–O senhor pode me explicar o que aconteceu, senhor Adriano?

Mathias estava furioso e, ao mesmo tempo, preocupado. Encarava Dinho como se pudesse perfurar o garoto com os olhos.

–Então eram vocês os grafiteiros??

–Não, não! A gente veio atrás do grafiteiro! A gente queria descobrir quem era o verdadeiro culpado pra limpar a barra do Orelha!

Mathias analisou o aluno.

–E por que eu acreditaria nisso? As provas estão contra vocês!

–Eu juro! Não foi a gente! Até porque nos trancaram por fora e por que a gente quebraria tudo? O senhor pode revistar as nossas coisas, não tem spray, nem molde, nem nada!

–É verdade, senhor diretor, os alunos estão limpos! Quer dizer... menos a Lia, né, que... –Robson tinha acabado de chegar, afoito.

–Como ela tá, Robson? – Dinho indagou preocupado.

–Adriano, depois! Primeiro, eu vou chamar os seus pais e algum responsável pela Lia e vou decidir qual medida tomar para puni-los.

Dinho tentou protestar, em vão. Alguns minutos depois, Alice, Mário e Paulina se encontravam na diretoria.

–O que foi que ele aprontou dessa vez? – perguntou Mario.

–A Lia e o Adriano passaram a noite no colégio.

Paulina, Mario e Alice ficaram boquiabertos.

–Dessa vez você passou de todos os limites! – exclamou Alice.

–Não tinha outro lugar pra namorar, não, ô garanhão?

Paulina ficou ainda mais preocupada com a pergunta de Mario.

–Como assim namorar? Você não é o namoradinho da Juliana?

–Não rolou nada disso que vocês estão pensando! Até porque a Lia tava ferida... – Alice e Paulina lançaram um olhar de reprovação para o garoto, que percebeu e corrigiu sua fala. – Quer dizer, não ia rolar igual, a gente só tava lá pra desmascarar o grafiteiro, só isso! Vocês têm que confiar em mim!

–Eu confio em você, eu não confio é nos seus hormônios. – respondeu Mario.

–Por falar em Lia ferida, será que o senhor diretor poderia concluir rápido a reunião? Eu preciso ver como está a minha neta.

–Certamente, dona Paulina. Lia e Adriano serão punidos com suspensão. Uma semana de suspensão.

Dinho se levantou.

–Isso é injusto!

–Adriano, vocês dois invadiram o colégio e isso é muito grave.

–Tudo bem, o senhor pode me punir, mas a Lia já sofreu o bastante, já recebeu a lição, não?

–O que ocorreu com a aluna Lia Martins foi uma fatalidade, mas não anula a invasão à propriedade. Ambos serão suspensos. Dona Paulina, a senhora está livre para ir visitar a sua neta, a quem desejo melhoras. Esse tempo em casa deverá servir para a recuperação.

–Muito obrigada, diretor Mathias. – sorriu para o diretor e lançou um olhar de reprovação para Dinho.

–Espera, dona Paulina! Já que eu já estou suspenso, eu posso ir com a senhora visitar a Lia? Por favor?

–Dinho, você não acha que já criou confusão demais perto daquela garota? Vocês passaram a noite juntos, já foi o suficiente. – censurou Alice.

–Mãe, por favor? Eu passei a noite inteira agoniado! Eu preciso saber se ela está bem!

–Você ouviu a dona Paulina, Dinho, ela vai ficar bem, agora já para casa!

–Pois eu acho justo que esse guri visite a minha neta. Ele passou a noite inteira cuidando dela e eu sou muito grata a isso.

Dinho deu um pulo e sorriu animado.

Todos se dirigiram ao hospital no carro de Mario. Adriano estava inquieto, tremendo de ansiedade no banco de trás. Paulina reparou no estado do garoto e se comoveu, sorrindo para Dinho. Ele parecia se importar mesmo com sua neta.

–x-

–Dr Lorenzo, como ela está? – Dinho perguntou afoito assim que avistou o médico no hospital.

–Foi você que ficou com ela na sala, eu imagino? – Lorenzo mediu as palavras, tentando entender a situação.

–Dr Lorenzo, o senhor pode informar esse moleque de uma vez, que eu não agüento mais? É Lia pra lá, Lia pra cá...

Lorenzo riu e observou Adriano. Estaria sua filha conquistando um certo coração? Lembrava-se de Dinho e Lia se implicando na praça e nas festinhas de aniversário e riu. O mundo dava voltas...

–Ela está estável. O curativo improvisado foi essencial para que a Lia se recuperasse tão rápido. – olhou fixamente para Dinho em sinal de agradecimento. – Você pode vê-la, eu agora preciso falar com a minha mãe.

Adriano correu para o quarto indicado pelo médico e Lorenzo voltou sua atenção para Paulina.

–Qual foi a decisão do diretor? O que eles estavam fazendo no colégio?

–A Lia e o Dinho foram suspensos por uma semana.

–Diz o Dinho que eles foram descobrir quem era o grafiteiro misterioso. Esses moleques têm cada uma... Olha, dr Lorenzo, o senhor me desculpe pelo comportamento do meu filho.

–Também não é assim, né, Mario, essa Lia não é fácil...

–“Essa” Lia? Olha aqui, eu sei que a minha filha não é a pessoa mais centrada do mundo, mas eu exijo respeito!

–Lorenzo, por favor... Aqui é hospital, você sabe disso melhor do que ninguém. – Paulina tentou controlar o filho.

–x-

Dinho entrou no quarto silenciosamente e encontrou Lia quase sentada, com a cama inclinada até onde a roqueira conseguia se curvar. Aproximou-se da garota e tentou segurar sua mão. Lia se esquivou.

–Você falou com a Ju?

–Eu fui direto pra diretoria e de lá eu vim pra cá.

Lia mordeu o lábio, preocupada.

–E por que você não foi atrás dela depois de ir à diretoria? Você não tinha que estar na aula?

–Lia... Nós estamos suspensos por uma semana.

–Que??? Mas isso é injusto, cara, a gente só...

–Invadiu o colégio durante a noite? Eu tentei argumentar...

Ficaram em silêncio por alguns segundos.

–Eu falo com ela depois da aula, mas antes eu quero saber de você.

Lia corou e se culpou pela demonstração.

–Eu estaria brigando com você se não estivesse ainda sob o efeito da anestesia...

–Eu sei. – Dinho sorriu e Lia sorriu de volta.

Olharam-se profundamente pelo que pareceu uma eternidade, até Lia desviar o rosto.

–A Ju... Eu não disse que ela ia reagir mal? Você deveria ter me deixado dormir no chão.

–Olha aqui, marrentinha, é por causa dos meus cuidados que você está bem, ok? Eu converso com a Ju depois, vocês vão se acertar.

–Se fosse tão fácil...

–Qual o problema? Não rolou nada entre a gente, você mesma deixou isso bem claro!

Lia pesou as palavras de Dinho.

–Então você quer dizer que se eu não tivesse cortado você teria traído a Juliana comigo, é isso? Você não presta!

–Ei, ei! – Dinho segurou os braços de Lia, que se preparava para bater no garoto. – Não, eu não teria traído a Ju, – “eu acho...” – eu só... Foi uma forma de... Foi só pra constar.

Lia observou a expressão de Adriano e resolveu deixar quieto. Ficaram se olhando por mais algum tempo até que uma batida na porta desviou seus olhares. Lorenzo entrou no quarto e deu de cara com Dinho segurando os braços de Lia e seus rostos a centímetros de distância. Paulina encarou a cena com curiosidade, rindo discretamente. Lia percebeu o movimento da avó e voltou o olhar para onde a avó mirava. Envergonhada, olhou para Dinho e para seus braços. O garoto se afastou, levemente corado, e levou a mão aos cachos.

–É... Então eu vou indo... Eu vou falar com ela, Lia, pode deixar!

Despediu-se de Lorenzo e de Paulina e foi ao encontro dos pais no hall do hospital.