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Acordei no meu saco de dormir olhando pra uma rede vermelha de uma cara que tinha entrado a pouco tempo no chalé. Me levantei e minhas costas reclamaram com uma dor aguda. Olhei para o lado e vi Leon sentado no saco de dormir dele, e sabia que Le não estava bem.

–Leon – falei baixo pra não acordar os outros.

Ele olhou pra mim e falou:

–Acordei faz umas duas horas. Eu não consegui mais dormir. Tive um pressentimento ruim sobre hoje.

–Não devia se preocupar tanto – falei – que hora é?

–Quase oito horas.

–Eu vou aproveitar que não tem ninguém no banheiro.

–Vá em frente – ele falou – eu vou ficar aqui.

Depois que sai do banheiro fui pro café da manhã. Leon me acompanhou até lá, e não falou uma só palavra, que era bem típico dele. Sentei e comecei a devorar meu pão, por que sabia que ia precisar de muita energia pros treinamentos. Fazia dois meses que eu estava no Acampamento. Olhei para Percy ajudando Annie a se sentar no banco da mesa da Casa Grande. Ela já devia estar perto de ter seu filho, sua barriga estava enorme e ela não andava com tanta facilidade quanto antes, geralmente parando pelas contrações e dores, além dos desconfortos. Acabei de comer e fui começar o treino. O dia passou normal, até a hora da fogueira.

Como sempre, me sentei perto de Leon, e ele parecia nervoso e ansioso por algo.

Ele murmurou algo como “dejavus” e continuou movendo a perna freneticamente. Eu fui cantar com um filho de Apolo que me chamou na frente e comecei a dançar com ele. Só parei por que uma luz roxa inundou o lugar e o centro... Era eu. Quiron falou:

–Isso é... Impossível... Não pode acontecer...

Olhei para cima e uma foice holográfica girava em cima da minha cabeça. Andei para trás e ela me seguiu. O que aquilo queria dizer?

–Quiron... – falei.

Ele estava estupefato demais para responder.

–Cronos... – alguém falou – mas ele não pode... Ele não tem...

Todos ficarão paralisados. Aqueles olhares começaram a ficarem incômodos, então sai correndo dali.

Fui ao primeiro lugar deserto que me veio a mente: A praia. Sentei na areia molhada e fiquei ouvindo as ondas se quebrarem, vinham até mim e voltando, vindo, voltando, vindo, voltando. Fiquei tão concentrada nisso que não notei o tempo passar até que senti uma mão no meu ombro. Olhei para trás e Quiron estava ajoelhado (quer dizer, mais ou menos) e falou:

–Bianca... Precisamos conversar.

–Vai me culpar por algo? – falei levantando.

–Não. E a conversa é séria Bianca. Vamos, já passou da hora de recolher, e se eu não viesse você seria lanche de harpias – as harpias reclamaram nas árvores – quietas!

Quiron me levou até a Casa Grande e depois entrou na sua cadeira de rodas mágica, me serviu algo quente numa xícara e falou.

–Bem, você foi reclamada. – e tomou um gole da xícara – só tem um pequeno problema. Cronos. Conhece?

–Palavra grega pra tempo?

–Senhor do tempo, rei dos titãs, pai dos primeiros olimpianos, foi picado em pedaços pelos filhos, se regenerou a uns 13 ou 14 verões atrás. Se apossou do corpo do semideus Luke Castellan e... O que foi?

–Minha mãe falou... Meu pai se chamava Luke.

–Exatamente como eu suspeitava. Então... Você é filha de Luke-Cronos. Isso é confuso, mas olhe, você tem dois pais.

–Isso é impossível – falei – ninguém pode ter dois pais.

–Você tem a aparência de Luke, e possivelmente os poderes de Cronos. E... Eu pensei agora se podemos conseguir informações com a alma de Luke.

–Como?

–Invocação. Nunca ouviu falar?

–Não.

-Pois bem, vou chamar Nico. E Thalia podia participar, já que ela conheceu Luke melhor que ninguém. E hoje você dorme na Casa Grande. Eu vou mandar a mensagem pro Nico. Ache um quarto vazio para você, por ai.

Quiron ficou na sala e eu fui tentar achar um bom quarto, e finalmente consegui achar um que não tivesse com cheiro de mofo. Me arrumei nas cobertas e então tentei dormir, mas o sono não vinha. Quando finalmente dormi, tive um sonho bem estranho.

Eu estava num pico nebuloso de uma montanha com um castelo negro meio formado, e mais para baixo haviam dois animais que pareciam um cruzamento de foca, leão-marinho e humano com um embrulho. Um garoto de cabelos negros e tapa olho estava com eles, eles desembrulharam e eu vi a minha foice. Quer dizer, acho que a foice verdadeira, e eles conversavam. Meu sonho me levou mais pra cima e eu vi um caixão dourado, e na lateral estava escrito em algo que não era grego, Cronos, o senhor do tempo.

Pai. Pensei.

De repente a tampa do caixão caiu estrondosamente no chão, derrubado por uma força invisível, e dentro havia... Um corpo humano... Achei ele parecido comigo em alguns aspectos, como nas feições. Tinha um cabelo loiro cortado bem curto, feições de elfo, uma cicatriz irregular no lado esquerdo do rosto. Luke. Estava de mãos cruzadas sob o peito... E parecia... Morto. Faltava um pedaço do peito, e eu sentia algo familiar lá. Quis tocar o caixão, mas minhas pernas não se moveram, os telquines gritaram logo atrás de mim, se ajoelharam e ergueram a foice, mas o corpo não se levntou. O garoto de tapa olho estava ali. De repente um garoto apareceu do nada, e eu reconheci ele. Percy Jackson, falando com o semideus de tapa olho. O de tapa olho discutiu um pouco e então eu ouvi ele dizer Renuncio aos deuses! O que foi que eles fizeram por mim? Quero vê-los destruídos! Eu servirei a Cronos.

O castelo retumbou e uma luz azul foi até o caixão, e o buraco no peito de Luke fechou-se. Ele levantou-se e pulou no chão, que congelou e olhou a todos, com olhos dourados... Ele estava possuído por Cronos. Percy investiu contra Cronos-Luke com a espada que tinha na mão, mas era como tentar corta titânio, depois Percy voou pelo salão, e Cronos-Luke pegou sua foice. Percy saiu correndo, Cronos-Luke – ah, vamos chamá-lo só de Cronos, já ta bom – bateu o pé no chão e tudo desacelerou. Corra heroizinho! Corra. Cronos falou rindo e depois foi atrás de Percy brandindo a foice. Ouvi alguém chamando Percy e uma escova de plástico azul voou no olho de Cronos, e o tempo voltou a correr normalmente, e a voz de Cronos se tornou humana.

Meu sonho mudou totalmente e me vi num dia nublado, na praça da minha cidade. Minha mãe estava sentada num dos bancos, e parecia anos mais jovem. Ela estava triste. E de repente Cronos apareceu, mas não era ele controlando, era Luke. E eles estavam brigando, eu ouvia a conversa deles. Ele mandou Cronos calar a boca e voz alta e então percebeu minha mãe. Eles começaram a conversar, e Luke chamou ela de Thalia. Não, a Thalia que eu to pensando? A caçadora? Então ele disse que elas eram parecidas. É a Thalia que eu to pensando, sim. Eles foram pra casa da minha mãe, exatamente a mesma de hoje, só que sem a pintura descascando. Mudou de novo e eu vi Luke acordado olhando para minha mãe que dormia calmamente. Ele olhou pela janela e viu que o sol já ia nascer. Colocou um bilhete na mesinha do lado e beijou-a, depois desceu as escadas e saiu da casa.

Então é isso... A voz de Luke falou na minha cabeça. É o que você precisava saber.

Acordei e um cara de jaqueta de aviador, olhos quase pretos, cabelos negros, uma calça preta rasgada nos joelhos, uma barba por fazer e me olhando com curiosidade.

–Olá. – ele falou – eu sou Nico di Angelo, filho de Hades.