"O mundo lá fora é cruel. Qualquer sinal de alegria que ele encronta, ele destroi."

Acordou sentindo os raios de sol batendo contra a sua face. Sua cabeça latejava e doía. Ainda se lembara do dia anterior e nas palavras do loiro. Por mais que não se importasse com que ele pensava dela ou como agia, a forma com que ele falara com ela, havia a deixado arrasada. Aquela mesma frase martelava ainda em sua mente, a machucando.

Seu pulso ainda ardia, juntamente com sua barriga. Ela não se lembrava de quando havia parado, mas, tinha a certeza de que havia ficado um bom tempo trancada no banheiro, entrando mais um vez no seu mundo. Ela queria ajuda, queria alguém que a entendesse porém, não se conseguia imaginar fora desse vicio doentio. Se cortar era a única forma que ela tinha encontrado de parar de sentir a dor dentro de si e de por um momento, esquecer seus problemas.

Tomou coragem e se levantou. Deu os primeiros passos naquela manhã olhando sua aparência. Seus olhos estavam inchados e vermelhos. Era a prova de que ela havia chorado a noite toda. Levantou a manga tirando as faixas que tinha colocado para estancar o sangue. Tirou-as, fitando suas feridas. Sentiu vontade de chorar novamente, ao ver aquele deprimente cenário.

Até quando iria continuar?

Ela sentia que a cada dia estava se aprofundando mais em caminho perigoso, um caminho que talvez não tivesse mais volta.

Se ajeitou, penteando seus cabelos e molhando seu rosto. Tinha que dar um jeito na sua aparência, afinal, ninguém poderia vê-la desse jeito. Secou o rosto passando uma base em todo o comprimento de sua face. Sentiu-se satisfeita ao ver o resultado e se olhou pela última antes de tomar a coragem que precisava para sair de seu apartamento.

Ela não sentia vontade de comer. Somente queria distrair sua mente. Não poderia ficar na sua casa, sozinha pois sabia que poderia fazer alguma besteira.

Caminhou lentamente tentando não se desequilibrar. A cada passo sentia seu corpo fraquejar. Era como se estivesse carregando o mundo em suas costas.

Ela era tão forte e ao mesmo tempo frágil.

Tão independente e ao mesmo tempo tão necessitada de atenção.

Tão menina e ao mesmo tempo tão madura.

Tão rodeada de pessoas mas, ao mesmo tempo tão sozinha.

Tão alegre de dia e tão triste a noite.

Tão decidida e ao mesmo tempo tão confusa.

Parou numa pequena praça e se sentou em um dos bancos vagos. Ficara observando as crianças a sua volta brincarem, casais apaixonados trocando carícias, amigos conversando e se divertindo juntos, uma senhora idosa tricotando embaixo de uma árvore... Eram tantas pessoas presentes naquele local que se fosse contar cada uma, era capaz de perder o dia todo ali.

Sentiu ser observada mas ignorou essa possibilidade. Deslizou seus dedos encima da manga de sua camisa, como se estivesse acariciando seus cortes.

Eu nunca poderia me apaixonar por você Lucy.

A frase novamente se repetiu em sua mente, fazendo-a se sentir mal novamente. Abaixou a cabeça pronta para chorar, até sentir duas mãos pousando delicadamente sobre seus ombros. Olhou para cima assustada encontrando quem ela menos esperaria ver naquele momento.

Natsu a olhava curioso, como se estivesse tentando descobrir o que a loira estava pensando. Ele estava um pouco ofegante já que estava procurando ela a algum tempo. Tinha ido até o apartamento da mesma, porém não a achara. Fizera o caminho de volta, seguindo seu cheiro. Havia a encontrado a poucos minutos atrás mas, resolveu ficar observando a maga estelar por algum tempo antes de cumprimenta-la. Ela parecia tão concentrada em deslizar seus dedos encima do tecido de sua camisa que ele começara a encarar, na tentativa de descobrir o motivo da garota realizar tal ato.

Ele sorriu para ela, a fazendo ficar corada. Ainda não acreditava que ele estava bem diante de seus olhos, na sua frente.

E então por pequenos segundo, o tempo parecia ter parado. Seu coração começara a bater forte como sempre fazia.

– Estava te procurando. - disse alargando mais seu sorriso. Bagunçou seus cabelos rosados levemente enquanto olhava ao seu redor. - Está um belo dia. - comentou.

– Realmente... - disse tentando controlar sua voz para não sair falha. - Agora me responda, porque estava me procurando? - perguntou ficando mais vermelha.

– Estava pensando, porque a gente não dá um passeio hoje?

– U-um passeio? Mais e a Lisanna? E os... - foi interrompida pelo rosado, que colocara um dedo em sua boca, rindo logo em seguida para a expressão da garota. Era uma mistura de vergonha e irritação por ter sido interrompida.

– Não se preocupe. Ela deu uma saída com Happy, dizendo que queria aproveitar o dia com seu filho. - ele riu. - Estava entendiado - fez um biquinho, fazendo Lucy pensar em como ele ficava fofo deste jeito.

– Aah.. - foi tudo o que ela conseguira dizer. Apesar de estar feliz por ele querer sair com ela, a ideia dela ser sua segunda opção, seu segundo plano não a fazia se sentir completa. Poderia ser egoísta da parte dela, pensar algo assim mas ela não conseguia deixar de querer ser a primeira pessoa da qual, o rosado pudesse se lembrar.

– Vem, vamos! - estendeu a mão para a loira que ficou com um tanto de receio em aceitar de inicio, mas logo depois agarrando a mão do dragon slayer. A mão dele era quente e macia, ao contrário do que ela pensara. Se sentiu confortável segurando aquela mão oferecida pelo rosado, mas não teve a sensação que pensava que teria. Havia ficado decepcionada. Nos livros de romance que lia, sempre a garota apaixonada quando pegava na mão do amado, sentia uma corrente elétrica passando por todo o seu corpo. Mas, ela não se sentira assim.

– Para onde vamos? - perguntou confusa e envergonhada por suas mãos estarem dadas com as do rosado. Lucy sabia que para ele aquilo não tinha o mesmo significado que tinha para ela. Para ele... Ela era somente uma grande amiga. Alguém em que ele pudesse confiar.

O rosado a olhou pensando se deveria contar ou não a garota para onde iriam e então achara melhor guardar segredo.

– Você verá quando chegarmos. - sorriu, fazendo a garota bufar. Não era a resposta que ela esperava.

Andaram por longos minutos até chegarem a um local mais afastado de sua guilda. Lucy nunca tinha ido para aquele lugar e nem sabia que o mesmo existia. Havia árvores ao redor dos dois , fazendo o cenário parecer uma floresta. Entretanto, não eram qualquer árvores. Elas eram árvores mágicas.

– Agora, feche os olhos. - Lucy o olhou desconfiada o fazendo se sentir de alguma forma, estranho.

Ela não confiava nele?- ele se perguntava.

– Confia em mim? - perguntou receoso torcendo para a resposta da loira ser sim. Ficara feliz ao vê-la balançar a cabeça positivamente e então começar a fechar os belos castanhos. Ele encheu suas mãos com suas chamas, queimando algumas árvores que estavam ao seu redor. – Pronto, agora pode abrir. - disse fazendo a garota o obedecer. Os olhos delas começaram a lacrimejar e pela primeira vez como a muito tempo não fazia, ela sorriu pela primeira vez de forma verdadeira.

A medida que as chamas iam queimando as folhas das árvores, estas, se transformavam em borboletas lilás e brancas. Elas iam traçando um caminho no céu, voando livremente umas juntas das outras. Ela não podia acreditar na cena que estava vendo. Era a coisa mais bela que já tinha visto em toda a sua vida.

– Natsu... Isso é muito lindo. - comentou derramando algumas lágrimas enquanto sorria. Ele o olhou assustado vendo as gotículas de água que saíam dos olhos da loira cair no chão.

– Luce, está chorando? Olha se você não gostou, eu... - ela o interrompeu.

– Não, eu adorei. Eu estou chorando sim, mas é de felicidade. Eu nunca tinha visto nada parecido. Isso é realmente incrível. - exclamou feliz.

– Sua estranha... - comentou rindo. Ele já esperava ouvir a garota o retrucar e bater nele como sempre fazia quando ele a chamava deste jeito. Porém se surpreendeu ao sentir a maga estelar se jogar em seus braços, lhe dando um abraço.

Ela não sabia porque havia feito aquilo, mas sentia uma enorme vontade de faze-lo. Estava feliz como há longos meses não estava. Não podia acreditar que estava sorrindo para quele que há muito tempo, mesmo sem querer a fazia chorar.

Natsu retribui o abraço ainda surpreso, mas sorriu. Ficaram assim por alguns segundos até a garota tirar seus braços ao redor de si, mas continuar próxima há ele. O rosado fitou aqueles castanhos que agora estavam a poucos centímetros de si. O coração de Lucy começou a bater descontrolado, pedindo para ela demonstrar seus sentimentos para ele. Era a oportunidade perfeita. Estavam sozinhos e ninguém iria os atrapalhar. Entretanto sua mente dizia ao contrário, a alertava a se afastar afinal, ele não gostava dela e sim da albina. Faze-lo trair ela seria cruel de sua parte. Ele nunca iria a perdoar se fizesse Lisanna se separar dele.

Era difícil lutar contra seu próprio coração, que neste momento estava fazendo de tudo para ganhar de sua mente. O rosado continuava no mesmo local. Seu corpo não se mexia e ele não conseguia pensar em nada agora. Parou de olhar para os belos castanhos da garota, fitando seus lábios. Pareciam tão... Macios e deliciosos para ele. Parecia o estar convidando para experimenta-los. Agora, neste exato momento ele não pensava mais na albina, nem no tempo, nem em nada.

Se aproximou mais da garota, enquanto levava seus lábios até os dela. Era inevitável. Era como se algo o estivesse controlando. E mesmo sabendo que as consequências do que estava prestes a fazer, seria alta, ele não estava se importando. Na verdade, estava adorando o momento.

Quando seus lábios estavam quase se tocando com a da garota, ela o empurrou. Lucy que agora travava um batalha dentro de si, parecia ter despertado quando viu o que o rosado estava para fazer. Não é como se não quisesse beija-lo, mas ela sabia que ele não gostava dela de verdade e só estava sendo levado pela situação. O encarou surpresa, deixando sua expressão de pouco tempo atrás. Agora estava mais uma vez magoada, mas desta vez consigo mesma.

O garoto tombou para trás finalmente percebendo na atitude que tivera. A olhou envergonhado e sentindo horrível por ter feito a maga estelar passar por aquela situação. Ela deveria estar pensando em como ele era idiota, cafajeste e várias outras coisas ruins.

– Luce, eu não... Me desculpe. - pediu enquanto se aproximava dela novamente na tentativa de abraçar a loira. Ela se afastou juntando todas as suas forças e colocando sua máscara novamente. Sorriu falsamente enquanto fingia não se importar.

– Tudo bem, afinal não aconteceu nada não é mesmo? E não se preocupe, eu não contarei nada a ninguém. Agora, eu preciso ir... Esqueci que tinha algo a fazer. - riu nervosamente.

– Espera! - o garoto gritou quando a garota começara a correr. Ela se distanciava cada vez, tentando fujir dali o quanto antes. Não sabia para onde ia, nem que caminho seguia, só queria ficar longe do rosado. Longe o suficiente para não se enganar, para não criar falsas esperanças outra vez.

Sting estava a frente do apartamento da loira, criando forças para entrar. Tinha falado com Rogue na noite passada, quando chegara no hotel. Havia decidido que iria deixar o orgulho de lado e pela primeira vez, iria pedir desculpas a alguém. Mas Lucy não era qualquer pessoa e ele sabia disso. De alguma forma, ela era importante para ele. Ela era especial.

Entrou pela janela, sentindo o doce aroma que tanto gostava. Procurou por tanto canto, se dando conta de que a garota não se encontrava ali. Foi até o banheiro novamente, pensando no dia anterior. Ele havia acreditado no que a loira disse mas, algo não parecia certo. Algo dentro de si lhe dizia de que havia alguma coisa errada. Alguma coisa muito errada. Algo extremamente importante que ele precisava descobrir. Aproveitando que a loira que não estava ali, pegou o tapete pensando em pegar a chave novamente para abrir a gaveta, mas, se surpreendeu ao ver nada debaixo do mesmo. Ela tinha... Guardado a chave em outro lugar? Porque motivos?

Revirou todo o banheiro na tentativa de não o bagunçar muito. Suspirou vendo que não iria encontrar a chave. Ela era esperta e havia escondido em um local em que ele não ria achar. Bufou enquanto se virara para sair do banheiro mas acabara chutando sem querer a lata de lixo. Por pouco a mesma não caí, se não fosse pela sua agilidade, concerteza o banheiro estaria todo sujo com papel higiênico espalhado por todo o chão. Ajeitou a lixeira vendo que um pequeno papel tinha caído no azulejo. Pegou-o, abrindo a lata e jogando-o dentro, mas algo dentro da lixeira o fez ficar surpreso e curioso.

Havia uma faixa branca com algumas partes vermelhas nela e parecia ser... sangue. Se aproximou, inalando o cheiro daquele líquido vermelho se surpreendendo mais ainda ao ver que o aroma daquela faixa era o mesmo em que estava naqueles objetos pontiagudos. Sua mente mais uma vez começara a martelar em sua cabeça, o fazendo ter a certeza de que havia algo errado.

Andou de um lado para o outro do cômodo pensando em tudo o que aquilo poderia significar. Lucy tinha objetos cortantes e perigosos sujos de sangue dentro de sua gaveta, e quando ele perguntara o que era aquilo, tinha dito ser da antiga dona, mas, então agora achara faixas sujas de sangue e este, possuía o mesmo aroma da lâmina, da faca, do estilete e de tudo o que tinha dentro daquela gaveta.

Isso só podia significar que... As suas suspeitas do dia anterior estavam certas. O que ele havia pensando quando tinha visto aquele cenário no banheiro de Lucy era verdade. Ela realmente, se cortava.

Ele tinha que fazer alguma coisa e iria, mas não poderia contar garota que sabia de seu segredo ou que estava desconfiado. Ele teria que descobrir sozinho o motivo dela fazer isto e então ganhar a confiança dela para poder ajuda-la.

Ele tinha a certeza de que a maga estelar precisava de alguém que a entendesse, que lhe ajudasse e que a fizesse superar seus problemas, seja lá qual fosse. E ele seria esse alguém. Ele seria tudo o que ela precisasse que ele fosse.

Olhou pela última vez o apartamento da garota, antes de saltar da janela indo ao encontro ao chão. Seus pés tocaram o calçado da rua e então começara a andar para o mesmo caminho que havia vindo. Deu alguns passos até ver uma cabeleira dourada correr em sua direção. Ela estava chorando e quando o viu, pulou em seus braços. Ele se surpreendeu mais correspondera.

Lucy estava correndo já derramando as lágrimas que tanto tentou controlar. Corria em direção a praça perto de sua casa, queria ficar sozinha em qualquer canto, menos na sua casa. Estava quase chegando ao seu destino quando viu Sting de longe a encarando enquanto andava a pequenos passos. Ela não sabia porque, mas ao vê-lo, sentiu uma enorme vontade de se jogar em seus braços e assim fez. Afundou a cabeça no peitoral do loiro e este a envolveu, enlaçando um de seus braços musculosos em sua cintura fina enquanto levava o outro até a sua cabeça, fazendo carinho.

Ela se sentiu segura naquele abraço, sentia como se aquele dragão a fosse proteger de qualquer coisa. Mesmo tando magoada com ele, ela não conseguiu evitar. Algo dentro de si, pedia para que ela ficasse ao lado dele.

"Esse rosto não significa nada, essas mãos não sentem mais nada. Esses pulmões estão vazios e esses olhos sempre foram cegos…"