Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 40
A salvo


Notas iniciais do capítulo

Opa! Voltei! Ah, como eu amo essa parte do acampamento



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Pele contra pele, arrepios que se confundiam entre frio e prazer. O chão era cama para seu amor urgente, como havia previsto o poema algumas semanas antes. Seu subconsciente torcia por que não encontrassem o caminho no dia seguinte, sua consciência ficaria menos pesada se pudesse comprovar que se deixara levar em uma situação de desespero por talvez não sobreviver. Seus estados seminus somente pioravam a situação. A febre de Dinho e a dor em sua perna, porém, impediram que maiores “erros” fossem cometidos. A intensidade dos beijos diminuía conforme o garoto se entregava à dor e o estado febril o vencia. Adormeceu nos braços de Lia, com as mãos firmes abraçando a roqueira. Sem saída, e com a certeza de que ninguém os encontraria àquela hora, a loira se deixou levar pelo sono e dormiu nos braços daquele que tentava proteger, tão logo sua consciência permitiu. Como pôde?

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Gil, Cezar e Fera andavam atentos pela mata, sobre a terra ainda molhada e galhos derrubados pela chuva. Esgueiraram-se por entre os troncos das árvores, conforme entravam mata adentro.

— Cezar? Por aqui dá pra ouvir o som do mar. Se eu estivesse perdido, seria a direção que eu tomaria. – Gil se pronunciou.

— Boa, garoto! – Cezar cumprimentou o grafiteiro, seguindo a direção apontada.

— Ué, mas o nosso acampamento não fica na praia. – Fera comentou confuso.

Alcançaram a beira, ainda sem ver nada, desiludidos ao encontrar o fim da mata e se ver à beira de um barranco, sem nem sinal dos adolescentes.

— Ali! – Fera acordou de sua distração e apontou na direção das árvores.

Cezar correu em direção aos dois corpos, seguido por um decepcionado Gil. Lia e Dinho se encontravam seminus, dormindo abraçados. Como se sumirem já não fosse o suficiente... Esperava tudo de sua nova amiga, menos aquilo.

— Como você pôde? – Gil cobrou enojado.

A garota abriu os olhos de um salto, confusa, para em seguida entender o que acontecia. Não pôde deixar de sorrir, estavam salvos!, embora estivesse furiosa e envergonhada por ter-se deixado levar e flagrar.

— Dinho, acorda! Dinho! – Balançou o garoto.

— Que é? – Perguntou sonolento, abraçando-a de volta.

— Me larga! – Pediu entre dentes. – Eles nos acharam, Dinho! A gente vai conseguir voltar!

O garoto enfim olhou à sua volta, tremendo. Fera os encarava orgulhoso, Cezar parecia a ponto de lhes dar um sermão, e Gil parecia simplesmente desapontado.

— E as roupas? – O biólogo perguntou.

— Encharcadas, por isso a gente tirou.

— Aham... – Fera comentou irônico.

— Não aconteceu nada, Fera. – A roqueira lhe garantiu.

— Vocês fizeram bem. – Cezar cumprimentou. – E essa perna?

— Ele não tava conseguindo mexer.

Quando se virou para Dinho, no entanto, a garota o viu novamente desacordado.

— A gente precisa voltar imediatamente! Gil, acompanha ela e chama uma ambulância, eu e o Fera vamos ficar pra tentar imobilizar a perna do Adriano.

Lia juntou suas roupas e se enrolou em um cobertor que o professor trazia em sua mochila. Olhou para trás uma última vez. Sua vontade era de voltar correndo e beijá-lo como despedida. Tarde demais. Já havia feito muito mais do que deveria. Seguindo a trilha traçada por Gil, com base no que haviam percorrido para encontrá-los, Lia e o grafiteiro logo avistaram o início da mata, e, por conseguinte, o acampamento. As meninas correram para a amiga assim que a avistaram. Abraçaram-na aliviadas, Ju mal conseguindo se conter.

— Você tá bem? O que aconteceu? – Morgana perguntava.

— E o Dinho? Lia, você tá tremendo! – Ju cobrou nervosa.

— Robson, o professor Cezar pediu uma ambulância, se você puder chamar. – Gil anunciou.

— Ambulância? – Orelha se manifestou.

— Estão a caminho! – Robson garantiu, desligando o telefone. – Meninas, a Lia precisa respirar, dispersando! Como você está, menina Lia?

— Eu tô... bem. – Lia respondeu confusa, com a voz falha, tremendo nos braços de Juliana.

Os médicos logo chegaram munidos de uma maca e seguiram Fera, que recém chegara da mata. Em alguns minutos, reapareciam com Dinho na tábua laranja e Cezar ao lado. Deitaram o garoto sobre a maca no chão do acampamento enquanto combinavam o que fazer.

— Lia? Lia... – Dinho chamava.

A garota lutou contra a vontade de se aproximar, sendo enfim deixada por Juliana, que seguiu a voz do garoto.

— Sou eu, Dinho, a Ju. – Segurou a cabeça do garoto. Beijou-o no rosto.

— Lia... Não me deixa, Lia, por favor... – Continuou.

A garota se afastou e olhou para a roqueira. Lia não pôde conter o vermelho culpado em seu rosto.

— Você ouviu. Vai lá, Lia. – Juliana sugeriu irritada.

Hesitante, a roqueira se aproximou, deixando o cobertor escorregar de seus ombros sem perceber. Boquiaberta, Juliana percebeu que a amiga vestia apenas calcinha e sutiã sob o cobertor azul. Olhou novamente para Dinho, que vestia tanto quanto a garota. De um para o outro, do outro para o primeiro. Raiva e decepção tomando conta de sua face. Havia previsto, não estava surpresa. Guardava ainda a remota esperança de que a amiga a tivesse respeitado, mas agora...

— Eu tô aqui, eu tô aqui. – A roqueira afirmou ao garoto, que segurou sua mão.

Dinho tremia em delírios, mas pôde perceber seu rosto relaxar ao vê-la, ao senti-la ao seu lado. Sentiu-se ainda mais culpada, certa de que a melhor amiga os observava. Passou a mão pelos cachos de Dinho, enquanto o garoto segurava firmemente a outra entre as suas. Segurou-a até que a distância não mais lhe permitisse, conforme os médicos o levavam à ambulância.

— Você deve ser a namorada, não? Você poderia nos informar o telefone de contato para que possamos avisar à família?

— É... – Lia titubeou.

Sabia o telefone dos Costa, e, por outro lado, não teria tempo de dizê-lo e ainda negar que fosse a namorada. Orelha a salvou, dando o número aos profissionais. Enquanto isso, Juliana se reaproximou da amiga, surpreendendo-a com um furioso tapa em seu rosto.

— Juliana! – Robson a repreendeu.

— Sua vadia! – Juliana gritou em direção a uma Lia ainda trêmula, e novamente enrolada no cobertor.

Fatinha levou a mão à boca, divertindo-se com a situação.

— Quem diria, hein? Depois a traíra sem escrúpulos sou eu...

— Fica quieta, Fatinha! – Rita lhe ordenou.

— Vocês pareciam estar morrendo de frio, mas pelo menos a noite deve ter sido quente... – A funkeira debochou, afastando-se antes que Juliana a atacasse também.

— Não aconteceu nada. – Lia conseguiu se pronunciar. – Ju, pelo amor de deus, me escuta.

— Eu não quero satisfações, Lia, eu quero que você nunca mais olhe na minha cara!

— Juliana, escuta a Lia, eu posso lhe garantir que nada aconteceu! O Dinho não conseguia nem mexer a perna de tanta dor, seria quase impossível eles transarem nesse estado.

A garota corou ao ouvir sua suspeita em voz alta. Ao menos o pior não tinha acontecido... A roqueira foi levada na ambulância, contra protestos, ávida por se explicar. O veículo logo partiu, levando também o inspetor como representante de ambos.

— Não aconteceu isso, mas aposto que eles se esbanjaram! Não sei se você percebeu, professor, mas eles estavam seminus!

— Porque as roupas estavam encharcadas, você não viu? Estão ali, ó. – Apontou para a fogueira, onde Gil e Fera haviam deixado as vestimentas para secar. – Se eles tivessem permanecido vestidos, o quadro de ambos estaria pior. Eu não posso garantir que não rolou nada, mas as roupas não foram uma escolha e não há a possibilidade de sexo, não com a dor que ele estava sentindo.

Alguns alunos conseguiram conter os risinhos. Os outros, para pavor de Juliana, gargalhavam debochados, imaginando inúmeras versões do que haveria acontecido. A garota olhou para os lados à procura de Lia.

— Ela já foi, Ju. – Rita contou. – Eles a levaram pro hospital também.

— Aí, ó, tá vendo? Agora até namoradinha dele virou, tá como acompanhante e tudo!

— A Lia estava ardendo em febre, você não viu? – A morena lembrou.

Calada novamente, e ainda mais confusa, entre fúria e preocupação, Juliana se afastou do grupo. Até mesmo Fatinha estava quieta novamente.

— Bom, vocês querem voltar pra casa ou continuar? – Cezar inquiriu.

— Não tem mais clima, professor. Acho que tá todo mundo querendo saber o que vai acontecer com eles, como eles estão... – Morgana respondeu.

— Ela tem razão, Cezar. – Orelha se manifestou. – Eu não vou conseguir me concentrar em mais nada até saber que o meu amigo está bem.

— É justo. Arrumem as barracas, a gente volta hoje à tarde.

Lia e Dinho foram o centro das conversas pelo resto da manhã. Ju manteve distância do grupo, não querendo ouvir sobre o ocorrido, muito insegura acerca do que com certeza havia rolado entre sua amiga e seu namorado.

No hospital, Lorenzo avistou com surpresa a chegada de sua filha. Haviam lhe contado acerca de dois adolescentes perdidos na excursão, sem especificar quem eram. Ao ver Dinho, riu. Novamente os dois. Só podia ser... Eram um perigo em dupla.

—x-

— O que aconteceu, afinal? – Perguntou assim que sua filha se estabilizou.

— A gente tava se implicando muito, o Robson nos obrigou a fazer a expedição em dupla e é claro que aquele idiota errou o caminho.

— Sei... A culpa foi dele, claro... A senhorita não pôde contestar, por acaso?

— Não, pai, você sabe como ele é...

— O Dinho? Não, filha, não sei. – O médico riu.

— Que seja, a culpa foi dele.

— Aham... – Confirmou debochado.

Após um silêncio, no entanto, a questão que perturbava Lia encontrou seu caminho contra os protestos da roqueira.

— Como ele está? – Perguntou corada.

— Ah, agora você se preocupa com ele...

— Anda, pai, como é que tá o Dinho? – Repetiu a pergunta, nervosa.

— Ele tá melhorando. – Respondeu com um sorriso encorajador. – O moleque é forte. Ele chamou por você. – Acrescentou, observando a reação da filha.

— Ah, é?

— Sim. Acordado, dormindo, ele não para. Só escuto Lia, Lia, Lia...

— Ah... – Corada, a garota buscava uma saída. – É... Bom, eu tava com ele, sabe, é normal ele chamar por mim...

— Se você acha. – Lorenzo concordou, entendendo o recado.

Riu sozinho. Era óbvio o que estava acontecendo. Estavam claramente gostando um do outro e não queriam admitir. Considerou se gostaria de ter Dinho como genro. Era um bom rapaz, haviam tomado as devidas precauções ao se perderem, como tirar a roupa... Estavam quase sem nada! Subitamente, a preocupação. Teria o garoto se aproveitado de sua filhinha?

— É... Lia...

— Sim?

— Quando vocês tavam... Você sabe, vocês estavam sem roupa na mata... É, bom... O que, exatamente... Ele se aproveitou de você, filha? – Perguntou hesitante.

— Pai! – Lia o repreendeu. – Ele é namorado da Ju, lembra?

— Então quer dizer que se ele não fosse namorado da Ju estaria tudo bem?

— Não. Não! – Ressaltou.

— Ok... É... Você tá livre pra ir. Tá tudo bem, graças a deus.

Lia sorriu aliviada. Vestiu as roupas que a avó lhe havia deixado e voltou para o hall do hospital.

— Pai?

O médico se virou para a filha em resposta.

— Posso... É...

— Visitar o Dinho?

A garota confirmou sem jeito.

— Vai, quarta porta virando à esquerda no corredor.

Estava apaixonada, o médico confirmou. Era nítido. Sua filhinha estava crescendo...


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