-O que você ta fazendo no meu quarto sem nem pedir permissão pra entrar? – gritei.

-Eu bati na porta mais de vinte vezes, ai eu entrei. Você estava no meio de um pesadelo? Desculpe por atrapalhar, mas já são quase oito horas, você acordaria de qualquer jeito mesmo.

-Tudo bem... Nick?

-Nico.

Tudo bem Nico, sai do quarto e deixe eu me vestir.

-Já estou indo. – ele falou e saiu.

-Cara estranho...

-Eu ouvi isso! – ele gritou do lado de fora do quarto.

  Comecei a me vestir com as roupas que Quiron trouxe pra mim, que estavam no meu saco de dormir. Acabei de me vestir e fui para a sala, e não encontrei ninguém, exceto Nico. Ele estava sentado no sofá, a vontade, enquanto entre seus dedos um esqueleto de um ratinho brincava. Ele olhou pra mim.

-Bianca, eu não sou ao estranho assim sou? – ele se levantou – é você quem acha isso, a única. Não quero mais você me chamando de estranho, tudo bem? – ele estava muito perto de mim agora – então, agora vamos tomar café. - ele falou calmamente, muito diferente de um pouco antes, e então começou a sair.

Eu sai também, então perguntei a ele.

-Quem é seu pai ou mãe olimpiano?

-Meu pai não está no Olimpo, Hades, senhor do Submundo e dos mortos.

-Ah, aquele carinha.

-Carinha?

-É estudei sobre ele na escola. Não foi ele que traiu Zeus e Poseidon? Ele ganhou só aquele capacete, e parece coisa de medroso. Ele também raptou Perséfone né? Ei, eu achei que ele não tinha filhos...

-Faz um favor pra mim?

-O que?

-Cala essa boca até chegarmos na mês de café da manhã.

-Tudo bem, mas sério, Hades não deve ser um bom pai, pelo menos não do que se leva no dia da profissão.

-Cala boca, por favor? Parece até comigo quando conheci o Percy. Vamos fazer assim, você tem direito a uma pergunta.

-Por que só uma?

-Por que eu quero que você pare de falar, aliás, já respondi a sua pergunta.

-Ei! Nico! – uma garota gritou e acenou pra ele. Tinha olhos verdes e um cabelo preto liso e brilhante, era um pouco mais baixa que eu (olha que eu não sou muito alta, tenho 1,55), tinha uma coroa de flores na cabeça – Finalmente voltou! – e veio correndo em nossa direção, então abraçou Nico. Nico quase caiu e falou:

-Rose, olá. Espero que tenha comandado bem o chalé de Perséfone enquanto estive fora.

-Como se eu dependesse de você para comandar o chalé – ela bateu de leve no ombro dele – Bem vindo a casa. – ela deu um beijo na bochecha dele e Nico corou e olhou pro lado.

-Obrigado Rose. Eu... Anh... Falo depois com você... Tudo bem?

-Claro Nicolas.

-Não me chama assim, sério.

-Adoro te incomodar. – ela sorriu e voltou correndo pro chalé.

Eu olhei para ele com um sorrisinho. Nico se virou pra mim.

-Então, vamos pro... – ele fez uma cara de espanto – por que está me olhando desse jeito? Não tem nada entre eu e ela! Nada mesmo.

-Sei – falei tentando deixar de lado minha as gozações. – Não vou dizer pra ninguém que você gosta dela, tudo bem? – e sai andando e ele foi atrás de mim, e quando sentei a mesa do café ele foi para mesa de Hades, me deixando sozinha na mesa da Casa Grande. Quiron ficou de pé ao meu lado e falou:

-Há muitos comentários sobre você, Bianca.

Mexi no meu café da manhã. Não estava com vontade de conversar mesmo, mas Quiron insistia em falar comigo. Pensava muito antes de responder, com medo de que qualquer resposta poderia me por em suspeitas, de qualquer coisa.. Todos me olhavam pelo canto do olho, como se eu fosse um estranho animal que pudesse atacar qualquer um a qualquer momento. Leon me olhou pelo canto do olho e levantou o copo que tinha na mão como uma saudação, então bebeu um pouco e abandonou a mesa. Fiquei lá até todos saírem para suas atividades. Quiron batuou na mesa com as pontas dos dedos e falou.

-A invocação será hoje a noite. Você deve e vai participar dela, assim como Thalia.

-Mas por que a Thalia? – ela já sabia da resposta, mas mesmo assim queria ter certeza.

-Pergunte a ela, por que não sou eu que devo falar isso a você.

-Mas...

-Se quiser satisfazer sua curiosidade, vá até ela.

Olhei Quiron se afastar com a cadeira de rodas, murmurando algumas coisas em grego.

...

Cheguei perto do chalé de Zeus e Thalia estava gritando com alguém.

-Eu me recuso... Me recuso a participar disso.

-Mas por que? – era Nico.

-Você sabe Nico, melhor do que ninguém o por que!

Nico ficou em silêncio então falou:

-Se não quiser ir tudo bem, mas precisaríamos de você. 

Foi a vez de Thalia ficar em silêncio. Eu não sabia o que estava acontecendo ali dentro, mas ficaram muito tempo em silêncio, então eu bati na porta. Nico abriu a porta e Thalia enxugou os olhos com as costas da mão, sentada no seu saco de dormir, então colou uma pequena foto na parede, do lado dela.

-O que você quer – ela perguntou com a voz denunciando o choro contido.

-É que... Deixa pra lá, você não está em condições de responder agora.

-Fala o que é.

-Por que você vai fazer a invocação conosco?

Por que... Conheci seu pai melhor do que ninguém. Posso ser uma caçadora. Mas ainda o amo, mesmo depois de tantos anos que não o vejo – ela apontou para as fotos na parede e enterrou a cara nas mãos – ele foi meu único amigo durante muito, muito tempo. Ele cuidou de mim como ninguém mais cuidou. Até a minha mãe não cuidou tanto de mim.

-Tudo bem... Não precisa falar mais nada. Eu já entendi. Eu vou sair agora.

-Não. El olhou pra cima com lágrimas brilhando nos olhos. – eu vou te contar a história de seu pai, você tem o direito de saber. Poderia perguntar a Annabeth, mas ela não vai querer explicar. É tão doloroso pra ela tanto quanto pra mim. Sente-se aqui e ouça.