Eu precisava me acalmar. Um passo em falso e minha vida estaria em muito mais risco. Afinal de contas, o que eu deveria fazer?

Ladrão: Vamos garota, passa tudo de valor que tiver!

Orihime: Mas... Eu.... É que...

Ladrão: Sem papo furado, faz qualquer coisa suspeita e eu te mato aqui e agora.

Isso era um problema, eu estava com a bolsa da escola, mas nem mesmo o celular estava nela. Se esse cara não conseguisse nada pra roubar, ia acabar comigo só pra calar minha boca. Espera um minuto, o que eu estava fazendo? Que ação patética era aquela? Há alguns minutos atrás eu estava falando que queria força, e agora estava quase chorando de medo na frente de uma pessoa que tremia insistentemente, provavelmente por causa de drogas. Afinal de contas, o que eu deveria fazer?

Ladrão: Vai logo garota!

Orihime: Espere, eu preciso pegar o dinheiro na bolsa...

Ladrão: Não tente dar uma de espertinha comigo...

Obviamente eu sabia muito bem que não havia nada de valor naquela bolsa, mas precisava ganhar tempo. Quando dirigi minha mão ao zíper, percebi que estava segurando fortemente o chaveiro que W havia... O canivete! Tinha uma arma em minhas mãos e, com certeza eu tinha força o suficiente para empurrar uma pessoa desestabilizada e drogada. O plano era simples: Empurrá-lo no chão, e quando ele viesse me atacar enfiar a pequena lamina no primeiro lugar do corpo dele eu alcançasse sem me machucar. Mas, era realmente certo machucar alguém? Alguma coisa dentro de mim repetia ‘‘mate-o, é pra sua própria segurança, você pode fazer isso’’, porém eu não me perdoaria se matasse uma pessoa. Afinal de contas, o que eu deveria fazer?

Ladrão: Eu já estou perdendo a paciência!

Orihime: Calma, por favor.

Ladrão: Eu tenho pressa. Se não me der nada nos próximos 30 segundos, vai morrer aqui e agora. Melhor ainda, você me parece bem bonita, vou desfrutar um pouco antes de me livrar de você.

Ele estava quase passando dos limites, e quando finalmente encostou sua mão na minha cintura, senti que era o fim. Eu era uma fraca inútil, e ia morrer daquela forma tão desprezível. Me despedi mentalmente de todas as pessoas que eu amava, e pedi desculpas a Ichigo por nunca ter contado o que eu sentia. Senti uma lagrima rolar pelo meu rosto, e de repente tudo ficou negro.

Foi rápido, era como se meu corpo se mexesse sozinho, meu instinto de sobrevivência ou seja lá o que fosse controlava minha razão. Empurrei o ladrão com tanta força que ele despencou no chão desnorteado sem conseguir fazer nada. Mas ele se levantou rapidamente, pronto pra me golpear. Eu ainda tinha que apertar o mecanismo pra destravar a lamina do canivete, e enquanto fazia isso, ele tentou me acertar com a faca. Consegui desviar a tempo, mas ele conseguiu abrir um pequeno corte no meu rosto. Mas no segundo golpe, ficou obvio quem venceria ali, quando ele usou toda sua força em um único ataque e eu facilmente segurei sua mão. Espera, eu? Não, aquela não era mais eu, era uma existência completamente diferente. Torci sua mão o fazendo soltar a faca, agora ele estava em minhas mãos. Mas eu não queria ficar manchada com o sangue de ninguém.

O homem estava me implorando por piedade... Mas meu corpo não parava de avançar.

Não, eu não queria aquilo... Pare de se mover. Pare! Porque essa confusão na minha mente? Ao mesmo tempo que eu não queria fazer aquilo, alguma parte estranha na minha mente continuava.

Eu já estava a centímetros, pronta para dar o golpe final, então ia ser isso...

???: Ei o que está acontecendo ai?

A voz de um estranho me trouxe de volta a realidade e me devolveu o controle total dos meus movimentos. Minhas pernas despencaram e eu fiquei lá parada, olhando para um ponto fixo, sem conseguir encarar a realidade à minha volta. Apenas pelo barulho, consegui entender que o ladrão tentou fugir, mas a pessoa dona da voz que me acordou conseguiu o pegar. Mais pessoas se aproximaram. Alguém me puxou delicadamente para ficar de pé. Era uma mulher com em torno de trinta anos, e vestida como uma policial.

Policial: Você está bem mocinha?

Orihime: S-sim. F-foi vo-você que me salvou?

Policial: Não, apenas vim para prender o homem que tentou te machucar.

Orihime: Entendo... Você estava aqui perto pra ter chegado tão rápido.

Policial: Rápido? Senhorita, de acordo com as testemunhas, já passaram quase meia hora desde o incidente. Qual o seu nome?

Orihime: Inoue Orihime.

Policial: Pode me dar o telefone de um responsável?

Orihime: Me desculpe, mas eu moro sozinha.

Policial: Então diga o endereço que eu mesma a levo em casa.

Orihime: Certo, obrigada.

Policial: Não se preocupe, vai ficar tudo bem agora.

Acenei com a cabeça enquanto entravamos na viatura, mas sabia que aquilo era mentira. Nada ia ficar bem. Minha vida estava completamente de cabeça pra baixo. Eu quase cometi um assassinato.

Chegamos rápido na minha casa. A policial me obrigou a sentar e perguntou se eu queria que ela informasse alguém. Pedi pra ela ligar para Ichigo, Rukia, Ishida e W. Quando ela terminou todas as ligações, tentou me acalmar, disse que não iria acontecer nada comigo por ter apontado o canivete para o assaltante, foi apenas legitima defesa, era uma atitude normal de uma pobre garota desesperada. Isso não iria me acalmar. Lembrei do meu rosto quando estava prestes a matar aquele homem. Não podia me ver, mas podia sentir o sorriso se alargando. Então encarei finalmente a verdade de que eu estava tanto me escondendo. Havia uma possibilidade, por mais que fosse pequena de eu não ter só feito aquilo por legitima defesa. Que na verdade, o instinto de sobrevivência que fez eu me mexer involuntariamente fosse... Um instinto assassino. E a pergunta que tantas vezes tinha me assombrado naquele dia ecoava sem parar na minha cabeça, zombando da minha constante e talvez infinita confusão. Afinal de contas, o que eu devia fazer?