A Rosa Que Sangra escrita por Wondernautas


Capítulo 31
Sentimentos em papel


Notas iniciais do capítulo

Narrado por Albáfica...



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Caio em um sentimento de desespero sublime, pleno e total. Parece que desta vez será impossível deter Manigold. Tudo bem que Minos passou dos limites sim, mas... Eu não queria que ele, bem... Eu não quero, nunca quis, fazer mal a ninguém, mesmo quando essa pessoa me faz mal. Quando o caso é o “mal” direcionado para alguém com quem me importo aí sim a situação muda de figura e me torno uma fera. Entretanto, fora disso...

Devo admitir que, no fundo, bem lá no fundo, sinto como se não tivesse sido o estupro o verdadeiro objetivo do Minos. Aquilo pareceu mais uma armadilha, não dele, mas de alguém que conseguiu manipulá-lo para me atingir. Seria Asuka? Seria Kazuya? – o que julgo mais provável – Ou...

– Manigold, por favor, não faça nenhuma besteira! – peço, ao me posicionar bem diante dele, impedindo-o de sair do apartamento. – Estou te implorando!

– Aquele cara fez o que fez e quer que eu o deixe impune? – indaga ele, me deixando sem palavras. – Não mesmo! Isso não ficará assim! Quero quebrar a cara daquele maldito, surrá-lo até dizer chega!

– Não é assim que temos que resolver as coisas! Sem violência, Mani! Vamos à polícia. – sugiro, tentando acalmá-lo. – Por favor, me escuta...

Pode até parecer que sim, mas não quero deixar Minos impune de jeito nenhum. Por outro lado, não aprovo o uso da violência nem em uma situação assim. É possível encontrar a solução pacífica e não desistirei dela.

– Não dá, Alba... Dessa vez não dá! – exclama ele, segundos depois do meu pedido. – Não posso ficar parado diante disso. Preciso fazer alguma coisa.

– Por quê?

– Por você, ora essa! E por mim também! Esse maldito do Minos passou de todo e qualquer limite do aceitável! Quem ele pensa que é?

– Mas...

– Sem mas! – declara, desviando de mim e, ao passar à minha direita, se encaminha e se aproxima da porta. – Vou dar uma surra tão bonita nele que nunca mais vai, sequer, sonhar em te tocar! Vou ensiná-lo a se manter bem longe de você.

A intenção de Manigold é abrir a porta e sair daqui o quanto antes. Já a minha é impedi-lo: ainda quero resolver tudo pacificamente, se possível. Porém, contrariando ambos, batidas suaves ecoam, chamando a atenção de nós dois para a porta em questão. Me viro em direção a ela.

– Já que eu estava de saída mesmo, atendo. – diz ele, mais controlado e em um tom mais calmo.

Posicionado diante da porta, Manigold estende seu braço direito e gira a chave na fechadura. Em seguida, roda a maçaneta e...

– Surpresa! – exclama a “querida visita”.

– O que veio fazer aqui? – pergunto, extremamente surpreso de fato. Nunca imaginei que, em uma hora dessas, tal pessoa surgiria bem diante dos meus olhos. Parece até travessura divina...

– Que falta de educação! Onde estão os bons modos do casal?

– Asuka... Vai caçar serviço, vai... – exige Mani, com um tom de voz entediado.

Sim, é ela mesma, a nossa “querida – e também inesperada – visita”. Vê se pode uma coisa dessas?

– Não só cacei um como encontrei. Por isso estou aqui. – alega a ruiva, com um sorriso estampado em sua face. – Preciso estar aqui, sabe?

– Mesmo? Então sugiro que procure outro para você. – articula o caranguejo. – Não estamos aptos para brincadeirinhas vindas de alguém assim... Tão fora de si.

– Sinto muito, mas por enquanto, eu tenho bons argumentos para lhe convencer.

Assim que ela diz isso, retira seu braço direito de trás de suas costas, que se manteve assim até o presente instante. Na respectiva mão, uma faca de cozinha, que me deixa perplexo – e que provavelmente faz o mesmo com Manigold. Vendo isso, ele se afasta de Asuka com alguns passos para trás.

– Veio fazer alguma besteira? – pergunta Mani, se colocando ao meu lado direito. Tanto ele quanto eu não esperávamos por isso...

– Não, vim fazer algo que deveria ter feito há muito tempo! – grita ela, no mesmo instante em que seu sorriso desfalece, sendo substituído por uma expressão de fúria insana.

– Do que está falando? Veio nos matar? – pergunto, sem saber o que fazer em um momento assim. – Tem consciência do que está querendo fazer?

– Imbecil! – grita de novo. – Não se precipite assim!

É... Parece que Asuka está menos amistosa do que de costume... Mas... É o fim? Será esse o fim das nossas vidas: morreremos nas mãos de uma sádica? Não! Não vivi tudo o que vivi, nem passei por tudo o que passei para que as coisas terminassem assim, como em uma tragédia grega... Não posso aceitar!

– Asuka, não faça isso. – peço. – Vai acabar com as nossas vidas e estragar a sua!

Ela finalmente entra. Com sua outra mão, empurra a porta com força e a tranca. Em seguida, coloca a chave no bolso direito de sua bermuda jeans. E nos encara por longos segundos, sem proferir nenhuma palavra. Esse silêncio parece ser o início da cruel tortura que Asuka pretende lançar sobre nós... É quando, mentalmente, me pergunto:

– Por que ela está fazendo isso?

Repentinamente, ao analisar com mais atenção os olhos dela, percebo algo que não havia percebido antes. Algo que, para ser mais preciso, nunca tinha chegado a notar nela. Não é ódio, nem um anseio assassino... É sofrimento, o mais puro e pleno sofrimento... Então... Asuka, você também possui o seu segredo de dor?

– Não vai falar nada? – Mani a provoca, mesmo que a situação exija exatamente o contrário. Até mesmo diante da ameaça de morte, ele não consegue mudar a sua maneira de se portar e agir... Era de se esperar, sendo alguém como é.

– Mani, por favor... – digo, assim que lanço minha mão direita sobre a dele, mantendo-as unidas entre nossos corpos. Por um breve momento, trocamos olhares. E, desse modo, tento ao máximo transmitir, apenas com o meu olhar, o que quero que ele entenda: seja lá o que for o desejo de Asuka, não é nos matar o que ela quer, mas de todo jeito, é recomendável não confrontá-la mais do que o necessário.

– Tolos... – diz Asuka, no momento em que retorno o meu foco, tal como Manigold, para ela. – São dois meros tolos!

– Diga logo o que quer. – exige Manigold, ainda mais seguro do que antes. – Dá para perceber que não veio aqui matar ninguém.

De repente, o comum sorriso da ruiva ressurge. Mantendo a faca em sua mão, ela começa a caminhar em direção ao sofá do local. E nele – bem no centro – se assenta.

– Estão certos. Não vim aqui matar ninguém. A faca, como eu disse, é apenas um argumento para convencê-los a falar comigo. Porém...

– Porém? – tento entender, arqueando minha sobrancelha direita.

Em nenhum momento, a ex-namorada de Kardia desvia seu olhar de nós. E, dessa forma, após alguns segundos, ela completa o seu comentário:

– Não pretendo deixá-la em desuso por tempo demais. Contudo, o sangue que será derramado terá de esperar...

– Vai matar alguém se não nós? – pergunto, atordoado, mas ainda de pé ao lado de Manigold, apertando ainda mais a mão dele agora.

– Sim... E ninguém me impedirá. – declara ela, cruzando suas pernas de modo sensual. – Nem vocês dois.

– Afinal... O que quer? – Manigold, por sua vez. – Veio colocar terror na gente?

– Quero esclarecer tudo antes de tirar a vida que desejo ceifar. Simplesmente isso!

– Então comece, por favor... – falo, tentando evitar o assunto “assassinato”.

Assim que digo tal coisa, ela passa a focar seu olhar unicamente a Manigold. Estremeço, diferente dele, que se mantem completamente estável. Com isso, a recém-chegada determina:

– Fui eu quem mandou a foto para você.

– E por que fez isso? Para destruir a nossa relação? – pergunta ele, se referindo ao laço nutrido entre nós dois.

– É uma longa história... Basicamente, precisam saber que Kazuya e eu sempre estivemos juntos nessa. Ou, quem sabe, eu estava sendo mais manipulada do que notei.

– Desde quando? – agora sou eu quem questiono, fazendo com que o olhar dela se volte para mim, outra vez.

– Desde pouco antes do aniversário de Minos Bezzarius. – afirma ela. – Conheci o irmão mais jovem dele em uma festa anterior e, juntos, descobrimos que tínhamos coisas em comum. Como eu queria uma vida mais agitada e como ele queria o próprio irmão, nos unimos. Em consequência, vim para cá e começamos a colocar nossos planos em prática. Contudo, descobri que estava indo longe demais. Cedo ou tarde, isso em algum momento acabaria acontecendo... Não sou uma louca desequilibrada como julgam que sou. Sou lúcida até demais. – argumenta, sendo concisa, não posso negar. – Devo admitir que tanto eu quanto vocês e seus amigos são peças do jogo dele. Para Kazuya, ninguém, se não o irmão mais velho, não é descartável.

– Quais planos... Exatamente? – tento entender. – O que vocês dois estavam arquitetando até agora?

– Foram tantos planos, querido. – responde, com um certo ar de sarcasmo. – Você, na realidade, era o alvo principal desde o início de todo esse circo e não o Kardia, como devem ter imaginado.

– Eu? – fico surpreso.

– Sim. O Kardia foi apenas uma distração para que o verdadeiro objetivo da nossa aliança fosse alcançado sem muitos empecilhos: mais um método frio e calculista daquela peste em miniatura. – esclarece. – Kazuya nutre uma obsessão doentia pelo irmão, algo ainda mais intenso do que o sentimento descontrolado que sinto por Jessie. Porém, como ele viu em você um grande obstáculo, decidiu tirá-lo do caminho antes de qualquer avanço.

– Por essa eu não esperava! – exclama Manigold. – Esse garoto não tem jeito!

– Óbvio que não. Porém, não posso acusá-lo de diabólico, já que eu não sou santa. – corresponde, passando a alternar, periodicamente, seu olhar entre nós dois. – Com o decorrer dos acontecimentos, Kazuya decidiu convencer o irmão a ter você, Albáfica, forçadamente. Dessa maneira, um grande abismo surgiria entre vocês dois. Por consequência, Kazuya correria para consolar o irmão e daria o bote final. Decidi, então, dar um basta e colocar essa etapa por água abaixo.

– Qual sua intenção em nos contar tudo isso? – procuro saber.

– O fim da linha já chegou para mim. Não faz mais sentido manter toda essa grande teia de sujeira. Quero estraçalhar esse teatrinho desprezível e o primeiro passo é contar a verdade para vocês dois.

– Então... Quem você quer matar é... – Manigold inicia, pausa por alguns instantes, mas continua depois: – O Kazuya?

De repente, Asuka se levanta – e bruscamente – do sofá. A ação da mesma nos surpreende, mas não chega a nos colocar medo – não como a chegada dela por aqui... Então, assim, ela articula:

– Isso não importa. Logo, saberão o desfecho desta história. Mas já adianto: será sangrento.

Parecendo não ter mais nada a nos falar, a ruiva nos oferece as suas costas. Porém, contrariando minhas expectativas, não dá nenhum passo sequer, ao proferir as seguintes palavras:

– Mais do que uma simples história, isso tudo tem cacife para se tornar best-seller e engrandecer a literatura deste país artisticamente medíocre. Essa tarefa está em suas mãos, Albáfica. Quem sabe, assim, o sangue e a dor de tantos possa fazer sentido?

Não tenho o que dizer. Cada vez mais, Asuka se mostra terrivelmente surpreendente. Quem diria que, em algum momento da minha vida, eu teria a oportunidade de viver uma experiência como a que vivo agora? Aliás, quem diria que alguém na face da Terra viveria todos esses fatos quase “sobrenaturais”? Talvez ela, nesse comentário final, tenha mesmo razão: uma história com cacife para best-seller. E, bem... De histórias, eu entendo!

– A vida é frágil e única, Albáfica. – completa a “visitante”. – Creio que foi você quem me ensinou isso...

Guardando a faca em sua cintura, Asuka passa a andar em direção à porta. Com sua mão direita, manuseia a chave para abri-la e, ao fazê-lo, se vira para nós. Com meio sorriso, nos encara. E digo:

– Não faça nenhuma besteira. Não é preciso tirar a vida de ninguém para...

– Será que você mudará de opinião quando descobrir o estado em que Sasha se encontra? – me interrompe.

– Sasha? – Manigold, surpreso.

– O que houve com ela? – pergunto, preocupado. – Por acaso você...

– Isso, vocês terão de descobrir por si mesmos... Lavo minhas mãos, desta vez. Além do mais, o tempo corre e não deve demorar muito para a polícia me encontrar.

– Então você tentou matar ela? Por quê?! – elevo meu tom de voz, incrédulo. Asuka tentou matar Sasha? Qual o real sentido por trás disso tudo? Como tanta coisa saiu do controle de forma tão devastadora? – Sasha não tem culpa de nada!!

– Chega de perguntas. E de escândalo também. – exige ela, mais séria do que antes. – Eu já falei que terão de descobrir essas coisas sozinhos. O fim da linha já chegou para mim, como já falei. E, caso eu perca meu tempo com coisas tão levianas, não terei a oportunidade de premiar tal enredo com o trágico desfecho que tanto merece.

– Isso é coisa de louco, Asuka! – grita Manigold, chamando até mesmo a minha atenção com sua atitude inesperada. – Você e o Kazuya não passam de dois psicopatas sem limites! Está achando que conseguirá o que quer?

– Pode ser que sejamos psicopatas, pode ser que eu fracasse no meu objetivo final... Mas não estou interessada em discutir sobre isso com o casalzinho... É hora de partir.

Sem mais nada a declarar, ela bate a porta com força, nos deixando sozinhos de novo.

– E agora? – pergunto, com minha mente mais perdida que cego em tiroteio.

– Não faço a mínima ideia... – diz Mani. – Estou tão desnorteado quanto você.

Nós dois continuamos a observar a porta. É provável que Asuka já esteja se encaminhando para seu “objetivo final”, como ela mesma definiu: o assassinato de seja lá quem for. Por isso, inúmeras dúvidas rondam meus pensamentos agora – talvez seja coerente esperar o mesmo da mente de Manigold... Mas... O que devemos fazer? Quem é o próximo alvo da ira da ex-namorada de Kardia? Como posso colaborar para que tudo isso termine da melhor forma possível? O que, afinal, ocorreu com Sasha? Meu Deus, quantas perguntas, quanta confusão!! Tudo isso está ultrapassando os limites do torturante... Será que há uma resposta, uma solução no meio desse turbilhão infinito?

– Não podemos ficar parados aqui, Albáfica. – diz ele, me fazendo voltar à realidade.

Quando me dou conta, Mani está bem diante de mim, com suas mãos em meus ombros. Seus olhos tentam me reconfortar da melhor maneira possível. Entretanto, até mesmo eles terão dificuldade de conseguir tal coisa em um momento como este. Por ora, não há nada no mundo inteiro que possa me devolver a calma,

– Não sei o que fazer... – correspondo, sendo o mais sincero que posso.

– Vamos até a Sasha... Assim que entendermos o que houve com ela, decidiremos o que fazer. – sugere. – Seria bom você ligar para a Yuzuriha. Eu ligarei para o Kardia e o Dégel. Não se sabe o que esperar da Asuka, então...

– Tudo bem! Não podemos ficar aqui parados, como você disse. De um jeito ou de outro, vamos fazer alguma coisa!

Sim. É isso, pelo menos por enquanto, o que devemos fazer. Entretanto, por alguma razão que não consigo entender, uma de minhas várias poesias vem à minha mente. Por quê? Deixo claro que não sei mesmo, pois nem sempre consigo me entender! Tudo o que sei é que tal poesia é daquelas obras que o autor não se esquece de uma palavra sequer... Chama-se Rosas de Papel...

/--/--/

Será pecado acreditar?

É um erro, entre elas, caminhar?

Canção de paixão, não?

Aliteração.

–--

É proeza, talvez, também destreza.

É meu segredo e precioso poema.

Sei sim que são belezas falsas,

Mas são elas que deixam minha alma, como deve, serena.

–--

Há tantas eras, sonhei.

Por intermináveis eternidades, busquei.

Porém, nunca encontrei o que amei.

–--

Pode ser que esteja escrito no destino

Uma eterna viagem pelo dissimulado céu.

Porém, quem sabe

Seja possível então

Alterar o que gravado está em papel?

/--/--/

Que assim seja! Se Asuka pretende tingir as páginas finais desta história com letras de morte, eu, por outro lado, me esforçarei para redigir o fim com letras de vida. Mesmo que o próprio destino – se de fato existir – já tenha escrito a derradeira conclusão, lutarei até mesmo contra ele, dando tudo de mim, para encerrar tal conturbado enredo da maneira que julgo melhor. Afinal, não estou disposto a abrir mão do que tanto aprecio: o inestimável perfume da vida...


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