A Chave Do Segredo - Dark Mystery escrita por Cristina Abreu


Capítulo 2
Parte I: O Acidente - Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Heeey, Apple Pies! How are you? Ok... chega de inglês, né? É que eu tô com vontade de falar hoje, mas enfim...
Sexta-feira e estou postando! Uhul!! Bem, se tiver algum erro, por favor me avisem. Eu dei uma revisada faz algum tempo e... Não sei se deixei escapar alguma coisa.
Hm... quem aí não me adicionou no Face, pode adicionar? Eu implooooooro! Porque tipo... Esse sistema novo de MP tá me deixando maluca. Esta aqui soy yo: https://www.facebook.com/graziella.aoki?ref=tn_tnmn
E falando em Facebook... Eu fiz uma página - ainda vou persionalizá-la - para avisar de novos capítulos e tals... Esse é o link: http://www.facebook.com/nyahfics
Ok. Acho que é só, por enquanto. Nos vemos lá embaixo:



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Parte I: O Acidente

***

Capítulo 1

Ottawa, Canadá.

Meses atrás.

Lauren.


Eu deveria estar dormindo. Deveria estar sonhando com unicórnios ou coisas assim. Mas não... Estava A-C-O-R-D-A-D-A! Esse era a única maldita noite em que eu deveria dormir bem. Amanhã teria um dia muito estressante. Seria a última prova do semestre.

Meu estômago se revirou. Geometria. Acho que eu era a única garota da minha escola que levava pau nessa matéria estúpida. Tipo, pra que saber o seno, cosseno e tangente? Onde eu iria utilizar essa babaquice? Muito obrigada, escola, mas estou satisfeita em saber que um mais um é dois!

Suspirei e virei para o lado contrário ao que estava, tentando pegar no sono novamente. E foi aí momento que eu ouvi um barulho lá embaixo, na cozinha. Agucei meus sentidos e bloqueei o medo que começava sentir. Esse não era um dos luxos que me dava ao direito de ter.

Portanto (e pode me chamar de louca, não tenho problema algum com esse adjetivo), joguei as cobertas para o lado e me levantei abruptamente, ignorando o frio da madrugada. Primeiramente pensei que fosse desmaiar, pois tudo ao meu redor ficou negro e desapareceu, mas no instante final recuperei meus sentidos e agarrei-me a escrivaninha.

Praguejei baixo enquanto abria a porta, sem me incomodar em ser discreta para não assustar o intruso, já que era o mesmo que estava me assustando. Será que era um ladrão?

Tapei a boca antes de gritar. Meu pai também havia saído do quarto e estava apontando um taco de beisebol para mim – uma das vantagens de se morar na América do Norte, pensei com ironia. Todos tinham um taco de beisebol, fosse para jogar ou para ameaçar alguém de morte. Certamente que os ingleses (iria me mudar para a Inglaterra em alguns meses) não tinham esse costume. Sorte a minha. Inglaterra. Uhul! (mais sarcasmo impossível!)

— Pai, que susto! – sussurrei, ainda tentando acalmar meu coração disparado.

— Foi você que fez aquele barulho, Lauren? – perguntou minha mãe. Balancei minha cabeça negativamente e lutei para não revirar os olhos. Como se eu pudesse estar em dois lugares ao mesmo tempo!

— Vou ver o que foi, então. – meu pai cochichou e desceu os degraus. Dei de ombros e desci atrás dele. Mamãe ficou um pouco para trás. Não pude evitar. Era muito curiosa!

— Lauren... – ignorei o sussurro da minha mãe e entrei na cozinha junto com papai, que já acendia a luz e erguia o maldito taco de madeira, por pouco não me acertando. Como estava a minha noite, foi verdadeiramente um milagre não ter acabado com um olho roxo.

— Mas que diabos...?! – meu pai olhava confuso para o chão. Segui seu olhar e sorri.

Um gatinho estava na janela aberta perto da pia e olhava para mim com olhos negros. Seu pelo era de um marrom escuro que sob a luz ficava um pouco avermelhado. Ele, ou melhor ela – era fêmea -, não passava de um lindo e pequenino filhote. Óbvio que não pude identificar a raça, já que conhecia algumas poucas.

— Sua malandrinha... Nos assustou! - eu disse a ela, ativando minha voz doce e meiga de criança que fazia quando via qualquer filhote. Ela miou para mim.

Ri e passei a mão em seu pelo sedoso e macio. Depois me voltei para meus pais com os olhos arregalados, implorando silenciosamente.

— Nem pense nisso, Lauren! - disse minha mãe. Seu cabelo estava desgrenhado e sua testa franziu-se.

— Tarde demais. Eu já pensei! - eu lhe disse.  - Por favor! Por favor! A coitadinha não deve ter onde ficar! Por favor!

— Lauren... Você sabe muito bem que vamos viajar daqui a alguns meses! Podemos comprar algum mascote lá. Como um peixe, por exemplo.

Olhei incrédula para minha mãe. Um peixe? Tocante.

— Não, mãe. Quero ela! – eu sei que parecia uma criança, mas não me importei. – Por favor! Vocês sabem muito bem que não quero ir para a Inglaterra, e eu poderia ter alguém para me fazer companhia...

Eu nem era descarada em aproveitar a culpa que eles sentiam por estarem se mudando de país e me levando junto.

— Nós vamos morar lá com você, esqueceu? Megan e seus pais também.

— E? – fiz beicinho. – Por favor!

Continuei implorando, e tanto o fiz que eles por fim cederam. Meu pai deu de ombros, e não demorou para mamãe cansar-se e jogar os braços para cima, completamente rendida. Dei um enorme sorriso e apanhei a gatinha em meus braços.

— Hm, como vamos te chamar, fofinha? - eu não esperava que ela respondesse é claro, a pergunta foi feita a mim mesma. Fiquei pensando em alguns nomes de gatos e depois sorri com o meu escolhido.

— Você gosta de Brooke? - eu perguntei ao bichano, que miou novamente. - Vou tomar isso como um sim, Brooke!

A gatinha miou mais uma vez e se esfregou em mim.

— Pelo menos ela já gosta de você. - disse mamãe. Ela sorriu para a gatinha que agora me pertencia e acariciou seu pelo. Papai também fez um carinho nela e depois foi fechar a janela.

— Essa gata é mesmo muito esperta. Conseguiu abrir a janela que estava trancada. - disse ele e franziu a tez.

Isso me confundiu, mas acabei deixando para lá. Teria uma nova companheira e estava feliz com isso. Eu odiava a solidão, por mais que me desse bem com ela.

— Amanhã poderemos comprar tudo para ela, não é mesmo? – eu ri da cara cética de meu pai, mas ele assentiu. – Ótimo!

— Certo, mas agora você tem que ir dormir, não se esqueça da prova de amanhã. – mamãe me lembrou.

Resignada, dei um beijo na testa dos meus pais e subi a escada, levando Brooke comigo. Assim que entrei no quarto fechei a porta e voltei para cama. Depois deitei e me cobri. Brooke ronronava e se esfregava em mim. Foi com esse som - e com um sorriso aberto nos lábios - que eu adormeci, mal me importando que estaria completamente ferrada amanhã.

Mas tudo bem. Logo eu descobriria que estaria ferrada pelo resto da vida.

***


Londres, Inglaterra.


Dias atuais.


Lauren.




Estava lendo um livro aos pés de uma árvore grande e com galhos altos quando senti. Olhos me observavam atentamente, até o meu passar das folhas continuamente. Suspirei, não precisava nem erguer meu rosto para saber quem era. Cameron.





Eu saberia mais tarde que era melhor nem tê-lo conhecido, aliás, começara a descobrir ontem.

Vi-o aos beijos com uma loirinha aguada quando supostamente ele deveria estar pressionando aqueles lábios nos meus. Controlei minha respiração enquanto tentava apagar a cena dele com aquela vadia, uma secundarista líder de torcida. Bem, ela poderia muito bem enfiar aqueles pompons no...



— Olá. – disse Cameron, sentando-se ao meu lado sem que eu percebesse. Pus o marca página no livro e o fechei cuidadosamente, antes de virar-me para encará-lo.



— O que você quer? – grunhi.


Estávamos próximos à biblioteca do Colégio, que dispunha de um silencioso campus onde os estudantes podiam se acomodar e fazer as tarefas referentes à escola, ou apenas ler um livro, como eu.

— Quero pedir para você, por favor, parar de me ignorar, porque foi ela que me beijou, e não o contrário! – sua voz demonstrava certo desespero.

— Bem, suas bocas se colaram do mesmo jeito. – falei. – Não importa quem beijou quem.

— Óbvio que importa, Lauren! – sua mão tocou a minha; rapidamente a recolhi. – Meus amigos...

— Bom, então escolha melhor suas amizades, porque ontem quando eu me direcionei a eles para perguntar se Alicia tinha mesmo lhe beijado, os idiotas apenas ficaram de boca calada.

— Porque você estava assustadora! Até eu fiquei com medo de você... – quis rir ao me lembrar de como parecera mortífera a todos ontem no refeitório, depois de arrancar algumas mechas de cabelo da garota.

— É... É sério... Eu nunca ia mentir para você! Eu... Eu te amo! - ele gaguejou.

Soltei um riso cortante de escárnio.

— Me ama? Bem, você realmente pôde provar o quanto me ama com a língua na garganta daquela sem vergonha! - eu disse a ele.

Estava pronta para levantar-me – a ferida em meu coração sangrando mais do que nunca -, mas ele me agarrou pelo pulso. Parecia que havia uma faca em minha garganta. Agora eu me esforçava para não derramar as lágrimas que estavam me sufocando e turvando a visão.

— Eu te juro, Lauren! Acredite em mim! Eu nunca iria te trair! - ele implorava.

Virei meu rosto para o lado. Como ele ainda tinha a cara de pau de me dizer que não estava aos beijos com aquela idiota que não tinha nada a mais do que um rostinho bonito?! Nem isso ela tinha direito!

— Pare de mentir! - sussurrei. - Não acredito mais em você, mas com certeza você fez um bom teatro quando me disse que me amava e que queria ficar comigo! Acreditei direitinho! Pode se vangloriar, mais uma garota caiu em sua teia idiota!

Empurrei-o e rapidamente recolhi minhas coisas, saindo do campus e me direcionando para o banheiro feminino mais próximo. Depois de entrar, verifiquei se todas as cabines estavam vazias e tranquei a porta, deslizando pela parede em seguida. Não chorei, faltavam poucos minutos para ter que voltar às aulas, mas minha cabeça estava me matando. Nunca sentira uma dor igual aquela.

Abri a mochila e peguei alguns analgésicos, tomando-os rapidamente e apertando minhas têmporas logo em seguida. O que estava acontecendo comigo? Tirando o fato de ter sido traída, claro.

Não era a primeira vez que eu terminava com alguém, óbvio, mas nunca fora traída. Naquelas vezes eu derramara umas poucas lágrimas - às vezes não derramava nenhuma - mas eu não nunca me sentira humilhada como desta vez.

Eu sabia que podia matar Cameron, mas isso nada faria para recuperar esses momentos de humilhação que estava passando agora.

O sinal bateu estridentemente, me fazendo gemer de dor e apertar mais as têmporas. Depois que a campainha deu seu último toque, ergui-me do chão com o auxílio da parede fria do banheiro. Fui até a pia – encarando brevemente meu reflexo que revelava minha pele clara, olhos castanho-claros e pesados cabelos da mesma cor - e joguei um pouco de água em minha nuca, esperando que isso fosse ajudar.

Andei vagarosamente para a próxima aula. Onde eu passava, cochichos se seguiam, ainda pelo ocorrido de ontem e assim seria até que outro escândalo desviasse a atenção da chifruda aqui. Ignorei-os satisfatoriamente até chegar à porta da sala do laboratório, onde teríamos Química nesse período. Só que minha entrada foi barrada por Cameron que me olhava intensamente com seus olhos azul-claros profundos

Gemi internamente... Cameron era mesmo um gato com seu cabelo negro caindo em sua testa e com seus olhos que podiam escanear sua alma e seus pensamentos mais ocultos, o que fazia surgir certa dificuldade em evitá-lo. Mas o fiz, passei por ele – meu ombro roçando no seu – e entrei.

Só para ver meu mundo escurecer.

— Lauren... Você está bem? Tá meio pálida. - disse Cameron.

Não lhe respondi e nem sei o que aconteceu, só senti meu corpo pendendo para o chão e encontrando o vazio.


A dor tinha passado. E só restava silêncio, um adorável silêncio. Ou um quase silêncio. Alguém estava falando, mas a voz era tão baixa que eu facilmente podia ignorá-la.


Sorri satisfeita por estar sem aquela terrível dor de enxaqueca e continuei sorrindo por mais alguns segundos, mas depois a voz foi ficando cada vez mais alta e meu corpo saía do estupor.

Uma vozinha irritante me chamava. Tentei ignorar, mas agora era impossível. Abri os olhos e depois os arregalei.




Onde eu estava?



Bem, era uma floresta. Sombria. Mas onde, diabos, se encontrava aquele monte de árvores tapando toda luz do sol? Levantei-me do chão e arfei. Uma gata fêmea, jovem e de pelos marrom-avermelhados estava próxima a mim. Minha gata. Brooke. E era dela a voz.


Também era óbvio que não passava de um sonho, afinal, gatos não falavam. Queria rir do meu espanto inicial, ora, como eu era tão estúpida!

— Lauren. Lauren. Olhe para mim. - disse a voz que ecoou.

— Brooke! - sorri para a minha mascote que eu tinha ganhado pouco antes de partir do Canadá, quando ela arrombara a janela de minha casa. Não, eu não era inglesa e não, definitivamente, nenhum presente poderia ter feito eu me sentir acolhida nesse novo país.

Os europeus não aceitavam bem quem lhes eram diferentes. Não davam trela a imigrante, pelo sentimento de xenofobia. Simplesmente tive que me acostumar com os cochichos maldosos enquanto passava, alguns soando até mais alto do que deveriam, com a intenção de serem ouvidos.

Odiava isso. Em meu país natal sempre fomos receptivos com quem chegava, tínhamos paciência e boa vontade de ensinar-lhes e auxiliar. Sem caras feias, sem piadas maldosas e sem risos os esnobando. Nesse quesito, o Canadá tinha uma boa imagem, diferente da Europa, que vivia confinada no que achava ser seu próprio mundo, uma ideologia besta de preservar sua hierarquia. O tão idolatrado eurocentrismo, que cismava em conservar esse continente como o Velho Mundo, o centro de todos os outros, quando na realidade era apenas uma imagem distorcida para parecer como tal.

Balancei a cabeça frustrada, mesmo dormindo as ofensas que diariamente sofria ecoavam por minha mente, e voltei a encarar minha única confidente – além de Megan, minha melhor amiga também canadense -, Brooke, que ainda me chamava.

— Ah, você fala. – o comentário idiota escapou por meus lábios.

“Que sonho mais esquisito...” pensei comigo mesma.

— Não falo no seu mundo. Só no meu.

Olhei em volta.

— Seu mundo? - perguntei. - Onde é seu mundo?

— Meu mundo é o dos espíritos. Eu sou sua guardiã, Laury.

— Hein? – esse sonho realmente não estava me agradando em nada. - Não. Sou eu que tenho que cuidar de você.

A gata balançou a cabeça.

— Não. Eu sou sua guardiã desde que você nasceu.

Eu tinha certeza que nunca vira Brooke desde aquele dia em que ela invadiu minha casa, miando e pedindo carinho.

— E por que eu deveria precisar de uma guardiã? - perguntei confusa.

— Por que você é cobiçada pela Vida e pela Morte.

Fiz cara de ponto de interrogação. Do que aquela gata maluca estava falando? Aliás, o que aquele sonho maluco queria representar?

— Não se preocupe, vai entender mais tarde. - disse ela; depois com uma voz mais baixa: — Espero que tenha tempo.

— Brooke... Não entendo, não pode me explicar? - implorei.

— Não. Não agora. - pausa. - Só a trouxe aqui para lhe dar um aviso: Não deixe Cameron. É isso que ele quer.

Ele? Ele quem?

— Cameron me traiu. - defendi-me.

— Não traiu, não. Ele está dizendo a verdade, basta você acreditar nele e confiar. - outra pausa. - Não foi nem ele e nem a garota que se beijaram. Não diretamente.

— Pode explicar um pouquinho melhor? - pedi.

A gata assentiu impacientemente.

— Ele fez com que a... Alicia partisse para cima de Cameron. E seu namorado só tentou se afastar.

Percebi. A ficha caíra e o significado do sonho ficou claro para mim. Era minha consciência querendo dar um final feliz para minha vida. Final que não existiria.

“Acorde.” eu disse a mim mesma. “Acorde!”

Aos poucos podia sentir que retomava a consciência.

— O que está fazendo? Não acorde! - gritou Brooke.

“Acorde.” - continuei dizendo.

— Não!

Acorde.

Desesperada, Brooke - ou minha consciência - só teve tempo de dizer:

— Tome cuidado com ele, Laury... Ele vai matá-la e você não poderá encostar-se a um fio de seu cabelo. Tome cuidado. Cuidado com Derek.

O nome ressoou em minha mente até no momento em que abri os olhos e fitei olhos azuis preocupados.

— Lauren, você está bem?


Pisquei diversas vezes até estabilizar a visão. Quando o fiz, o rosto de Cameron entrou em foco, seus olhos azuis se encheram de alívio.


Imediatamente o empurrei para trás e consequentemente seu olhar se encheu de dor. Um aperto atingiu meu coração, mas eu não voltaria para ele, não era uma cadela para que voltasse quando ele quisesse. Essa posição eu deixava para Alicia.



— Estou. - respondi ranzinza e me ergui da maca, sentando-me.




Provavelmente Cameron teria imediatamente me pegado no colo e corrido com uma eu inerte para a enfermaria.


— Laury, o que aconteceu? Você desmaiou e eu fiquei apavorado...

— Já disse que estou bem, não disse? Ou você é surdo agora?! Acho que não. - minha voz era ríspida e dura.

Ao ouvir o timbre de minha voz, o rosto belo de Cameron se fechou. Encarei-o, tentando ignorar a vontade louca que sentia de atirar-me em seus braços fortes e esconder meu rosto no vão entre seu pescoço e seu ombro, até que a porta bateu, me assustando.

— Ah, ela acordou! - falou uma enfermeira idosa com cabelos grisalhos e com um sorriso doce no rosto. - Você assustou a mim e ao seu namorado, querida!

— Ele não é meu namorado. – murmurei, olhando para o chão e balançando as pernas.

— Ah! Perdão, acho que me equivoquei...

— Não se equivocou não, ela é minha namorada. - disse Cameron estreitando os olhos.

— Hein? Decidam-se! - falou a enfermeira, com o sorriso ainda aberto.

— Nós não somos namorados. Não somos nada. - eu falei fuzilando Cameron com os olhos.

A cara da enfermeira expressava totalmente sua confusão.

— Olhe, já posso ir? Estou melhor, sério, minha visão não está mais embaçada e nada está girando, lhe garanto. - assenti e olhei com desespero para a porta, querendo sair correndo daquela sala.

— Sim, creio que sim. - respondeu a enfermeira.

Levantei-me com um salto e não perdi o equilíbrio. Sempre fora equilibrada como uma gata...

Não, não queria pensar em gatos agora, pois me lembrava do sonho esquisito que tivera há pouco. Aliás, será que era possível sonhar enquanto desmaiada?

Peguei minha mochila que estava em cima de uma cadeira e revirei mentalmente os olhos para Cameron. Sim, ele era bem forte para carregar a mim, a mochila dele e a minha.

— Tenha cuidado e procure não se esforçar hoje.

— Ok. Pode deixar.

Com aquelas palavras deixei a sala, batendo a porta com força e sem dar uma última olhadela para Cameron - que como eu podia sentir - tentava me alcançar com os olhos mesmo tendo uma porta fechada à frente para lhe atrapalhar a visão.


Soltei um suspiro de alívio quando as aulas de hoje acabaram. Praticamente corri – agora que sem uma tremenda dor de cabeça – para meu carro, um New Beetle preto, entrando e dando a partida rapidamente.


Enquanto dirigia, apenas um nome sondava minha mente: Derek.

Nunca conhecera ninguém com esse nome, tampouco o li em algum lugar, portanto não sabia da onde minha mente fértil tinha o tirado enquanto desmaiada. Balancei a cabeça e coloquei meus óculos de sol. Não existia nenhum garoto na minha vida com esse nome e jamais existiria.



Que o Derek vá para o inferno! – exclamei mentalmente enquanto estacionava em frente a casa da minha melhor amiga. Megan.



Sorri e toquei a campainha. Sua mãe me atendeu e respondeu ao meu sorriso. Logo já estava no quarto de Meg, que estava doente e por isso faltara a aula hoje. E ontem. Por causa disso, ela nada sabia do meu término com Cameron.


— Olá, Meg. – entrei sorrindo e me sentei aos pés de sua cama.

— Olá, Laury! – riu e tossiu. – Ai, como eu odeio ficar doente!

— E quem gosta? – perguntei baixinho, remexendo em sua cocha de retalhos.

Não poderia imaginar-me na Inglaterra sem Megan. Seus pais e os meus trabalham na mesma firma de advocacia, a mesma que os transferiu para esse país europeu que tanto parece repelir-nos.

— Ei, o que foi? – perguntou Megan.

— Hm... Terminei com Cameron. – soltei de uma vez e observei seu queixo cair.

— O que ele fez? – fúria passou por seus olhos castanhos escuros.

— Beijou outra garota? – minha resposta teve a entonação de pergunta.

— Aquele...

Não pude deixar de dar uma risadinha.

— Não, esqueça. Deixe-o para lá. – dei de ombros. – Como você está?

— Melhor, mas e você? Como está?

— Ótima.

Estava longe de estar ótima, mas mesmo assim tentava manter as aparências. Ninguém precisava ver o quanto doía ser trocada, o quanto meu coração estava machucado. E o melhor, ou o pior, ninguém percebia. Bem, ninguém exceto minha melhor amiga.

— Ok, vamos fingir que eu acredito! – ela balançou a cabeça, o que fez seus cachos negros robustos balançar.

— Você acha que amanhã já vai poder ir pra escola? – perguntei, tentando desviar o assunto.

— Não sei, mas se eu for...

— Se você for vai ficar ao meu lado, quietinha, sem fazer ameaças a ninguém. – a cortei e dei um sorriso triste. – Sério, não se preocupe. Logo o supero.

Meg arqueou uma sobrancelha, mas não tocou mais nesse assunto. Omiti que havia desmaiado, ela não precisava saber que eu passara mal e ainda tivera um sonho maluco com minha gata.

Ficamos conversando amenidades até que chegou a hora de eu ir embora. Logo mais anoiteceria e tinha que voltar para casa. Despedi-me rapidamente, mas antes de sair, virei-me e fiz a pergunta mais inesperada de todas:

— Conhecemos algum Derek?

— Hein? – peguei-a de surpresa. – Não, não conhecemos nenhum Derek, ao menos, eu não.

— Ok. Obrigada. – sorri. – Fique bem.

— Você também... Mas o porquê da pergunta? – exigiu saber.

— Nada. Curiosidade.

— Laury... – ia me chamando, mas eu já estava no último degrau da escada a uma hora dessas.

— Tchau, Meg! – gritei e sai.

Entrei no carro e dei a partida, respirando fundo. No fundo de minha mente cansada uma risada ecoou.


Cheguei em casa depois de poucos minutos e entrei, tirando meu All Star e largando-o no hall de entrada mesmo.


— Lauren? – gritou minha mãe da cozinha.

— Oi, mãe. – fui até lá e lhe dei um beijo na testa.



— Megan está melhor? – perguntou.



— Sim, mas não sabe se vai poder ir à escola amanhã. – suspirei, amuada já com a possibilidade de ficar sozinha naquele lugar.


— Pelo menos você tem o Came... – meu olhar lhe disse que estava pisando em uma área cheia de minas. – O que houve?

— Terminamos. – falei.

— Oh, quer conversar sobre isso? – balancei a cabeça negativamente; tudo o que eu queria era superar e isso não aconteceria se eu ficasse relembrando o ocorrido.

— Não se preocupe. Estou bem.

— Se você quiser faltar amanhã...

— Não, eu vou. Mesmo sem Megan. – dei um pequeno sorriso. – Mas vou para meu quarto agora.

— Certo. – seu olhar era uma mescla de preocupação e pena, o que eu definitivamente não precisava.

Brooke, minha gata, esperava deitada em cima da minha cama, dormindo tranquilamente. Levei um susto quando a vi, devido ao sonho, mas me assegurei que era besteira e fui até ela para lhe fazer um carinho.

— E aí, menina? – acariciei seu pescoço.

Ela miou em resposta e me arranhou com suas unhas finas. Sorri e me afastei, pretendendo ir tomara banho. Rapidamente peguei minhas coisas e entrei no chuveiro.

A água quente que escorria por meu corpo me permitia chorar as lágrimas represadas no colégio. Entreguei-me aos espinhos que as rosas possuíam, os que agora eu deixava rasgar meu coração, fazendo-o sangrar.

Mas as lágrimas de agora nem eram o pior do que tudo. O pior seria o sonho... Ou devo dizer pesadelo?

Continuei chorando até esvair todas as minhas mágoas e deixando restar somente o cansaço.


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Notas finais do capítulo

E aí... O que acharam??? Por favor, falem tuuuuuuuuudo nos reviews (principalmente se houver algum erro gramatical, pois hoje não estou muito bem, então não consegui revisar novamente).
Ah, e desculpa por ainda não ter respondido a maioria. Vou fazer isso hoje, logo após eu avisar que postei.
Alguém de vocês sabe postar imagem no capítulo? Por que eu fiz uns números bonitinhos para enumerar o capítulo, mas o Nyah não está aceitando que eu copie e cole. Olha que absurdo!
Enfim... Por enquanto, é tudo (sim, tô chata hoje, culpa do meu colégio T-T). Beeeijos, Apple Pies, nos vemos nos comentários, sim?