Estou tão assustada que nem consigo segurar a caneta direito, nunca fui dessas de ter um diário, mas tenho que desabafar e me deu uma vontade de escrever nesse caderno que estava jogado no meu armário. Eu nem lembrava da existência dele. Ó céus, que droga. Sinto medo. Estou escrevendo em letra de forma, por medo de tremer demais e não entenderem minha letra cursiva. Tenho mais controle de mim assim.

Então você me pergunta; de que tenho tanto medo? Tive um pesadelo, mais um. Estou tendo vários há uma semana, desde que Kay chegou. Ela disse para a chamarmos de Kay, porque Kaylley é muito formal.

O pesadelo é sempre o mesmo. Kay sorrindo para mim, maliciosa e calorosa. Com desejo nos olhos, e de repente vira outra pessoa, a visão de um anjo de cachos castanhos, se esvai. E no lugar fica uma mulher com os olhos perversos e a boca suja de um líquido vermelho que por mais que eu negue, sei o que é: sangue.

E, não para, ela sorri de novo, e inclina o rosto para um lado, como um cachorro que não entende algo que o dono pronuncia. Vem na minha direção com a graça de uma bailarina, dançando, me envolvendo. Eu a desejo. E então quando ela chega perto o bastante para que nossos lábios se toquem, eu fecho os olhos. E na angústia de não sentir nada, nenhum toque, os abro de novo. E vejo apenas um corvo no alto de uma árvore, negro como a noite, com os olhos hipnotizados em mim. Eu senti frio. Parecia a morte. E ela me queria.

Respirei fundo e larguei a caneta. Fechei o caderno e o coloquei na gaveta da escrivaninha. Olhei no relógio, 4h30 da manhã, faltava 1h20 para o despertador tocar. E nada de sono. Apenas o desejo de consumir Kayllay só pra para mim. Acho que estava virando lésbica. Será que foi por isso que John me deu um pé na bunda?

O QUE EU ESTOU FALANDO? Não, eu não era lésbica. Foi apenas um sonho. Todos tem sonhos assim. É normal. Um pesadelo, apenas. Se eu conseguir descansar e não ficar tão nervosa com as provas finais isso vai passar. Ela é apenas a minha professora de Literatura e Redação. Então, sem pirar, Katie.

Levantei da escrivaninha e fui me deitar. Puxei o cobertor e ajeitei o travesseiro. Fiquei olhando pro teto o que deveria ter sido uma eternidade, quando olhei pro relógio só tinha se passado 5 minutos. Acho que a noite será um pouco longa.

***

I'm on the highway to hell, on the highway to hell, highway to hell,I'm on the highway to hell. No stop signs, speed limit, nobody's gonna slow me down, like a wheel, gonna spin it.. 5h40, despertador tocou, hora de acordar. A música não é nem um pouco irônica, eu sempre sorria ao lembrar que coloquei Highway To Hell, do AC/DC como despertador.

Esfreguei os olhos e levantei da cama, indo em direção ao banheiro. Hey mama! Look at me, I'm on my way to the promise land.. Encontrei o celular em baixo da minha camiseta e desliguei o despertador. Olhei no espelho, eu estava cada vez pior. As olheiras devem ter aumentado 1 cm de ontem pra hoje. Respirei fundo. Lavei o rosto e pus o celular pra carregar no quarto. Voltei e escovei os dentes, eu não iria lavar o cabelo agora de manhã, mas precisava acordar. Tirei a roupa e entrei em baixo da ducha quente; que depois de 2 minutos mudei para a fria.

Depois de tomar café da manhã, corri no quarto e peguei meu celular e a mochila. Já estava atrasada. 7h10, 20 minutos para a aula da Kaylley começar; não sabia como conseguiria olhar para ela sem ficar vermelha. A outra aula com ela foi torturante, ela era doce e gentil o tempo todo, mas as vezes, de relance, eu via algo sombrio nela. Algo que me causava arrepios dos pés a cabeça. Ainda não sabia o que aquilo significava. E algo me dizia que eu não iria gostar de descobrir.