Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 39
Mais Uma Vez


Notas iniciais do capítulo

OPA! Estava há semanas, talvez mais de mês querendo postar esse capítulo. Altas emoções! Inteiramente focado em Lia e Dinho, espero que gostem.

Trilha:
https://www.youtube.com/watch?v=dDaikC2Lf9w
http://www.vagalume.com.br/leona-naess/ballerina-traducao.html
https://www.youtube.com/watch?v=ne_2SN4gGjQ
http://www.vagalume.com.br/chantal-kreviazuk/in-this-life-traducao.html



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/352146/chapter/39

Segurou-o a tempo, dessa vez com ambos. Seus braços doíam, não aguentariam por muito tempo. Dinho tentou segurar o braço da roqueira, que foi arrastada para a beira pelo peso do aventureiro. Desistiu. Seu braço ainda resistia à dor, mas temia pela garota. Lia não era tão forte fisicamente quanto tentava ser emocionalmente. Cairiam os dois. Talvez fosse um castigo por ter falado daquele jeito com a garota que amava. E talvez em outro momento negasse, mas, ali, sem futuro, sem amanhã no qual pudesse acreditar, só os olhos de Lia e o meio sorriso assustado que tentava encorajá-lo lhe importavam. Poderia soltar-se das mãos da garota e morreria tranquilo. Ou não. Não podia, não se deixaria levar sem antes beijá-la novamente, sem antes assumir o que sentia. Olhou à sua volta. Um pedaço de raiz se revelava enterrado no barranco. Poderia não aguentar seu peso e derrubá-lo de vez, ou levá-lo de volta para Lia. Uma única chance. Olhou fundo nos olhos apavorados da roqueira. Não podia deixá-la ir, não sem antes tê-la em seus braços como sonhara desde o primeiro dia, desde o primeiro beijo. Precisava viver tudo o que sentia, pelo menos uma vez, pelo menos uma última e única vez. Arremessou-se em direção à raiz.

Por um segundo sentiu seu coração parar. Dinho havia soltado a sua mão. Era agora. Perdê-lo-ia para sempre. Sua negação constante para nada mais lhe servia. Tanto tempo tentando salvar sua amizade com Juliana, e agora o perderia de vez, sem chances de recomeços ou de reconciliações. Não podia deixá-lo ir. Era sua culpa, havia deixado que sua mão escapasse, havia deixado que Dinho escapasse, desde o primeiro dia, desde a primeira implicância do garoto que só queria vê-la feliz. Se não tivesse insistido em seu orgulho a ponto de se perderem, a ponto de levá-lo ao precipício que agora o arrastava para longe... Daria tudo por salvá-lo, por tê-lo por mais aquela noite, que fosse. Por viver, pelo menos uma vez, pelo menos naquele instante. Por se entregar ao que sentia, por livrar seu peito da clausura em que o deixara, protegido do objeto de tudo o que sentia e que a afligia. Precisava se libertar. Só mais uma noite, só mais um instante, e jamais pediria por nada novamente.

Em meio a seu delírio, chutou uma pedra que não se moveu. Olhou rapidamente para trás, segundos, e voltou a olhar para Dinho. Apoiou-se com toda sua força contra a pedra, puxando-o para si enquanto Dinho se apoiava com um pé sobre a raiz, suas mãos de volta aos braços de Lia. Doía-lhes cada músculo. A raiz começava a ceder e Adriano a empurrou com o pé uma última vez por impulso. A roqueira entendeu, e rapidamente o puxou com toda força que ainda tinha. As mãos de Dinho encontraram a borda novamente. Só mais um pouco. Apoiou-se com toda força contra o solo, cambaleando em terra firme sobre a loira, que o abraçou aliviada. Rolaram para longe da borda do alto barranco, até que as árvores os freassem. Beijaram-se apaixonadamente, desesperados, seus lábios ainda trêmulos pelo risco recente. Lágrimas eram camufladas pela forte chuva que ainda os banhava. Afogavam-se em beijos angustiados, com a fúria de quem havia lutado contra a morte e vencido. Os pingos gélidos e incessantes eram esquecidos a cada toque de suas línguas, e seus arrepios não mais eram de frio, mas de tudo que sentiam e guardavam por tanto tempo, desejo os afogando tanto quanto a água.

Conforme a chuva diminuía, os beijos se acalmavam. Desespero, angústia e medo partiam com os pingos que cessavam. Como seus beijos, a água parou aos poucos. A chuva teimava mais que Lia, Dinho riu.

– Que foi? – A roqueira cobrou ao perceber a reação do garoto.

– Nada. – Beijou-a carinhosamente. – Valeu. – Ao olhar confuso de Lia, respondeu. – Por ter me salvado. Eu não teria aguentado tanto tempo se não fosse você.

– Dinho, você sempre se salva. – Zombou sem jeito. – Sempre foi assim, você sempre consegue o que quer.

– Menos você. – Confessou.

– Menos eu? – Riu. – E o que a gente tava fazendo até agora? Procurando orquídias?

– É... – Concordou inocentemente. – Não tava?

Parou para pensar no que Lia havia dito... Tria mesmo a conquistado de vez? Lia sendo Lia, provavelmente fingiria que nada acontecera tão logo chegassem ao acampamento. Preferia não se iludir. O que não o impedia de viver o momento pelo qual tanto pedira.

A roqueira não percebera o que estava acontecendo até então. Acampamento, Quadrante, Ju. Ju! Estava aos beijos com o namorado da melhor amiga! Não podia, não devia. Precisava correr o quanto antes, voltar como pudesse, mesmo que se perdesse outra vez. Não podia se deixar levar, Dinho estava vivo e a realidade os alcançaria novamente. Afastou-se o suficiente para não permanecer deitada sob o garoto.

– Aaaaah!

– Dinho, o que foi? – Voltou-se para o garoto, para só então perceber a ferida em sua perna. – Ai, meu deus, você tá bem? Dinho, a gente precisa sair daqui, você precisa de um médico urgente!

– Eu... – Tentou se levantar. – Eu... – Mais um impulso. – Eu não consigo! – Admitiu desesperado.

– O que a gente faz agora? – Perguntou derrotada.

– Faz assim, - Segurou sua mão. – a gente fica aqui até amanhecer, daí você tenta achar o acampamento de novo. Vai dar tudo certo.

– Tem certeza? Dinho, eu não posso te deixar aqui.

– Pode. Ou você me deixa aqui, ou ficamos os dois de vez. Por mais que eu queira ficar sozinho com você o máximo que conseguir, a gente precisa voltar. Mas antes... Antes a gente precisa tirar a roupa.

– O QUE?? Você é um idiota, sabia? Eu aqui me preocupando de verdade com você, enquanto o bonitão só pensa naquilo! Dinho, pelo amor de deus!

– De novo, por mais que eu queira, ou a gente tira essas roupas encharcadas ou ficamos os dois com febre, o que você quer?

– Ok, vai. – Aceitou hesitante.

– Anda, Lia, eu já vi tudo na praia, mesmo, esqueceu? Ó, tô tirando também.

A roqueira o observou tirar a camiseta de canto de olho e fez o mesmo. Dinho não pôde deixar de reparar em seu corpo. Era diferente vê-lo de tão perto. Lia era perfeita, em cada centímetro. Queria tocá-la, precisava tocá-la.

– Vem, me ajuda a te arrastar até aquela árvore. Acho que a chuva não pegou tanto ali.

Puxou-o pelos ombros com cuidado, enquanto o garoto remava contra a terra. Encostou-o sentado contra o tronco e voltou para buscar as roupas. Por fim, sentou-se ao seu lado.

– Lia, vem cá. – Dinho apontou para suas coxas e afastou suas pernas. – Aqui tem encosto, vem.

– Realmente, em ser um encosto na minha vida você é profissional.

– Lia... – Repreendeu.

– Ok, vai. – Sentou-se entre as pernas de Dinho. A ausência de mais roupas complicava sua tentativa de agir normalmente.

– Ei, Lia.

– O que? – Virou o rosto para o garoto.

Dinho lhe respondeu com um rápido beijo.

– Você quer parar?

– Não. – Retrucou debochado.

– Dinho, é sério, você e a Ju...

– A Ju sabe que eu gosto de outra.

– Você gosta mesmo? Ou é só mais um capricho seu?

– Você sabe muito bem o que eu sinto. Olha, eu acabei de ver a minha vida passar inteira pelos meus olhos, você pode pelo menos respeitar o meu último pedido?

– Último pedido? – Lia riu.

– É, eu pedi por isso, por estar aqui, com você... Quer dizer, não exatamente nessa situação, mas... Enfim, você pode, por favor, deixar esse orgulho de lado e... E... E-e... – Sua voz falhou aos poucos, conforme seu corpo começou a tremer.

– Dinho? Dinho, o que você tem? Dinho, se é mais um dos seus truques, pode parar!

Levou a mão à testa do garoto, assustada. Queimava. Deitou-o sobre a terra, encostou-se contra a árvore e apoiou a cabeça de Dinho contra suas coxas.

– Lia...

– Eu tô aqui.

Segurou a mão trêmula do garoto com uma mão, e com a outra enrolou os dedos nos cachos de Dinho.

– Você só não pode dormir, ok? Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Encorajou preocupada, acariciando os fios castanho-escuros de Adriano.

Dinho inconscientemente levou os dedos a tocar a pele de Lia, traçando pequenos círculos perto de seu umbigo.

– Por que você se esconde tanto, marrentinha? Você é perfeita. – Comentou com a voz distante, quase inaudível.

– Do que você tá falando, Dinho? Você queria o que, que eu andasse por aí de biquíni?

– Você entendeu. É a sua mãe, não é? É por causa dela que você se esconde tanto...

Adriano a conhecia tão bem que a assustava. Perfeita... Era um galanteador. Por sorte, também o conhecia o suficiente para não acreditar, por mais sincero que fosse. Se nem sua mãe gostava da própria filha, o que dizer do garoto que poderia ter quem quisesse, a hora que quisesse...

– A gente pode não falar nela?

– Você que sabe... Mas uma hora você vai ter que enfrentar.

– Vou... E não vai ser com você.

– Por que não? – Perguntou genuinamente curioso.

– Dinho... – Riu. – Porque você é você.

– Isso eu sei, eu só não sei por que você foge tanto de mim.

– Eu já falei, é a Ju.

– Não é a Ju.

– Agora você decide os meus motivos também? Aliás, não era você que tinha nojo de mim? Pra quem me odeia tanto, você presta bastante atenção.

– Eu não tenho nojo de você, Lia. – Assegurou como se fosse óbvio. – Eu me decepcionei com você, só isso. O único motivo que eu tenho pra te odiar é você não sair da minha cabeça.

A garota corou de leve.

– Sem essa, Dinho.

– Ah, Lia, cansei. Olha a situação em que a gente tá! Pior: olha o que a gente acabou de passar. Você realmente vai continuar fazendo a difícil? Eu gosto de você, ok? Eu tinha uma namorada linda, que gostava de mim de verdade, por que eu arriscaria a minha relação com ela se não gostasse de você? A gente já ficou, mais de uma vez, e eu continuei insistindo. Você acha o que? Que eu leio a sua mente? Que eu adivinhei que você ia me odiar no futuro quando a gente ficou de novo? Você sabe que figurinha repetida não completa álbum pra mim e me viu ir de novo atrás de você. Ou você é cega, ou você é muito mais insegura do que eu pensava!

A garota o observou por um momento. As palavras de Dinho faziam sentido... Por que não conseguia se deixar levar? Sabia que ele falava a verdade, e o temia.

– Tá, você gosta de mim, eu sei disso. Desde o começo, infelizmente. Mas e daí o que? A gente passa a perna na Ju como se nada tivesse acontecido? Ela desconfia da gente, mas encarar como uma realidade é muito pior.

– Como você desconfiava do que eu sinto e até tendo admitido pra Ju segue temendo?

– Não transforma em outra pergunta. Eu me recuso a fazer a Ju sofrer, Dinho. A gente...

Tomado por um impulso, Adriano ergueu o tronco até que sua boca a calasse. Confusa, a roqueira demorou a reagir, deixando-se perder nos lábios de Dinho por uma fração de minuto.

– Você quer, eu quero, por que fugir tanto? – Questionou entre beijos.

– Dinho... Não é assim... Você não pode... – Tentou raciocinar, entregando-se aos beijos do garoto.

– Eu posso... – Continuou, sem fôlego. – Eu sei o que eu quero, eu consigo o que eu quero, e sinceramente, Lia, eu não pretendo desperdiçar o nosso tempo depois do que eu acabei de passar. E quem nos garante que a gente vá conseguir voltar? Eu prefiro viver essa febre inconsequente e inconsciente a voltar são sem lembrança alguma.

– É injusto comigo, é injusto com a Ju... Eu devia te deixar aqui.

– Mas você não vai, porque você também gosta de mim.

– Infelizmente.

– Então você admite?

– Admito o que?

– Que também gosta de mim?

– Como se você já não soubesse... – Odiava-se por admitir.

– Então vamos viver isso, por favor. Só até a gente conseguir sair daqui, e então o que aconteceu no barranco fica no barranco. A chuva leva. – Propôs.

– Eu tenho escolha?

– Não. – Respondeu-lhe com outro beijo.

– Dinho, vocês estão juntos... – Tentou retrucar, já sem fôlego novamente.

– Nem sei mais. – Respondeu levando a mão à nuca da loira para aprofundar o beijo seguinte.

– Hmm! Hmm... – Tentou lutar contra a língua do garoto que a invadia, prazer e angústia mesclando-se em mais uma tentativa frustrada em que acabou se entregando.

As mãos de Dinho percorreram o corpo seminu de Lia, sentindo cada toque em detalhes, tentando memorizar cada curva de seu corpo. A roqueira involuntariamente levou os braços aos ombros de Dinho, aproximando-o de si. Ao perceber o que fazia, tentou se afastar novamente.

– Ela é a minha melhor amiga...

– E só quer te ver feliz. Você tá feliz.

– Eu não...

– Lia... Só por uma noite. A gente pode esquecer quando voltar. Se você quiser, eu posso até prometer que não vou te procurar mais. Por favor?

Indefesa, a roqueira se deixou levar novamente, lembrando-se dos momentos sob a chuva. Não podia deixá-lo escapar sem antes viver o que sentia. Mais uma vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentários aqui embaixo e mil desculpas pela demora, como sempre.