Todo O Mal Que Há escrita por Camila J Pereira


Capítulo 5
Capítulo 5




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O mal-estar pós-sonho não era novidade para ela, mas inexplicavelmente daquela vez algo mais a incomodava. A vertigem que a acometera não parecia ceder nos próximos minutos. E estava curiosa com o fato de ter tido este sonho tão real. Ainda podia ver todos os detalhes dos rostos de Caius e Carlisle quando fechava os olhos. Bella tinha os cabelos úmidos e a garganta seca. Seus olhos começavam a se acostumar com a luz pálida do amanhecer e enxergava as poucas formas em seu quarto. Quem a trouxera para lá? Aquilo não fazia parte do sonho, fazia? O que tinha acontecido na sala, os objetos suspensos, a energia que fluía dela para o ambiente. Nunca tinha sentido algo parecido. Ou já?
Não, aquilo não teria sido sonho nem ilusão. Aconteceu. Bella agora recordava dos momentos iniciais com Renée. A chama que ela criou em sua palma, a força que sentiu em seu corpo obrigando-a a sentar para que a escutasse, além dos feitiços de proteção que usou em seu apartamento. Ela sabia que se começasse a conceber o fato de que fez aquilo na sala, a sua mãe também estava falando a verdade todo o tempo. Aquilo ficaria complicado.
– Deus... Murmurou como uma oração.
Seria possível que estivesse enganada todos esses anos? Sua mãe não sofria transtornos psicológicos? Ou será que era ela agora que estava louca? Não, não se sentia assim. Então, a partir do que sabia agora o que faria?
– O que devo fazer? Perguntou para si mesma.
A única certeza que tinha era que gostaria de acordar e ver que a vida não era tão complicada. Pensou novamente no sonho que teve a alguns momentos. Ele tinha revelado para ela Caius e o seu filho Carlisle, que aparentemente estava do lado deles.
– Estou concebendo lados agora. Sim, ela estava levando a história a sério.
Seus sonhos não pareciam tão reais como o deste dia. Era como se seus olhos mentais ou o que quer que seja, estivessem sido abertos e podia sentir e ver coisas com mais clareza ou outra perspectiva. Estava sentindo algo diferente dentro de si, aquilo não deveria ser nada bom. Só que tinha alcançado um estágio em que não poderia mais fechar os olhos.
Bella ergueu-se sem dar importância a vertigem que o movimento precipitado intensificou. Dirigiu-se até a cozinha e serviu-se de um copo dágua gelado. Certo calor ainda permanecia dentro de si, próximo a sua caixa torácica. Não tinha notado antes, mas tremia um pouco. Sabia que tinha chegado a um divisor de águas naquele momento. Antes tinha dito a Renée que iria com ela, mas essa sua decisão foi apenas para provar para a mãe que ela estava equivocada. No entanto, naquele momento os seus pensamentos estavam diferentes. Ela tinha que ir, tinha que resolver isso por ela agora. Ela precisava saber o que estava acontecendo consigo mesma.
Antes que tivesse amanhecido completamente Bella estava pronta. Deixou mensagem na secretária eletrônica do seu pai, dizendo que ainda estava tudo bem e que aproveitaria o final do ano letivo para fazer uma viagem com a mãe. Ela acordou a mãe que dormia na cama da amiga Elena.
– Filha, você está bem? Renée ainda sonolenta perguntou.
– Sim, preciso que me escute. Bella pediu vendo que sua mãe ainda acordava, queria sua total atenção. Sua mãe empertigou-se e atenta ouviu a filha. Lembra-se do que combinamos antes? Ela não esperou que Renée confirmasse, continuou falando. Agora pela manhã irei à escola. Depois quando tudo estiver resolvido comprarei as nossas passagens, por isso quero que me diga para qual aeroporto e se devo resolver a questão de nossas bagagens extras que estão lá embaixo ou se eles mesmos se resolvem.
René não conseguiu emitir nenhum som depois de ter ouvido tais palavras da filha. Para Renée, Bella estava determinada como nunca. Não existiam mais dúvidas que ela acreditava em sua história, não depois do ocorrido na noite anterior. Só não contava com essa atitude tão rapidamente. Bella tinha dito nossas passagens e nossas bagagens extras, permitiu-se achar que tudo daria certo.
– René você ainda não me respondeu. Qual o nosso destino? Bella ouviu que suas amigas estavam acordando, tinha que conversar com elas ainda.
– Nova York.
– Nova York? Bella fez um rápido calculo mental.
– Posso ajudar a comprá-las. Bella não sabia como a sua mãe teria condições de ajudá-la a comprar as passagens e nem como ela tinha conseguido dinheiro para chegar ao Brasil. Talvez Carlisle também estivesse por trás disso.
– Não será necessário. Tenho as minhas economias.
– Quanto a Stefan e Damon, melhor deixar que eles resolvam. Eles têm os seus contatos.
– Tudo bem. Voltarei logo. Bella retirou-se para tratar do assunto de sua partida com Elena e Bonnie.
Diferente do que imaginou, foi com tranquilidade que falou de sua decisão para as duas. Imaginou que ao admitir acreditar um pouco na história da mãe, ficaria envergonhada. Pensou até que talvez ou se ouvir falar sobre a sua partida veria o quão ridículo era tudo aquilo.
– Então, você simplesmente irá? Elena perguntou.
– Não era isso que andou sugerindo que eu fizesse? Viajarei com a Renée.
– Quanto a nós? Ofereci a minha companhia e acredito que não deve ir apenas com a Renée.
– Eu sei que me ofereceu a sua companhia, mas não sei o que encontrarei por lá, não quero que se meta em encrenca.
– Também não acho prudente deixarmos que você vá apenas com a sua mãe. Bonnie agora não estava com o costumeiro olhar brilhante de excitação. Em seu rosto transparecia toda uma sincera preocupação. Bella, eu também posso me ausentar por algum tempo. Hoje finalizaremos o ano letivo e Elena já entregou o seu trabalho. Podemos ir com você.
– Meninas, eu adoraria tê-las comigo. Bella alcançou as mãos das amigas e as manteve entre as suas. Só que não posso colocá-las em perigo. Se eu me meter em encrencas, quero que estejam longe e seguras.
– Bella eu não acho que...
– Bonnie, por favor. Bella a interrompeu. Fiquem seguras.
– Tudo bem. Elena falou em um fio de voz seguida por Bonnie.
– Podemos saber para onde irão? Bonnie perguntou.
– Para Nova York.
– Uau! Bonnie estava novamente com seu ar empolgado. Nova York! Convença-me novamente a não ir.
– Sentirei falta de vocês. Bella soltou. As três se abraçaram já saudosas.
Bella seguiu como combinado com a mãe. Na escola despediu-se dos alunos e sem pendências conversou com a direção da escola explicando sua viagem para tratar da saúde da mãe. Bem, não era de todo mentira, já que se tratava na verdade da saúde dela também, do seu bem estar.
Para que não perdesse tempo, fez as reservas das passagens no computador da escola e de lá saiu para o seu roteiro que não foi revelado para ninguém. Não queria que se preocupassem e achava que nada aconteceria. Há poucos minutos estava adentrando a ala do hospital em que estivera no dia anterior.
Tinha em sua mente o nome do homem que esfaqueou-se após dar-lhe o recado para se entregar aos vampiros. Aquela cena horrível demoraria muito de se manter distante das suas lembranças. Mesmo que os outros dissessem que deveria se afastar deste homem e que ele não ajudaria em nada, sentia que deveria tentar mais uma vez. Talvez ele conseguisse recordar algo, ela queria saber sobre esses vampiros que a perseguiam.
Identificou-se e perguntou pelo homem. Achou estranho quando a recepcionista pediu mais um tempo para que ela verificasse uma informação. Tentou escutar o que ela dizia ao telefone, mas suas palavras saiam como sussurros. Ao desligar, a jovem mulher cruzou os dedos e a encarou com ar lamentoso.
– Lamento informar que o Sr. Luciano Oliveira veio a óbito esta noite. - Bella sentiu como se todo seu sangue escapasse do seu corpo.
– Ele estava fora de perigo quando deixei o hospital ontem. O que aconteceu? Forçou-se a perguntar.
– Ele teve uma parada cardiorrespiratória, é tudo o que podemos informar. Como? Porque agora era difícil acreditar em coisas que antes faria sentido?
Bella agradeceu e retirou-se ainda trêmula com a notícia que acabara de receber. Aquele homem era inocente e nada a fazia acreditar que tinha morrido por problemas respiratórios. Pelo que Damon tinha dito, aquele homem tinha sido hipnotizado para chegar até ela e agora ele estava morto. Aqueles vampiros mataram-no.
Desolada com o acontecimento, jogou-se no banco do carro. Estava esperando encontrar um homem mais disposto do que tinha deixado anteriormente e mais lúcido. Qualquer coisa que ele pudesse lhe dizer seria levado em consideração. Agora ela não tinha nada para saber quem eram os vampiros de má índole que despencaram em sua vida.
Voltou pra casa percebendo que já tinha passado o horário do almoço. Logo ouviu o seu celular tocar, sabia que só poderia ser sua mãe ou amigas querendo saber onde se encontrava. Tentou concentrar-se na direção, mas sua mente a traia sempre lhe mostrando os momentos que tivera com Luciano.
– Eles querem que me entregue... Eles o mataram. Bella falava consigo mesma, estava revivendo os momentos trágicos.
Quando estacionou em sua vaga diante de seu apartamento, ela teve certeza de que manteria o mais longe possível as suas amigas daquilo tudo. Aquilo era uma aviso e tinha sido bem claro. Damon não parecia um problema comparado aqueles assassinos frios. Stefan parecia confiável, mas será que ele juntamente com Carlisle poderia proteger a sua mãe daqueles monstros?
– Se eu tenho mesmo magia, é bom que sirva para isso. Iria proteger Renée do que quer que fosse.
Agradeceu aos Céus por Charlie estar bem longe. Continuaria omitindo para ele o destino da viagem. Charlie não precisava saber de tudo, não mesmo. Que continuasse assim, ele estaria bem.
– Estou com as passagens. Partimos amanhã bem cedo. Bella anunciou ao adentrar o apartamento e ver a sua mãe aconchegada no sofá da sala.
– Que bom filha. Renée ergueu-se e sorriu aliviada.
– Temos que fazer as suas malas. Elena aproximou-se com Bonnie ao lado.
– E por onde a senhorita andou que não nos atendeu ao celular? Bonnie não deixava passar nada.
– Não quis atender porque estava dirigindo.
– Foi o que eu disse. Elena cutucou Bonnie com o cotovelo.
– Como eu não tinha tantas coisas para arrumar, já estou com as malas prontas. Renée anunciou.
– Como é o processo dos vampiros durante o dia? Eles dormem até a noite? Bella não conseguiu acompanhar o tema da conversa das outras, estava intrigada.
– Os mais novos sim. Com o passar do tempo eles não tem mais essa necessidade.
– Então eles não dormem o tempo todo? Perguntou para si mesma.
– Não filha. O que quer saber?
– Eles têm alguma consciência então.
– Sim. Posso até me comunicar com eles. Estive fazendo isso esses dias. Stefan e Damon já sabem sobre nossa partida. Já os ajudei com o processo de embarque deles. Parece que vamos todos juntos. Bella depois perguntaria como seria possível, era óbvio que eles como vampiros influenciavam as pessoas. Era possível que ninguém desconfiasse daqueles dois caixotes por todo o percurso.
– Posso falar com eles lá embaixo?
Renée não entendeu bem esse pedido da filha, mas fechou os olhos brevemente. Ao abrir encarou a filha ainda curiosa.
– Eles te esperam.
– Vai descer para falar com eles? Bonnie estava ainda mais curiosa que Renée.
– Sim.
– Vou com você.
– Prefiro ir sozinha René. Quando voltar gostaria de falar com você.
– Tudo bem Bella.
– Vai mesmo sozinha? Bonnie foi interrompida por outra cutucada de Elena.
– Bella sabe o que faz.
– Bem, eles podem ser um tanto agressivos. Lembra de como Damon me agarrou?
– Stefan parece diferente. Elena tentou mostrar imparcialidade com o que disse, mas Bella percebeu que foi forçado. Elena estaria encantada por um vampiro?
Não sabe se seu olhar denunciou o seu questionamento, mas Elena virou-se e sentou-se no sofá parecendo um pouco rubra.
– Volto já. Dito isto, ela rodou sobre seus calcanhares e saiu do apartamento.
Não teve dificuldades para abrir a porta que pareceu leve sob a sua mão. Piscou algumas vezes depois de fechar a porta atrás de si. A luz acendeu e percebeu que Stefan estava ao seu lado.
– Estava mesmo me sentindo solitário. A que devemos a visita? Bella pensou que Damon era o tipo que não perdia a oportunidade de ser engraçadinho.
Ela o olhou sentado no banco que antes estava com sua mãe e pareceu que o lugar estava muito menor do que antes com aquele vampiro alto ali. Ele poderia intimidá-la, mas porque não se sentia com medo? Por outro lado, aqueles olhos... Há algo neles, além é óbvio, de ter sonhado com eles por várias noites. Engoliu em seco ao lembrar-se disso e tentou se concentrar.
– Eles, quem quer que sejam, o mataram.
– De quem está falando? Stefan pareceu intrigado.
– O homem que cravou um canivete em si mesmo depois de ter me dado aquele aviso.
– Você voltou lá? Damon pareceu não acreditar. Esqueceu sobre o aviso que eu dei?
– Eles são mesmo assassinos? Esses vampiros são capazes de qualquer coisa? Quero saber com quem eu estou lidando. Bella ignorou completamente o que Damon lhe disse. Stefan compreendeu que ela estava preocupada com sua família e amigas.
– Ainda não se tocou? Esse vampiro não tem nenhuma empatia com os humanos. Eles não estão nem aí para você ou qualquer um. Damon ergueu-se ao falar, ela deu um passo para trás.
– Porque você sempre está pronto para me assustar? Acha que me intimidará? Damon sorriu de lado.
– Só estou te dando um aviso.
– Estou meio cansada de avisos. Poupe-me. Em seus olhos passou um brilho indecifrável, Bella achou que talvez ele estivesse mesmo zangado, mas aquilo não tinha importância. Stefan tocou-lhe o ombro e ela o encarou.
– Lamento que esteja passando por tudo isso. E entendo que esteja confusa e um pouco descrente, é como se estivesse dentro de um sonho. Foi assim comigo depois da transformação. Pela primeira vez Bella sentiu algo a mais por Stefan, ela ainda não sabia definir. Talvez fosse seu olhar melancólico, ou sua voz branda e baixa, mas ele lhe passou um pouco de sua emoção. Bella, esses vampiros não terão piedade. Eles não respeitam a raça humana, fazem dos humanos, peões em seus joguetes. Fez bem não aceitar a ida de suas amigas e continue mantendo Charlie distante. Estarão no mesmo país daqui a algumas horas e ele pode vir a ser uma vítima também.
– Então os druidas não lhe deram a danação, mas sim, poder para fazerem de nós seus escravos ou pior, seu alimento.
– Houve um erro Bella, todos sabem... O mal não é um sofrimento para todos. Para eles não é suficiente, eles querem mais poder. Sempre foi assim. E talvez, e com isso me preocupo mais, eles realmente estejam temendo a presença da escolhida.
Bella lembrou-se do sonho que tivera aquela noite, não era temor o que eles sentiam, eles a queriam viva, queriam usá-la para algo. Mesmo confiando em Stefan, não podia lhe contar sobre o sonho, ainda não tinha se convencido de Damon. Ela o olhou, e viu que seus olhos incrivelmente azuis estavam cravados sobre ela.
– Stefan, o que eu posso fazer? Era também a primeira vez que Bella lhe pedia um conselho, que o tratava como amigo. Stefan sorriu carinhosamente diante desta constatação.
. Já está fazendo Bella, você está indo conosco.
– Espero que esteja tudo certo para o transporte de vocês amanhã. Se precisarem de alguma coisa...
– Está tudo certo, não se preocupe. Stefan garantiu.
– Carlisle estará nos esperando lá?
– Com outros de nós. Damon falou. Bella assentiu. Não está com medo. Ele constatou ouvindo seus batimentos.
– Ainda estou no Brasil entre os meus. Falou como se fosse claro.
– E entre vampiros.
– Repito, você pode ser até um pouco mau, mas não me intimida. Damon não evitou um sorriso vendo-a partir.
Bella contou sobre sua ida ao hospital e a notícia da morte do homem que lhe abordou como o recado dos vampiros rivais. Enquanto conversavam, ela e as amigas arrumavam suas malas. Bella constatou que não sabia por quanto tempo ficaria por lá. Estava sendo um pulo no escuro, só gostaria de ter certeza que não se esborracharia.
Ligou para o seu pai que tinha deixado um recado na caixa eletrônica perguntando como estavam as coisas com Renée. Bella continuou omitindo tudo, mas não mentiu ao dizer que tem conversado bastante com Renée.
Um pouco mais tarde Stefan apareceu para despedir-se das meninas, mas Bella notou que ele estava mesmo lamentando o afastamento com Elena. Damon não apareceu. Logo o apartamento estava às escuras, mas todas elas estavam acordadas mergulhadas em seus próprios pensamentos.


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