Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 35
Traíra


Notas iniciais do capítulo

Uuuuh! Capítulo polêmico! Dinho erra feio, Lia mal consegue esconder o que sente, Gil entende tudo, Ju não percebe nada. Aiai... Até eu me sinto culpada por fazerem isso com a pobre ceguinha... Capítulo quase que inteiramente inédito em relação à Intensa, e o acampamento será um tanto diferente quando vier. Fiquem de olho!



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Juliana percebeu o silêncio desconfortável que o nome de Raquel gerou e trocou de assunto tão rápido pôde.

– Ok, voltando ao problema inicial. Você me ajuda a falar com o Dinho?

– O QUE? – Lia exclamou incrédula.

– Tá bom, tá bom... É tão difícil você me querer feliz, amiga?

– Eu... Eu te quero feliz, Juliana, eu só acho que com o Dinho isso seria impossível. Você vai ficar insistindo e levando fora e só vai ficar mais frustrada.

– Eu, hein, só pedi um pouco de otimismo. Às vezes parece que você quer que o Dinho me faça sofrer.

– Se depender disso pra você desencanar desse idiota...

– Lia! E eu que pensei que vocês estivessem começando a se dar bem... – Ju riu.

– Me dar bem? Com o Dinho? Nunca!

– Essa sua raivinha dele chega a ser fofa. – A it-girl zombou. – Você parece aqueles desenhos de criança irritada que a Morg faz às vezes!

As palavras de Juliana a deixavam se sentindo cada vez mais culpada. Mal sabia sua melhor amiga que havia sido tão traída. A ingenuidade da it-girl alarmou a roqueira. Mais do que antes sabia que os beijos da noite anterior haviam sido graves erros. Era uma traidora, uma péssima amiga. Deus, se tivesse cedido mais um pouco como seus instintos imploravam... Jamais se perdoaria. Odiava Dinho, odiava! Ele e seus malditos cachos, maldito sorriso, malditos olhos, maldito olhar... Se pudesse apagar o passado, se pudesse apagar o que sentia... Viu a amiga sair animada, apesar da falta de apoio de Lia, em direção ao prédio de Dinho, o que só fez sua culpa aumentar, corroendo-a por dentro, assim como a raiva contra Adriano. Provavelmente o garoto fingiria que nada havia acontecido e talvez até reatasse com Juliana, só para enrolá-la e se aproveitar de sua ingenuidade ainda mais. Desgraçado! Se pudesse, correria atrás da amiga em direção ao apartamento de Alice e o surraria como nas lutas que seu pai gostava de ver quando chegava a tempo do plantão.

–x-

Dinho levou um dedo à boca. Ainda podia sentir os lábios de Lia nos seus. Como desejava voltar no tempo, tê-la em seus braços novamente, convencê-la a ficar... Por que tinha que ser tão marrenta? Por que tinha que ser a melhor amiga de sua ex-namorada, e por que tão boa amiga? Por que logo com Juliana havia namorado? Se antes já era difícil dobrar a roqueira, depois de seu rápido namoro com sua melhor amiga seria impossível. Sobreviveria de beijos roubados, seguidos por olhares repreensivos. O sorriso que pensara haver visto na noite anterior provavelmente havia sido uma miragem, ou, talvez, resultado da adrenalina pela qual haviam passado. Se de fato sorrira, por que sorrira? Para rir de sua cara? Por deboche? Ah, Lia... Se um dia a entendesse... E sabia, no fundo, que jamais a entenderia, e gostava mais ainda da roqueira por isso. Não devia. Tinha que esquecê-la, por ela, por ele mesmo. Lia Martins era um alvo quase impossível. Ainda assim, o sorriso... O selinho... Não havia sonhado, sentia que não. A roqueira cedera mais de uma vez aquela noite. Deus, por que tudo com ela era tão complicado? E pior: sua atração por Lia apenas crescia conforme a situação se complicava. Podia ter qualquer outra que quisesse, por que tinha que gostar tanto da única que não seria possível conseguir? Precisava mudar, curar-se de qual fosse a doença que resultava naqueles sentimentos, precisava combatê-los.

– Dinho?

– AH! – O garoto se assustou com a presença de Juliana como se seus pensamentos pudessem ser lidos pela ex.

– Desculpa se eu te assustei, é que...

– Não foi nada, Ju, senta. – Ofereceu um espaço a sua frente na cama.

Havia pensado em tudo que ia dizer a caminho do apartamento e, ainda assim, não sabia por onde começar. Estar na frente de Dinho a fazia questionar se estava fazendo papel de idiota, como Lia suspeitara, ou se estava tomando a atitude certa. O olhar confuso do garoto apenas piorava a situação.

– Eu... É... Dinho, eu... Eu vim porque eu, bom, eu queria me desculpar por ter ficado na sua cola e... É... Queria pedir uma segunda chance. E-eu juro, eu entendi, não ficar tão na sua cola... Até a Lia falou isso...

– A Lia? – Adriano perguntou, de repente se interessando pelo que Ju falava. – Ela... Ela te aconselhou? Você se encontrou com ela?

– Sim, eu pedi a ajuda dela. – Respondeu hesitante. – Eu tava confusa. Não deveria?

– Não, não, quer dizer, ela é a sua melhor amiga, faz sentido, claro... É só que... Sei lá, Ju, eu acho que ela não gosta de mim, e, bom, você não ficou incomodada com o que aconteceu? Digo, a Lia... Ou melhor, eu, o que eu falei sobre a Lia...

– Relaxa, Dinho, eu entendi. Eu fiquei incomodada, claro, mas eu quero que dê certo entre a gente. Entre você e a Lia... Aconteceu, e, bom, ela é linda, por mais que tente esconder, e você... Você pelo menos foi sincero. É passado, não é? Não tenho por quê ficar me preocupando com isso. – Tentou soar madura e convincente como pôde.

– É... Você tem razão... Já foi, né? – Dinho respondeu se sentindo culpado.

Saber que Lia havia aconselhado Juliana quanto ao namoro com Dinho o incomodava, trazendo à tona o que não deveria sentir pela melhor amiga de sua ex. Então Lia os apoiava? E seria a roqueira tão falsa a ponto de beijá-lo à noite e incentivar o namoro dele com Ju no dia seguinte? E se seu namoro com Ju, afinal, tivesse sido sua melhor opção? Agora sabia quem era Lia, que não prestava. Ou estava fazendo o mesmo agora com Juliana? Tudo era tão confuso...

– Eu pensei que a Lia fosse contra o nosso namoro, sei lá, ela não vai com a minha cara.

– Ela é.

– Mas você disse que...

– A Lia me falou o mesmo que você, que eu deveria te deixar mais livre, não ficar tão em cima, que você não gosta de muito grude, mas não apoiou quando eu disse que queria me reconciliar com você. Não leva a mal, é só implicância. Acho que ela tem medo de perder a minha companhia, e com razão.

Então Lia não havia feito mais que omitido, como ele mesmo estava fazendo. Era uma boa amiga, afinal. Como podia saber tanto sobre ele? Às vezes achava que a roqueira o conhecia melhor até mesmo que Orelha. Era tão pe... Petulante, petulante era a palavra (não perfeita, nunca perfeita. Lia, perfeita? Lia era insuportável, isso era!). Como se atrevia a se achar tão superior? Ela também havia errado, então que acabasse também a amizade, não apenas o namoro! Por outro lado... Estaria com ciúme? Lia sempre dissera que Adriano não prestava, e ainda assim o beijava, e ainda assim sorria após o beijo roubado. Estava com ciúme. Ha! Estava com ciúme! Tentou conter o sorriso, para que Juliana não notasse, e recuperar o raciocínio. Onde estava? O que diria? “Ela tem medo de perder a minha companhia, e com razão.”

– Você tem deixado ela de lado, né? Tá vendo, Ju, não dá pra passar o tempo todo junto, até os nossos amigos sofrem.

– Agora eu aprendi... Tô me sentindo tão culpada... Você acredita que a Lia tava passando por uma barra e eu nem percebi?

– Deixa eu adivinhar... A mãe dela vai voltar.

– Como você sabe? – Ju perguntou confusa.

– A Lia sempre fica super mal quando ela aparece... Foi só um palpite.

– Como você sabe? – Ju repetiu a pergunta, cada vez mais desconfiada.

Lia e Dinho se conheciam tão bem... Em dois encontros seguidos, Lia havia dito o mesmo que Adriano dissera na noite anterior e o garoto parecia conhecer o principal drama da roqueira mais do que deveria. Como sabia? Lia era ótima em esconder seu sofrimento e Dinho sequer era próximo de sua melhor amiga para lê-la tão bem. Em um instante, os pensamentos que a preocupavam voltaram à tona. Dinho e Lia pareciam feitos um para o outro, e pareciam prestar atenção um no outro por tempo suficiente para conhecer até mesmo os segredos que guardavam. Dinho ainda não tinha respondido se queria voltar. E se, agora que sabia que Lia o entendia, rejeitasse a ex para tentar algo com a roqueira? E se Lia soubesse que Dinho havia notado seu sofrimento e o visse como melhor companhia que Ju? Não aguentaria vê-los juntos!

– Posso entrar? – Uma voz chamou do outro lado da porta fechada. - Eu fiz uns sanduíches pra vocês. – Alice completou, interrompendo o conflito de Juliana.

– Entra, mãe.

– Obrigada, Alice. – Ju agradeceu.

– Comportem-se. – A mãe instruiu, deixando ambos vermelhos.

– É... Você quer descer? A gente come na praça. – Dinho sugeriu.

Seu quarto estava abafado, incômodo, e sua incerteza quanto à resposta que daria a Juliana potencializava uma quase claustrofobia. Precisava de outros ares, precisava distraí-la enquanto pensava...

– Claro.

–x-

Ao descerem, encontraram Lia e Gil conversando nos bancos.

– E então? Vocês voltaram? – Lia perguntou como se não se importasse.

Haviam terminado? Há quanto tempo haviam terminado? Sabia Lia do término quando beijou Dinho na noite anterior? Gil ficava mais confuso conforme convivia com o trio. Desde que entrara no Quadrante, havia percebido certa tensão entre o garoto de cachos e a roqueira, mesmo ele namorando sua melhor amiga. Era nítido. Invadiram o colégio juntos, dormiram juntos na sala, o que ainda gerava controvérsia entre os alunos. Alguns defendiam que Lia e Dinho gostavam um do outro e que haviam traído Juliana, outros defendiam a roqueira. Depois do que vira à noite, ainda que inicialmente a tivesse defendido, concluíra que Lia estava traindo Juliana com Dinho desde aquela época, que a roqueira não prestava, ainda que parecesse legal. E se fosse inocente? E se tivesse beijado o garoto apenas quando já sabia que haviam terminado? Mesmo assim, beijar o ex de algumas horas da melhor amiga soava extremamente errado. Talvez simplesmente não compreendesse as regras internas da amizade das duas...

– Te interessa?

– Sim, me interessa. – “E você sabe muito bem por quê.” completou em silêncio. – É sobre a minha melhor amiga namorar ou não um idiota que você tá falando.

Os insultos, as implicâncias... Quem observava a dupla jamais adivinharia o que havia passado na noite anterior. Gil os observava de perto, eram os mesmos de sempre, talvez com tensão ainda maior, o que o levava à conclusão de que, sim, talvez Lia estivesse traindo a melhor amiga desde o princípio. Tensão à parte, escondia bem.

“Você beijou esse idiota mais de uma vez ontem.” Dinho riu. Lia parecia entender o que se passava pela cabeça do garoto.

– Eu te elogio na frente de todo mundo e você me trata assim? – Adriano questionou irônico.

– Me elogiar? Justamente pelo que você disse ontem que não deveria voltar com a Ju! Como você pode ser tão insensível?

– Tá com ciúme? – Provocou, ignorando a presença de Juliana.

– Cala a boca! Eu tô falando da Ju! Eu não sinto mais nada por você, não quero nada com você, mas a Ju se importa com essas coisas e você devia ter ficado calado! Falar na frente da namorada sobre como gostou de ter ficado com a melhor amiga dela é baixo, Dinho, muito baixo!

– Você tá vendo a Ju preocupada? Lia, a única pessoa que fica tensa com o nosso passado aqui é você!

– Seu idiota! É claro que ela tá encanada com isso, olha a cara dela! – Lia apontou furiosa.

– Lia, eu sei me defender, ok? E eu já falei com o Dinho sobre isso. – Ju se pronunciou, enfim.

– Na sua cara! – Dinho zombou. – Não falei? Só você se preocupa com isso.

Lia queria gritar sobre o beijo, sobre como Dinho lhe havia implorado por mais, sobre como trairia Juliana na primeira oportunidade, mas não podia. Se incriminasse o garoto, também se acusaria, e Dinho sabia. Adriano sabia bem que a roqueira não poderia falar nada, que não se permitiria falar, por mais que quisesse, e se aproveitava da situação.

– Chega! Você voltou com esse filho da puta ou não, Juliana? – Perguntou impaciente.

– Bom, eu...

– Voltamos! Voltamos e você vai ter que aguentar! Eu sou o namorado da Ju, não importa o quanto você me odeie.

Ju olhou confusa para Dinho. Não sabia se comemorava sua conquista, ou se voltava atrás. O garoto estava agindo de forma estranha, sua briga com Lia estava indo longe demais. Poderia namorar alguém que tratasse sua melhor amiga daquele jeito? Bom, era seu namorado, não de Lia. Teriam que aprender a conviver, e, reconhecendo o quanto tinham em comum, sabia que poderiam se tornar amigos, era questão de tempo.

Lia não podia acreditar no que ouvira. Dinho era baixo, muito baixo. Como podia voltar com Juliana na manhã seguinte à noite em que beijara outra, que, para piorar, era a melhor amiga da agora namorada e, ainda por cima, tendo ele implorado por mais? Adriano definitivamente não prestava! Observou-os se afastarem de mãos dadas, parecia proposital por parte de Dinho para irritá-la. Odiava-o cada vez mais, como se fosse possível. Como pudera ter se deixado levar, por um segundo que fosse, na noite anterior? Era estúpida, romântica, idiota! Romântica? Não, quer dizer, apenas avoada. Para ter sido romântica tinha que gostar de Dinho, e não gostava. Aliás, odiava o garoto. Já havia dito que o odiava? Pois o odiava.

– Idiota, idiota, idiota! – Murmurou.

– Lia, você tá bem? – Gil perguntou confuso.

– Que? – Assustou-se com a presença do grafiteiro. – Tô, tô bem, sim, eu só tava...

– Querendo matar o Dinho?

– Isso.

– Como você pode gostar de um cara que te trata assim?

– Hein? Gostar? Eu não... Eu odeio o Dinho, Gil, não sinto nada por ele, de onde você tirou isso?

– Nada, não... Só suspeitei, sei lá... Você tava com ele no colégio, depois levou o Dinho pra grafitar com a gente...

– Escuta, Gil, a gente começou a se falar mais ontem, então eu vou te explicar: eu, Lia Martins, não sinto nada além de desprezo pelo Adriano. O episódio do colégio foi uma infeliz coincidência e o de ontem foi só pra que o Dinho não falasse nada, entendeu?

– Se você diz... – Gil acatou.

Por mais que Lia tão obviamente gostasse de um cara como Dinho, que, pior, era namorado de sua melhor amiga, por mais que tivesse traído a melhor amiga de anos, sentia-se estranhamente atraído à roqueira. Era um perigo, visto que nem Ju, sua amiga inseparável, Lia parecia respeitar, mas talvez estivesse gostando dela, e, contra isso, nada podia fazer.

– Você me faz um favor? Me leva pra grafitar de novo? Ontem foi muito bom pra esquecer os meus problemas, e eles parecem só aumentar.

– Como quiser. – Gil respondeu com um meio sorriso. Pelo menos ganharia mais uma noite na companhia da garota. – Dessa vez sem Dinho.

– Credo! Bate na madeira! Quero ele longe de mim!

Conversaram mais um pouco, riram mais um pouco. Talvez não fosse ruim ter uma amiga, Lia parecia sincera quando o assunto não era Dinho. Talvez a tratando como o garoto não a tratava, tivesse uma chance com a roqueira.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e daqui a pouco tem acampamento na fic! O que será que vai mudar? Já anuncio que de parecido só terá o esqueleto, pq teremos várias coisas novas e/ou diferentes ;)