Quatro de Copas escrita por Hi-chan


Capítulo 3
3




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3.

E é claro que ele é bonito, aquela beleza falsa, aquela beleza roubada dele. Eu não poderia esperar menos do Nobody do Sora.

Quando ele gira e se contorce naquela capa igual à minha eu vejo Sora e os movimentos graciosos dele. Não que houvessem sido sempre graciosos, mas inúmeras batalham aperfeiçoaram suas técnicas. A memória da batalha de Hollow Bastion traz um pequeno sorriso ao meu rosto. Sora move-se como um macaco, mas quem diz que não há graciosidade em um macaco, nunca viu a precisão e leveza que possuem ao passar de um galho para o outro.

É claro que o outro, a cópia, me nota. Acertando um último Neo Shadow ele sobe o prédio, correndo em minha direção. Posso enxergar apenas uma parte de seu rosto, mas a mandíbula está tensa de determinação e isso é tão Sora que não consigo me decidir entre sorrir ou despedaçá-lo.

Ele joga uma das keyblades em minha direção e eu a apanho no ar com facilidade durante minha queda livre. O vento passa por entre meus fios de cabelo, cantando e suspirando, enquanto gelam minha nuca e balançam a venda negra que cobre meus olhos. Heh, era incrível como eu enxergava muito mais de olhos vendados do que quando eles estavam descobertos. Cego para a escuridão, era como se meus olhos finalmente estivessem abetos.

Eu e a cópia estamos lutando e pela primeira vez eu noto o quanto não parecido com Sora aquilo é. Ao mesmo tempo em que se parecia. Era uma confusão de sensações conhecidas e desconhecidas.

De repente eu já não o odeio tanto quanto antes. De repente sinto mais pena do que rancor por aquela pobre criatura sem identidade. Fadado a ser e não ser Sora para sempre. E eu poderia amá-lo, amar aquela parte dele que sempre seria Sora. Era um pensamento sem sentido e talvez perdido, mas percebi que era verdade quando seu capuz caiu.

Eu poderia amar aqueles olhos azuis, eu poderia amar aquelas bochechas um pouco cheias e poderia amar aquela sensação de caos que aquele cabelo desgovernado passava e poderia amar cada milímetro de determinação que seu corpo exalava. Eu poderia amar tudo de Sora que havia para se amar nele.

Eu nunca poderia amar, no entanto, o abismo vazio e oco que havia em seu olhar. A frieza que um corpo sem coração possui. Não quando isso era o mais distante de Sora e sua alegria, seu calor e sua vida. E não quando todos os seres existentes merecem ser amados por inteiro.

Por isso quando ele se aproximou, keyblade em mãos, pronto para terminar aquela luta de uma vez, eu pude, sem muita culpa, passar uma rasteira que o fez cair exatamente em cima de mim.

E com os olhos, que todos nós temos dentro do coração, por mais que não saibamos que eles estão lá, inundados de tudo de Sora que eu conseguia captar nele, puxei sua cabeça quase que com violência demais contra a minha.

Os lábios que eu beijava não eram os dele, a língua que eu massageava não era a dele, a boca que eu explorava não era a dele e o sabor que eu sentia não era o dele.

E ele sabia disso, ah eu tenho certeza que sabia. Alguma coisa dentro dele deveria saber, deveria sussurrar de maneira cruel e invejosa, talvez a parte que não era Sora.

Esse amor não lhe pertence.

E depois que nos separamos, tão violentamente quanto havíamos nos unido, eu me afastei o mais rápido que pude. Não havia como evitar o sorriso triunfante que surgiu em meus lábios. Raiva, não… ódio, confusão, inveja… ele me olhava com tudo isso estampado nos olhos azul-Sora. Tudo não mais do que pálidas sombras das emoções verdadeiras, e que eram úteis apenas para me dar mais força para continuar.

“Em breve, Sora. Em breve…” Murmurava para mim mesmo, e continuava e continuava.


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