Accidentally escrita por Firefly Anne


Capítulo 5
Capítulo 4




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CAPÍTULO 4

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— Hum, obrigada — agradeceu Melanie, tentando se levantar. Maxton a impediu, claro, segurando-a pela mão.

— Eu conheço uma forma melhor e mais prazerosa de você me agradecer, Abelhinha.

— Você ainda não desistiu, Maxton?

— Claro que não, bobinha. Persistência é um dos meus nomes, não sabia?

— Eu acho devia desconfiar — torceu os lábios, tentando recolher a mão que ele segurava.

— Realmente devia — assentiu.

O sorriso de Maxton, aquele que deixava seus lindos e brancos dentes à mostra a fez perder o foco. Mantenha o foco!, ela comandou firme, ordenando os pensamentos a não mais se confundirem sempre que estava em sua intimidante presença.

— Mas, me diga uma coisa? — desafiou, erguendo as petulantes sobrancelhas. — Como eu poderia saber, se nem mesmo o conheço?

— Não conhece porque não quer. Tem certeza de que nunca ouviu falar de mim?

Melanie pensou por um minuto, colocando em ordem a lista de qualidades do malandro à sua frente.

— Um imã para confusão, briguento, participa de competições ilegais, é usuário de droga, tem fama de pegador... Hum, será que eu me esqueci de algo? — Sorriu, vitoriosa.  — Se faltou algo na lista é porque eu me esqueci de comprar uma de suas biografias que as suas fãs fizeram para você.

Maxton riu alto.

— Existe realmente uma biografia? Essas meninas me adoram!

— Como vou saber? — Os olhos de Melanie se alargaram. — Existe?

— Não. Mas não seria má ideia. E sobre a sua lista... — A expressão de Maxton, de divertida passou para irritada. — Nós temos algo em comum, Abelhinha — disse ele, buscando dentro do bolso do jeans o maço de cigarros.

O tabaco era, sem dúvida, a sua droga favorita.

— Não me diga! — ironizou. — E o que seria?

— Você nunca aprendeu a não julgar as pessoas antes de analisar a si mesma? Você enche a boca para me acusar de ser um usuário de drogas, mas, veja você — apontou para ela. — Há poucos instantes estava dando uma puxadinha!

— Você fala como se fosse cocaína. São apenas anfetaminas, e, me responda: qual estudante de qualquer universidade sendo pressionado de todas as formas possíveis não faz uso de uma droga ou outra em momentos oportunos?

— Caleb não fuma nem mesmo um cigarro.

— São raras as exceções.

Melanie fitou o relógio no punho, aliviada por estar em seu dia de sorte. Em vinte minutos a sua classe precisaria estar reunida no auditório, pois teriam uma palestra com alguém muito famoso do seu departamento.

— Está na minha hora.

Maxton levantou-se antes que Melanie ousasse procurar apoio na parede para erguer-se, pois a mão grande e máscula do rapaz estava estendida em sua direção. Segurou-a para conseguir impulso e logo estava de pé, frente a frente a ele.

Ele se curvou apenas para recolher as mochilas jogadas no local em que estavam puxando. Melanie olhou para os lados, sem saber se devia agradecer pelas bolinhas ou simplesmente correr o mais longe possível dele, pois sua presença a deixava com os pensamentos como pequenas bolhas de sabão.

— Nos vemos hoje à noite — prometeu ele. — No Roxy.

Se Maxton Clarke não fosse um sujeito muito presunçoso teria corrigido e lhe dito que trabalhava no Roxy apenas as sextas, sábados e domingos. Naquela segunda-feira, teria a noite inteira para brincar e dar a atenção necessária à Luna. Mas como ele era aquele que a perseguia tentando arrematá-la como se Melanie fosse uma peça em exibição de um leilão e ele, o milionário disposto a comprar a peça, não negou.

Ele que fosse até o Roxy e batesse com a cara contra as grades; não iria encontrá-la!

Até mais tarde, então — disse, se afastando, com um sorriso largo em seus lábios.

•••

— Então agora vocês são, tipo, melhores amigos para sempre, como aquela música idiota da Miley Cyrus? — zombou Caleb.

— Que música, cara? — retrucou Maxton, seguindo em direção ao estacionamento para buscar a sua moto.

True friend. Algo como escrever os nomes nas cartas e cartões — Maxton o encarou com as sobrancelhas erguidas, e completou antes mesmo que o melhor amigo fizesse conclusões errôneas sobre estar ouvindo músicas de mulherzinhas. — Opa, opa, a culpa é da Allison, ok?

— E eu disse alguma coisa por acaso?

— Esse seu sorriso está dizendo por você, Max. A culpa é da Allison, eu queria muito, mas não posso quebrar todos os CDs da Miley Cyrus que ela coleciona!

— Você já tentou quebrar algum, então?

— Cacete, mas é claro que sim! Acha que é fácil ouvir a minha irmã gritar como uma maluca “I don’t give a damn ‘bout my reputation”. Ela tem que se preocupar com o cacete da reputação, ela é só uma menininha!

— Certo, certo — Maxton concordou enquanto desciam as escadas. O prédio de Anatomia ficava a três minutos do departamento de enfermagem. Mesmo que isso significasse que ele chegaria atrasado, a conversa com Melanie valeu à pena. — Mas você está ciente de que é apenas a letra de uma música, não está?

— Uma música diz muito sobre o que uma pessoa quer — Caleb coçou a nuca. — Pelo menos foi isso que a sua mãe me disse quando me encontrou ouvindo um daqueles hip hop. “Você não é nenhum garoto do Bronx para ouvir este tipo de música, Caleb Walker!” imitou a voz de Charlotte.

— E ouvir hip hop...

— É. Você já sabe o fim da história — entortou os lábios. — Mas, você e a Melanie... hein? Quem diria!

— Descobri que ela não é tão inacessível quanto eu pensei — tirou a chave da moto de dentro do bolso. — Nós vamos ao Roxy hoje à noite.

— Caramba, Max, ir no sábado e domingo não foram suficientes?

— Você vai ou não, cara?

— Claro que vou. Nada no mundo vai me fazer perder assistir ao segundo round da Melanie chutando o seu traseiro.

•••

Melanie chegou à casa da Sra. Aberdeen às 18h45. A mulher de sessenta e poucos anos estava um pouco pálida e com o semblante abatido, mas alegara que era apenas uma virose, até mesmo fingira uma tosse. Quando relanceou Melanie, Luna estava estonteante em poder passar algum tempo com a irmã. Ainda que estivesse todos os dias dos últimos dois anos ao lado de Melanie, aquela era a primeira vez em que a irmã estaria apenas para ela. Longe do trabalho. Longe dos livros. Longe do papai alcoólatra. Apenas para se divertirem.

— Finalmente vamos usar as tintas! — A menina comemorou com alguns pulinhos por finalmente poder usar a caixa de tintas que Lucia a presenteou.

Durante algumas horas elas estavam esparramadas no tapete felpudo, com várias folhas de papel e muitos potes de tintas de variadas cores, onde pintavam os desenhos das princesas da Disney que Melanie procurara no Google.

— Podemos pintar o cabelo da Ariel de azul, Melli? — perguntou Luna, olhando admirada para o desenho da princesa Tiana e seus cabelos verdes e vestido rosa.

— O cabelo da Ariel é vermelho, Luna. Ficaria melhor pintar de vermelho, pois é a cor original.

— Mas o vermelho é a cor que todos pintam, inclusive você! — acusou, apontando com o dedo o cabelo vermelho do seu desenho da Ariel. — Você sempre diz que eu tenho de fazer diferente. Então vou pintar o cabelo da Ariel de azul.

Melanie ficou sem argumentos contra a explicação da irmã de apenas nove anos, que falava tão dissuasiva como se fosse uma mocinha de dezesseis anos.

— Então você pode pintar de azul.

Enquanto Luna molhava o pincel na tinta azul para aplicar no desenho da sereia Ariel, Melanie cobria o contorno dos olhos da princesa com o hidrocor preto da irmã. No final das contas haviam feito uma aposta sobre quem pintaria melhor a Ariel, e Caleb, no próximo sábado era quem ia escolher.

Luna já estava contando com a sua vitória, pois o amigo de sua irmã a adorava.

A alguns minutos de distância daquele prédio quase desmoronando em uma área pouco preservada de São Francisco, Caleb e Maxton estavam no Roxy bebendo uma cerveja na área comum do bar.

— Max? — chamou Nilley, surpresa com a presença do rapaz em plena segunda-feira. — O que você está fazendo aqui?

— Estava entediado... — respondeu, sem nunca se desprender de sua procura por Melanie.

— Devo trazer uma cerveja para você, então?

— Já pedimos uma cerveja.

— Você está me traindo, Max? —perguntou Nilley, realmente surpresa por ter sido trocada.

— Você é a minha preferida, Nilley, mas não estava aqui quando eu cheguei.

— Hoje é segunda-feira! — ela sorriu, a decepção já no passado. Ou não completamente no passado. Ela aproximou a boca do ouvido de Maxton, murmurando. — Mas, por favor, me diga o nome da vaca que te roubou de mim. Eu prometo não fazer nada além de arrancar os olhos dela, talvez os dedos, as unhas... Só o nome.

— Não perguntei o nome dela.

— Ai, que droga! — empertigou-se, sorrindo.

— Mas, é sério, que diabo você está fazendo aqui em plena segunda-feira? Era para estarmos com as portas fechadas, mas o idiota do Carson pensa apenas nos lucros.

Divagou Nilley, apoiando sem querer o cotovelo na mesa dos garotos.

— Nilley! — ouviram o grito de Nina.

— Volto assim que a bruaca me liberar.

Cinco minutos após a saída inesperada de Nilley, Maxton continuava à procura de Melanie, sem nenhum resultado. A garota que os atendera minutos atrás apareceu depois de alguns minutos com a cerveja. Era uma asiática com o semblante marcado pelo cansaço.

— Eu não posso acreditar que você está aqui por causa dela, Max — começou Caleb. — Sim, ela é bonita. Tem um corpo espetacular e sem aquelas roupas deve ser uma delícia.

— Deixe de ser idiota, Caleb. Eu, hum, não estou aqui por causa dela.

— Mas é claro que está! — teimou o mais novo. — Eu vi os seus olhares para ela, Max, não tente negar.

— E que porra você estava fazendo para me seguir com os olhos?

— Qualquer um seria capaz de vê-lo babando por ela. Mas, preciso concordar com você, ela é realmente uma gostosa!

— De quem você está falando?

— Da dançarina, é claro.

O Roxy estava vazio; havia apenas eles dois e mais um grupo de pessoas que não completariam quinze.

Maxton aproveitou a oportunidade que lhe surgiu assim que avistou Nilley. Ao vê-lo novamente, seguiu em sua direção.

— Ei, Max! — disse Nilley, batendo levemente em seu ombro. — Consegui me livrar da Nina. Aquela ali consegue ser uma vaca quando quer. Enfim, um dia eu serei presa por enfiar a cabeça dela dentro de uma privada cheia de merda.

Os dois meninos riram. Mas Maxton já estava irritado em estar ali, há duas horas, e nenhum sinal da Abelhinha.

— A sua amiga, Melanie, esteve procurando por mim em busca de droga.

— São as anfetaminas da Mel. Coitadinha dela se ficar sem a droga.

— Ela é viciada?

— Não diria viciada... Melanie começou há um ano e meio; era quase impossível ela aguentar o ritmo sem desmaiar no banheiro.

— Ela não está aqui hoje?

, não. Hoje é a folga de Melanie. Hoje e os próximos três dias.

Nilley se afastou porque Nina a estava chamando, novamente, para limpar os banheiros. Não demorou muito até que os garotos pagassem as bebidas que consumiram e seguiram cada um para a sua casa.

•••

— Max, a sua vitamina está em cima da mesa. Não se atrase, querido!

Ouviu a voz de Charlotte enquanto ainda estava no banho. Com o celular na viva-voz ele conversava com Asher.

— E que merda nós vamos fazer em frente ao prédio de enfermagem? Porra, Max, me escuta, eu preciso falar com você, é urgente, não tenho tempo para brincadeiras, cara.

— Eu preciso encontrar uma pessoa, hum, uma garota. Dá pra concordar logo?

— Não ferre com tudo, cara, ou eu mesmo trato de cortar as suas bolas com a tesoura.

Asher finalmente concordara com Maxton em fazer a reunião em frente ao departamento de Melanie, pois assim poderia encurralá-la nas primeiras horas da manhã, por ter recebido um bolo.

Ninguém furava com Maxton Clarke. Nem mesmo alguém como Melanie.

Ele e os amigos estavam no pátio, cada um montado em suas motos, enquanto discutiam os negócios das próximas corridas.

— Zane descobriu uma estrada abandonada em Chinatown, é perfeito para o esquema — explicou Asher.

— E já tem data para a próxima corrida? — indagou Maxton.

— Em duas semanas. Os caras de Berkeley estão querendo participar... Mas não dei nenhuma resposta definitiva sobre a entrada deles — respondeu Asher, cauteloso.

— Você tá maluco, cara? — explodiu Peter, um rapaz com cabelos curtos, algumas tatuagens e olhos amendoados.

— Não acho que seja uma boa ideia envolver os caras de Berkeley — comentou  Maxton. — Eles só trazem problemas!

Lembrou-se de um acontecimento no ano anterior, em que estavam em um dos rachas numa estrada abandonada com os caras de São Francisco, Berkeley e São Diego. Algum deles dera com a língua nos dentes sobre o local privado em que aconteceriam as competições, tendo como resultado a chegada da polícia uma hora depois de estarem a postos, prontos para começar. Por sorte todos conseguiram fugir e não houve nenhuma prisão.

— Esqueça o que aconteceu no ano passado, Max — disse Asher. — Se a polícia novamente aparecer, eu me encarregarei de arrancar uma por uma as bolas dos caras de Berkeley ou de qualquer outro mané que der com a língua nos dentes.

Asher tinha uma obsessão por cortar bolas!, pensou Peter.

A discussão sobre colocar ou não os nomes dos caras de Berkeley continuou por mais alguns minutos, até Caleb chegar, completamente afoito.

— Já conseguiu juntar os cacos da sua reputação, Max?

— Acho que a minha vontade é de partir a sua cara ao meio. E, ao contrário da minha reputação, eu não pegaria os “cacos” para juntá-los.

— Você não faria isso, meu amigo — zombou Caleb, esmurrando o ombro de Max. — Você me ama!

— Ah, mas tenha certeza que eu faria!

— E como você explicaria isso a Charlie? Sua mãe gosta muito de mim, Max.

— O caso é que Charlotte gosta de qualquer animal, principalmente você.

— Também não precisa ferir os meus sentimentos, babaca.

— Que diabo está acontecendo aqui? — interviu Zane, confuso com a troca gratuita de farpas entre Maxton e Caleb.

— Está acontecendo uma coisa inacreditável! — argumentou Caleb. — Pela primeira vez em muito tempo, não é uma mulher que está correndo atrás do Poderoso Maxton Clarke. É justamente o contrário!

Os rapazes ali assobiaram e Maxton fechou a cara.

— E eu não estou contando a história inteira — sorriu zombeteiro para Maxton antes de continuar. — A garota que o nosso garanhão está tentando conquistar não dá a mínima para ele.

Os quatro rapazes riram estrondosamente com a notícia, parecendo jubilosos que Maxton finalmente fosse recusado por alguém do sexo feminino — o que não era muito comum.

— E quem é ela?

Caleb se encarregaria de dizer feliz quem era a mulher que Maxton estava tentando arrematar como sua; a arisca e impaciente Melanie.

No entanto, nem precisou desperdiçar a sua saliva, pois a moça havia acabado de chegar. Com uma saia plissada e uma camiseta por dentro e sapatilhas, ela parecia uma bonequinha, e, para completar o seu visual juvenil, uma linda trança nos cabelos castanhos claros.

— Ali está à sortuda! — disse Caleb em um sussurro. — Melanie Dorchester! — anunciou, com uma voz esquisita de garoto de comercial de carros.

Os garotos fizeram sons com a boca, tirando sarro de Maxton, enquanto outros lhe davam socos nos ombros. Ele a seguiu com o olhar.

Sem nenhuma palavra aos amigos, ele desceu da moto, e correu para alcançá-la.

— Ei, Melanie! — chamou.

Melanie se virou para ele.

— Hum, oi — respondeu ela. — O que está fazendo aqui? Que eu saiba este prédio é da área de saúde e você não me parece com alguém que esteja cursando a matéria.

— Está certa — ele coçou a nuca, nervoso. — O meu prédio fica do outro lado, mas eu precisava, hã, falar com você.

Eles voltaram à caminhada, lado a lado.

— Já está falando.

— Você não estava na boate — acusou.

— Claro que não. Era a minha folga.

— Você não disse que estaria folgando.

— E você ao menos perguntou? — retrucou.

— Vou me lembrar de ser mais específico com você — disse ele.

— Mais alguma coisa?

— Tem planos para hoje à noite?

— Na verdade, Nilley e eu marcamos de ir assistir um filme.

— Qual filme? — perguntou curioso.

— Filme de mulherzinha, Maxton. Não é a sua praia.

— E como você sabe?

— Você é muito irritante, sabia? Sai do meu pé, Maxton.

— Não estou no seu pé, se você ainda não notou.

Melanie parou abruptamente em frente a uma porta; Maxton leu minutos depois que ali se tratava de uma biblioteca. Entrou com Melanie, seguindo-a pelos corredores enquanto buscava os grossos livros de anatomia.

— Você me deve o nome do filme.

O casamento do meu ex.

Com aquele cara, Josh Duhamel?

É. Como você sabe?

Um largo sorriso se apoderou dos lábios cheios e vermelhos de Maxton.

— O cara fez o Tenente William Lennox em Transformers. E uma vez eu fui forçado a assistir O casamento por... Allison.

Melanie permaneceu em silêncio. Allison devia ser uma de suas namoradas. Argh!

— Allison é a irmã do Caleb — esclareceu. Melanie arregalou os olhos, surpresa, pois não sabia que Caleb tinha uma irmã. Se fosse realmente verdade o que Maxton dizia. — E aonde você pretende assistir? O filme não está mais em cartaz há 3 anos.

— É claro que não está. Vamos fazer uma sessão de cinema na casa de Nilley.

Estava ao lado de Melanie quando ela depositou os seis grossos livros em cima do balcão para computar a retirada. Depois de pronto, ela se dirigiu à saída.

— Deixe-me a ajudar com os livros — ele pediu.

— Não está tão ruim assim... posso levá-los sozinha.

— Não seja teimosa, Abelhinha.

Tomou os livros dos braços de Melanie e se surpreendeu com o peso.

Ele a deixou em frente à sua classe.

— Acho que nos vemos por aí, Mel — disse, se afastando.

Melanie o encarou sumir do seu campo de visão.

•••

— Maxton Clarke a está perseguindo? Mas por quê? — perguntou Nilley, procurando dentre as caixas o disco DVD do filme estrelado por Josh Duhamel.

Eram oito e meia da noite e estavam as duas, usando pijamas de flanela e meias listradas, à espera de um filme com homens bonitos para animar a noite ociosa. Luna dormia como um anjo no quarto de hóspedes.

— Não sei, na verdade eu não fiz nada, mas todo o lugar que eu estou... Lá está ele.

— E eu ainda contribuí lhe dando o contato dele para conseguir a droga.

— Não foi tão ruim... Mas Maxton não tinha as bolinhas e eu achei desconfortável ter que cheirar a droga como se aquele pó fosse a própria marijuana.

— Sinto muito, Mel.

— Ainda não encontrou o DVD?

— Hum, não.

O celular de Nilley começou a tocar e ela abandonou as caixas para ir atender a chamada. Era o seu namorado. Doze minutos depois ela voltava com uma proposta.

— Em uma semana um amigo do meu namorado vai preparar uma festa. Terão muitas pessoas interessantes, principalmente homens!

Mesmo estando beirando quase os vinte e cinco anos, Nilley conservava o mesmo espírito jovem.

— Eu não sabia que você tinha um namorado, Nilley.

— Está me comparando a você, uma criatura quase assexuada?

— Coitada de você se fosse alguém como eu.

— Só vou te perdoar porque o Peter e eu estamos juntos há poucas semanas. Ele é um fofo, Mel! Mesmo sendo tão mais jovem do que eu. — Nilley suspirou como uma adolescente apaixonada. — Acho que estou vivendo um filme como De repente trinta, mas na minha versão seria “De repente dezesseis”! Porque estou muito longe dos trinta, minha amiga.

— Fico feliz por você, Ni.

— Ah, Mel, diga-me, com toda sinceridade, quando foi à última vez que você transou? — alfinetou Nilley, com seu característico bom humor.

— Hum... — Melanie fingiu pensar. Poderia mentir para Nilley e dizer que sua última relação sexual havia sido há um mês, para não fazer com que o alerta “temos que fazer a Melanie encontrar um ótimo parceiro de foda” começasse a apitar. Entretanto, mentir ocasionaria em mais mentiras e não queria estar envolvida em uma rede de falsidade.

— Foi com o meu último namorado...

— Aquele babaca que traiu você no ensino médio com a sua... não, ela não era melhor amiga; com aquela serpente?

— Ele mesmo...

— E você ainda estava no ensino médio? Melanie! Quantos anos têm desde a última vez? E eu quero números, números exatos. Para algo serviu o professor de matemática: “a matemática é a única ciência exata”.

— Cinco anos... — murmurou.

— Eu não posso acreditar! — Nilley praticamente gritou. — São cinco anos, Melanie. E você tem vinte e um anos.

— A culpa não é minha... — Tentou defender-se.

— Claro que a culpa é sua! Você é assim por que quer, Melanie! Homens aos seus pés é o que não falta. O Max correndo atrás de você como um cachorrinho a espera de carinho é a prova de que estou certa.

— Maxton não é o tipo de homem que eu imaginei a minha vida inteira, Nilley.

— Ah, é? E como seria este homem? Deixe-me lembrar do nome do personagem daquele livro que a peguei lendo, no banheiro, com a desculpa de uma diarreia — Nilley enrugava a testa de uma forma engraçada, forçando a sua mente a se lembrar. — Tenho certeza de que começa com F. Fiz... Fitz... Fizt...

— Fitzwilliam Darcy? — questionou Melanie.

— Acho que é ele mesmo.

— Ah, Nilley, se você dedicasse algumas horas do seu tempo livre na leitura de um livro...

— Desculpe, querida, mas isso para mim é uma perda de tempo! São histórias inventadas, Melanie! Os personagens não existem. A trama foi arquitetada por uma pessoa como eu e você. Pare de se iludir.

— Não estou me iludindo. E, se estou, não sou a única.

— Desisto de tentar enfiar um pouco de sensatez nessa sua cabecinha.

Melanie preferiu não replicar; gostaria de dizer a Nilley que só conservava aquela opinião por nunca ter se apaixonado por nenhum personagem literário. São homens e mulheres que não existem na vida real, mas sempre há algum detalhe o qual nos identificamos e é exatamente aquele detalhe que faz com que nos apeguemos aos personagens.

No entanto, ela decidiu por um assunto saudável.

— Sobre a festa que o seu namorado misterioso vai oferecer...

— Não é o meu namorado. É o amigo dele. Você vai?

— Mas é claro que sim! — Tentou impor entusiasmo à sua voz, até mesmo sacudiu as mãos tentando demonstrar a sua vontade em ir.

— Ótimo. Procura o DVD para mim? Tenho certeza de que ele está nesta caixa... — estendeu-a a Melanie. — Vou buscar a pipoca — disse Nilley enquanto seguia em direção à cozinha para buscar a pipoca. Despejou-a em dois baldes personalizados que receberam de cortesia no cinema quando foram assistir a estreia de um filme juvenil.

Deitaram-se no tapete da sala de estar do micro-apartamento de Nilley e assistiram, em silêncio, o filme O casamento do meu ex. Em todo o filme, a atenção de Nilley estava em Josh Duhamel e a sua atuação. Claro que não era imune a paixão pelos personagens fictícios. Mas o que a diferenciava de Melanie, era que sabia diferenciar o real e o fictício. E, observando atentamente o balde personalizado com os personagens do filme mais comentado do momento, concluiu que nenhum homem da vida real teria o romantismo e o amor incondicional que o vampiro do filme adolescente nutria por sua humana.

•••

— Dê uma magnífica razão para me convencer a lhe passar o número do celular de Melanie.

Maxton e Caleb estavam no salão de jogos da casa do primeiro, jogando no videogame a um jogo de luta.

— Porque este foi o combinado — retrucou Max, sem desviar a sua atenção da tela da TV, procurando não se desconcentrar no jogo e, assim, receber como prêmio o número do celular de Melanie.

— Ah, droga! A Melanie vai me odiar por toda uma vida se ela descobrir que eu passei o número do celular dela para o cara que ela odeia.

— Ela não me odeia.

— Claro que odeia, bundão! Ela se recusou a beijar você umas trezentas vezes.

— Ela ainda não me beijou — Travou o maxilar.

— Ora, ora! Maxton Clarke preocupado com um beijinho. Se eu bem me lembro, você era mais apegado a uma boa foda.

Por um milésimo de segundo, Caleb se distraiu. E havia sido o suficiente para que Maxton vencesse o jogo.

— Ganhei!

— Ah, merda! Eu dou a você o número de Chelsy ou Joanna. Mas, por favor, não me peça o da Melanie!

— A nossa aposta foi bem clara, Caleb.

— E não podemos mudar o prêmio?

— Não!

— Max...

— Fui bem específico. Se você ganhasse, eu lhe emprestava a minha Yamaha por um mês. No caso de eu ganhar, o número de Melanie.

— Não serve o e-mail? O Facebook? Twitter? Você pode alimentar a sua fantasia babando nas fotos que ela posta no Instagram.

Maxton não precisava saber que Melanie não possuía as redes sociais citadas, fora o Facebook.

— O número do celular dela — disse com uma voz complacente.

Vencido, Caleb puxou o celular de dentro do bolso do jeans e procurou entre os milhares de contatos o nome “Melanie D”. Ao encontrá-lo, pensou em modificar.

Parecendo ler os pensamentos do amigo, Maxton ameaçou:

— E caso o número não pertença a Melanie, você perde a Ninja.

Caleb choramingou com a ameaça de perder a sua moto. Melanie que o perdoasse.

— Porra, cara, você não está sendo justo.

— Anda logo, Caleb.

— Droga!

Depois de relutar por mais alguns minutos, Caleb por fim passou o número de Melanie a Maxton, com a promessa de não avisar à garota arisca que o viciado em adrenalina planejava ligar em breve.

Muito em breve.


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Notas finais do capítulo

Dois avisos: a autora NÃO é hater da Miley Cyrus, pelo contrário. Mas o Caleb precisava odiar alguma música e respectivamente algum cantor, então... *-* Ah, e eu adoro True Friend. ♥ ♥ Me deixem! U_u haha
E segundo, reforçando o aviso nas notas iniciais da fanfic: a autora (eu, Annie K) não faz apologias à prostituição ou ao uso de droga. A Melanie usa anfetaminas/bolinha (NÃO cocaína ou maconha), uma droga muito conhecida entre os estudantes com as justificativas que foram explicadas pela própria personagem. Claro que haveria outros métodos (e menos destrutivos), mas... Ela teve os seus motivos. E sobre o Maxton usar: vocês o compreenderão aos poucos. E repetindo: não faço apologias à droga: é uma história fictícia. Então, criancinhas da tia Annie, nada de seguir os passos da personagem. :X
O capítulo 5 ainda não está escrito, então eu não posso estimar a data da próxima postagem. Talvez as postagens de "Accidentally" aconteçam de quinze em quinze dias. Espero que compreendam, pois eu tenho outras fanfics para escrever, no meu pouco tempo livre.
É isso. Espero que tenham gostado do capítulo. *-*
Um obrigada do tamanho do universo a minha beta Lis ♥
Quem comentou e não recebeu o teaser: minhas sinceras desculpas. São tantas coisas para fazer, e eu acabo me esquecendo de uma coisa ou outra.
Reviews não respondidos: vou tentar respondê-los no fim de semana. Mas saibam que eu li um a um e adorei as palavras de vocês. ♥
Se alguém quiser recomendar... Tia Annie também ficaria feliz!
É isso.
Volto em duas semanas.
Beijos, A.



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