia. – disse.

– Pode ser na minha casa. Eu tenho uma área bem grande, e tenho piscina também. E meus pais vão viajar daqui a dois dias e eu tenho permissão para ficar com a casa e fazer a festa.

– Já estava planejando isso há algum tempo? E nem mesmo me consultou?

Ela ficou em silêncio, mas depois respondeu:

– Eu tinha vergonha de falar com você.

Revirei os olhos e continuei:

– Tudo bem. Eu passo na sua casa hoje à noite e conversamos sobre isso.

Saí da conversa sem despedidas formais. Segui até o portão e chamei Lucas e Daniel. Os dois contaram que Maurício e Flávia estavam “atrasados”, mas eu sabia que Flávia tinha se chateado e que Maurício (por ser quase o seu namorado) fora atrás dela.

– O que Cathy queria com você? – questionou Daniel.

– Coisa de garota, você não vai querer saber. – respondi.

– Mas eu vou. – intrometeu-se Lucas.

– Você vai é pra casa comigo agora. Ainda estou preocupada com o senhor e os seus salgadinhos da madrugada. – disse.

Lucas revirou os olhos e seguiu sozinho para o ponto de ônibus. Daniel apenas riu.

– Então. Vou poder ver você hoje à tarde? – perguntou ele.

– Não, eu tenho a aula de reforço hoje... Rafael prometeu me ajudar com química também. – disse.

– A tá. Fui trocado novamente...

– Você não foi trocado seu bobo. Mas eu realmente preciso de uma boa nota.

– Eu sei. Te entendo. – afirmou ele. – então, pelo menos um beijo.

– Vários e vários beijos se você quiser. – disse.

Ele me puxou pra perto e antes que tivéssemos uma daquelas cenas clichês de beijos demorados e apaixonados, Lucas gritou:

– DIANA, NOSSO ÔNIBUS!

Dei um rápido “selinho” em Daniel e corri gritando “até logo”.

***

Lucas e eu ríamos da cena de minutos atrás.

– Aquilo foi típico de Diana Lins. – dizia ele.

– Se perdêssemos esse ônibus, chegaríamos tarde em casa. – me defendi.

– Pobre Daniel.

Descemos do ônibus e começamos a caminhar em direção a nossa casa. Enquanto conversamos pela calçada, vimos um carro vermelho se aproximar lentamente de nós. Lucas me alertou e disse que seria melhor acelerarmos os passos.

– Tem certeza de que está nos seguindo? – perguntei.

– Absoluta.

Continuamos até que o carro buzinou fazendo um barulho de alerta a nós. Eu parei e o motorista parou ao meu lado. Desceu o vidro da janela do carro. Era uma mulher. Ela usava um óculos escuro que não permitia que olhássemos em seus olhos. Eu não a conhecia.

– Pare de nos seguir ou vou chamar a polícia! – exclamou Lucas.

– Calma aí, pequeno polegar. Minha conversa é com essa mocinha. – ela apontou em minha direção. – Entre no carro.

– Mas nem a pau! – gritei puxando o braço de Lucas e acelerando.

Ela saiu do carro e nos seguiu a pé até nos alcançar. Puxou meu braço e disse:

– Sou a mãe do Daniel.

***

Dona Eduarda dirigia calmamente pelas ruas. Assim que entrei no carro me mandou colocar o cinto de segurança e fechar as janelas. Seu carro era muito grande e bonito. Logo, era caro e pertenceria a alguma dondoca. Alguém como ela.

– Não tenha medo. Não vou machucá-la. – disse ela.

– Como me conhece? – perguntei.

– Vi você e Daniel hoje, na frente da escola, em um daqueles típicos beijos de adolescente de seriado americano. – respondeu ela, segurando a marcha do carro e me olhando por aquele óculos de “abelhas gigantes”.

– Deduziu que eu fosse o que?

– Namorada dele... Ou ficante. Sei lá. Essa juventude de hoje...

– Primeira opção. – disse.

Ela me olhou novamente e agora retirou o óculos, colocando-o no porta-objeto do carro.

– Me surpreendo, de verdade, que ele tenha uma namorada. – continuou ela.

– Eu também.

É difícil fazer julgamentos precipitados. Na verdade, é difícil fazer qualquer tipo de julgamento. Mas ao reparamos nas roupas que ela usava, o carro que dirigia e a pose de “lady” que lhe fora entregue, ela tinha muito dinheiro.

Meu julgamento fora confirmado ao chegarmos em sua casa. Um daqueles condomínios residenciais onde há imensos portões de ferro e um grande estacionamento.

Eduarda mostrou os documentos para o porteiro que logo depois liberou o portão para entrarmos.

Olhei para meu celular na bolsa que tocava constantemente. Eram mensagens de Lucas perguntando se eu estava viva.

Estou bem. – respondi.

O que eu falo para a Daniela?

Diz que eu fiquei na escola por causa da ornamentação dos formandos.

Tudo bem então.

Ela destravou as portas do carro e saiu. Eu a acompanhei. Seguimos em silêncio até sua casa. O único barulho que eu ouvia era o de seu salto alto batendo no chão.

Eduarda puxou as chaves da bolsa e abriu a porta de sua casa. Mandou-me entrar. Ainda desconfiada, olhei para ela de forma desesperadora.

– Eu não vou matar você. – disse ela.

– Pois é, eu espero.

Sua casa era imensa. Você percebe isso quando a sala dela é três vezes o seu quarto. Ela deixou a bolsa do sofá e chamou por alguém. Uma senhora tão elegante quanto ela, porém em trajes mais “trabalhistas”, surgiu.

– Pois não, senhora.

– Coloque um prato a mais para o almoço. Hoje eu tenho companhia. - disse Eduarda referindo-se a mim.

– Sim senhora. – ela sorriu.

Eu mal respirava. Pensava que, talvez, tivesse sido um erro vir pra cá. E se ela não fosse a Eduarda? E se fosse uma golpista ou uma maníaca, psicopata. Sei lá. Milhões de coisas passavam pela minha cabeça.

– Sente-se Diana. – pediu ela que, por acaso, acertou a pronuncia do meu nome.

Fiquei bem distante dela do sofá, como se temesse ser devorada a qualquer momento.

– Não seja medrosa. Legitimamente sou sua sogra.

– Isso não me acalma de nenhuma forma.

Ela riu.

– Gostou da minha casa? – perguntou ela.

– Grandiosamente elegante. – respondi. – Sabia que seu filho mora em uma casa que, medindo tudo, dá a sua sala? – perguntei ofensiva.

Eduarda desviou o seu olhar para o nada. Senti que havia sido cruel o suficiente para que aquele chá de consciência a fizesse chorar.

– Eu sinto muito. – disse ela entre soluços.

– Não deveria dizer isso a mim. A propósito, por qual motivo estou aqui? – questionei.

– Eu tentei falar com o Leandro, mas ele me impediu de conhecer Daniel. Eu o vi, mas sei que Daniel irá me negar também.

– A senhora está enganada. O sonho de Daniel é conhecê-la.

Ela se surpreendeu com a afirmação.

– Preciso que me ajude a vê-lo. Eu preciso muito conversar com ele. Abraçá-lo pela primeira vez depois de anos.

– por que foi embora?

– Eu precisava ir embora. Eu não queria aquela vida.

– Preferiu abrir mão do seu filho em troca de luxo? – indaguei furiosa.

– Diana, você não sabe nada dessa vida ainda.

– Eu sei sim! Sei que seu filho cresceu sabendo que a própria mãe o abandonou! Cresceu recebendo ofensas de um pai que olhava para ele e via a sua imagem. Cresceu sem acreditar em si mesmo! Seu filho quase se perde nesse mundo. Quase morre por conta de amizades erradas. Seu filho, se é que podemos chamá-lo de seu, só precisava de uma mãe que dissesse a ele que o amava.

Ela permaneceu calada, pensativa a respeito de tudo o que eu despejava nela sobre seu filho. O olhar de Eduarda entregava uma mulher arrependida demais para viver. Alguém que queria, desesperadamente, consertar os erros do passado. Sabemos que os erros já cometidos nunca são apagados. São como cicatrizes, ficam marcados em nós e nos lembram que um dia fizemos algo que nos machucou.

– Eduarda, eu não sei por que você voltou depois de tanto tempo. – continuei.

– Remissão. Eu errei demais. – ela levantou-se e tirou o casaco que usava. – Quando eu fui embora, deixei parte do meu coração com Daniel. Eu pensava nele noite e dia. Se ele estava bem, se ele sabia de mim, se ele gostava de estudar. Imaginava como seria o cabelo dele, a voz dele. – de repente ela começou a chorar novamente. – Eu queria ouvir a voz dele uma única vez...

As próprias palavras dele pareciam machucá-la.

– O que foi tão mais importante que fez você ir embora? – perguntei.

– A questão não é sobre algo mais importante ou não. Eu era jovem. Queria curtir a minha vida, viajar, ter uma casa enorme, não precisar ficar contando os centavos pra conseguir alguma coisa. – respondeu ela. – Eu jamais conseguiria isso se tivesse continuado com Leandro.

– Então você conheceu um cara rico e... Perdão pelo que eu vou falar agora, mas você deu um golpe nele?

Ela me encarou com o mesmo olhar de raiva que Daniel costumava me dar quando nos odiávamos.

– Não dei um golpe em ninguém.

A tensão tomou conta do lugar, até que a assistente doméstica dela avisou que o almoço estava pronto.

Na sala de jantar tinha uma mesa onde caberia a minha família inteira e sobraria espaço suficiente. Os empregados dela nos serviram um banquete “digno de rainhas”, e depois nos deixaram a sós.

Eu não toquei na comida. Apenas revirava as ervilhas e encarava a salada colorida do prato.

– Sua mãe não lhe ensinou que é feio brincar com a comida? – questionou ela enquanto limpava a boca em um lenço branco.

– Sim. Ensinou também que não devemos entrar no carro de estranhos. Ou falar com estranhos. – respondi. – eu preciso ir embora. – levantei-me da mesa e voltei para a sala. Eduarda me seguiu.

– Eu levo você.

– Não precisa. – puxei minha mochila do sofá e continuei andando.

– Deixa de ser teimosa.

Eu aceitei, primeiro porque eu não sabia onde estava, nem que bairro era aquele e que ônibus pegar para voltar pra casa. E segundo porque eu estava cansada.

– Desculpe por ter chamado a senhora de golpista. – disse a ela enquanto voltava pra casa.

– Tudo bem. A família do meu ex-marido me chamava assim também.

– Ex-marido? – perguntei.

– Rodolfo. Era o nome dele. Ele morreu há dois anos, quando morávamos na Suíça.

– Vocês não tiveram filhos?

– Não... Na verdade, eu perdi nosso filho do quinto mês de gestação.

– Sinto muito. – assenti.

– Está tudo bem. Quer que eu fale algo pra sua mãe a respeito do seu sumiço?

– Não, não precisa. – disse a ela.

Eduarda me deixou na esquina da rua de minha casa.

– Chegamos. – disse ela. – Obrigada pela conversa.

– De nada. – retirei o cinto e antes de sair, lembrei da festa de Daniel. – eu e uma amiga de Daniel estamos combinando em dar uma festa surpresa pra ele.

– Nossa, dia 12 é o aniversário dele. – ela sorriu. – Eu posso ajudar vocês no que quiserem.

– Me dê seu número e eu telefono pra você quando souber a data da festa e o local. Tenho certeza que Daniel vai gostar de ver você.

– Ok.

***

Segui pela rua e encontrei Edgar que me cumprimentou. Não nos víamos a tempo, desde o meu aniversário para ser mais específica. Ele me conta que anda trabalhando demais.

– E a escola? – pergunta ele.

– Finalmente as aulas estão chegando ao fim. – respondo.

– Boa sorte na reta final então. – ele sorri e segue em frente.

Procuro as chaves na bolsa e logo entro. Lucas está no sofá assistindo alguma série, como sempre faz. Ele salta e vem ao meu encontro.

– eu estava preocupado com você. – murmura ele.

– Eu disse que estava bem. Cadê a mamãe?

– Na cozinha, com o Rafael.

Eu havia esquecido completamente do “professor” e sua aula de reforço. Deixei a bolsa na sala e fui até a cozinha.

– Olá. – disse.

Rafael estava sentado na cadeira comendo enquanto minha mãe lavava as louças.

– Você está atrasada. – disse ele sorrindo, mostrando os dentes mais brancos do mundo. Modelo de comercial de pasta de dente.

– Eu sei. Problemas com a decoração dos formandos. – disse.

– A tá. – ele levantou-se e só então percebi que ele tinha problema em se levantar depressa por conta da cirurgia.

– Eu vou tomar banho primeiro, você pode esperar mais um pouquinho?

– Claro. – assentiu ele.

– Você almoçou filha? – perguntou minha mãe.

– Sim. – menti.

Fui em direção ao banheiro e tomei o banho mais rápido da minha vida.

***

Rafael explicava alguma coisa a respeito das interpretações das questões. Mesmo assim, minha cabeça estava em outro lugar.

– Você não me parece bem. Algum problema? – perguntou ele fechando o livro.

– Não, nenhum. – respondi.

– Qual é, não sou seu “melhor amigo”, mas estou tentando ser seu amigo.

– Você é um cara legal.

– Eu sei disso. – ele riu.

– Eu estou bem. Só é excesso de pensamento.

– Tem a ver com aquele camarada que não foi com a minha cara? – perguntou ele referindo-se a Daniel.

– Mais ou menos. – respondi. – Mas isso não tem importância agora. Eu quero saber mais sobre química. – puxei o livro e o abri novamente.

– Eu sou muito bom nessas matérias, as exatas. Não estou querendo ser convencido nem nada, mas sou.

Eu ri.

– Tudo bem, você merece prestígio. Engenharia... – fiz uma pausa, pois não sabia que tipo de engenharia Rafael fazia.

– Ambiental. Engenharia ambiental.

– Pois bem. Eu ainda nem decidi o que quero, mas engenharia passa longe.

– Você vai ser escritora, tenho certeza.

Nós sorrimos e voltamos aos estudos.

***

Rafael foi embora e eu me lembrei que deveria passar na casa de Catharina e combinar a festa de Daniel.

– vai sair de novo? – perguntou minha mãe.

– Preciso ir à casa da Catharina.

– A garota que você arrebentou a cara?

Eu revirei os olhos.

– É por uma boa causa.

– Vai Diana, vai!

Sai antes que ela mudasse de ideia e fui até a casa de Catharina.

***

Era difícil “esconder” a festa de Daniel, já que Catharina morava na mesma rua. Cheguei lá e a encontrei na porta, esperando por mim.

– Entra. – disse ela.

A mãe de Catharina estava na sala assistindo novela.

– Boa noite. – cumprimentei.

– Olá querida! – disse ela com o mesmo sorriso azedo de Catharina.

– Nós vamos subir pra conversar lá em cima mãe. – avisou Catharina.

– Tudo bem, podem ir.

O quarto de Catharina ficava no segundo andar. Eu a segui até lá.

– Olha, daqui da janela do quarto você pode ver a piscina. – disse ela.

Fui até a janela e observei seu quintal. A piscina não era pequena. Era o suficiente para fazer uma festa legal.

– Eu não conheço muito os amigos de Daniel. – disse a ela.

– Nossa! Então, eu fico com a lista de convidados. – ela sorriu satisfeita.

– Mas, não esqueça de convidar a Flávia, Maurício e Murilo.

Ela pareceu não gostar muito.

– Eu já tinha falado com sua amiga, a Flávia. Acho que ela não gostou do fato de eu ter dado a ideia da festa.

– Eu sei.

– Vou convidá-la, é claro. – ela foi até a mesa de estudos e puxou uma lista com o nome de várias pessoas que eu não conhecia. Depois, colocou o nome dos meus três amigos no final.

– Ah, não esqueça do meu irmão.

Ela me olhou de forma áspera.

– Tem certeza que Lucas vai querer vir?

– Com toda a certeza. – sorri.

Catharina voltou à lista e escreveu o nome de Lucas.

Decidimos as comidas e o estilo da festa.

– Que tal “festa a fantasia”? – sugeriu ela. Era uma ótima ideia.

– Pode ser.

– Como Daniel curte rock e música eletrônica, pedi pra um amigo meu, DJ, coordenar as músicas.

Eu estava impressionada. Catharina já havia planejado tudo. Eu era apenas um detalhe.

– Que dia vai ser a festa? – perguntei.

– Na próxima sexta.

Concordei com ela e agendei a data e hora no celular.

***

No dia seguinte:

– Então a festa é dia 09? – perguntou Flávia ao telefone.

– Isso. – respondi.

– Pelo menos é depois da prova. Estudando muito?

– Bastante. Daqui a pouco Rafael chega pra penúltima aula. E sábado, finalmente iremos concluir isso.

– Eu mal vejo a hora.

– Então, como andam as coisas com o Maurício?

– Ele é só um amigo...

– Preciso lembrar você da música, da química com que cantaram...

– Ah, vai se ferrar!

*Nós rimos*

– E você e Daniel, como estão?

– Estamos bem... Quase não nos vemos mais por causa das aulas de reforço e também por causa da festa.

– Já pensou em um presente?

– Não, mas eu vou comprar alguma coisa especial pra ele.

– Boa sorte com isso.

Combinamos de conversamos mais tarde por mensagem, então me despedi de Flávia e retornei a leitura de um novo livro enquanto Rafael não chegava. Fui até a sala e acompanhei Lucas e mamãe em sua maratona de “The top chef”.

– Vocês gostam mesmo disso. – comentei.

– Muito, agora cale a boca. – disse mamãe. Lucas riu.

A campainha tocou. Era Rafael. Outra rotina de exercícios e novas interpretações. Eu realmente esperava aprender alguma coisa nesses dias, e mesmo que não resolvesse nada na prova, a amizade do cara com o “rim defeituoso” valia a pena.

– Eu espero, de verdade, que você consiga passar. A minha mãe me mata se souber que você não conseguiu.

– A culpa não é sua. – disse.

– Ah, vi uma coisa ontem e lembrei de você. – disse Rafael abrindo a bolsa e puxando um livro de lá.

– Ok, livros. – eu ri.

– Esse aqui é do Paulo Coelho. Fala sobre sonhos. – disse ele.

O nome do livro era “O Alquimista”.

– Hum... Interessante. – comentei.

– Esse é o meu trecho favorito. Leia. – pediu ele me entregando o livro com a página aberta e o trecho marcado.

Sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra. E quando essas pessoas se encontram e seus olhos se cruzam, todo passado e todo futuro perde qualquer importância e só existe aquele momento.”

– É muito lindo. – disse sorrindo.

– Por isso, digo algo a você que costuma desacreditar em si mesma. Quando eu afirmo que você se tornará uma escritora famosa, isso não é da boca pra fora. Seja você quem for, quando quer com vontade alguma coisa, é porque este desejo nasceu na alma do Universo.É sua missão na Terra. – disse Rafael me olhando nos olhos.

– Me diga que isso é um trecho desse livro e eu vou ler.

– Sim, é um trecho sim. – afirmou ele.

– Olha, não garanto que ele vai voltar pra você...

Rafael riu.

– É um presente Diana. Vê se você começa a acreditar na sua “lenda pessoal”.

Ele levantou-se e pegou a bolsa. Me entregou outra lista de exercícios e saiu.

Ao final, li o livro todo no mesmo dia.


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