Juliana bateu na porta dos Martins pela manhã. Era de praxe acordar Lia para ir ao colégio.

-Ju, que bom que você chegou! A Lia dormiu na sua casa essa noite?

-Que? Não, eu vim atrás dela, ela não está? – Juliana estava confusa.

-Como assim? Onde aquela irresponsável dormiu?! – Lorenzo estava furioso. Pegou o telefone para ligar para a filha. – Fora de área! Onde foi que aquela maluca se meteu?!

Lorenzo estava vermelho de raiva, apesar de preocupado. Estava acostumado com os sumiços de Lia, porém cansado. Aquilo tinha que ter um fim!

-Lorenzo, quem sabe a gente não espera a Ju ir ao colégio? Talvez ela esteja por lá... Ela vai aparecer, ela sempre volta. – Paulina acalmou o filho.

-Você nos avisa?

-Pode deixar, tio Lorenzo!

Juliana saiu em direção ao Quadrante. Preocupada com o sumiço da amiga, não percebeu a aproximação de Fatinha no portão.

-Tá esperando o namoradinho, Ju? Se toca, porque o sinal já tocou... – riu.

-Bom dia pra você também. – respondeu seca.

-Ué, cadê a amiga inseparável?

-Agora não, Fatinha...

-Que foi? Vocês brigaram de novo, é? Ciuminho do novo namorado, imagino... Se eu fosse você, eu não dava essa moral toda pro Dinho nem na porta da escola, nem em lugar nenhum.

-Aham, tá, brigada, viu?

-Olha eu tô falando numa boa, uma hora ele cansa de brincar de casinha e vaza... Fica ligada.

Ju tentou ignorar e focou em procurar o namorado. Dinho tampouco estava por perto. Começou a estranhar, e se não fosse apenas uma coincidência? Ao ouvir o apito de Robson, entrou pelos portões da escola em modo automático, ainda preocupada. Estranhou os alunos parados em frente à porta da sala de robótica, que estava trancada por fora por um banco. Logo Robson se aproximou, também estranhando.

-Quem foi o engraçadinho??

-Aposto que foi aquele pichador, hein! – falou Pilha.

-Ah, pelo amor de deus, e eu vou ter que pintar a sala inteira? Não vou pintar coisa nenhuma! Dá licença.

Afastou os alunos e tirou o banco da porta. Cuidadosamente, entrou na sala, sendo seguido pelos alunos. Assim que acendeu a luz, o caos da sala ficou visível. Objetos estavam atirados pelo chão, confirmando a invasão. Preocupado com o que poderia ter sido roubado pelos vândalos, Robson caminhou até o meio da sala para ter uma visão geral do local. O que viu, no entanto, foi inesperado: dois alunos dormindo abraçados. Apesar de parecerem estar sempre em pé de guerra, não era ilusão de ótica o que Robson via. Lia estava, de fato, no colo de Dinho, abraçada contra seu peito.

-O que é isso, meus amores?! Ai ai ai!

Curiosos, todos os alunos se aproximaram de onde o inspetor estava e puderam ver com seus próprios olhos. Ju estava à frente, boquiaberta. Dinho e Lia haviam acordado com o grito de Robson e tentavam se adaptar à claridade. Adriano ficou sem reação ao ver Juliana à sua frente sentindo-se traída.

-E-eu posso explicar!

Fatinha ria sozinha da situação. Sabia que aqueles dois ainda se gostavam, mas jamais esperou encontrá-los naquela posição em uma sala de aula! Nem ela era assim! Todos estavam chocados.

-Explicar o que? Que você é um moleque galinha e que a minha melhor amiga é uma traíra vadia???

Lia se alterou e tentou levantar de onde estava, mas Dinho a segurou.

-Eu não sei como eu pude acreditar em você, Lia, você não presta! Hipócrita, fura-olho, vagabunda!

Lia tentou se afastar de Adriano novamente, mas estava muito fraca. Rolou do colo de Dinho para o chão e não conseguiu mais se levantar. Assim que a garota se afastou, Juliana pôde ver a mancha de sangue na camisa de Dinho.

-Dinho!!! O que aconteceu com você?? – Ju correu até o garoto. Aproximando-se, percebeu Lia desacordada entre ela e Adriano, que imediatamente se levantou e segurou a roqueira em seus braços novamente.

Juliana estava se sentindo péssima. Percebeu enfim que era Lia quem sangrava.

-Eu vou chamar a enfermeira, vocês não saiam daí! – Robson sai exaltado, apitando.

-Aí, galera, acho que sei com o que a Lia se cortou... – Pilha apontou para os cacos de vidro cobertos de vermelho a seus pés.

Juliana lacrimejava, preocupada com a amiga e se culpando pela forma como a tratou.

-Dinho, você que está inteiro, pode começar a se explicar! Como você pôde ser tão descuidado assim? Tudo bem que vocês amam brigar, mas chegar a esse nível de masoquismo?

-Fatinha, por favor... – Dinho estava cansado, não queria brigar com a garota. Estava mais preocupado com a loira em seus braços, pálida e desacordada.

Lia reagiu pela primeira vez desde que caíra, segurando a camisa de Dinho. Ju observava o olhar de zelo do garoto para sua amiga e se comoveu. Tinha ciúme do quão próximos estavam e da idéia de terem passado a noite juntos, mas sua amiga de infância estava frágil e sangrando.

A enfermeira do colégio enfim chegou à sala. Dinho sentiu frio ao ter Lia afastada de si, mas era necessário para que a garota fosse atendida pela especialista. Segurou a mão da roqueira e deitou sua cabeça contra a parede.

-Você que fez os curativos? – perguntou para Adriano, que confirmou com a cabeça. – Você foi de grande ajuda, parabéns! Agora, eu preciso que o colégio chame uma ambulância para levá-la ao hospital, inspetor Robson.

Mathais entrou na sala, seguido por Rita.

-Já está a caminho! Meninos, preciso de ajuda pra levar a aluna pra fora da sala, aqui vai ficar apertado, vamos facilitar!

Fera e Dinho foram os primeiros a levantarem as mãos.

-José, Frederico, tragam ela para a entrada do colégio. Adriano, para a minha sala. Agora!

Dinho tentou adiar até o último segundo sua proximidade com a garota, mas Fera e Zé prontamente a levaram. Adriano se levantou de onde estava e seguiu Mathias.