E eu acordei.

"Mas onde é que eu estou mesmo...?" perguntei á mim mesma, enquanto esfregava os olhos e olhava em volta. Tinha uma cama ao meu lado, e nela uma mulher ruiva dormindo. Pelo amor de Deus, ela era bonita dormindo. "Alguém me mate" pensei, ao notar que mentalmente elogiava aquela mulher irritante... qual era mesmo o nome dela?

Mas agora eu me lembrava que estava na mansão River, eu era um reles empregada e aquela era uma outra empregada... que eu não lembrava do nome de jeito nenhum. "Sandy? Sade? Ah, mas que droga".

Levantei-me da cama. Eu não estava de camisola, estava com um vestido de cor verde, branco, cinza ou... tudo bem, eu não tinha ideia de que cor era este vestido. Na verdade estava tão sujo que eu mal conseguia vê-lo. Fui até um banheiro e fiz minha limpeza matinal... ou pelo menos tentei, afinal, só tinha uma escova de dentes, e eu não ia usar a de... Sade?

Eu estava escovando meus cabelos, quando Michael entrou no quarto absolutamente do nada e sem bater na porta.

Rose: Educação mandou lembranças.

Michael: Hã? Você está acordada?

Ele estava com uma pilha enorme de roupas nas mãos e algumas outras coisas que eu não tive interesse em ver. Assenti para a  pergunta dele e voltei a escovar meus cabelos.

Michael: Ér... estas coisas aqui são suas.

Agora eu estava interessada.

Rose: Deixe eu ver! O que tem aí?

Michael: Ora ora, quem diria que até você gosta de receber roupas?

Rose: Sou humana, não me julgue.

Ele colocou as roupas em cima da cama e mostrou-me uma escova de dentes, de cabelo, maquiagens leves e outras coisas. As roupas não era muito exageradas como imaginei (ainda bem!), eram simples, mas com certeza eram as de melhor qualidade que já usei.

Michael: Eu não deixei o conde comprar roupas muito elaboradas... agradeça-me, afinal, você quase ia tendo que usar um chapéu vermelho florido.

Rose: Nossa, e eu aqui quase achando que ele tinha se tocado. Obrigada, Michael.

Michael: Bem, eu vou deixar você se trocar, e acorde S-...

Sade/Sue/Sandy: Ei, parem de fazer barulho!

Rose: Desculpe, Sade.

Sade/Sue/Sandy: Você me chamou do quê?!

Michael: Ela se chama Sandra, Rose.

Rose: Ah, tanto faz.

"Tenho que decorar este nome, ou essa mulher com certeza vai me matar enquanto durmo!" pensei, por dentro de minha máscara irônica.

Michael: Bem, já que as duas estão acordadas... AO TRABALHO!

Eu e Sandra nos levantamos num pulo e corremos para o banheiro ao mesmo tempo, nos batendo uma na outra, e logo começou uma briguinha sobre quem ia usar o banheiro. Michael encarava nós duas como se fôssemos loucas e conseguiu sair de fininho do quarto.

~*~*~

(Narradora)

Ciel: Só pode estar brincando!

Sebastian: Sim, Jovem Mestre... Jack The Ripper ainda está solto. O que significa que não era, afinal, o Visconde Druitt.

Madame Red: F-Fique calmo, Ciel...

Ciel estava quase rasgando o jornal em suas mãos. Ele estava com uma plena raiva. "Eu me vesti de mulher para nada!" pensou, bando um tapa no próprio rosto. E ainda por cima, Lady Elizabeth podia estar em qualquer lugar, Lily podia estar morrendo e Rose... "o que será que aconteceu com Rose?" perguntou-se.

Madame Red: Ah, isto é um verdadeiro drama. Bem, agora eu tenho que ir, vou dar uma passada na mansão River.

Ciel: Para...?

Sebastian desviou o olhar, e Ciel percebeu que o mordomo estava achando mais uma vez tudo muito engraçado.

Madame Red: Lily está gravemente ferida no rosto. Bom, agora ela está bem melhor, porém andou tendo febre. E Rose... na verdade, não sei bem o que aconteceu com Rose.

Sebastian: Eu darei mais uma procurada em Lady Elizabeth, Jovem Mestre. Por favor, tente não inundar nosso banheiro ou explodir alguma coisa.

Ciel mandou um olhar de ódio para Sebastian, que ficou arrepiado, mandando um "desculpe-me" não verbalizado.

Ciel: Faça isso depois, Sebastian. Temos que achar Jack The Ripper.

Madame Red, da porta do cômodo, olhou para as duas pessoas presentes com um olhar inexpressivo e saiu.

~*~* ~

Rose: E-Eu não sei limpar isto!

Como eles querem que eu saiba polir uma carruagem quando na verdade eu nunca tive uma?! Será que não poderiam me mandar varrer um quarto ou dobrar umas roupas... coisas que eu fiz durante a vida toda? "Ah, que cansativo", pensei, colocando uma mão em cima do rosto e sentando-me pesadamente no chão. O jardim estava brilhante e iluminado; parecia um verdadeiro paraíso. Exceto, claro, por mim sendo obrigada a polir uma carruagem.

Michael: Algum problema...?

Michael surgiu do nada, e virei-me assustada para ele. 

Rose: Claro! Como raios querem que eu dê um jeito numa carruagem?

Michael: Rose... Você só tem que passar esse pano nas janelas e nos detalhes que brilham, é bem simples.

Rose: E COMO É QUE NINGUÉM ME DIZ ISSO ANTES?!

Michael: Ah... não precisa gritar.

Rose: Hm. E então, como está Chris?

Michael: Ah, ele está melhor. Está no hospital, mas está bem melhor. O braço não está mais infeccionando, mas pelo que soube, vai ficar com uma cicatriz horrível. É estranho, mas ele não para de perguntar sobre Lily.

Ergui uma das sobrancelhas.

Rose: Chris? Aquele Chris? Preocupado com Lily?

Michael: Ao que me parece... sim.

Rose: Hm. O mundo está ficando estranho. Bem, eu vou... polir esta coisa.

Michael: Há, deixe que eu faço isto. Prefiro que você não quebre nada. Entre e se limpe, você está suja de grama e toda descabelada.

Revirei os olhos. "Prefiro que você não quebre nada" há-há. Muito engraçado, Michael. 

Entrei na mansão, e para meu susto, ela já não estava verde. Agora estava toda vermelha. Vasos vermelhos, o sofá era vermelho, cortinas vermelhas... era tudo vermelho-fogo e escarlate! Mas que raios-...

River: Olá, querida empregada.

"Ah não".

Rose: Olá... ér... conde...

River: Hoje é dia do vermelho, em homenagem á nossa querida Madame Red. Vamos, volte para seu quarto e vista alguma coisa que pelo menos pareça ser vermelho.

Rose:... Como quiser...

E voltei para meu quarto.

~*~*~

E já era por-do-sol quando Christopher voltou do hospital, e com uma terrível cicatriz no braço, como disse Michael. Demos as boas-vindas para ele, e logo ele foi repousar em seu quarto. Michael estranhou que ele não perguntara nada sobre Lily, que também repousou o dia todo em seu quarto, recebendo algumas visitas de médicos.

Sandra havia sido mandada para ir ao mercado, mas caíra da escada quando ia, e agora torceu o pé. "Os empregados desta mansão deviam ter um hospital só para eles" pensei, com tristeza, já que no lugar dela, eu fui mandada para ir ao mercado.

Eu estava saindo de casa, com um vestido escarlate que destacava a palidez de minha pele, e sapatos marrons infantis. Não havia mais necessidade de usar um chapéu, mas River me obrigou a usar um, também escarlate, que não destacava em nada o verde dos meus olhos. "Como se isso importasse" pensei, ajeitando a bolsa que ele me dera.

Andei nas ruas suspeitas da Londres vitoriana. Á noite, este lugar era ainda mais bonito, porém tinha um toque misterioso em cada lugar que passava. Fui rápido ao mercado e comprei tudo o que River pediu; mesmo que eu lembrasse com dificuldade de todas as coisas.

Quando voltava...

Ciel: SEBASTIAN, NÃO!

Virei-me assustada. De onde vinha a voz dele?! Saí correndo para onde eu achava que a voz vinha, uma rua estranha, escura e pobre. "Mas que raios Ciel está fazendo aqui?!" pensei, assustada. 

Olhei de longe. Nunca achei que fosse ver esse tipo de coisa.

Ciel estava contra uma parede, Madame Red impedindo sua passagem, e Sebastian bem perto dela, como se tentasse bater nela. Um pouco mais perto de mim, um homem todo de vermelho. Este homem...

Ah meu Deus.

Era aquele homem!! Aquele que eu havia visto á dias atrás, assassinando uma mulher... aquele... Aquele era Jack The Ripper?!

Quando de repente, esse mesmo homem saiu de onde estava, e notei agora, mas estava com uma motosserra ou serra-elétrica... sei lá o que era, mas ele usou para...

Quase vomitei. Ele passara a serra em cheio da barriga até o pescoço de Madame Red, fazendo jorrar sangue horrivelmente por todos os lados, inclusive em cima de um Ciel que via a cena de olhos arregalados, mas em entrar em pânico, como imaginem que ficaria.

Na verdade, em pânico estava eu. Estava suando frio. Na verdade, eu estava gelada de medo, e aquilo... depois de ver aquela mulher morrer na mansão em chamas... ainda era bem mais horrível! Ciel gritou alguma coisa para Sebastian, que virou-se para o homem ruivo de dentes pontiagudos.

Agora os dois lutavam de um jeito que eu jamais sonharia em ver; eles estavam quase voando. Eles davam saltos do chão e paravam em cima de casas, e pulavam das casas sem se machucar no chão. Como RAIOS isto era possível?!

E de longe, vi um Ciel um pouco entristecido, tirando o casaco que usava e colocando em cima do corpo sangrento de Madame Red. Eu achei que ele estava chorando, mas não estava. Ele era forte. E quando percebi, quem chorava na verdade era eu. De repente, Ciel virou-se exatamente para onde eu estava e arregalou os olhos.

De longe eu ouvi ele gritar: "Saia daí!", mas já era tarde demais. O homem de vermelho agora caía em cima de mim, com uma força surreal, empurrado ou chutado por um Sebastian que parecia meio confuso. 

Ah meu Deus.

Jack The Ripper estava caído bem em cima de mim; e ainda estava bem vivo.

~Continua~