O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 9
Capítulo 9 - No fio da Navalha


Notas iniciais do capítulo

...As situações se agravam, é necessário saber agir para manter-se vivo...



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A noite para Alex e Geraldo passara de forma lenta e dolorosa, além de perderem uma amiga, se viram em uma situação de dominação por um sujeito que nada fez para merecer tal local.

Os dois não dormiram e puderam observar do restaurante onde estavam a movimentação no resto da praça. O novo trio que aparecera não era amador, estabeleceram um sistema de vigília durante a noite, com troca de turno entre Gabriel e Lincoln, já Selina passara a noite inteira dentro da ambulância.

Ao amanhecer, Gabriel abriu o portão e trouxe o veículo deles que estava parado do lado de fora da praça, uma van preta, eles agora tinham dois veículos, armas e comida. Alex e Geraldo só tinham um ao outro.

Gabriel fora até os dois com duas maçãs e uma garrafa de água, ao se aproximar disse:

–- Aqui está, café da manhã. – Disse ele olhando para os dois, Geraldo e Alex nada fizeram, ele continuou com as mãos estendidas oferecendo-lhes o alimento, e ao ver que não seria correspondido, colocou as maçãs e a água no chão e saiu. Geraldo virou para Alex e disse:

–- O que nós vamos fazer Alex?

–- Não sei cara! Esses malditos! Nos deixaram de mãos atadas! Mas nós daremos um jeito, tem de haver uma maneira.

Geraldo balançou a cabeça demonstrando frustração, de longe era possível ver Lincoln comendo uma fruta e falando algo a Gabriel. Selina sai da ambulância com cara de quem tivesse acabado de despertar.

–- Não temos armas, não temos comida, e nem veículo, estamos obrigados a ficar aqui! – Disse Geraldo a Alex.

–- Ou tentar a sorte lá fora! – Respondeu Alex.

–- E ser devorado? Sem armas e a pé nós não duraríamos dois segundos naquele inferno!

–- E qual inferno você prefere? – Disse Alex com uma expressão séria.

Neste momento Lincoln vai até seu furgão, e abrindo o compartimento traseiro, retira duas armas de lá, provavelmente mais duas pistolas, entrega uma para Gabriel e outra para Selina e dá instruções a eles. Selina vai até os dois e ao chegar até eles diz de forma seca:

–- Venham, precisamos de vocês para um serviço! – Os dois continuaram imóveis, queriam ver se a mulher tinha o mesmo espírito de Lincoln. Ela apontou a arma para eles e voltou a falar em um tom mais alto:

–- Venham agora! Eu não estou brincando! – Os dois se levantaram, ela então finalizou:

–- Me sigam, vocês tem trabalho a fazer!


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Daniel e Isabelle dormiram sob uma coberta improvisada no sofá da sala. Na verdade ela dormira bem mais do que ele, pois ele seguia pensando em muitas coisas, inclusive no que havia acabado de acontecer. Em certa hora da madrugada, ele acordou-a e lhe disse para subir para seu quarto, para não causar mais problemas com And, ela concordou, se vestiu e se despediu com um beijo.

Ele seguiu ali, deitado, a dor havia inclusive anestesiado enquanto estava com Belle, mas voltara com tudo após ela sair. Ele estava em uma posição inapropriada por conta do ombro, tinha medo de que ele piorasse, infeccionasse.

Viu do sofá o dia amanhecer, pouco a pouco. Não sabia o que iria fazer, não sabia quanto tempo ficaria ali, ou se ficaria ali. Estava sem rumo, sem direção, estava gostando de Belle, ou não, tudo estava muito confuso em sua cabeça e ele viu que ficaria mais ainda se insistisse em pensar tanto naquilo tudo, deveria viver o momento, deixar a maré o levar.

Levantou cedo, antes das duas irmãs e andou pela casa, viu a cozinha e achou um banheiro, entrou e pode se olhar no espelho. Estava sujo, surrado, sem camisa, pois havia tirado a sua quando Belle a costurou na lojinha. Olhou para seu ferimento, não estava bom, o ombro ainda estava manchado de sangue seco pelo sangramento.

Os pontos não estavam bem feitos, o que era de se esperar dadas as circunstâncias, e fazê-los com linha comum não ajudava muito. Era um ferimento profundo, que necessitava de um tratamento mais elaborado, porém sabia que não conseguiria isso, tinha de resistir aquilo ou então morreria. Sabia também que precisava tomar alguns anti-inflamatórios, pelo menos para amenizar a dor e tentar evitar maiores problemas.

Abriu a torneira da pia e para sua surpresa havia água. Lavou o rosto, olhou-se novamente no espelho, e voltou a molhar as mãos, nesse instante ouve uma voz dizer:

–- Parece que já conheceu a casa barbicha!

Ele vira-se calmamente ao reconhecer a voz e responde:

–- Bom dia pra você também And!

–- Andressa. Me chame de Andressa. – Respondeu ela.

–- Tudo bem Andressa, eu só estava vendo como o ferimento está!

–- E como está?

–- Se tudo que eu estiver pensando não acontecer, e por um milagre... Bom, eu vou ficar bem! – Respondeu Daniel com um sorriso de canto de rosto.

–- Vamos comer alguma coisa, você não comeu nada! – Disse Andressa fazendo sinal com a mão. Daniel surpreendeu-se, pela primeira vez ela estava sendo amistosa com ele, talvez as coisas estivessem mudando.

Daniel a acompanha até a mesa, onde Belle já está acomodada, eles se olham e dão um breve sorriso um ao outro. Andressa trás uma caixa de leite do armário e em seguida fala:

–- Temos leite, e... – Ela se dirige até o armário novamente, de onde retira uma lata de salsichinhas – Salsichas em lata! Bom, espero que esta mistura não nos mate!

–- Está perfeito, estou um dia inteiro sem comer! – Diz Daniel após sentar-se a mesa.

–- Se bem que para quem sobreviveu a uma flechada, não vai ser nossa comida que vai te matar, não é?

Daniel responde rindo, dá um gole no leite e pergunta:

–- Vocês não acham perigoso ficar aqui?

–- Nós não temos para onde ir, nosso bairro é um pouco afastado dos outros, talvez seja o mais seguro da cidade. – Responde Isabelle, que também faz uma pergunta:

–- O que você fazia? Disse que trabalhava em hospital, mas não disse com o que.

–- Nada de mais, eu era só um Radiologista, trabalhava fazendo exames de raios-x em um hospital na zona leste.

–- Os hospitais foram os primeiros locais tomados! – Disse Andressa. Daniel dá uma breve pausa ao pensar em seus amigos que provavelmente estavam no hospital quando tudo ocorreu e voltou a perguntar:

–- Vocês não tentaram fugir? Preferiram ficar na cidade?

–- Não conseguimos, ficamos encurraladas por conta de um acidente e de todos esses monstros! Achamos melhor voltar para casa e esperar por ajuda, mas... – Isabelle que respondia a pergunta de Daniel é interrompida pela irmã que diz com uma séria expressão:

–- Mas não haverá ajuda! Ninguém vai nos ajudar, estamos por nossa conta!


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Alex e Geraldo acompanharam Selina até os portões, lá já estavam Gabriel e Lincoln.

–- Hoje eles são todos seus, Selina! – Disse Lincoln em ar de deboche.

–- Peguem estas correntes! Diz ela apontando para o chão onde estão duas grossa correntes.

–- Não faremos nada pra vocês enquanto não enterrarmos Angélica! – Exclamou Alex com decisão em sua voz.

–- Façamos o seguinte então, vocês fazem o que ela quer, e após isso podem fazer o que quiserem com a pequena vadia morta ali! – Disse Lincoln retirando um cigarro do bolso.

Cada fala de Lincoln deixava Alex mais odioso por dentro, ele que sempre fora um rapaz pacato, estava se vendo transformar internamente por um homem que conseguia despertar nele sentimentos até em então desconhecidos. Alex nunca desejou tanto a morte de alguém como estava desejando a de Lincoln.

Antes de pegar as correntes do chão, Alex olhou para trás, na direção do corpo de Angélica, ela ainda estava ali, deitada no chão de forma simplória, precisa fazer algo a respeito disso, não podia deixar aquilo de tal maneira. No momento apenas o que pode fazer foi obedecê-los e juntar as correntes do chão.

–- Isso mesmo, agora passem estas correntes pelo portão para que ele fique lacrado, e coloque este cadeado nela! – Exclamou Selina enquanto lhes entregava o cadeado. Aquele serviço poderia ter sido feito por qualquer um deles, mas percebia que a intenção de Lincoln era demonstrar sua superioridade perante eles, mostrar quem estava no comando, e principalmente certificar a impotência de Geraldo e Alex naquele momento.

Os dois assim o fizeram, obedecendo a Selina. Sentiam-se muito mal por dentro, estar naquela situação era horrível, e até aquele momento não havia nenhuma solução para tal.

Após trancarem o portão, Lincoln fez sinal para Gabriel, que foi até a van e trouxe uma pá de dentro. Ele entregou a Geraldo e disse:

–- Aqui está, podem enterrar sua amiga.

Geraldo pegou a ferramenta sem corresponder à frase de Gabriel, os dois se viraram e começaram a andar, Lincoln então falou imediatamente:

–- Só você garoto! – Disse se referindo a Alex e voltando a falar:

–- O grandão vai comigo em uma missão especial! – Disse olhando para Geraldo.

Lincoln se dirigiu até Geraldo e tirando sua arma da cintura disse:

–- Vem comigo, vamos dar uma volta.

Geraldo não teve escolha, e saiu andando com Lincoln. Alex seguiu com a pá até o corpo de Angélica, foi seguido todo o tempo por Selina com a pistola em punho, provavelmente para impedir que Alex utilizasse a pá como arma.

Ao chegar até o corpo, ele observou tudo a sua volta, as árvores, o céu. Olhou para o corpo de Angélica e uma lágrima escorreu por seu rosto. Começou então a cavar o buraco, ao mesmo tempo em que pensava em Geraldo, afinal qual seria a ‘missão especial’ que aquele sádico iria fazer? E porque precisaria de Geraldo? Tudo estava louco, o mundo estava louco demais. Alex não sabia se conseguiria se adaptar a essas novas situações, ou se enlouqueceria junto com tudo e todos.


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Após tomarem o ‘café da manhã’, Andressa verificou novamente o armário onde depositava mantimentos e voltou com uma expressão negativa:

–- Droga, nossa comida tá acabando! Vamos precisar pegar mais!

–- Odeio ter que sair, sempre tem aqueles zumbis no caminho! – Disse Belle com ar de decepção.

Andressa que estava andando pela cozinha, parou de repente e olhando para Daniel falou:

–- Você pode tomar banho aqui em baixo se quiser!

–- Eu não tenho mais roupas, perdi na correria, na verdade nem sei onde as perdi!

–- Bom acho que não vai dar pra te emprestar umas roupas não é? – Disse Andressa sorrindo.

–- Com certeza não!

Daniel percebera que aos poucos Andressa estava mudando com ele, talvez aquilo significasse que ela estava começando a pensar na possibilidade dele se juntar a elas em definitivo, ou talvez fosse otimismo demais pensar assim.

–- Vamos ter que sair pra pegar mais comida, talvez encontremos roupas pra você no caminho, sei lá! – Disse Andressa.

–- Preciso que façam uma coisa pra mim antes. – Disse Daniel.

–- O que? – Perguntou Belle.

–- Preciso de alguma coisa que possa improvisar uma tipoia, tenho que deixar o ombro imobilizado, ou pelo menos tentar.

–- Eu consigo alguma coisa lá em cima! – Exclamou Belle, que em seguida subiu rapidamente as escadas. Após aproximadamente dois minutos, ela retornou trazendo um tecido, que foi rapidamente transformado em uma tipoia improvisada.

Após isso, os três começaram a se preparar para sair. Isabelle trouxe uma mochila para Daniel.

–- Use essa aqui, pegue o que for preciso quando chegarmos lá. – Disse ela.

–- Aonde vamos? – Pergunta Daniel.

–- Nós nunca sabemos, pegamos o carro e simplesmente saímos, quando achamos um local nós paramos e vemos o que podemos pegar. – Responde Isabelle.

Andressa havia subido para pegar sua mochila, Belle aproveitou a ausência da irmã para beijar Daniel, ele interrompeu-a dizendo:

–- Depois Belle, não vamos abusar, sua irmã tá começando a ser legal comigo, se ela descobrir de nós dois talvez me expulse na hora!

–- Você acha mesmo?

–- Me diga você. Ela não confia em mim e eu a entendo. Sou só um estranho, com o tempo ela vai me aceitar e aí poderemos ajeitar as coisas.

–- Tudo bem então – Disse ela com desapontamento – Depois terminamos nosso assunto!

Daniel sorriu, Andressa desceu as escadas com sua bolsa e seu arco, estava pronta para sair. Antes de partirem, entregou um facão para Daniel e uma faca para a irmã.

–- Acha que consegue usar só um braço? – Perguntou Andressa direcionada a Daniel.

–- Acho que sim, consigo sim! – Respondeu Daniel.

Os três se direcionaram até a porta, ao saírem Belle a trancou e verificou se tudo estava seguro, foram até o carro, entraram e saíram.


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Alex cavava a cova sendo observado todo o tempo por Selina, que estava sempre acompanhada de sua pistola, ao terminar saiu do buraco e foi até o corpo de Angélica. Estava ofegante, cansado, o sol era bem forte naquela hora, tudo indicava que faria um dia bem seco.

Antes de arrastar o corpo até a cova, Alex pode observar Lincoln levando Geraldo até a ambulância, apontado sempre a arma para ele. Os dois entraram no carro.

No carro Lincoln estava no banco do motorista e Geraldo ao seu lado, antes de saírem com o carro, Lincoln mostrou a arma a Geraldo e disse olhando em seus olhos:

–- Tá vendo isso aqui grandão! – Disse referindo-se a arma – O que tem dentro dela pode parar na sua cabeça se você tentar qualquer gracinha, me ouviu?

Geraldo apenas encarou-o, sem nada dizer.

–- Vou entender isso como um sim!

Lincoln vira-se para a direção e sai com o veículo, Gabriel abre o portão e após saírem tranca novamente a entrada da praça.

Alex tenta imaginar para onde Geraldo estava indo, sente receio, não quer que Geraldo seja morto, e sabe que isso pode acontecer.

Voltando-se para o buraco cavado, ele arrasta o corpo de Angélica e o deposita lá dentro, depois disso o cobre de terra, encerrando o sepultamento da amiga morta.

Depois de enterrá-la, Selina pede a pá de volta, ele a entrega a ajoelha-se no chão, está cansado, volta-se para o túmulo recém-feito, fecha os olhos e faz uma pequena prece, levanta-se novamente e sai andando dando as costas à Selina que nada diz.



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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando!

Particularmente achei este capítulo interessante, espero que vocês também achem.

Continuem acompanhando!

P.S.: Sei que havia dito que neste capítulo haveria ação, mas achei importante focar um pouco mais nos diálogos e na história em si, nos conflitos. Porém agora EU GARANTO, haverá ação nos próximos capítulos, Obrigado!








Säteily