“É complicado quando aquilo que te faz forte ao mesmo tempo te enfraquece”

Corria o mais rápido que podia. Não sabia porque havia saído daquele jeito, mas a aproximação a qual se encontrava com o loiro a estava incomodando. Ele estava fazendo-a se sentir corada e fazer seu coração bater mais forte que o normal. Ela queria poder entender porque motivo reagiu assim ao vê-lo tão próximo de si.

Ela não podia negar o quanto ele estava bonito. Na verdade ele sempre foi. Porém, ela nunca havia reparado nele adequadamente. Estava ocupada demais reparando em um certo rosado que ela tanto amava.

Queria saber porque o grande Sting Eucliffe estava nas redondezas, próximo de sua guilda e do motivo dele ter ficado a encarando profundamente. Pela primeira vez, ela sentiu como se alguém pudesse ver através de seu olhar, de seus gestos, e de seus sorrisos. Até agora as pessoas a sua volta pareciam a ouvir mas não a escutavam. Ninguém parecia escutar seus gritos, seus choros, suas lágrimas e seus pedidos de socorro e ajuda. A cada dia que passava a sua dor só aumentava, assim como os cortes e as profundidades.

No momento que seus olhos se cruzaram, ele viu dentro daqueles castanhos um profundo vazio. E quando ela abrira um sorriso para ele naquela hora, ele pode perceber que havia algo errado. Lucy estava se escondendo atrás de uma máscara. Uma daquelas que enganam todos, fingindo estar bem e por isso abre um falso sorriso na tentativa de fazer todos acreditar que ela está realmente feliz. Mais ele sabia que algo estava acontecendo e havia prometido a si mesmo que iria descobrir.

Ainda olhava para a direção que a garota sumira a pouco tempo. A imagem de seus cabelos dourados que caíam a pouco abaixo dos ombros, sua pele alva e clara, seu corpo belo, sua cintura fina, seus olhos castanhos claros, e seu rosto delicado ainda ecoava pela sua mente assim como em seu coração, se repetindo várias e várias vezes. Era como se estivesse tentando gravar todos os detalhes da figura da garota, embora não soubesse o motivo por trás disto. Ele apenas queria ter certeza de que, não iria se esquecer de nada.

Não é como se não fosse vê-la novamente, até porque ele não iria sair dali tão cedo. Havia combinado com Rogue que os dois juntos assim como os seus exceeds iriam procurar um novo lugar para ficar. Uma nova guilda para recomeçar.

Fairy Tail.

A imagem da guilda aparecera na sua mente e então pensou na possibilidade de entrar na mesma. Não era uma de suas melhores ideias já que sua antiga guilda, Sabertooth era sua rival. E também, as pessoas não o iriam os aceitar de primeira, pois ainda podiam se lembrar do acontecido nos jogos. Rogue concerteza acharia que ele estava ficando louco, mas sabia que se tomasse tal decisão, ele não o iria contrariar.

Sting... - ouviu uma voz conhecida ecoando pela sua cabeça. Era suave, fina e saíra como um sussurro, pronunciada da mesma forma que ele havia pronunciado o nome dela. Lucy novamente entrara na sua mente, trazendo-o lembranças de momentos atrás. Seu cheiro ainda estava pelo ar, deixando uma trilha e marcando o lugar que ela havia passado. Respirou fundo inalando todo aquele doce aroma para si, enquanto se virava, dando longos passos. Tinha que encontrar Rogue para lhe dizer a decisão que havia tomado. Não havia dúvidas. Ele, Sting entraria para Fairy Tail. Iria descobrir o que se passava com a loira e o porque dela estar tão diferente, nem que fosse a ultima coisa que fizesse.

Adentrou sua querida guilda, passando pelas enormes portas de entrada. Podia ver a figura de Natsu a encarando com um enorme sorriso. O mesmo veio correndo em sua direção, lhe dando um forte abraço. Sentiu todo o calor que o corpo do mesmo exalava e sua cintura fina sendo contornada pelos braços fortes do rosado.

– Porque demorou tanto Luce? - perguntou ao se separar da loira, enquanto fazia um biquinho e cruzava os braços na frente do peito. A figura de Sting apareceu na sua mente, a fazendo a lembrar o motivo de ter se atrasado. Corou ao pensar na aproximação que ficara com o loiro. Natsu a observou atentamente, tentando entender o motivo de suas bochechas terem ficado tão rosadas.

– E-eu só me empolguei com o banho e acabei me atrasando. Foi a-apenas isso. - comentou dando a primeira desculpa que passou pela sua cabeça. Tentou não gaguejar mais acabou sendo impossível. Estava nervosa demais, coisa que não passou despercebida pelo dragon slayer. Ele se aproximou mais, a cheirando-o. O coração de Lucy começara a bater mais forte. O rosado estava a poucos centímetros de seu rosto. Estava muito próximo, igual como mais cedo, quando o mesmo se encontrava encima de si, na sua sua cama.

– Que cheiro estranho é esse Luce? - perguntou, a olhando desconfiado. Ela então se lembrou que ele tinha um olfato apurado e se desesperou por um momento. E se ele descobrisse que ela esteve com Sting? Ele não podia saber do acontecido no parque. Não poderia descobrir que Sting estava próxima da sua guilda e nem que ele esteve ao lado dela.

– E-eu não sei. Deve ser do perfume novo que comprei. - mentiu.

– E porque está tão nervosa? - pergunto arqueando uma de suas sobrancelhas. Antes que a garota pudesse responder, uma voz o chamou livrando Lucy da situação constrangedora que a mesma estava.

– Natsu... Pare de a interrogar e venha me ajudar a escolher um trabalho. - Lisanna falou enquanto lançava um olhar de cúmplice a loira. Esta lhe deu um pequeno sorriso de lado, murmurando um "obrigada". A albina pisco para a mesma, apesar de não saber do que se tratava, ela pode perceber pelo olhar de Lucy que a mesma estava nervosa e envergonhada diante das perguntas feitas pelo rosado.

O dragon slayer olhou pela última vez a loira antes de sair ao encontro da albina. Lucy soltou um suspiro, como forma de alívio. Caminhou até o balcão onde estava Mira, servindo bebidas para algumas pessoas que se encontravam ali.

– Lucy, há quanto tempo! - disse ela, vindo abraçar a amiga.

– É verdade, faz alguns dias que não veio a guilda. - comentou, se sentando em um dos bancos.

– Esta tudo bem? - perguntou a albina, vendo que a garota a sua frente parecia estar mais pálida do que da ultima vez que a viu. Lucy a olhou como se a estivesse a analisando. "Não..." Era o que a mesma pensava em responder. Queria ter coragem o suficiente para contar tudo o que vinha acontecendo com ela nesses meses. Seus cortes, seu amor pelo seu melhor amigo que agora namorava a albina a mais nova, seu encontro com o Sting e todos os sentimentos que dominavam o seu coração neste exato momento. Pensou em criar forças para dizer a verdade e tirar todos os problemas que se passavam pela sua cabeça e desenrolar todos os nós que estavam presos em sua garganta. Mas, o medo tomou conta de si novamente. O que pensaria se lhe dissesse tudo? Concerteza a acharia uma doida, uma pessoa doentia que precisava de tratamentos médicos urgentes. Talvez, realmente ela precisasse de ajuda, mais não queria admitir isso. Ela ainda tinha esperanças de que, um dia tudo isto iria passar. E então, pararia de se cortar, suas cicatrizes sumiriam, as feridas se cicatrizariam e a dor no seu peito se amenizaria.

– Sim... - mentiu, outra vez. Em sua mente a palavra "não" ecoava repetidamente. "Preciso... de ajuda." disse para si mesma em pensamento. Queria que alguém pudesse ler sua mente, ou pelo menos tentar adivinhar as pistas que ela dava sem querer que não estava nada bem. A albina lhe olhou desconfiada, mais nada falou. Abriu um sorriso enquanto colocava uma de suas mãos sobre a da garota. Lucy a olhou surpresa, enquanto sentia a mão quente de Mira sobre a sua.

– Fico feliz. Mas, se algo estiver a incomodando ou a fazendo sofrer, me diga. Eu farei de tudo para te ajudar. Não só eu, como todos nós Lucy, seus amigos. - a albina acariciou a mão pálida da loira. Esta, começou a se segurar para não chorar. Ela podia sentir, seus olhos estavam começando a lacrimejar. Ela não poderia chorar, pois Mira iria desconfiar. Piscou algumas vezes, enquanto a albina se afastava indo atender um rapaz que a chamara para servir alguma bebida.

– Obrigada... - disse vendo a jovem se virar, sorrindo. Fico a observando preparando um coquetel de morangos, até ouvir a voz de seu amado rindo. Suas gargalhadas eram altas e ele parecia estar bastante feliz. Virou-se, olhando para os casais que estavam em uma das mesas da guilda, mais afastados. Eles estavam segurando um papel, enquanto se encaravam, sorrindo. Lisanna estava com as mãos entrelaçadas com as de Natsu. O mesmo parou de rir por um momento para dar um selinho na sua amada. O coração de Lucy se apertou ao ver a cena e começara a pensar como seria, se fosse ela naquela mesma situação, ao lado dele.

Egoísta.

Uma voz lhe dizia. Ela sabia que era verdade. Porque não podia ficar feliz pelo rosado? Ele parecia tão contente ao lado da albina... E eles ficavam tão bonitos juntos...

Ela tentava abrir um sorriso verdadeiro, desejar felicidades para os dois e tentar esquece-lo. Ela sabia que ele merecia ser feliz e ter alguém para chamar de amor, mesmo que esse alguém não fosse ela. Mais a verdade é que... Era doloroso demais vê-lo abraçado, beijando e tendo momentos tão lindos, dos quais ela sempre imaginou, ao lado de outra.

Uma lágrima desceu dos seus olhos. Limpo-as rapidamente, antes que alguém visse. Se levantou rapidamente, indo até a entrada da guilda. Estava rezando para que ninguém percebesse que estava saindo. Não queria dar explicações. O que ela mais desejava neste momento era chegar em casa, ficar sozinha e entrar no seu mundo novamente. Ela sentia uma enorme vontade de se cortar. Queria sentir aquela mesma lâmina novamente, rasgando sua pele. Queria ver o sangue escorrer pelo seu corpo, deixando uma gota no chão juntamente com suas lágrimas.

– Lucy, sua estranha. - o gato azul apareceu na sua frente, a fazendo parar de andar. Ele o olhou preocupado ao ver que a garota estava com um olhar triste.

– Oi... Happy... - disse calmamente. - Olha, eu prometo que dá próxima vez que vier a guilda, lhe trago o peixe que estou lhe devendo. - sorriu falsamente como sempre fazia, sentindo mais um nó se formar em sua garganta. Sentiu-se como se algo estivesse preso dentro de si.

Ela odiava ter que fingir que está tudo bem.

O gato a olhou, analisando-a. Ele estava preocupado ao pensar que a loira poderia estar triste, mas ao ver seu sorriso ele pensou estar enganado. E mais uma vez, a garota conseguiu esconder seus verdadeiros sentimentos.

Ninguém era capaz de perceber seus gritos de socorro. Ninguém.

Saiu da guilda, indo direto para sua casa. O céu estava ficando escuro, o que marcava ser o inicio da noite. Uma longa e solitária noite. Observou as pequenas estrelas que já se encontravam acima de si.

– Porque, elas não voltam a brilhar como antes? - perguntou para si mesma. Fazia um bom tempo, que para ela aqueles pontinhos no céu não brilhavam mais. Talvez, para as outras pessoas elas poderiam parecer as mesmas. Porém, para Lucy elas estavam vazias, sem cor, sem vida assim como ela. Seu coração estava incompleto, despedaçado. Ela não sabia se um dia iria recuperar a pequena mas importante parte que faltava. A pior parte para ela não era ficar mal. O pior era ter que fingir que estava tudo bem e ninguém perceber a dor por trás daquele sorriso falso. Ela queria saber até quando iria aguentar. A dor a cada dia só aumentava e ela estava ficando desesperada.

Parou de andar, fechando os olhos brevemente, enquanto juntava suas mãos, as levando até o peito.

– Por favor... Eu sei que nunca fui uma garota perfeita e que nunca acreditei em ti verdadeiramente. Mas é que, é meio difícil acreditar em algo que a gente nunca viu certo? - suspirou. - Entretanto, se o senhor realmente existir e estiver me ouvindo neste exato momento, eu queria que atendesse meu pedido. Eu não lhe peço dinheiro, nem um príncipe encantado. Eu só quero... Ajuda. Eu só quero alguém que me intenda e que, me faça tirar esse vazio dentro de mim. Então... Por favor... - abriu os olhos, sentindo as lágrimas caírem. Ela não sabia porque tinha feito aquilo, mas, precisava pedir ajuda a alguém e então se lembrara de sua mãe contando histórias de um ser que vivia entre as estrelas, no céu, sobre as pessoas. Ele era capaz de fazer milagres, de curar vidas e de fazer as pessoas más, virarem boas.

Continuou seu caminho até chegar a sua casa, que se estava totalmente escura. Havia se esquecido de deixar a luz acessa, mais também, não sabia que ia acabar chegando tarde.

Entrou, fechando a porta atrás de si. Andou lentamente até seu quarto e deixou a luz da lua iluminar o pequeno cômodo. Rastros de lágrimas eram deixados em cada lugar que ela andava.

Solidão, medo, dor, mágoa, tristeza: era o que estava sentindo.

Pegou as chaves debaixo do pequeno tapete, abrindo sua gaveta e pegando sua perdição. Pensara em tudo o que havia acontecido hoje. Desde que acordara e encontrou o rosado sobre si até a cena dele feliz ao lado de Lisanna. Levantou as mangas de sua blusa, vendo as feridas recentes e as cicatrizes das mais antigas.

Realmente, iria se cortar novamente?

Ela já sabia a resposta para a pergunta. Mordeu levemente o lábio ao sentir sua lâmina passar encima dos ferimentos recentes. A dor logo a preenchia. A dor emocional que virara física.

Até quando iria continuar nesse vicio?

Ela não sabia.

Um sorriso na cara, uma tristeza na alma. Era assim que ela vivia. É ninguém se importava.