Rose: Quero trabalhar como empregada.

~*~*~

River:... Não deve estar falando sério...

Eu sorri. Ele estava realmente incrédulo. Parecia que alguém tinha vindo e dado um tapa no rosto dele; um tapa daqueles que você não esquece tão cedo. Mas o rosto de Michael estava o mais engraçado: Ele estava com a boca aberta e os olhos arregalados, o que era bem mais engraçado combinado com os cabelos louros bagunçados.

Rose: Como consegue duvidar?

Era verdade: Duvidar de mim é meio difícil, afinal, eu faço qualquer tipo de loucura que me vem na cabeça... o que é mais inadequado ainda para uma garota de família. Por isso prefiro nem ser uma.

River:...Mas...Mas...

Rose: Ande, pare com isso. Sabe que estou falando sér-...

Antes que eu pudesse terminar de falar, River deu um pulo e me abraçou. Olhei para Michael, e o mesmo nos encarava, surpreso. Depois deu de ombros e sorriu nervosamente.

River: Estou tão feliz! Nem acredito!

Desta vez era eu quem estava incrédula: Do que raios ele estava falando? E como podia estar...feliz?

River: Antes você nem considerava a hipótese de ficar aqui! Agora pelo menos... Pelo menos você vai ficar...! Ah, estou tão feliz!

Eu não podia acreditar. Como ele podia estar feliz, ainda que eu estivesse ainda rejeitando ser sua filhinha? Isso era... o amor de um pai? Ah. Não. "Eu não quero", pensei. Eu queria me livrar daquilo, daquele momento "fofo". Nada disso me agradava, de um jeito que não posso explicar, mas eu simplesmente... não consigo entender a felicidade dele. Mas uma coisa eu sei: Sua felicidade me irrita.

River me soltou (finalmente) e deu um pulinho, então, virando-se, bateu palmas no rosto de Michael.

River: Vá! Mostre o quarto das empregadas!

"DAS EMPREGADAS?" pensei, de olhos arregalados. "DAS?" Tipo... no plural? Não me diga que eu...

Michael: Claro.

E com isso Michael segurou minha mão e me levou. Dei uma última olhada em minha irmãzinha apagada naquele sofá com a tia de Ciel. Eu gostava muito das duas, e agora lá estava indo eu... para longe delas.

Michael me levou até um corredor meio escuro, e então ele pegou uma vela (que eu não sei de onde veio) e acendeu. Os papéis de parede não eram verdes, e sim amarelos, e as três portas no corredor eram todas de madeira e bem polidas.

Ele abriu a última porta do corredor, mostrando um quarto escuro. Ele ascendeu as luzes do ambiente, e eu pude ver: Um quarto pequeno, com duas camas e uma portinha no canto que eu supunha ser um banheiro. As paredes eram brancas e as camas era vermelho-vinho. "Não é possível que até o quarto das empregadas é mais bonito que minha antiga casa..." pensei, sem conseguir evitar revirar os olhos.

Michael: Acorde... Acorde Sandra...

"Quem diabos é Sandra?!" pensei.

Na cama da direita, uma cabeleira ruiva apareceu. Os cabelos era lisos e meio sem brilho. Quando ela se virou, peguei um susto. Era linda. Ela tinha olhos verdes incríveis e brilhantes; como os meus, e a pele era clara e de aparência bem macia.

Mas ela me olhava feio, como se eu fosse algum rato imundo.

Michael: Sandra, esta é Rosely Bringwood, sua colega de quarto. Ela trabalhará aqui como empregada com você.

"Ah que maravilha. Vou ter que trabalhar com a mulher que pensa que sou um rato. Nada mais incrível." pensei, irritadiça. Por mais que ela me olhasse daquela forma; não pude evitar rir. Ela era apenas uma empregada, me olhando daquela forma, sem sonhar que na verdade sou filha de seu Mestre. Pobrezinha.

"HÃ?" Eu acabei de dizer que sou filha do Mestre dela? Ah, estou ficando louca. Não sou filha dele. Sou tão lixo quanto ela. É isto e apenas isto. É claro que sou mais bonita, mas é um mero detalhe: Ambas somos lixo, comparadas com eles.

Sandra: Uma pirralha? Estão loucos? Vejam como é magra... se ela tentar passar um pano no chão, vai acabar perdendo o fôlego e morrendo. E veja bem, olhe como é baixinha... Não alcançaria pegar nada mais alto que meio metro.

Abri a boca; eu tinha uma de minha incríveis, sínicas e cruéis respostas... porém, Michael falou primeiro:

Michael: É uma aprendiz. Não seja tola, Sandra, ela tem mais prestígio do que você terá numa vida toda.

Sandra arregalou os olhos e fez uma expressão carrancuda.

Sandra: Ah, me poupe. Eu vou dormir. Ah, e se essa pirralha me acordar no meio da noite... está morta.

Michael: Morta será você se tocar nela.

E com isso, acabei deixando um risinho escapar. Veja isto, Michael me defendendo. O pequeno e meigo Michael. É engraçado, sabe?

Então lembrei dele tentando me pegar com aquela espada.

"Melhor eu deixar isto de 'pequeno e meigo Michael' pra lá" pensei. Sandra ignorou o comentário dele e voltou-se para dormir.

Michael: Ela é complicada, mas...

Ele fez uma careta.

Michael: "Mas" nada, ela é complicada e apenas isso. Bem, eu tenho que ir. Boa sorte.

Rose: Obrigada.

E com isso, Michael foi embora, fechando a porta atrás de si. Encarei aquela mulher deitada. Eu podia matar ela, se quisesse. Seria interessante. "Deixa pra lá", pensei, ao me imaginar contando a garganta da ruiva.

Fui tomar um banho. Ao me olhar no grande e redondo espelho em meu banheiro, já sem roupas, vi as feridas, cortes e manchas de cinzas em meu corpo todo. Suspirei. "Se Sandra não me matar... com certeza uma infecção mata". Então de repente comecei a imaginar Sebastian banhando Ciel e limpando as feridas dele.

Tudo bem... Isso foi estranho...

~* ~*~

(Narradora)

Em uma noite comum na mansão Phantomhive...

Só que não.

Ciel acabara de voltar de uma de suas tentativas de pegar Jack The Ripper. Este estava, por mais que odiasse a ideia, vestido de mulher. E o que mais odiava em tudo: Achava que Sebastian estava achando muito engraçado.

Eles entraram na mansão pela janela. A noite estava linda e estrelada, mas Ciel não ligava para isto: Estava preocupado. Onde raios Elizabeth estava? Como ela havia sumido e NEM SEBASTIAN encontrava? Era como se fosse um pesadelo, e para piorar o pesadelo, ele ainda tinha que trabalhar na procura do Ripper. Se bem que ele pensava que já tinha encontrado: O Visconde Druitt.

"Ah, aquele cara me dá medo" pensou Ciel, tremendo. Sebastian riu como se lesse seus pensamentos e Ciel teve vontade de dar um tapa nele.

Sebastian: Bem, agora vamos, vou dar uma banho no Jovem Mes-...

Ciel: Não. Vá procurá Elizabeth, eu me viro sozinho.

Sebastian pareceu surpreso por alguns segundos. A cada instante em que ele quase tinha um tempo livre, Ciel mandava que ele procurasse Elizabeth. Sebastian suspirou e virou-se para a janela, mas logo virou-se de volta.

Sebastian: Jovem mestre... Se me permite perguntar... Por quê você entrou naquela mansão? Enquanto pegava fogo...

Ciel: Não lhe diz respeito. Agora vá.

Sebastian encarou seu Jovem mestre um pouco irritado, mas voltou-se para a janela e suspirou.

Sebastian: Como quiser...

E com isso saltou noite afora. Ciel encarava a janela com os olhos azuis brilhando, refletindo as estrelas daquela noite.

"Esqueça isso... Concentre-se em seu trabalho." pensou. Mas era claro que ele não conseguia. O mundo parecia mais louco do que o normal, especialmente para ele. Suspirou e entrou no banheiro. "Lá vou eu tentar banhar sozinho".

Alguns minutos depois, o banheiro estava todo molhando e tinham sabonetes, sais e xampu; tudo espalhado pelo chão.

Ciel: MAS QUE DROGA!

~Continua...