Fim de ano estava quase chegando. Eu dava duro na escola, os professores me deram uma enxurrada de lições para eu ter pelo menos uma chance de recuperar a nota e passar de ano letivo.

Eu havia acabado de chegar do trabalho e fazia de tudo para fazer o máximo de lição que podia, os prazos dados eram curtos e as tarefas difíceis. E piorava, pois eu não era rápida para digitar no computador, nem pesquisar.

Finalmente terminando o dever, decidi ligar pra Lire.

— Alô?

— Oi Lire, tá ocupada?

— Não, por quê? Aconteceu algo?

— Não, eu não tenho nada pra fazer por enquanto, então resolvi te ligar.

— Ah se for assim, então não precisa nem perguntar se tô ocupada, você é muito formal Amy!

— Ah, não gosto de ocupar o tempo das pessoas pra falar minhas baboseiras.

— Eu não ligo de ouvir suas baboseiras já que somos amigas! Enfim, como andam as coisas aí?

— Ruins...

— Por quê?

— Como faltei quase o ano inteiro me deram uma porrada de lições, atividades, trabalhos de recuperação de notas e faltas, acabei de terminar apenas uma parte.

— É, você já devia esperar isso, não vai ser mole, mas vai recompensar os seus esforços.

— O ruim é se eu fizer tudo isso e ainda reprovar! Aí eu me mato!

— Pelo menos você tentou.

— Vou ficar com tanta vergonha se os outros souberem...

— Não é vergonha nenhuma repetir. Eu penso assim, é melhor conseguir na garra do que por pena, porque muitos relaxados passam desse jeito né?

— Verdade.

— Ah sim, tenho uma novidade!

— Conseguiu um namorado? — Meu tom era de deboche.

— Não, idiota! Mas você vai ver quando eu tiver namorando, vou esfregar na sua cara!

— Okay, okay, mas então qual é a nova?

— Meu pai tá querendo dar uma folga pra gente de fim de ano, e quer convidar todos pra uma viagem. — Ao final da frase, ouvi algumas vozes, um pouco altas.

— Lire? O que é isso?

— Ah, era meu pai dando bronca em mim, ele queria fazer surpresa sabe?

— Sei, fala pra ele que eu não vou contar pra mais ninguém. Mas me fala mais sobre o assunto.

— Bem, meu pai tem uma casa alugada na praia e inventou de passar uns dias lá e vai chamar todo mundo, o que me diz?

— Claro que vou! Só vou ter que comprar um bikini... — Disse meio com vergonha de me imaginar usando a peça.

— Quando fazer isso, chame eu e as meninas pra te ajudar.

— Eu vou ficar com vergonha...

— Deixa disso sua fresca!

— Não sou fresca! Só tímida.

— Também vamos te ajudar a perder essa sua timidez. — Notei um pouco de malícia em sua voz.

— Não sei o que está pensando, mas não acho uma boa ideia.

— Para mim é, você vai gostar querendo ou não. Hihihi.

— Ai ai ai, só quero ver.

...

— Então, o que acham? — Larry nos perguntou, havia acabado de falar sobre a viagem à praia.

— Eu irei. — Disse prontamente.

Todos assentiram também, iria ser daqui a três semanas, vamos partir na sexta e voltar na segunda de tarde.

— Meninas, estão livres no sábado? — Lire perguntou chamando atenção de todos. As três assentiram com a cabeça. — Que bom, é porque a Amy tá precisando de um bikini e queria chamar vocês pra vir comprar com a gente.

— LIRE! NÃO FALE ISSO TÃO ALTO! — Quis matar a loira agora. Fiquei completamente sem graça e vermelha, pois TODOS escutaram. Ouvi algumas risadinhas pela minha reação.

— Hahaha, imagine o bicho-rosa de bikini! Vai ter comprar tamanho SXMHGG. — Azin zombava de mim.

— Que raio de tamanho é esse? — Perguntei.

— Super Extra Mega Hiper Grande Gigante. — Falou debochando mais ainda. Dei um soco na sua cabeça.

...

Os dias se passaram, até chegar o sábado, dia de escolher meu bikini. Eu e as garotas estávamos numa loja de praia, havia várias peças lá. No momento eu me encontrava no provador, me olhando enquanto vestia um bikini com estampa de oncinha. Tinha pequenas miçangas transparentes nele, a parte de baixo era apenas uma calcinha um pouco cavada na cor preta.

— Sai logo daí! — Ouvi Elesis gritar. Saí do provador e recebi alguns olhares pensativos e negativos.

— Vire-se. — Ordenou Holy, assim fiz ficando com minha bunda virada para elas. Não é por nada, mas mesmo sendo mulheres e minhas amigas, a sensação de ter seu traseiro observado era angustiante.

— Hum, eu não gostei. — Disse Lire.

— Também achei que não ficou legal. — Arme concorda. — E você Amy, o que acha?

— Muito simples.

— Então... O próximo. — Elesis me dera um bikini tomara que caia estampado de flores havaianas, a calcinha estilo cortininha. Coloquei e saí novamente, dei uma voltinha para verem como a parte de trás ficou.

— Que lindo! — Holy elogiou.

— É meio desconfortável... — Disse receosa.

— Sem querer ofender Amy, mas seus seios ficaram meio pequenos... — Elesis criticou.

— Ah. — Senti-me sem graça, considerando o fato de ter seios pequeninos.

— É uma pena, porque eu acho que ficou bom em você. — Disse Lire.

— Mas tomara que caia é ruim porque cai toda hora, não quero ficar puxando isso pra cima o momento todo! — As meninas riram.

Nunca achei que seria tão difícil escolher um bikini que me agradasse e ficasse bom em mim. Depois de experimentar uma enxurrada de peças, finalmente encontrei um que gostei e que minhas amigas também amaram!

Era um bikini frente única, estampado com alguns desenhos variados, listras; flores simples; nas cores azul bebê; vermelho; branco; um pouco de laranja. A parte de cima tinha nós nas alças de enfeite, a parte de baixo era lisa na cor azul bebê, tinha nós nas laterais também. Enfim, ele havia ficado bem no meu corpo.

— Agora sim, finalmente. — Arme dizia, num tom alegre.

— Se sente confortável? Gostou? — Perguntava-me Lire.

— Sim, adorei.

— Pois eu amei! Está linda Amy! Apesar de que eu preferia que fosse rosa. — Holy me abraçou, dando umas olhadas na peça.

— Do jeito que você estava, pensei que ia acabar escolhendo um maiô brega, mas esse aí ficou bom... Até eu te pegaria! — Elesis brincou dando um tapa na minha bunda. Todas rimos.

— Ok, agora a próxima é você ruiva! — Dizia Lire que surpreendeu a mencionada.

— Eu já tenho o que vestir! — Retrucou cruzando os braços.

— Aquele seu maiô horrível? — Arme implicou.

— Não tem nada de errado com ele! Bem... Talvez ele esteja velho e um pouco pequeno...

— E fora de moda! Vem, vamos escolher um bikini pra você usar. — Lire a empurrava ao provador.

— Bikini não! Eu vou ficar com vergonha... — A ruiva corava ao imaginar sendo olhada por todos.

— Sem mais, nem menos, não é vergonha nenhuma, é só escolher um que te deixe bonita, vamos! — Elesis foi praticamente jogada no provador e assim passamos mais horas dentro da loja.

...

E finalmente, o grande dia chegou. Todos se encontraram na casa de Lire à tarde e nos preparávamos para sair. Eram dois carros o de Larry e de Alys, a mãe da loira. Eu, Azin, Lire e Kim fomos no primeiro enquanto Holy, Arme, Elesis e Ronan no outro, todos couberam direitinho, não tinha espaço para mais ninguém.

A viagem foi longa, pegamos um trânsito que nos fez desanimar, mas chegamos na casa sãos e salvos.

— Ufa! Me sinto exausta, esse trânsito é de desanimar até o Kim... — Disse brincando e todos deram uma risadinha.

— O pior foi escutar a Arme cantando! — Elesis se pronunciou.

— A minha voz não é ruim, não é Ronan? — A baixinha perguntou ao garoto fazendo aquela carinha que era impossível negar algo.

— Claro que não, você foi ótima!

— Ronan, não mime ela! Ela quase estourou meus tímpanos! — Essa frase da ruiva teve grande impacto nos sentimentos da roxinha que começou a chorar.

— Hey, vocês! Viemos aqui pra curtir e não brigar. — Me aproximei de Arme a abraçando e acariciando seus cabelos.

— Verdade, vamos arrumar as coisas e dar uma voltinha na praia. — Disse Larry.

— A água não tá fria não? — Holy perguntou inocente.

— Vamos só caminhar, são quase seis horas da tarde. Deixaremos pra nadar amanhã. — Completou o homem.

Nos trocamos e caminhamos. Ao pisar no local, senti a areia geladinha em meus pés, ainda tinha algumas pessoas na praia, jogando; conversando; havia luzes; os quiosques e uma pequena quadra esportiva. Fomos andando sem rumo pela borda do mar, admirando a paisagem, a maré e as ondas. Apenas uma coisa me incomodou.

— Que cheiro de peixe e sal! — Reclamei.

— E você esperava o que, minha filha? Flores? Estamos na praia, e onde tem praia tem mar e onde tem mar, há peixes e água salgada! — Azin respondeu-me com impaciência.

— Mas nem sempre o cheiro é assim, idiota.

— Talvez sejam os quiosques. — Ronan se intrometeu, como era o cozinheiro do café, ele devia saber destas coisas.

— Seja o que for, me dá vontade de vomitar... — Falei completamente enjoada.

— Que tal comermos alguma coisa? — Alys sugeriu.

Andamos até um quiosque e sentamos. Pedimos algumas porções de batata, refrigerante, Lire queria devorar tudo, mas foi impedida pela mãe.

— Já chega mocinha! Sabe que não pode se entupir de gordura.

— Mas é só um pouco, mãe! — Retrucava a loira, pedindo com os olhinhos brilhando.

— Nada disso, seu médico disse que essas coisas fazem mal pra você, deve comer alimentos mais saudáveis.

— Aff. — Suspirou Lire.

O resto da noite passou-se normalmente. A habitação era confortável e tinha um ar agradável, as únicas irritações eram os pernilongos e o calor, afinal estávamos na praia. Os pais de Lire tinham um quarto só para eles, eu e as meninas dormimos todas em outro quarto, que por sinal era espaçoso e os meninos ficaram com o último.

Deitada na cama, levantei-me subitamente para beber água. O que não esperava era ver o vulto de uma pessoa que me fez arrepiar a espinha. No quintal perto da entrada da casa, uma figura ofusca e brilhante estava parada e parecia observar o céu.

Totalmente estática, a silhueta dela, ou melhor dele, era muito parecida com uma pessoa muito especial em minha vida. A cabeça dele virou em minha direção, congelei.

Olhos dourados, cabelos vermelhos como fogo, pele pálida...

— J-jin?! O copo de água que segurava escorreu se espatifando no chão. Passos apressados desciam a escada. Me distrai com o objeto caído e quando olhei no quintal novamente, a figura não estava mais lá.