O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily
Notas iniciais do capítulo
O homem é um animal domesticado, ao menor sinal, tudo pode se tornar uma barbárie...
Daniel segurava fortemente o homem durante seu pretenso ataque epiléptico, mas naquele momento não podia fazer nada, Angélica observava a tudo com muito espanto, com o tempo de experiência que tinha do trabalho em hospitais, nunca havia visto um caso daquele. Lembrava-se das páginas dos grossos livros, e os folheava em sua mente tentando achar uma resposta, mas definitivamente aquilo não deveria estar acontecendo, um ‘simples arranhão’ não deveria causar uma reação tão forte. Daniel vê a impotência de Angélica e grita:
-- EI! EI! AJUDA AQUI!
Ela se dirige ao homem, mas não há mais nada a ser feito, ele está morto. Daniel verifica se ainda há pulsação, e a resposta vem com um movimento negativo de cabeça. A situação piora a cada minuto.
Se segue uma nova gritaria no ônibus, agora há dois corpos lá dentro. O ônibus não fazia mais paradas, e só o fará no seu destino final, em Manaus. A ‘comida’ que tinham eram apenas barras de chocolates e alguns doces que uns passageiros haviam comprado antes daquele caos, tudo era dividido entre eles, mas não era muito. Todos estão com medo e fome.
O dia chega, e além de fome a sede começa a ser um problema, as garrafas de água mineral são poucas, e é preciso economizar. Outra preocupação é com o motorista, ele já está dirigindo há muito tempo, não houve troca de ônibus onde pararam, e nem tempo para descanso. Ele provavelmente estava à base de ‘rebite’ um estimulante muito utilizado por caminhoneiros, e que muito provavelmente ele deveria ter também.
No meio do ônibus há dois corpos cobertos por lençóis, o do senhor de idade e o do homem do arranhão. A viúva da primeira vitima continuava ajoelhada ao lado do corpo do marido. Ninguém falava com ninguém naquele momento. Tudo estava em silêncio, até se ouvir um burburinho:
-- Meu Deus... Meu... Deus! – Exclama entre um choro baixo a viúva.
O braço direito do senhor se ergue, todos levam um susto.
-- O QUÊ QUE É ISSO? – Exclamam algumas pessoas.
-- Meu amor tá vivo! – Diz a senhora se virando para os demais passageiros.
-- Ele tá... – Sua fala é interrompida de súbito pela mão de seu marido agarrando seu pescoço, ele começa a se levantar e morde o ombro da esposa.
-- AH! AH! DEUS DO CÉU! ME AJUDEM! – Exclama em meio à dor a senhora.
O homem morto que recém voltara à vida monta em cima da mulher e começa a comer seu rosto. Em meio à gritaria e ao horror cerca de cinco pessoas correm em direção ao homem, Daniel desta vez levantou e correu para ajudar. Eles desferem vários chutes no homem morto, que cai para o lado. Daniel puxa a senhora para a parte de trás do ônibus, tira sua camisa e tenta limpar o sangue do rosto dela, mas ele já estava dilacerado.
O homem seguia recebendo chutes, mas parecia não sentir nada daquilo, ninguém estava entendendo nada, um dos homens que batiam naquele ‘monstro’, pegou um extintor e bateu diversas vezes na cabeça dele.
-- MORRE DESGRAÇADO! MORRE DE VEZ PORRA! – Dizia enquanto desferia os golpes.
O homem morto agora parecia realmente morto, sem ação, sem se mexer, seu crânio está destruído.
O desespero nas dependências daquele ônibus só aumentava, Daniel vendo que aquilo não daria em nada, larga o corpo já sem vida da senhora viúva. Há três corpos no chão agora e Angélica surpreende a todos ao dizer:
-- Alguém pode pedir para o motorista abrir a porta?
Um dos homens que tinham ajudado a bater no homem morto, pergunta em surpresa:
-- Como moça? Abrir? Pra que?
-- Eu acho... – Ela respira fundo – Eu acho que isso que aconteceu com o senhor ali – Aponta para o corpo o homem – Vai se repetir com esses outros mortos, deve ser o vírus, o vírus do qual todos estão fugindo, ele deve fazer isso com as pessoas. Nós temos que jogar esses corpos para fora do ônibus ou então mais pessoas vão morrer.
O homem que a indagara com surpresa volta a dizer:
-- Olha só moça, isso é... Olha... – O homem é interrompido por Daniel:
-- Ela tá certa! O que aconteceu vai se repetir, eu tenho olhado a janela durante todo esse tempo de viagem desde Cuiabá. Só o que eu vejo são esses zumbis, essas ‘coisas’ perambulando e comendo animais, vocês viram o que eles fazem, manter isso aqui dentro vai acabar com todos nós!
O homem dá dois passos em direção a Daniel e diz levantando o indicador:
-- Presta atenção garoto, não são ‘coisas’, são pessoas, isso é errado moleque! São pessoas!
O ônibus freia de brusco, as pessoas se desequilibram, o motorista se levanta e fala secamente:
-- Não são mais! Não são mais pessoas!
Ele abre a porta do veículo e começa a puxar o corpo do homem que morrera por conta do arranhão para fora do ônibus, Daniel vai até a parte da frente do ônibus e ajuda o motorista a puxar os corpos. Eles jogam os três corpos e seguem viagem.
Um homem que se disse ser caminhoneiro se oferece para trocar de lugar com o motorista, que enfim pode descansar. Os lençóis que cobriam os corpos, cobriam agora a poça de sangue que ficou sobre o chão. Manaus está cada vez mais próxima, o ônibus já percorre o estado do Amazonas, e o que todos querem é chegar o quanto antes.
Ninguém imagina o que vai encontrar lá, ou se vai encontrar algo por lá, o desespero e o medo está presente em cada passageiro. Daniel e Angélica seguem sentados, mais não trocam uma palavra até Angélica sussurrar para ele:
-- Na cabeça...
-- O que?
-- Se agente encontrar essas coisas quando chegarmos... Tem que bater na cabeça... Ele só morreu de vez quando aquele cara bateu diversas vezes na cabeça dele.
Daniel passa a mão em seu rosto e faz sinal positivo com a cabeça, ela volta a dizer:
-- Nós vamos morrer, não é?
Daniel a abraça e responde baixo:
-- Vamos sim...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Esse foi o final dos capítulos 'PILOTO', a partir de agora a história se tornará mais complexa, com novos personagens e nova ambientação.
Kaline e Megaan, seus personagens serão introduzidos no próximo capítulo.
Se alguém mais quiser participar é só mandar a sugestão de personagens.
Säteily