Mistérios Nas Sombras escrita por Beatriz Menezes


Capítulo 2
Capítulo 1 - Sintomas Mortais


Notas iniciais do capítulo

Parte Um
A descendente

Entre dois mundos a vida paira como uma estrela
Entre a noite e aurora, sobre a linha do horizonte.
Quão pouco sabemos do que somos!
E menos ainda do que podemos ser!

— Lord Byron, Don Juan



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/350483/chapter/2

Sintomas mortais

1

  Havia um som alto arrastando-se por trás da porta de Susan. Anny fitou Steven, seu amigo. Ela ainda não tinha se acostumado com a cor alaranjada que ele pintara o cabelo, estava ridículo, mas ainda e era possível olhá-lo. Pela sua mente se passava por que a música estava tão alta, já que era só uma festa de aniversário.  

- Isso não parece uma festa de aniversário. - Comentou Anny.

  - Não é o aniversário dela. - Explicou ajeitando uma parte do cabelo ruivo.

  - Mas, ela disse para minha mãe que era o aniversário dela...

  - Ela mentiu, - Steven fez uma pausa com um suspiro. - ela sabe que sua mãe não deixa você ir para festas.

  - Isso não é verdade. - Mentiu.

  - Não adianta mentir. Quando eu dei uma festa ela não a deixou ir...

  - Mas... - Anny não tinha mais o que dizer. Era totalmente verdade. Julye não suportava que sua filha fosse para festas. Mesmo prometendo deixá-la ir aos quinze anos. Bem, Julye nunca cumprira o que promete.

  - Você não quer ir? - Perguntou.

  - Quero, mas, ela não deixa. Isso parece errado e ela vai brigar comigo...

  - Você não está fazendo nada de errado, afinal, ela prometeu desde o ano passado que você poderia ir para festas quando fizesse 15 anos. - Anny entristeceu. - Ah, vamos.

  - Tudo bem. Vou mandar uma men... - Susan abriu a porta. Ela os atendeu com um grande sorriso com aparelhos.

  - Vocês vieram! - Ela continuava sorrindo. Seus óculos estavam em seu rosto, o cabelo não estava como normal, estava liso e loiro, que, normalmente, são cacheados, seus olhos estavam neutros e cinzas, também estavam sem vida. A música podia ser escutada melhor agora. Susan segurava um cigarro na mão e fazia um gesto para eles entrarem. - Estou tão feliz.

  Eles adentraram na festa. Anny ainda estava sem empolgação, se fosse por ela suas pernas deixariam-a travada na entrada, mas Susan estava empurrando-a. Anny concluiu um fato importante: os pais de Susan não estavam em casa, ninguém faria uma festa dessas com os pais em casa. E mais estranho era que a irmã de Susan: Manuelly, não estava e ela nunca faltava nenhuma festa, provavelmente com outro cara... 

  A paisagem da casa sedia-se com as luzes dourado, vermelho, verde, azul, roxo e outras. Havia várias mangueiras de luzes coloridas no chão. Pessoas seguravam um tipo de velinha de aniversário que piscava. Outras conversavam sobre uma mesa de sinuca. Meninas usavam óculos colorido, meninos jogavam spray uns nos outros ou tinta em suas roupas. Brincavam com as bebidas, com os cabelos e até mesmo com salgadinhos, etc. Havia também luzes penduradas no teto ou na parede que piscavam sem parar. Uma fumaça semelhante a uma neblina com um cheiro insuportável, saia de perto da caixa de som, e essa colidia de acordo com as batidas sonora com estrondo de forma rústica.

 - Como vai, Steven? - Perguntou Clare. Uma menina de 16 anos, baixinha, com o cabelo castanho com mexas, agora azul-piscina, e lentes de contato douradas. Ela estava olhando furiosamente para ele. Ela é a ex-namorada de Steven, pensou Anny, ela nunca se esqueceria de Clare, que, por sua vez era uma das suas melhores amigas.

  - Estou bem e você? - Respondeu. Ela parecia totalmente ótima, ela estava empolgada com a festa, segurando um copo de champanhe.

  - Não podia estar melhor. - Clare deu outro gole no champanhe. Ele riu. Clare olhou para ele.  - Você é um sem noção! - Reclamou e foi para a pista de dança. Talvez ela não tivesse entendido do que ele riu. É, mas, quem entenderia Steven?

  Ivan saiu da cozinha com algumas garrafas. Ele colocou numa mesa de vidro perto de alguns copos plásticos. Várias pessoas avançaram.

  Anny coçou o seu braço. Algo tinha travado-a no lugar. Steven aproximou-se dela com dois copos de plástico. Ele entregou um para ela.

  - Obrigada. - Disse ela. Ela deu um gole e logo sentiu o gosto. Ela colocou a mão na boca. - Argh. - Murmurou. Steven riu. - O que é isso?

  - Nunca tomou vodka? - Perguntou ele.

  - Não. 

  - Você já bebeu algo? - Steven a olhou com cara de reprovação.

  - Já. Mas, vodka é novidade. - Explicou, mesmo não sendo totalmente verdade: era a primeira vez que ela estava numa festa, empurrada na festa, e a única vez que tinha bebido fora aos 8 anos quando seu pai deixou-a experimentar uma cerveja.

  - Uhu! - Gritou Clare com uma garrafa de champanhe na mão. A rolha voou quando ela fez: “Uhu!” e descia, pelo seu braço, da garrafa o champanhe borbulhando. Todos a aplaudiram. Clare tirou o cabelo bagunçado dos olhos e colocou a garrafa na boca com tudo. Steven estava rindo dela. Anny riu também.

  - Ela vai estar na maior ressaca amanhã. - Comentou Susan. Anny não tinha notado, mas, Susan ainda estava do seu lado.

  - E você vai se matar, - Disse Steven. - aliás, quantos, você já fumou? - Perguntou ele apontando para o cigarro.

  - O que te interessa? - Ela soprou o rosto de Steven. Ele tossiu. Susan riu. - O que está achando Anny?

  - O que? - Anny virou. Ela já estava conversando com Jerry.

  - O que acha da festa? - Perguntou Susan aproximando-se dela e de Jerry, ignorando totalmente a presença de Steven.

  - Está... animada... - Falou Anny e deu um longo sorriso.

  - Com certeza. - Jerry concordou. Ele puxou a mão de Anny fazendo a sentar ao seu lado.

  - Você acha que ela está gostando? - Perguntou Susan voltando-se para Steven.

  - Acho que ela está adorando. - Steven apontou para Anny e Jerry que estavam se beijando ferozmente. Susan riu. Steven não sentiu-se confortado ao presenciar essa cena.

  - Tem razão.

  Anny deixara o copo de vodka cair para se agarrar no pescoço de Jerry. Na verdade ela não sabia exatamente o que estava fazendo, a vodka já teria feito efeito. Ouviu-se um chiado alto e agudo por causa do microfone, isso atrapalhou o beijo.

   - Ok. - Falou Ivan no microfone. - Sei que todos estão se perguntando onde eu arranjei o microfone. A resposta é curta: é de Susan. E agora estava na hora de iniciar o karaoke. - Clare ficou com raiva e atirou a garrafa no chão gritando “Merda!” Todos se assustaram com a reação dela. - Qual é o problema Clare?

 - Eu quero o meu cigarro! - Gritou ela. - Alguém me roubou! - Susan estremeceu. Todos olharam para ela. - Sua idiota vagabunda. - Clare gritou com Susan. - Por que não me pediu?

 - Er... Er... - Susan procurava as palavras. - Eu tenho outras cartelas... Você quer? - Perguntou. Dando um sorriso tímido.

  - Você ainda pergunta? - Respondeu Clare furiosa.

  Susan foi para a cozinha e abriu uma gaveta no armário, lá estavam milhares e milhares de cartelas de cigarro. Clare prendeu a respiração, assustada. Clare nunca tinha visto tantas cartelas na vida. Susan leu a expressão no rosto de Clare e deu uma risadinha sarcástica. Talvez, Susan já fosse viciada.

  - Mudou de idéia querida? - Perguntou Susan com os óculos tortos.

  - Claro que não. - Clare expirou com força, ela tinha ficado sem respirar por “muito” tempo: 16 segundos. Ela pegou uma cartela e abriu. Pegou um cigarro e o acendeu com o isqueiro que estava na sua calça jeans. Susan ainda estava com o mesmo cigarro, ele estava quase acabando. As duas voltaram para a sala de estar.

  Anny tinha pegado um doritos que estava entre Jerry e ela. Também tinha uma garrafa de vodka, Jerry tinha misturado com Redbull o que tinha deixado com um gosto mais estranho ainda para ann.

  - Agora que foi resolvido o furto do cigarro. - Ivan riu sozinho. - Vamos para o karaokê.

  - Ivan, se quiser ser cantor, eu vou avisando você é péssimo. - Gritou Susan com um novo cigarro na mão.

 - Olha quem está falando, desafinada! - Todos aplaudiram a Ivan.

 - Quer apostar? Ou está com medo de perder de mim, franguinho? - Todos bateram palmas novamente. Ivan deu um gole no uísque e pegou dois microfones.

  - Vamos? - Susan jogou o cigarro para trás no mesmo momento que Ivan estendeu o microfone.

  - Vamos. - Concordou Susan. - Ímpar.

  - Par. - Ivan colocara cinco e Susan três. - É, ganhei.

  - Tudo bem. Quem ri por último ri melhor. - Susan virou jogando o cabelo na cara dele. Ele sorriu com a fúria dela. - Qual vai ser a música gente? - Perguntou ela, quase engolindo o microfone.

  - E.T! E.T! E.T! - Gritaram todos. Ivan piscou para Susan. Ela deu língua para ele, franzindo o cenho. Aumentaram o som no máximo, o que fez Anny colocar a mão nos ouvidos.

  Hugo, o irmão de Clare avançou no pescoço de Jerry. O que é que deu nele? Perguntou-se Anny. Hugo o puxou pelo braço depois o jogou para longe, certamente mais uma das estúpidas discutições inúteis de quando Hugo estava embriagado. Anny pôde escutar um pouco da conversa.

  - É só eu dar as costas que você faz isso comigo, não é Jerry? - Perguntou Hugo, furioso. - O que deu em você?

  - Nada. Eu pelo menos não tenho que me culpar por não admitir ser gay para meus pais. - E assim Jerry levou um soco no olho. Ele bateu com força a cabeça no chão e deu um chute nas pernas de Hugo. - Viado!

  Clare jogou o cigarro para trás e pulou em cima de Hugo.

  - Se for bater no meu irmão vai ter que bater em mim primeiro!

  - Com muito prazer. - Antes de ele dar um chute nos dois, ann viu-se desesperada e deu grito.

  - NÃO! PAREM COM ISSO! - Anny afastou Jerry. - Clare o que deu em você? - Perguntou ela quando se afastaram da briga.

  - Me desculpa Anny, ele é meu irmão e eu tenho que defendê-lo. A culpa não é minha se Jerry é um homofóbico.

  - Eu sei, mas não precisa se jogar na frente dele. - E eu pensando que ele era bi, pensou Anny.

  - Ah, você não entende. Hugo sempre tenta fazer a coisa certa e agradar os outros, só que ninguém o aceita. Eu amo meu irmão e ele precisa de mim.

  - Ok. - Anny suspirou. - Eu acho que vou embora. - Clare abraçou-a.

  - Até amanhã.

  - Até.

 - Steven eu vou embora. - Disse ela gritando no ouvido de seu amigo.

  - Eu não consigo ouvir, a música está muito alta.

  Anny o puxou para fora da casa pela camisa. 

  - O que foi que você disse? - Perguntou Steven. Ela suspirou.

  - Eu vou embora.

  - Por que você já vai?

  - Eu não aguento esse barulho e não vou ficar aqui fora sozinha.

  - Certo, então eu vou também. Deixe-me pegar a moto.

  Anny viu a escuridão o engolir. O vento gélido batia em seus cabelos os fazendo irem para frente de seu rosto. Logo Steven voltara com a moto, à luz da lua cheia batia nos seus cabelos ruivos deixando-os com reflexo dourada, todo seu corpo acompanhava o leve movimento da brisa serena. Quando ela olhara para ele a sua visão mudara, uma dor invadiu seu ser e ela possui o corpo de seu amigo de uma forma estranha, ela viu a si mesma. Ela cambaleou para trás, de modo agressivo e confuso.

  - Anny, você está bem? - Perguntou-lhe Steven.

  - Estou.

  Ele sentou-se na motocicleta e Anny o fez em seguida. Ele acelerou, ela segurou-se com mais força nele com medo de despencar. O vento batia em seu rosto, deixando com uma sensação de leveza e espantando seu medo de velocidade. Eles passaram em frente a um supermercado onde estava um grupo de quatro pessoas. Ela olhou para a garota loira e alta; sua visão mudou novamente e novamente aquela dor, ela vira dois meninos na sua frente e deu risada.

  - O que foi Anny? Anny? - A moto virou para a esquerda logo depois do supermercado. Ela voltou a si.

  - O que? - Ela quase caiu da moto.

  - Anny, você bebeu muito hoje?

  - Não, por quê? - Mentiu.

  - Você parece que está em outro mundo, você não me escuta.

  - Desculpe-me.

  Eles passaram por um casal noturno que se beijavam, ela os olhou, possui o homem, e ela estara beijando uma mulher. Anny voltou a si.

  - O que foi isso? - Perguntou ela em voz alta. O casal noturno parou de beijarem-se assustados.

  - O que? - Steven freou mesmo no sinal verde, não tinha carro em nenhuma rua.

  - Nada. - A moto voltou a andar.

  Passaram mais uma rua. Steven virou para a direita. Anny vira sua mãe esperando na porta, a dor perturbava agressivamente. Então viu ela mesma atrás de Steven. Anny piscara duas vezes e voltou a si.

  - Anny Melanie Black! - Disse sua mãe assim que a moto de Steven parou. - Isso é hora de chegar em casa?

  - Desculpe Julye. - Disse Steven.

  - Desculpa mãe. Tchau, Steve.

  - Tchau, ann. Tchau senhora Black. - Despediu-se ele.

  - Tchau. - Ela fechou a porta. Julye virou para ann batendo o pé levemente.

  - Estou encrencada, né? - Anny começou a roer as unhas. Julye assentiu. - Mãe, não me leve á mal...

  - Você sabe como eu fiquei preocupada? Você tem idéia de como eu ficaria se algo acontecesse a você?

  - Mãe, eu estou aqui. - Ela tentou acalmar sua mãe. - Não aconteceu nada.

  - Tudo bem. Vá dormir.

  - Boa noite, mãe. - Anny subiu rapidamente as escadas.

  - Boa noite... - Começou Julye. - Boa noite ann.

  Anny pulou na sua cama, irritada. A dor havia passado, apenas deixando uma cicatriz próxima ao seu pescoço, uma cicatriz quase transparente, que Anny não havia reparado quando a obtivera. Sua mãe parecia não entender como era a adolescência, ela nem estava tão velha assim. Então, ann fechou os olhos com raiva e dormiu. Foi só uma festa, o que pode acontecer?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mistérios Nas Sombras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.