Sweet Like Cake. escrita por Porcelain


Capítulo 6
1x06.


Notas iniciais do capítulo

Editando esse capítulo pra dizer algo um pouco bobo para muitos, mas...
Bom, eu postei esse capítulo algumas horas antes da notícia de que o nosso querido Cory Monteith tinha sido encontrado morto ontem em um hotel de Vancouver.
E... Por mais insignificante que isso seja, eu queria dedicar este capítulo a ele e deixar bem claro que nós, os Gleeks de todo o mundo, sentiremos muito a falta dele e não deixaremos de amá-lo. Nunca. Tudo o que nós podemos fazer agora é rezar pela Lea e pela família dele... Mas, pensemos por um segundo: Será que ele irá gostar do Jesus-Quente?
—---------------------------------------------------------------
OOOI GENTE! Demorei muito dessa vez? Espero que não...
Bom, depois que eu terminei de ler "Sussurro" (Patch ainda será meu, anotem isso que eu estou dizendo) eu meio que me senti muito mais inspirado pra escrever. Principalmente quando se é três da manhã e você ainda está com os olhos abertos olhando as palavras surgirem sozinhas na tela do Word



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/351374/chapter/6

Depois de oito períodos de aulas cansativas, finalmente pude encher meus pulmões de ar fresco enquanto caminhava pelo campo verde onde as cheerios treinariam. Já havia colocado meu uniforme e me aproximava do grupo de cheerios que se alongavam alinhadamente em quatro filas. Os olhos de Sophie se arregalaram assim que me viram, e não era algo como “Ah, até que enfim ele chegou!”, era mais como “Corra, Lady Hummel!”.

– Você está atrasado, Hummel. – Charlie arqueou a sobrancelha com a expressão séria. Dei um sorriso um pouco constrangido quando notei Santana fazer um sinal negativo com a cabeça.

– E-eu tava colocando mais laquê no cabelo, ele já estava ficando bagunçado... Desculpa, Charlie.

A loira posicionou o megafone em frente à boca e nesse momento senti um sopro gélido na nuca. Sophie mordeu o lábio firmemente com o cenho franzido.

– NADA DE CHARLIE, AQUI É TREINADORA FABRAY!

Senti meu coração disparar e então corri para o final da quarta fila, gritando “Nãomematenãomematenãomematenãomematenãomemate” até chegar lá. Santana fazia polichinelos ao meu lado enquanto Sophie se alongava à sua frente.

– Que bicho mordeu a “Treinadora Fabray”? – Sussurrei revirando os olhos.

– Ela está estressada com a irmã grávida, com o Clube de Teatro, com a Rachel e com certos boy-cheerios bundudos e cabeçudos que se atrasam passando o que quer que seja no cabelo. – Santana sussurrou de volta com um sorriso irônico nos lábios que estavam repletos de gloss.

– Ela tem uma irmã grávida?!

– Gêmea e grávida. Agora cale a boca antes que eu me irrite com sua voz e te dê um soco. – A morena continuou os polichinelos quase que robóticamente. Sophie ofegava e suas bochechas vermelhas davam a impressão de que ela explodiria a qualquer momento.

Então Arthur, Zach, Vic e um garoto até então desconhecido se sentaram na arquibancada e começaram a observar o treino. Arthur sorriu maliciosamente para Santana, que revirou os olhos com um sorriso debochado, e então Arthur mordeu o lábio erguendo levemente o queixo.

– Parem de serem nojentos, vocês estão quase se comendo com os olhos. – Sophie argumentou fazendo uma cara de nojo.

– Cadê seu namorado imaginário pra fazer o mesmo?

– Vai pro Inferno, Santana.

– Olha a hora pra ironias, Lord. – Dei uma risada levando um tapa de Santana no braço. – Ai, desculpa! Não resisti...

– CHEGA DE CONVERSA! – Charlie (ou melhor, Treinadora Fabray) gritou no megafone. Olhei para a arquibancada de relance e notei Zach colocar o braço ao redor do pescoço de Vic, olhando com ciúmes para o garoto que conversava com ela. O maior virou o rosto e então no segundo em que nossos olhares se cruzaram senti um leve choque na nuca que fez minhas bochechas ruborizarem. Maldição.

Zach sorriu e acenou com empolgação. Limpei a garganta e quando ergui a mão para acenar de volta acabei acertando a cabeça de uma cheerio aleatória.

– A-AH, DESCULPA! F-FOI SEM QUERER!

Charlie olhou para mim como se estivesse arrancando a minha pele. Zach riu.

– O Kal El é muito desastrado. – O rapaz comentou com um sorriso enquanto assistia meu desesperado pedido de desculpas à garota. E o olhar de ciúmes que a alguns minutos tomavam conta dos olhos de Zach passou rapidamente para os de Vic, que sorriu levemente para mim. Um sorriso assustador.

´

– Kurt... Posso falar com você? – Ouvi uma voz familiar soar atrás da porta do meu armário. Esquivei-me um pouco para trás e pude ver Charlie. Ela ainda estava com seu uniforme de cheerleader, o que me deu arrepios.

– Claro que pode, Treinadora Fabray.

– Agora é Charlie. – A loira deu um meio sorriso, corando levemente. Eu podia sentir a culpa exalando da pele da garota apenas quando ela notou meu rosto vermelho e eu ofegando baixo. O treino das cheerios fora definitivamente puxado, e isso era notável apenas de ver Sophie sentada no chão apoiando suas costas em um armário qualquer enquanto massageava suas coxas e gemia de dor.

– Então... Claro que pode, Charlinda. – Dei um sorriso largo. Detestava a ideia de alguém achar que me magoou. E, por mais que tenha magoado, eu detestava mais ainda dar essa certeza à pessoa. Não que Charlie tivesse me magoado ou algo do tipo, eu só... A achei agressiva e completamente assustadora.

Charlie mordeu o lábio, um pouco nervosa, e olhou para o chão apertando suas mãos. A loira suspirou e então levantou o olhar podendo me observar com o cenho franzido enquanto puxava um livro de dentro do armário.

– Me desculpa por hoje, nas cheerios. Eu estou absurdamente estressada e minha vontade é de socar a cara de alguém até ela explodir. – Charlie deu de ombros e então deu uma risada ao ver meu rosto completamente horrorizado. – Calma! Calma! Não é você.

– Ah, que ótimo! Preciso que meu rosto esteja em perfeito estado para que eu possa chegar à Broadway. E ganhar Grammys. E Tonys. E outros prêmios, qualquer um tá ótimo. – Sorri de canto dando de ombros. – Quer me falar por que está estressada?

Eu sabia dos motivos para que Charlie estivesse estressada. Mas isso era algo talvez íntimo demais para que eu ficasse sabendo por outra pessoa, certo? Charlie bateu as costas em um armário e colocou as mãos no bolso de sua jaqueta que cobria um pouco do seu uniforme das cheerios.

– Não quero falar sobre isso. Se eu falar, serei obrigada a socar a cara de alguém.

– C-certo, não precisa falar então! Podemos falar sobre isso depois, ok? Talvez bebendo um chá de camomila ou um café entupido de calmante e...

– Quer mesmo me drogar, Hummel? – Charlie fez bico e franziu o cenho. Dei uma risada e então fechei a porta do meu armário, abraçando um livro de Biologia e outro de Química.

– Talvez seja preciso, não quero ver você socando o rosto de ninguém por aí.

– Sei me controlar.

– Vou levar calmantes comigo só por precaução. – Sorri e me debrucei levemente beijando a testa da loira. – Preciso ir pra casa agora, estudar duas matérias absolutamente entediantes para a prova de amanhã. E você deveria fazer o mesmo em vez de pensar em socar o rosto das pessoas.

Pisquei e mandei um beijo para Charlie, atravessando o corredor enquanto tentava equilibrar meu próprio corpo e os livros em meus braços. Saí do grande prédio do McKinley e assim que me virei em direção ao estacionamento senti uma slushie extremamente gélida se chocar contra o meu rosto. Meu corpo inteiro se arrepiou e os pedacinhos de gelo triturados escorrendo de meu rosto chegavam a doer. Tirei o excesso da slushie com a palma da minha mão e tentei abrir os olhos.

– Você estava linda de cheerio hoje, Hummel. Bela bunda. – Ouvi uma voz masculina falar seguida de diversas risadas. Com os olhos semicerrados consegui enxergar uns quatro garotos do time de futebol, sendo que o da frente largara o copo vazio de slushie no chão e logo após desviou de meu corpo andando na direção oposta, ainda rindo. Os outros três fizeram o mesmo.

– Ah, que droga... Você está bem? – A voz familiar de um garoto de provavelmente 2 metros de altura ecoou pelo estacionamento. Quando vi que ele também usava um casaco do time apertei os livros em meus braços e andei com passos rápidos tentando enxergar o meu carro.

– Vou ficar. – Murmurei e então esbarrei em um carro qualquer. Limpei melhor os olhos e então enxerguei meu carro preto a uns 3 metros de distância. Corri até ele e saí dali o mais rápido que conseguia, mesmo sabendo que poderia sofrer um acidente por não conseguir enxergar nada direito. Apertei firmemente com as duas mãos o volante, mordendo o lábio com força. Eu não estava com vontade de chorar. Definitivamente não. Meus olhos poderiam estar ardendo como loucos, mas não estava com vontade de chorar. Talvez minha vontade fosse que aquele carro se transformasse magicamente em um rolo compressor e então eu voltaria até lá e esmagaria aqueles brutamontes idiotas várias vezes até estiverem na finura de um papel. E a maldita bolha de pressão que se formava no topo de minha garganta se tornava insuportável a cada segundo.

´

Entrei em casa sem falar uma palavra. Arthur estava sentado no sofá usando apenas uma regata e um samba-canção com um pote de pipocas em seu colo, assistindo algum jogo de futebol qualquer.

– Você está todo sujo, Hummel. – O garoto disse antes de levar um punhado de pipoca à boca. Larguei minha maleta e os livros no espaço que restava do sofá e subi as escadas, bufando. Era óbvio que eu estava sujo, não?

Atravessei o corredor com passos rápidos e então vi Zach sair do banheiro com uma toalha branca enrolada na cintura. O garoto soltou a maçaneta com um leve sorriso, e logo após franziu o cenho. Minhas bochechas coradas queimavam todo o resto de slushie que ainda sobrava no meu rosto. Eu podia sentir o rubor e isso era completamente vergonhoso.

– Kal El, você tá chorando? – Ele se aproximou lentamente. Seu corpo ainda estava molhado e algumas gotas d’água estavam penduradas nos fios de seu cabelo. Eu estava usando toda a concentração de meu corpo pra manter meus olhos em seu rosto, e não em outras partes que não devia.

– Não.

– Seus olhos estão vermelhos.

– Jogaram slushie em mim. – Sorri de canto dando de ombros. Meu cachecol estava em um estado tão deplorável que fazia o lado direito de minha cabeça doer sempre que eu me lembrava. E lembrar de que eu estava usando um dos meus casacos favoritos me fazia sentir um arrepio terrível na nuca.

– Hã?! Por que fizeram isso? – As sobrancelhas de Zach se arquearam e eu pude perceber um pouco de raiva em sua expressão. Desenrolei o cachecol encharcado de meu pescoço e desabotoei os primeiros botões do meu casaco.

– São idiotas... Idiotas que não aceitam um garoto nas cheerios, só isso. E não se preocupe, eu estou bem. – Na verdade, eu não estava. Um dos sinais disso era minha voz totalmente nasalada. Parecia que haviam tampado uma de minhas narinas com uma rolha, o que tornava minha voz simplesmente mais irritante. Se é que isso era possível. Meus olhos estavam voltando a arder novamente e eu me sentia cada vez mais sufocado por causa de minha garganta. Girei a maçaneta de meu quarto.

– T-tem certeza, Kal El? Não precisa de ajuda? Você não parece estar bem... – O maior perguntou antes que eu entrasse no quarto. Parei por alguns segundos fitando o chão.

– Vou ficar. Agora você precisa ir colocar uma roupa ou vai ficar resfriado e eu ficarei com febre. – Dei uma risada baixa. Provavelmente meu rosto estava tão vermelho quanto antes, mas isso poderia ser efeito da slushie. Ou talvez Zach fosse realmente muito quente.

´

Depois de tomar um banho e demorar no máximo cinco horas mofando na frente da televisão vestindo um suéter bege da Chanel, short jeans pretos e justos – nos quais os botões já começavam a machucar minha coxa – e meias brancas para aquecer meus pés, ouvi meu estômago roncar. “Não, chega de bolo”, sussurrei a mim mesmo. Já deveriam ser umas sete horas da noite.

Me lembrei de ouvir alguém comentar que Charlie trabalhava no Breadstix. Estar com fome e ter vontade de visitar uma amiga que estava à beira de um colapso nervoso eram ótimas motivações para fazer eu me levantar da minha cama macia que afundava cada vez mais com meu peso que estava imóvel há cinco horas.

Toquei o chão com os pés ainda cobertos pelas meias e me levantei, indo em direção ao meu closet e procurando um par de botas pretas que provavelmente estavam na sessão de “sapatos novos” desde que decidi rearrumar todo meu guarda-roupa por ordem cronológica. Guardei o celular no bolso depois de visualizar várias notificações de e-mails novos. Provavelmente eram de sites que estavam em promoções. Guardei a carteira no bolso de trás do short, peguei as chaves em cima do meu criado-mudo e finalmente desliguei a televisão, calando definitivamente a voz irritante de uma apresentadora e as risadas de fundo que claramente eram programadas.

Desci as escadas quase escorregando em um degrau – meu cérebro sempre faz questão de me lembrar de que minha coordenação motora não é uma das melhores – e pulei o último degrau. A sala de estar estava vazia, assim como uma vasilha suja de pipoca em cima da mesa de centro. As almofadas estavam desarrumadas e o controle remoto estava jogado entre elas. Revirei os olhos. Aquilo significava que Arthur e meu pai haviam assistido a algum jogo de futebol juntos. Era algo um pouco óbvio, já que eu me negava a acreditar que Arthur pudesse ter feito tanta bagunça sozinho em menos de uma semana morando comigo. Alguém com o mínimo de vergonha na cara ao menos teria levado a vasilha de pipoca a pia. E talvez a lavasse.

Assim que saí de casa e vi que o carro de meu pai ocupava uma das três vagas, suspirei aliviado ao saber que Arthur não era tão terrível. A moto do mesmo não estava lá, assim como o carro de Zach. Apertei um botão do alarme fazendo os faróis piscarem e as portas destravarem. Abri a porta e me sentei, apertando o volante com preguiça e suspirando com a mesma disposição. Charlie me devia uma por ter inconscientemente me obrigado a me levantar e ir comer fora podendo simplesmente cozinhar um simples miojo e migrar para a sala.

´

Cinco minutos depois, estacionei o carro à frente do Breadstix. Parecia estar movimentado, coisa que fez minha preguiça triplicar de tamanho. Queria saber o que havia acontecido com meu corpo para fabricar tanta preguiça. Também queria saber se as outras cheerios também estavam assim depois de um treino duro com a Treinadora Fabray. Se eu fosse o único, ao menos eu teria a desculpa de ser atingido por uma slushie antes de sair o que me deixou em uma pré-depressão e com indisposição a fazer qualquer coisa que não fosse assistir ao primeiro programa de auditório que aparecesse por preguiça de mudar de canal.

Caminhei até a porta de vidro, e então entrei. Logo de início pude observar Charlie anotar os pedidos com um sorriso no rosto. Aquele sorriso mereceria com certeza um Oscar, por que eu podia notar que Charlie não estava se divertindo. Muito pelo contrário, eu podia sentir que ela estava quase para arrancar a cabeça da tal cliente que estava em dúvida se pedia creme de maionese com cebola ou mostarda.

– Eu vou trazer os dois e acrescentar na conta. Com licença. – Charlie interrompeu subitamente a cliente e deu as costas, fazendo a mesma se calar. O que importava era que ao menos o sorriso permanecia lá.

Me sentei na mesa mais afastada, próxima a janela onde eu podia observar meu carro, e então suspirei profundamente. A essa hora provavelmente estaria passando Project Runway na televisão. Ótima hora para eu interromper minha maratona. Alguns minutos depois, vi Charlie se aproximar com o mesmo sorriso. O sorriso sumiu segundos depois quando a loira jogou o cardápio na mesa e se sentou no lugar à minha frente, com um longo suspiro.

– Mais dois segundos e eu ficaria com câimbra na boca pelo resto da vida. O resto das atendentes que se virem. – A garota massageou suas bochechas fazendo movimentos circulares. Dei uma risada.

– Depois do incidente com creme de maionese e mostarda, acho que seu estresse ainda não diminuiu. E eu esqueci os calmantes em casa, então você deve ter paciência comigo ou irei gritar pra todos que você tentou me matar com... – Analisei a mesa e puxei um saleiro de dentro de uma cestinha. – Um saleiro. Ameaçou entupir meu nariz de sal até eu morrer.

– Calma, Kurt. Eu faria isso com aquela imbecil que não sabe se decidir entre dois cremes horríveis. – Charlie revirou os olhos parando de massagear suas bochechas. – Vai querer alguma coisa? Espero que não, pois eu vou trazer um sanduíche de pão integral e um suco de laranja pra você. E beijos da Treinadora Fabray.

A loira se levantou subitamente da mesa e beijou minha testa. Respirou fundo, fazendo um biquinho antes que colocar o mesmo sorriso no rosto e caminhou até a cozinha para pegar meu pedido. Droga, eu realmente queria comer bolo de chocolate...

Meu celular começou a vibrar em meu bolso. Deslizei o dedo pela tela até a figura de um cadeado aberto aparecer, e então o nome de Santana começou a piscar em um tom de vermelho. Atendi.

– Kurt falando.

– Eu sei, animal. Tenho seu número gravado aqui. – “Sempre podemos contar com o carinho de Santana”, pensei com um sorriso irônico. – Estou em lágrimas. Minha vontade é abrir a janela e começar a cantar My Heart Will Go On aos prantos.

– O que aconteceu? Marcaram um exorcismo pra você?

– Não, só estou assistindo Titanic mesmo. – Ouvi um suspiro. – Meu corpo inteiro está dolorido. Hoje a Charlie pegou pesado. Comprei bolo e resolvi assistir Titanic pra sentir sono logo e acabar caindo no sono, maas estou chorando com essa merda de filme! Por isso disse que estou com vontade de abrir a janela e começar a cantar, mas no momento só tenho forças pra segurar o celular no ouvido e produzir lágrimas.

– Bolo?! Você disse bolo?

– Não vou dividir.

– Morra. Estou no Breadstix e a Charlie mesma escolheu o que eu ia comer. Sabe? Algo que se adéqua mais à dieta de um cheerio. – Revirei os olhos e Santana gargalhou tão alto que quase senti meus tímpanos gritarem.

– Sinto muito, Kurtnildes. Esse bolo está uma maravilha. A calda bem cremosa... A massa macia... Sem falar na cobertura com granulados. A-AI MEU DEUS. JACK, SALVA ELA!

– A Vic...

– Não, idiota! A Rose! Não tem nenhuma Vic no filme! – Santana praguejou e então pude ouvir o som alto da TV.

– N-não, a Vic está aqui! Eu estou vendo ela! – Forcei a visão e então tive a certeza de ser ela. O mesmo cabelo perfeitamente ondulado e castanho. O sorriso leve e o olhar de desdém. Ela sentava em uma mesa do outro lado de todo o restaurante enquanto bebia um grande copo de café. – E ela não está sozinha.

– Isso é hora para sentir ciúmes do Zach, Porcelana? Justo ao som de My Heart Will Go On?!

– Não é o Zach! – E assim que terminei a frase pude ouvir o som da TV ser desligada. Como eu sabia, está pra nascer alguém que não resista a uma “informação exclusiva”. Olhando mais atentamente para o garoto que sentava com ela, notei que o mesmo possuía costas fortes e ombros largos. Os cabelos eram castanhos escuros e estavam levemente bagunçados. Vic parecia estar se divertindo.

– Que coisa feia, Kurt. Bisbilhotando a vida alheia. Por acaso resolveu imitar a minha avó? – Santana perguntou pelo telefone. Meu braço já começava a doer de estar segurando o celular. Apoiei o cotovelo na mesa.

– Calada, eu sei que você desligou a TV para escutar direito o que eu ia falar. Aliás, você até parou de chorar.

– Agora não posso mais interromper um drama na TV que...

– É o mesmo garoto que estava na arquibancada com ela hoje. – Franzi o cenho, interrompendo-a. – Você conhece ele?

– Eu estava ocupada demais tentando sobreviver ao treino do que notando quem é que estava olhando para minha bunda ou não, querido.

Balancei a cabeça negativamente. O que eu estava fazendo? Fofocando pelo telefone? Vi Charlie se aproximar com os pedidos e então encerrei depressa a ligação quando Santana falava algo como “...sim, eu não tenho dúvidas de que ele estava olhando para minha bunda e...”. Sabia que no dia seguinte ela iria me dar o troco por desligar na cara dela.

– Aproveite, fui eu mesma que fiz. E ainda teve sorte de eu ter colocado recheio no sanduíche. – Charlie bateu levemente no topo de minha cabeça com um sorriso. Dessa vez ele parecia mais irônico do que forçado.

– Obrigado, Charlinda. – Retribui o sorriso e segurei uma risada. Era rir para não chorar. Eu ainda queria meu bolo.

– De nada. E trate de não se atrasar para o treino amanhã ou você ficará no topo da pirâmide. – Ela arqueou a sobrancelha. – E isso significa que sempre que você tentar subir você irá derrubar todas e até quebrar alguns ossos. Quer isso pra suas colegas cheerios, Hummel?

Limpei a garganta e fiz que não com a cabeça, aterrorizado. Eu teria que passar laquê de cabelo no caminho para o campo? Sem nenhum espelho pra me dar a certeza de que não estou passando laquê na testa?

– Obrigado. – Sorri e então bebi um gole do suco de laranja. Assim que senti o gosto tentei me lembrar de quando fora a última vez em que comi alguma fruta. Provavelmente eu era o único sedentário magro que existia na face da Terra.

– Preciso atender mais pessoas. Torça para eu não me descontrolar e acabar matando alguém. – Charlie virou-se e pude ouvir ela murmurar “ainda vou ser presa por causa da TPM” ou algo do tipo. Mordi meu sanduíche e senti o gosto de uma espécie de creme de peixe misturado com peito de peru. Engoli com força e então bebi todo o resto do meu suco de uma vez, tentando de todo o jeito tirar aquele gosto horrível da boca. Se Charlie comia isso para se mantiver em forma, já estava merecendo outro prêmio.

Vic se levantou dando uma risada e carregando seu café em uma embalagem plástica consigo. Despediu-se do garoto e então senti meu corpo se arrepiar quando o olhar da morena se cruzou com o meu. A garota sorriu timidamente e acenou, saindo do Breadstix enquanto arrumava o cabelo com a mão desocupada. Emily, a namorada de Charlie, estava sentada em um dos bancos em frente ao balcão. Assim que Vic saiu, a garota se levantou e ocupou o lugar da mesma, conversando com o garoto. Pareciam ser grandes amigos também.

Chamei uma garçonete qualquer – que não fosse Charlie – e pedi a conta. E também pedi um bolo para viagem, quase sussurrando com medo de que até as paredes ouvissem. Após pagar tudo, me despedir de Charlie (escondendo a sacola com o bolo) e acenar timidamente para Emily sem ter a certeza de que a garota tinha visto, voltei para meu carro. Pisei no acelerador querendo chegar ema casa antes que meu pai sentisse minha falta.

´

Eram mais ou menos 11 da manhã quando eu me preparava para as últimas atividades do McKinley, que seriam o Glee Club e o treino das cheerios. Dormi o máximo que pude na noite anterior na esperança de que meu corpo não ficasse tão dolorido como ontem. E assim que fechei o armário me deparei com um sorriso assustador em conjunto com o nariz enorme de Rachel Berry.

– O-oi, Rachel! Vejo que escovou os dentes hoje, parabéns!

Rachel franziu o cenho e balançou a cabeça. Quando vi a garota inspirar o ar tive a certeza de que ela iria começar a falar sem parar.

– Kurt Hummel, você tem a honra de me ajudar no Duelo de Divas! E não é um duelo qualquer, é um duelo que vai decidir o futuro da minha vida! Se eu perder já posso me imaginar usando uma manta suja e fedendo a fumaça enquanto peço esmolas cantando embaixo de alguma ponte de Nova York.

Olhei incrédulo para Rachel. Como ela havia conseguido falar tudo aquilo sem respirar uma única vez?

– Não exagera. Se você perder nós ainda podemos ir a Nova York, roubar um carro e cantar músicas da Broadway em frente a algum teatro em cima do carro! Quer dizer, isso se você conseguir se equilibrar com esse nariz.

Agradeci mentalmente por Rachel ainda não saber que meu caso com equilíbrio é mais grave do que se eu tivesse um nariz daqueles.

– Kurt, você não está entendendo! Eu não posso perder! Seria uma tragédia imensa se a Broadway perdesse um talento tão grande como eu. Não posso deixar isso acontecer, seria muito egoísmo da minha parte... Sem falar que Barbra nunca concordaria com isso!

– Certo, certo... O que exatamente é esse Duelo de Divas e onde eu me encaixo nessa história?

– Simples: A Charlie é a líder feminina do New Directions por que me venceu em um duelo anterior. Mas é claro que todos votaram nela por que me odeiam! E por que ela é popular... E ela chorou, claramente pra emocionar as pessoas. Mas, por favor, eu consigo fazer um drama muito melhor!

– Charlie é a líder?! E é treinadora das Cheerios? E ainda por cima é a líder do Clube de Teatro? E trabalha no Breadstix?!

– Kurt, se está jogando na minha cara que sou uma inútil, por favor, não perca seu tempo e diga logo. Vai me ajudar ou não? Eu te chamei só por que você misteriosamente consegue ser tão bom quanto eu!

– Vou, vou! É claro que vou. O que eu preciso fazer?

– Bom... Eu fiz um drama muito melhor que o da Charlie e convenci ao Mr. Schue fazer um outro Duelo, e aí a vencedora ocuparia o cargo de líder feminina! A Charlie concordou, provavelmente ela não aguentou todo o meu drama e só fez isso para que eu me calasse logo. – Rachel deu de ombros. – E então eu escolhi o tema de Musicais pra ela, já que obviamente ninguém consegue cantar músicas da Broadway tão bem quanto... – Arqueei a sobrancelha lentamente e vi Rachel encolher os ombros. –... Nós. Só que a Charlie foi muito cruel e disse que meu tema é tango! Tango, Kurt! E quero que você seja a minha dupla.

Assim que ouvi a palavra “tango” pude sentir as engrenagens do meu cérebro pararem de girar. Antes de qualquer coisa, tango era uma dança. Pra dançar nós precisamos de pés que sejam coordenados, o que não era o meu caso. E ainda por cima era uma dança sexy! E não teria como uma dupla de bebê pinguim com tucano anão ser sexy. Era praticamente impossível.

– Você precisa me ajudar, Kurt! Como eu disse, é uma questão de vida ou morte! Não quero passar o resto da minha vida pedindo esmolas nas ruas de Nova York e...

– Ok, Rachel, ok! Eu te ajudo! – Ergui as mãos como se implorasse para que ela se calasse. – Já tenho a música perfeita. Vou começar a criar os figurinos se sobreviver ao treino das cheerios e amanhã nós começamos os ensaios.

– Ok, Kurt! Sabia que podia contar com você! Como sou generosa posso até te pagar um bolo de chocolate se ganhar. Espera, eu vou ganhar! Eu tenho que ganhar!

Revirei os olhos e coloquei a mão no ombro dela, segurando a alça de minha maleta com a outra.

– Eu já entendi. Vamos dar o nosso melhor. – Sorri de canto e então Rachel assentiu. – Vou passar laquê no cabelo com antecedência para que quando for o treino das cheerios eu não precisa perder tempo com isso... Vejo você na sala do Glee Club.

Rachel assentiu e rumou em direção à sala do coral. No meio do corredor, Finn passou com o braço por cima do ombro de Chelsey. Notei que Rachel corou levemente ao olhar para o maior, e então Chelsey sorriu mordendo o lábio e continuou o caminho ignorando absolutamente a existência de Rachel. Os olhos de Finn pararam sobre os meus e então o maior se aproximou, com Chelsey.

– Ei, Kurt, você está melhor? – Ele perguntou, arqueando a sobrancelha.

– Se está se referindo ao treino das cheerios de ontem, não, ainda acho que minhas pernas vão descolar do meu corpo a qualquer momento e...

– Não, eu estou falando da slushie de ontem! Eu fui te ajudar e você praticamente saiu correndo. – Ele franziu o cenho com a típica expressão estúpida e fofa de sempre.

– A-ah, era você? Me desculpa, Finn. Quando vi seu casaco do time eu achei que o melhor a fazer era exatamente sair correndo dali. Bem que achei sua voz familiar.

– Você precisa tomar cuidado com esse rostinho, Kurt. – Chelsey levantou meu queixo com o dedo indicador. – Estar nas cheerios e ser gay é praticamente pedir pra ser humilhado. Além do mais, você entrou pro Glee Club. Chamamos esse fenômeno de suicídio social.

– Vocês estão no Glee Club e até hoje não vi nenhum dos dois levar alguma slushie no rosto. – Arqueei a sobrancelha com a expressão séria. Apertei com um pouco de força a alça de minha maleta. – Preciso arrumar meu cabelo, é algo importantíssimo... Nos vemos no Glee Club.

E quando me virei em direção ao banheiro, fui atingido por outra slushie.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Vou tentar postar o próximo capítulo o mais rápido possível, prometo!
Agora acho que mereço reviews, como vocês viram lá em cima eu estava até às três da manhã escrevendo essa bagaça. ;-;