The Who escrita por NK Winter


Capítulo 19
Quarto 35


Notas iniciais do capítulo

.. Feelings.........



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Mudei-me para um dos subúrbios que rodeava a cidade grande, um lugar pequeno onde talvez pudesse viver melhor. Continuei meu trabalho, sempre com a cabeça em Jane, seu diário tinha ganhado um lugar especial em minha mesa no escritório. Sempre que precisava relaxar lia algo.

Durante alguns dias eu não fiz nada. Não procurei, não tentei descobrir. Eu precisava de um tempo e tinha esperanças que se eu parasse de pensar muito nisso a solução viria naturalmente. Olhar por outros ângulos.

Numa noite comum enquanto mexia na caixa em que achei o diário e outras lembranças de Jane achei outras fotos. Fotos minha e de Jane numa casa de praia, eu deveria ter 19 anos na época.

Passei a foto para trás observando a seguinte, éramos eu, Julie, Jane e Connor. Connor estava sentado no sofá e Julie no seu colo, Jane se sentava no encosto do sofá e eu entre suas pernas.

"- Vamos, Marie! Não pode ser tão difícil arrumar a câmera - riu Julie se ajeitando no colo de Connor." As lembranças daquela viajem voltavam tão naturalmente, nem eu mesma sabia que ainda tinha essas lembranças. Foi nossa primeira viajem como casal, e estávamos felizes por poder dividir cada momento com Connor e Julie.

"- Pronto! Sorriam! - avisei acionando o timer da câmera e correndo para Jane."

A última foto eram Connor e Julie brincando com um sorvete, o nariz de Julie estava sujo de cobertura e Connor ria.

Levantei-me rápido da cama derrubando as fotos.

Connor!

Após o trabalho do dia seguinte fui o mais rápido possível para o escritório de Connor. Se Julie estava do lado de Jane, Connor também estaria, mas eu queria tentar conversar com ele.

— Espere um minuto - pediu o segurança abrindo a porta do escritório de Connor – Senhor, Alguém quer vê-lo.

— Diga para entrar - disse a voz de dentro do escritório.

O segurança saiu da frente e fechou a porta assim que entrei.

— Marie... - Connor me olhou por cima dos óculos.

— Connor... - o cumprimentei com a cabeça me aproximando da cadeira - Posso? – gesticulei para a cadeira com a mão e ele assentiu - Desculpa aparecer assim sem avisar, mas eu preciso conversar com você.

— Sobre Jane - deduziu.

— Sim, eu sei que Julie já te contou tudo, mas eu preciso que ouça de mim - pedi.

Connor franziu o cenho mostrando suas marcas de idade na testa, se apoiou na mesa e colocou o queixo em suas mãos.

— Eu li todo nosso primeiro ano juntas, eu vi seu ponto de vista. Eu sinto muitíssimo pelo que fiz para Jane, você tem que acreditar em mim. Você é o melhor amigo dela, sabe o porquê ela escreveu tudo aquilo e sabe onde encontrá-la.

— Sei - disse olhando para o lado. Ele parecia querer contar, mas Julie deveria ter o proibido de me dar qualquer informação - Eu não posso te ajudar, Marie. Sinto muito. - desculpou-se tirando os óculos e os limpando num paninho de seda que estava no bolso de seu terno - Você não sabe nem metade das coisas - lamentou - Você sabe por que Julie te trata assim? - perguntou colocando os óculos de volta e me olhando.

Connor com o tempo se tornou tão sábio quanto Julie, anos de casamento fez com que ele observasse mais as coisas e se tornasse quase como Julie.

Neguei com a cabeça esperando que ele continuasse.

— Vocês sempre foram melhores amigas, você contava tudo a Julie, ela sempre foi precisa... - Connor olhou para o porta retrato em sua mesa - Ela pode não ter me dito nada disso, mas o jeito que ela fala de você... Ela só sente sua falta, e odeio o que você se tornou. Você não confiou nela quando terminou com Jane, você se afastou de todos. Ficou solitária e rancorosa. E agora do nada espere que todos nós te aceitemos.

— Mas eu mudei...

— Não adianta repetir isso - interrompeu - Nenhuma delas vai confiar em você de novo enquanto não demonstrar - Connor se levantou e me olhou de cima - Nenhum herói salva o mundo para jogar na cara das pessoas que pode, ele faz isso porque é preciso e todos já sabem do que ele é capaz. Gabar-se não te ajudaria em nada.

Gabar-me? E o que eu poderia fazer para ficar me gabando? Voltar com Jane e ficar jogando na cara de Julie que sou capaz de seu perdão? Eu nunca faria isso.

— Como eu disse antes - continuou Connor - Eu não posso te ajudar... - Connor foi em direção à porta lentamente e me olhou por cima do ombro - Espero que não tenha tratado como lixo nada que te disse aqui - disse pegando um papel de seu bolso, amassando-o e o jogando fora, saiu de seu escritório e se foi.

— Eu não sei o que é pior... Falar com Julie ou com seu projeto... - estremeci me retirando da sala também. Por algum motivo parei ao lado da lixeira de metal e a observei.

Abaixei-me e peguei o papel que Connor havia amassado e jogado fora, o abri e nele havia um endereço escrito. Olhei pelo corredor e não havia ninguém mais. Deveria agradecê-lo outro dia.

No dia seguinte procurei esse endereço por toda cidade, e o encontrei umas horas mais tardes, eu não tinha certeza se ia encontrar Jane ou apenas mais alguma dica de onde ela estaria, não me impressionaria se Connor tivesse me mandado a ela indiretamente.

Do outro lado da rua observei o endereço, confirmei o papel mais uma vez e suspirei. O papel tinha me levado até um hospital grande que deveria tomar duas ou três quadras. Neguei qualquer possibilidade de Jane estar lá. Tinha que ter alguma explicação racional. Talvez algo de lá me levasse a ela.

Fui até o balcão de recepção do hospital e me apoiei no próprio.

— Ahm... Tem alguma... Jane Summer por aqui? - perguntei à recepcionista.

A recepcionista fez uma breve pesquisas em seu computador e confirmou com a cabeça.

— Sim. Quarto 35 no bloco B. Qual seu nome? - perguntou ainda digitando.

— Marie... – a enfermeira me encarava receosa antes mesmo de terminar de dizer meu nome, eu franzi o cenho para ela e a jovem do outro lado do balcão arrumou-se na cadeira.

— Ah - a enfermeira me olhou – Você não pode entrar, sinto muito. Tenho que te pedir para retirar-se - disse.

Minhas mãos se fecharam em punho.

— Por quê? Só queria visitar uma amiga - menti.

— Desculpe, mas não tenho a permissão de deixá-la entrar.

— Certo... - concordei indo embora.

Julie já havia falado com Jane e ela proibiu minha entrada, seja o que for que estivesse acontecendo lá dentro era grande. Tudo bem que eu não fui a melhor namorada nesse último ano, mas isso não era motivo para me tratar como criminosa.

Eu teria que entrar naquele hospital de outra maneira, já sabia onde achá-la, só faltava descobrir como.

Observei o hospital de longe por algumas horas, tinha uma entrada por trás apenas para faxineiros, fui até o lixão mais próximo do hospital e vi dois zeladores jogarem lixo fora e voltarem para o hospital por uma pequena porta.

Esperei para que alguém saísse pela porta para que eu pudesse entrar em seguida. Ninguém havia me visto ainda. Direcionei-me para uma sala que parecia ser de uniformes para lavar, peguei alguns limpos e me troquei.

— Hei! Você! - gritou uma voz que entrava na sala.

Me virei assustada e engoli a seco.

— Tem um código verde no segundo andar do bloco B, pegue um carrinho e vá limpar! - exigiu o homem de uniforme.

Concordei com a cabeça pegando um carrinho de limpeza e me dirigi ao elevador, fiquei por algum tempo rodando o hospital até achar o bloco B. A enfermeira da recepção tinha dito que era quarto 35 então comecei pelo terceiro andar, após muita procura visualizei o quarto 35.

Meu coração foi a mil, eu estava começando a ficar extremamente preocupada com Jane, seja o que for que estava por trás da porta podia mudar tudo. O que eu diria a ela? Como começaria?

Respirei fundo e peguei na maçaneta do quarto.

Apertei minha mão à volta da maçaneta e fechei meus olhos por um estante. Eu não a via fazia tanto tempo. Mal pude girar a maçaneta, eu não conseguia, eu não podia.

Larguei a maçaneta de vagar. Meus joelhos enfraqueceram e então cambaleei para trás procurando equilíbrio. Eu não podia abrir aquela porta. Connor havia me dito para provar que mudei. E Jane não queria me ver, fez questão de avisar a segurança toda para eu não passar nem pela recepção, então por que quebraria sua vontade e a forçaria me ver?

Eu a respeitava de mais para isso.

Segurei firme o carrinho e me virei para frente.

Um homem estava de braços cruzados me olhando, hesitei e o encarei de volta. Era um médico de jaleco branco e um estetoscópio em volta do pescoço. Seu cabelo era baixo e seus olhos sérios.

— Algo de errado? - perguntou.

— Não - respondi objetivamente.

O médico se aproximou lentamente até chegar ao carrinho da limpeza sem desviar o olhar. Em seu crachá estava escrito Dr. Gomez e tinha um adesivo sorrindo ao lado.

— Você não deveria estar aqui - disse me analisando.

— Só estou trabalhando - respondi baixo.

— Tudo bem, então volte ao trabalho, - peguei meu carrinho de limpeza e fui para o lado contrário do médico - Marie - concluiu a frase.

Parei alguns metros de distancia do médico e não tive coragem de virar.

— Você é médico da Jane - deduzi.

— E você sua ex-namorada - pude sentir seu sorriso em sua voz, minha raiva de ser distanciada de Jane era tanta que tive vontade de acertá-lo com o carrinho. Virei o rosto olhando-o por cima do ombro e ele continuou - Esse é meu telefone, quando precisar.

Dr. Gomez ergueu seu cartão para mim e eu o peguei.

Em casa eu estava dormindo quando ouvi um barulho, fui até a porta e a abri, era Jane. Minha surpresa impediu que eu dissesse qualquer coisa.

— Você me procurou - disse sorrindo para mim.

— Claro que procurei! Eu me arrependo de tudo o que fiz!

Jane estava diferente, estava com o corte antigo, de quando estávamos no colegial, não me lembrava dela assim. Era quase como se não a reconhecesse mais.

— Por que estava no hospital? - perguntei.

— Você sabe - disse tocando a ponta do dedo no centro da minha testa - Lá no fundo você sabe.

— Como assim? - a olhei confusa.

Jane fechou a porta e me beijou. Senti algo estranho, era como beijar meu passado com gosto de Tic Tac. Afastei-me e a olhei. Era a Jane com dezoito anos novamente.

— Jane... - me afastei.

— Você disse que era pra sempre - resmungou Jane com as mãos na cintura - Disse que tinha medo de me perder, e eu tinha medo que você ficasse sem eu na sua vida. Você me escondeu muitas coisas!

— Não escondi não... - neguei me afastando mais - Você... Você está... Diferente...

Jane se aproximava a cada passo que eu dava para trás.

— Você não me contou que Mica era gay, por isso voltou para mim, não contou o quanto me amou desde o primeiro beijo... Ou pior... Não contou que transou com Josh!

— Como você...? - ao tentar me afastar encostei-me à parede, o quarto estava todo negro e só podia ver Jane se aproximando.

— Você acha que depois de tudo o que me disse eu voltaria com você numa boa? Por favor - bufou - Até eu que tenho dezoito anos sei que não tem chances!

Jane riu e tocou novamente em minha testa. Apertei meus olhos e os abri novamente, me encontrei em meu quarto. Tinha sido apenas um sonho. Um péssimo sonho.

Eu estava rodeada de fotos e coisas que ficavam guardadas na caixa. Seu diário estava aberto na primeira página do diário, me debrucei na cama e olhei para a primeira página.

"Meu nome é Jane M. Summer e estou aqui escrevendo porque tenho medo que tudo o que guardei morra comigo, se um dia alguém encontrar isso quero que saiba que tudo o que foi escrito aqui é, foi e sempre será mais do que a verdade."

Aquela frase se repetiu diversas vezes em minha mente. O motivo que levou Jane para o hospital era sério, e ela escreveu o diário enquanto ainda estávamos juntas, porque ela achou que iria me deixar sozinha. Ela só quis deixar uma herança para mim de nós duas, para eu sempre lembrasse como foi o nosso inicio.

Ela estava doente e eu sabia disso. Jane não tinha feito por mal, ela queria se manter viva para mim em seu diário, mas eu estraguei tudo. Eu a mandei embora, eu terminei por nada. Ela nunca me trairia, por minha causa ela estava furiosa, tentando manter tudo bem depois que fosse e eu acabei fazendo sua ida pior.


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Notas finais do capítulo

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